A doença de Lula, os invasores da USP e o Tribunal da História


Nelson Soares dos Santos

O tribunal da história não condena, nem absolve, não censura nem louva: O tribunal da história conhece e compreende. O juízo histórico está sempre além e acima das partes, acima da pugna e da ira inimiga. G. Reale, interpretando o pensamento de Benedeto Croce in História da Filosofia Volume III

Durante os últimos dias temos tido material abundante para exercitar a racionalidade sobre a natureza humana: a reunião do G 20, a crise econômica mundial que assola os países desenvolvidos, as guerras no Oriente Médio, os escândalos de corrupção no Governo Dilma. Qualquer um destes, ou muitos outros poderiam servir para um bom exercício de pensamento. No entanto, foi a doença de Lula e a invasão da Reitoria da USP ( Universidade de São Paulo), que teve mais forte impacto sobre meus sentidos.
Confesso que ao ficar sabendo da doença do Ex-presidente  uma ansiedade invadiu o meu ser, e, uma profunda solidariedade, e temi que alguma liderança do importante do meu Partido ( o PPS), fizesse alguma troça da situação por ser oposição, e portanto, foi bom e importante, quando vi os principais jornais do país repercutirem o posicionamento partidário de solidariedade ao Líder Inconteste deste país. Não demorou, no entanto, para que nas redes sociais começasse troças de todos os tipos, a mais famosa, a campanha que pedia para que ele fizesse tratamento no SUS ( Sistema Único de Saúde.
Eu vi com tristeza a tal campanha não apenas por me considerar um humanista convicto, mas por que ela representa um tipo de má fé que tenta esconder os problemas coletivos projetando-os nos indivíduos. É uma forma de moralismo abstrato as avessas. Dado isso, fiquei imaginando como seria o LuLa fazendo tratamento no SUS. Será que os médicos o deixaria esperando na fila? Ou pegariam autógrafos, e se ofereceriam para dar toda a assistência possível? Parece-me que fosse Lula fazer o tratamento no SUS, não seria um problema para o Lula, dado a subserviência moral de nosso povo, seria mesmo mais um problema para os que lá estão na fila. Digo isso, para fazer entender que o problema do SUS, não é apenas um problema de Gestão ou de falta de verbas. O médico que assina contrato para trabalhar oito horas e trabalha duas, não diz respeito a um problema de verbas, mas sim, a um problema prático moral.
De outro lado, os invasores da USP. Possivelmente muitos deles são os mesmos que clamam para o Lula fazer tratamento no SUS. E aqui, eis um caso mais grave. A USP, é nada mais, nada menos a Universidade Brasileira que mais consome recursos públicos. O vandalismo que aqueles estudantes fizeram paralisando a Universidade, impedindo milhares de alunos de se qualificarem não foi um problema pequeno, é na verdade um atentado contra o futuro do nosso país diante do qual o prejuízo momentâneo é insignificante. Os atores destes dois acontecimentos são oriundos da mesma classe social: a classe média alta, ou seja aquela parcela da população que possui acesso a uma vida de qualidade graças a capacidade de consumo aumentada pelo desenvolvimento econômico do país.
Afinal, o que está errado nos dois movimentos? É simples. Ambos estão tentando viver no passado. Não admitem o desenrolar da história. Aqueles que fazem troça com doença do presidente não conseguem aceitar e nem compreender que Lula foi um bom e grande presidente, ou mesmo, não conseguem entender, já que não aceitam a realidade, como ele conseguiu se tornar presidente e ser tão popular. Outros, que acreditam sinceramente e ingenuamente que assim estão defendendo um atendimento de qualidade no SUS, não compreendem a realidade, que nos mostra por exemplo, que o Estado gasta bilhões por ano com pessoas que na verdade e na prática não precisaria do serviço público de saúde.
Os estudantes, parecem não compreender o momento de transição pela qual vive a sociedade, e de uma forma esquizofrênica parecem acreditar que movimentos imitadores dos ativismos do passado pode auxiliar na conquista do presente, e por que não possuem o esclarecimento necessário para compreender a história, retiram dela os exemplos mais absurdos. Bem disse o Governador de São Paulo, Geraldo Alcmim: “Aqueles estudantes não tiveram aula de democracia”.  Eu diria que a situação é bem pior: eles não compreendem a vida, não sabem o que é viver, e não sabem o quanto custa uma vida, nem tão pouco a liberdade que temos.
Uns e outros precisamos entender que o passado deve ser deixado nas contas do tribunal da História. Giovanni Realle em sua obra História da Filosofia ao analisar o pensamento de Benedeto Croce fez uma afirmação que merece ser citada, por duas razões: a primeira por que bem aconselha as viúvas do Governo Militar, do Governo Fernando Henrique e do Governo Lula; a segunda, por mostra uma forma de pragmatismo que tem se perdido na atualidade. Eis a citação:  “O tribunal da história não condena, nem absolve, não censura nem louva: O tribunal da história conhece e compreende. O juízo histórico está sempre além e acima das partes, acima da pugna e da ira inimiga”.  
Eu creio que chegou a hora de tentarmos olhar para o futuro e viver o presente. Entregar o governo Lula, o governo dos militares, e o governo FHC ao tribunal da História. É preciso tentar compreender racionalmente os problemas que temos e por que os temos, e com esforço e tenacidade enfrentá-los. A vingança, o despeito, o reacionarismo,  o pré-conceito não vai ajudar a encontrar novos caminhos. Estes serão encontrados pro espíritos desarmados que vivem o presente olhando para o futuro.

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