Democracia, Liberdade e Direitos Humanos - Ainda os estudantes da USP


Nelson Soares dos Santos

“Eles  não tiveram aula de democracia”. G. Alcmim.

Quando nos últimos dias um grupo de estudantes da USP decidiu invadir a reitoria, embora eu seja um estudioso dos movimentos sociais ( minha pesquisa de dissertação de mestrado foi sobre movimento estudantil), não prestei muita atenção, talvez por que os movimentos sociais, sobretudo o movimento estudantil perdeu suas características de movimento politicamente autônomo e interdependente tornando-se um aparelho de partidos políticos sem nenhuma identidade a  não ser daqueles que o aparelham. O que eu não imaginava é que a tal invasão pudesse vir a nos ensinar muitas coisas sobre Democracia, direitos humanos e o uso da liberdade.
Um dos fatos que causou forte impressão aos meus sentidos foi a fala do Governador de São Paulo: “Eles não tiveram aula de democracia”. E acompanhado disso a Folha de São Paulo noticiou que os alunos que decidiram invadir a Reitoria, na verdade foram derrotados em Assembléia, em votação que decidiu pelo fim do movimento, na qual de  um total de mil alunos, 558 votaram pelo fim, e 458 pela continuidade da ocupação. Os tais alunos, pelo menos na teoria representavam os mais de 82 mil alunos da Universidade, dos quais, mais de 50 mil estão concentrados na cidade Universitária. Talvez este seja o primeiro problema das democracias modernas. 82 mil, representados por pouco mais de mil, e dos quais menos de 600, tinham a clareza do que significa os limites das lutas políticas, ou os limites entre a luta política e a bandidagem.
Por detrás deste fenômeno estão os mesmos dados que explicam a corrupção como epidemia no país, a péssima qualidade de nossos políticos ( afinal, grande parte dos nossos corruptos de hoje foram formados politicamente no movimento estudantil), o desejo de se enriquecer que vem tomando conta do país pela lei do mínimo esforço e tantos outros males que emperram o crescimento e o desenvolvimento do nosso país. Talvez, o governador tenha razão, eles não tiveram aula de democracia; ou não, talvez a razão seja mesmo que eles tenham tido aulas demais de democracia e poucas aulas sobre liberdade e direitos humanos.
Digo isso, pelo motivo de que somente na modernidade é que a democracia passou a ser exaltada como a melhor forma de governo. Na Grécia antiga, por exemplo, a democracia era considerada a pior forma de governo, e sua decadência, se transformavam em demagogia, que era pior ainda, por que se permitia a manipulação desenfreada do povo para objetivos os mais temíveis para o destino da nação. Isto posto, penso que não se pode chamar o que aconteceu na USP de democracia. O que tenho visto, e o que percebi quando pesquisei o movimento estudantil, foram mais indícios de demagogia do que de democracia. O movimento estudantil está dividido em diversas correntes, as quais por sua vez ligadas umbilicalmente a partidos políticos. Estes, por sua vez, não têm quase nenhuma democracia interna, e a vida partidária se resume a interesses de pequenos grupos, e em alguns casos de uma ou duas pessoas.
É possível que investigando um pouco mais, seja possível encontrar docentes da própria USP, como conselheiros dos invasores e fumadores de maconha ( afinal, já temos um sociólogo mor defendendo a liberação da maconha); e se investigar um pouco mais, descobrir-se-á que existe gente bem diplomada manipulando a situação a propósitos de interesses inconfessáveis. Outro dia li que as Universidades brasileiras tem alguns monstros, vendo as notícias do dia a dia, não tenho duvida de que alguns deles estão nas melhores Universidades. São aqueles doutores que ninguém sabe sobre que pesquisaram para a tese de doutorado, que nunca escreveram nada relevante, e que suas vidas de acadêmicos não contribui com quase nada para melhoria da vida de quase ninguém.
Nesta situação, a questão da liberdade fica prejudicada. De um lado por que no reino da monstruosidade e da ignorância não existe liberdade. A falta de consciência da existência e do modus operandi do mundo não permite aos indivíduos sequer compreender a  responsabilidade e conseqüência dos próprios atos. E se a questão dos direitos humanos fica prejudicada, mais ainda fica os direitos humanos. Não se pode falar de direitos humanos onde não existe consciência de si e liberdade.
O que ocorre na USP é, então, neste sentido um ponto de estrangulamento de um circulo vicioso cuja realidade se explica pelo clientelismo, compadrio e diversos outros males que estão arraigados na cultura brasileira, mesmo na melhor Universidade do país. Outro dia li uma reportagem onde Alan Turraine dizia que os intelectuais tem muita culpa nas crises atuais que o mundo enfrenta. Talvez, os acontecimentos da USP, seja o sinal mais claro de que o intelectual francês esteja com toda a razão. 
Bibliografia.
 Santos. Nelson Soares dos. História do Movimento Estudantil. http://amigosdosabor.blogspot.com/2011/11/historia-do-movimento-estudantil-no.html

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