A fantástica história de Didi Mentira

Dizem que Didi mentira viveu nas margens do Rio Claro no Estado de Goiás, mas precisamente no município de Caçu. A história que se conta é que recebeu a alcunha de “Didi” por ser engraçado, em alusão ao Didi do grupo “Os Trapalhões”. Não posso dizer se Didi mentira ainda está vivo. A  história que ouvi refere-se apenas ás suas fantásticas mentiras.
Ele era engraçado por mentir, mas não era aquela mentira maldosa, com objetivos de tirar vantagens ou coisas que o valha. Era a mentira que tornava a vida mais alegre. E Didi não mentia como quem inventava histórias; suas mentiras pareciam fazer parte de sua vida, mas do que uma mentira o Didi de caçú parecia viver em um mundo imaginário; um mundo feito de acontecimentos nas quais só as crianças são capazes de acreditar. Talvez Didi mentira não mentisse, fosse apenas um ser que acreditava em seu próprio mundo.
A mentira é  definida como sendo um nome dado a afirmações falsas ditas por alguém que sabe, ou no mínimo suspeita de tal falsidade. No entanto, se alguém conta algo que não sabe ser mentira não pode ser chamando de mentiroso, o que mostra que a mentira está ligada a consciência daquele que mente sobre a falsidade do que afirma ser verdade.  No campo da moralidade a mentira é tida como pecado em muitas religiões, e mentir, é contra os padrões morais, no entanto, não foram poucos aqueles que fizeram concessões a mentira. Platão afirmava que a mentira era permissível se fosse para auxiliar na construção do bem estar da Polis; já Aristóteles, Kant, Santo Agostinho não admitiam em nenhuma hipótese a possibilidade da mentira ser usada como instrumento útil na construção de uma sociedade.
Durante a segunda guerra mundial um general de Hitler ficou famoso pela frase que pronunciou afirmando que uma mentira dita mil vezes acaba tornando-se verdade. Não é diferente muita das estratégias utilizadas pelos donos do capital para fazer as pessoas consumirem alguns produtos. A psicologia da mentira mostra que aos quatro anos e meio as crianças já tentam testar se as pessoas acreditam ou não em suas mentiras; seja, contando-as ou utilizando do instrumento da culpa, culpar-se ou se sentir culpado como forma de lidar com a mentira e ou com a verdade. Por incrível que pareça, na política recente um presidente americano utilizou recentemente o que pode ser chamado de a “nobre” mentira de Platão como instrumento para justificar a invasão ao Iraque.
De outro lado, é preciso lembrar que em essência no mundo atual todos mentimos, e mentimos o tempo inteiro por que assim a sociedade o exige. Somos uma sociedade de mentirosos, hipócritas, egoístas e esquizofrênicos; é o que se convencionou chamar de mentira social. Perguntados como está o nosso dia, não importa se está horrível, quem pergunta sempre espera que digamos estar tudo bem. Didi mentira não mentia em nenhum destes aspectos. Sua mentira parecia fazer parte da sua própria forma de exisitir.
Certo dia Didi Mentira descia triste, acabrunhado. Todos pensaram que algo horrível teria acontecido a ele. Então, dirigindo-se a ele o inquiriram: Didi, que se passa, por que está tão triste?
Didi não perdeu a oportunidade de mentir, e nem se sabe se a arte de aparecer pelas ruas triste e a acabrunhado já não fazia parte da mentira. Didi responde: Ora, estou triste por que aquele amigo de outrora está doente moribundo, e acabou de falecer hoje a tarde.
Tão verossímil pareceu a história que muitas pessoas desceram a casa do moribundo que falecera. Ao chegar lá, qual surpresa de todos encontrou o dito moribundo fundando seu cachimbo sentado em sua cadeira preguiçosa. Raivosos, prometeram encontrar uma forma de pregar uma mentira tão absurda em Didi que fizesse  acreditar que fosse verdade.
Tramaram dias, dias, semanas. Então chamaram Didi e lhe contaram a seguinte história para ver como ele reagiria. Didi, olha, é o seguinte, ocorreu uma história que todos estamos perplexos. Um homem andando de moto em alta velocidade quando viu uma vaca em sua frente. Quando viu que não poderia frear a moto, o homem pulou por cima da vaca, deixando a moto passar por baixo da bichana, e, como se não bastasse pulou na moto do outro lado, tudo em questão de segundos diante dos nossos olhos.
Didi olhou com naturalidade para o seu contador de historia e perguntou:
- Você viu mesmo isso acontecer?
O moço respondeu: - Claro que vi, como os meus próprios olhos.
Didi insiste – Você tem certeza de que viu mesmo, presenciou tudo e não tem dúvida de nada que viu?
O moço responde: - Claro Didi, e não foi só eu que vi. Estava lá eu e alguns amigos.
Didi então abre um largo sorriso, olha para todos e afirma:
- Que bom que vocês estavam lá, que bom que viram. O moço que vocês viram em cima da moto era eu. Eu queria tanto poder contar esta história e tinha medo de que não acreditasse em mim, que pensasse que fosse mentira; mas já que vocês estavam lá, fico tranqüilo, agora sei que  ninguém poderá dize que estou mentindo.
Como se pode ver, Didi mentira não mentia, vivia de sua forma o aspecto absurdo da realidade. Aquele que torna capaz transformar os piores momentos da vida, ou as mais toscas armadilhas em instantes de vitória e supremacia. Eis ai registrado a história a mim contada por meu amigo Wiliam Sandro, - a fantástica história de Didi Mentira.

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