O pneu furado do ônibus, o voto e a corrupção
Viajei para Goiatuba nesta segunda feira. Feriado, ônibus lotado, viagem cansativa. Até ai quase tudo normal. É claro que viajar em ônibus velho, poltronas velhas, sem ar condicionado, já é costumeiro para os passageiros que se deslocam da capital para os municípios goianos. É assim, a Empresa São José do Tocantins que faz linhas para as cidades do Nordeste Goiano, sobretudo Campos Belos e alguns municípios do Tocantins, como Arraias, Taguatinga, dentre outros. É assim também com a Empresa Viação Estrela que faz o percurso Goiânia – Buriti Alegre, passando por cidades como Aparecida de Goiânia, Professor Jamil, Morrinhos e Goiatuba. Nesta viagem um acontecimento diferente chamou minha atenção – o pneu do ônibus furou, e, ao pararmos em uma borracharia aconteceu um diálogo entre alguns passageiros que passo a descrever aqui.
Tudo começou a acontecer quando o borracheiro detectou que não tinha como arrumar o pneu. Um dos passageiros afirmou que aquilo que estava acontecendo era um descuido da empresa para com a população e que todos precisavam denunciar o tipo de acontecimento ali a Agência Goiana de Regulação ou a Agência Nacional de Trânsito. Nesse momento o Motorista fez uma intervenção dizendo: Não adianta, alguém pode até denunciar, o fiscal pode até ir lá, pode até mesmo achar problemas, mas no final tudo termina em propina, as empresas de transportes compram todos estes órgãos, financia a campanha dos políticos e tudo termina como se nada tivesse acontecido.
Ouvi aquilo e fiquei pensando na anomalia que está se transformando a nossa sociedade. Todo mundo sabe que a corrupção existe, todo mundo sabe que quem é os corruptores e os corrompidos e ninguém faz nada para mudar a situação. Intrigado eu questionei se nós que ali estávamos não podíamos fazer nada, por que votamos nas mesmas pessoas, nos mesmos políticos, e aceitamos viver no meio deste mar de corrupção cercando a todos nós. Um dos presentes se apressou a responder citando o exemplo do prefeito de goiatuba que retirou a gratificação de muitos funcionários, diminui salário até de professores para cumprir a lei de responsabilidade fiscal. E , impressionado ouvi-o dizer: se o prefeito tivesse administrado com responsabilidade não precisava fazer isso agora, certamente o dinheiro que ta faltando no caixa foi parar no bolso de alguém. Mas o que podem fazer os funcionários? Retrucou-o para em seguida responder que nada, uma vez todos eles precisam viver cuidar da família e sabem que se reclamar pode acabar perdendo o emprego, mesmo aqueles que são concursados.
No restante da viagem, o ônibus balançando, a chuva na estrada fui a pensar sobre como a corrupção se espalhou na sociedade. E a maioria das pessoas encontra-se presas, sem conseguir dizer não, fracas para dizer um basta, presas pela sobrevivência por um pouco, por quase nada que não torna-os melhores. Antes os faz triste a cada dia, todos começam a não ver sentido na vida, e , começam a pensar que viver é apenas ir sobrevivendo, vendo os dias passar e servindo aqueles que tiram de nós a nossa liberdade, nosso direito de escolher representantes probos e dignos daquilo que queremos para nós e para nossos filhos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ORAÇÃO DE MAAT.

A história de um processo - Parte 1.

A história de um processo parte 10 - Danos morais, materiais, psicológicos ou a quase perda da fé.