Corrupção – I : Falando Francamente.

Nelson Soares dos Santos

Tenho muito ouvido falar de corrupção. Outro dia foram colocadas mais de 500 vassouras na porta da Câmara dos Deputados em Brasília e a piada pronta é que alguns que lá foram manifestar contra a corrupção levaram as vassouras, e, no outro dia, um número ainda maior tinha sido roubadas. Ouvimos também a história de Jaqueline Roriz, que mesmo sendo vista recebendo propinas foi absolvida por seus colegas de plenário, uma vez que mesmo sendo ela, comprovadamente no vídeo, entenderam que aquele vídeo não poderia condená-la.
Também ouvimos falar da queda do pai da Jaqueline, o Joaquim Roriz. Outro que deu o que falar foi o mensalão do DEM, aliás, único caso recente de corrupção no qual alguns dos acusados, incluindo o ex-governador José Roberto Arruda foram ver o sol nascer quadrado. O mensalão do PT, freqüentou as  manchetes de jornais por anos, e a história ainda não acabou. O que pior, escândalos recentes mostram que os esquemas continuam, o que muda é apenas aqueles que dirigem os esquemas. Basicamente, não me lembro de um ministério que não tenha tido nos últimos dez anos uma fumaça de corrupção. Cartões corporativos, Paloci,(duas vezes), Dirceu, Turismo, Esportes, Trabalho, Integração Nacional, Transportes, - na verdade, é como se todos estivessem envolvidos e não houvesse possibilidade de mudança.
Recentemente a mídia começou a sugerir que a presidente estava tentando fazer uma faxina. Realmente a queda de cinco ministros, praticamente todos, por suspeitas de corrupção não é algo pequeno, mas por aqui, passou sem que houvesse grande indignação dos cidadãos. Falando francamente, é preciso perguntar o por que da corrupção, por que isso não tenho visto ninguém perguntar. De onde vem a corrupção? Onde começa? Quais as raízes? É possível que a corrupção esteja nas empresas privadas? Nas igrejas? É possível falar de corrupção nas famílias? Por que somos tão tolerantes com a corrupção?
Investigar as respostas para todas estas questões não creio que teremos alguma resposta negativa. Infelizmente, creio que descobriremos que a corrupção é algo muito mais profundo do que simplesmente políticos corruptos. Então se queremos mesmo lutar contra a corrupção é preciso fazer mais do que fincar vassouras na porta da Câmara do Deputados. Já ouvi de muita gente boa que não é possível ser político e honesto no Brasil, e pior, ouvi isso de alguns políticos. Na carreira profissional como Educador, diversas vezes fui, praticamente coagido a flexiblizar “ ser flexível”, “facilitar” a vida do aluno. Detalhe, isso significava aprovar alunos na Universidade que tinha dificuldade para ler e escrever textos simples, e tais alunos, muitos estão se transformando em professores, educadores físicos, advogados. Por não ceder as chantagens da Instituição sofri horrendas perseguições estando tendo que reaver o emprego na justiça, e vencendo a batalha judicial os dirigentes ainda fazem de tudo para não cumprir a sentença judicial.
Também é normal aquele velho costume que muitos têm de levar pequenos materiais da empresa, seja ela pública ou privada, para casa. Pequenos matérias como grampeadores, papel, caneta, e outros tantos. Outra questão é “flexibilidade” nos horários de cumprimento da execução do tempo de trabalho. Em uma faculdade onde trabalhei, quando faltava vinte minutos para dez, não tinha mais ninguém nas salas de aula, e, as vezes eu me sentia constrangido a dispensar os alunos por que os porteiros serventes e guardas estavam ali pra fechar a faculdade antes mesmo das 22 horas. Na prática, os alunos não tinham 50% do tempo de aula que era exigido para que tivessem o diploma ao final do curso. Outra prática que já vi é a eterna repetição de avaliação até que o aluno consiga a nota para ser aprovado, quase sempre  sem nenhuma aprendizagem.
Pelo que tenho visto acontecer nas faculdades no ensino de graduação, não me assusta a quantidade de reprovados na prova da OAB ( Ordem dos Advogados do Brasil), pelo contrário, acho o número de aprovados muito alto para as práticas que tenho visto no cotidiano. A educação que deveria ser o lugar por excelência de combate a corrupção se corrompeu. Tem ainda aquela história de facilitar a vida do aluno fazendo acrobacias para que o aluno não precise ler os textos nos originais. A justificativa é que nos dias atuais, com tantos alunos trabalhando, e sem tempo para ler, não justifica privá-los da possibilidade de ter um curso superior.
Falando francamente, quem tem coragem de jogar a primeira pedra? Quem não é corrupto neste país? Esta análise pode ser ampliada para os profissionais da Advocacia, da Saúde, duas das quais tenho visto recentemente nos jornais diversas notícias envolvendo questões ética fundamentais. Por isso precisamos perguntar: por que da corrupção? Por que acreditamos que saltando etapas das coisas da vida podemos alcançar os objetivos pretendidos?  Por que nos propomos a uma vida de auto-engano, sabendo que não demora para o castelo construído sobre a areia desabar sobre nós?
Creio que a resposta está muito além da política. É preciso investigar a frouxidão moral que nos assola; é preciso investigar as relações promíscuas que se estabelece entre as igrejas, religiões, instituições e o poder público, sobretudo a partir dos vínculos que se estabelece entre representantes e representados. É preciso perguntar por que determinada religiões tem se esforçado tanto para ter representantes no parlamento, para eleger governantes ao poder executivo, quando ao mesmo tempo, apenas de uma religião, de uma bancada de 18, 16 estavam envolvidos em escândalos de corrupção. É preciso investigar a frouxidão moral que invade as famílias, ou mesmo compreender e se perguntar se o fenômeno da corrupção não está diretamente ligado ás novas formas de liberdades e de combate ao preconceito que estão sendo instaladas. É preciso voltar a discutir a liberdade, a necessidade, e questionar a existência de saídas para este labirinto que estamos vivendo.

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