Raul Seixas e a Filosofia do Desequilíbrio.

Quando se ouve uma música de Raul Seixas é possível ter muitas sensações. Sensação de poder, de liberdade, de sair de si, de construir o seu próprio caminho. No entanto, creio ser uma bem predominante: a sensação do desequilíbrio. As músicas de Raul levam ao desequilíbrio ou de alguma forma trazem algum tipo de conforto àqueles que estão em desequilíbrio. Sílvio Gallo, em seu livro Ética e cidadania, sugere como dinâmica de introdução ao pensamento filosófico uma das músicas do Raul, explicitamente "Maluco Beleza".

A música, cuja letra, já foi publicada neste blog revela uma espécie de desabafo em forma de diálogo em que o compositor declara seguir o seu próprio caminho, diante de alguém, supostamente íntimo que ele prefere seguir o próprio caminho, a ser uma pessoa normal. A música, é pois, um convite a sair da mesmice, interrogar o mundo, sair de si, experimentar novas possibilidades. Outras músicas do Raul trazem a mesma proposta. É o caso de "Meu amigo Pedro", "Metamorfose Ambulante", onde a idéia de romper paradigmas está presente de forma indelével.

Compreender Raul, no entanto, não é possível se não se investigar as profundezas por onde andou seu pensamento. Ainda Jovem entrou em contato como Misticismo, e estudou muitas filosofias. A sociedade alternativa proposta por ele, é totalmente baseada no Livro da Lei, de Aleister Crosley, um estudioso de misticismo e magia e fundador da Ordem de Thelema, e membro da Ordem da Aurora Dourada. Foi no contato com a Magia que Raul aprendeu sobre a reencarnação, vidas passadas, e tantos outros assuntos místicos trabalhados em suas músicas.Uma música fez muito sucesso e se destaca de forma especial é a "Eu nasci há dez mil anos atrás", que de forma sutil passa ao ouvinte a idéia das vidas sucessivas, da reencarnação, e de que o ser humano é um ser evolucionário, mas que está totalmente submetido apenas ao seu livre arbítrio.

Quando se analisa os escritos do Livro da Lei, não é difícil entender os desequilíbrios da vida de Raul. O próprio autor da obra terminou a vida de forma trágica, doente, e cercado por todos os tipos de problemas. Diz-se que Fernando Pessoa em encontro com Aleister, preferiu manter distância deste, tantos eram os desequilíbrios psiquicos que apresentava. As angústias e a própria história de Raul representa algo parecido. Drogas, mulheres, sexo, doenças, e enfim, a morte. Uma história cheia de altos e baixos, grandes fracassos e grandes vitórias, mas nenhum equilíbrio.

Para quem pensa em seguir os estudos de filosofia, Raul ensina que a interrogação do mundo, a contestação, a quebra de barreiras e paradigmas na busca do encontro com o eu e o outro, é preciso ser feito com método. E se a filosofia não pode nos dar respostas definitivas sobre os problemas levantados é possível que se tenha um método que nos leve por um caminho seguro. O caminho do desenvolvimento das virtudes morais, intelectuais e espirituais, que permitem a interrogação do ser e o encontro com a iluminação.

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