A UEG precisa ser um Projeto do Estado de Goiás e não de Um Governo




1Nelson Soares dos Santos

Hoje saiu a notícia em primeira mão. Haverá sim, intervenção na UEG, e já se tem o nome do novo reitor. Será o professor da PUC - Pontifícia Universidade Católica de Goiás Jeferson de Castro Vieira. Economista, o professor é considerado não ligado a partido político e da mais alta confiança do Governador, sentencia o jornalista. A verdade é que a UEG já estava de alguma forma, sob intervenção desde o início do Governo Marconi, e por mais bem intencionada que sejam os últimos movimentos em relação a ela, é preciso que a sociedade acompanhe com atenção todos os passos dados, afinal, a UEG não pode ser vista como patrimônio de nenhum governo, governador ou grupo político – A UEG tem de ser vista como um projeto de Estado e patrimônio de todos os goianos.
Dos fatos vistos, noticiados e acontecidos neste primeiro ano de Governo Marconi em relação a UEG, alguns precisam serem ressaltados: A) era necessário que se fizesse mudanças na UEG; b) a reestruturação tinha mesmo de ser profunda, política e administrativa; c) os motivos da reestruturação não está ligado apenas ao tempo do Governo Alcides, mas pela própria forma que a UEG sofreu a expansão no segundo Governo Marconi.
Quando digo que era necessário que se fizesse mudanças na UEG, não é uma questão política, mas acadêmica. A UEG foi politizada e se transformou em mais um instrumento da política menor e da forma como ela é feita no Estado de Goiás, o clientelismo, a troca de favores, e pior, até mesmo sendo utilizado como cabo eleitoral em épocas de eleições. É claro que tal situação não pode ser admitida em uma Instituição que quer ser respeitada como universidade e lugar de produção de conhecimento.
Quando digo que a reestruturação precisa ser profunda, política e administrativa quero dizer que precisa mudar muito, talvez quase todo corpo diretivo e não apenas a Reitoria. A estrutura administrativa da UEG, transformou-se um câncer que a corroeu por dentro. Criou-se uma meritocracia às avessas, ou um clientelismo maquiado de meritocracia. Um faz de conta infinita que ninguém sabe mais onde começa ou onde termina. Uma investigação profunda do ministério público deveria ser feita, inclusive buscando analisar as razões da péssima qualidade do ensino da maioria das unidades, incluindo aí a prática pedagógica em sala de aula e, mais ainda, as práticas políticas vividas pelos professores, coordenadores e diretores de Unidades.
Por outro lado, discordo de intelectuais e lideranças da base aliada ( meu partido o PPS participou da processo que elegeu o governador nesta terceira vez), que alardeiam por ai que a reestruturação é necessária devido ao desgoverno do Governo Alcides. Não cabe aqui entrar no mérito se houve ou não desgoverno no Governo Alcides, mas o certo é que a situação da UEG, padece dos males de sua origem e construção política. Logo no primeiro governo Marconi, as novas unidades do Interior, sobretudo, serviram para agasalhar adesista vindos do PMDB, no segundo turno. Pelo que sei, vi e vivi, na UEG e na Secretaria de Educação não houve renovação de lideranças com a eleição de Marconi no ano de 1998. Muitas novas lideranças que poderiam ter surgido, e que aliás, foram o sustentáculo da vitória de Marconi em 1998, foram perseguidas e nunca tiveram espaço no chamado Tempo Novo. O Tempo Novo foi construído com as pessoas do Tempo Velho, muitas delas, como no Nordeste Goiano, as mais retrógradas, adesistas e com pouco interesse no bem estar coletivo.
A reestruturação da UEG tornou-se uma necessidade por que a Educação se tornou um negócio político, um meio de arrumar votos. Um descalabro total. Entretanto, não basta ao Governador intervir colocando reitores e pró-reitores de alta confiança. É preciso que seja discutido com a comunidade acadêmica, pesquisadores e professores Universitários do Estado que tipo de Universidade o Estado precisa para fortalecer o processo de desenvolvimento econômico e social. É preciso que a UEG se transforme em um Projeto de Estado, e não em um projeto de um governo, ou do governador. É preciso que seja traçado um planejamento estratégico claro, de crescimento, investimento em pesquisa, fortalecimento da FAPEG, desenvolvimento da Iniciação científica na graduação, investimento no Professor e no pesquisador com o objetivo de mantê-lo na Universidade. Enfim, é preciso que a UEG construa sua autonomia, e neste caso a intervenção do momento é apenas um passo, talvez necessário, de uma longa caminhada que precisa ser começada.


1 Nelson Soares dos Santos é Pedagogo, Mestre em Educação Brasileira, membro da Executiva Estadual do Partido Popular Socialista e foi professor da UEG em 2000/2002 – 2005/2007 na Unidade Universitária de Campos Belos.

Comentários

  1. Na Sociedade em que vivemos tudo aquilo que é gerado pela ilegalidade perde naturalmente o direito à razão.

    Se não tivéssemos evoluído e ainda vivêssemos na pré-história, seria perfeitamente normal que ocupássemos o poder pelo direito da força e pela exagerada imposição de nossas vontades. Nesse estado de selvageria tudo se justificaria. Nesse tipo de sociedade primitiva ninguém teria paz, pois a qualquer momento viria uma força maior e destruiria tudo aquilo que havia sido conquistado e construído, com muita luta, por um determinado grupo. Seria a plenitude do "Bellum omnia omnes" (A guerra de todos contra todos).
    Na concepção Hobesiana a humanidade levou milhares de anos para romper com essa vida selvagem e criar um Estado por meio de um contrato social onde todos deveriam se submeter a esse ente soberano possuidor do poder absoluto para garantir a paz e a defesa dos indivíduos em sociedade. Esse Estado foi passando por mudanças até chegar, nos dias de hoje, a esse contemporâneo Estado Democrático de Direito em que vivemos sob o império da lei e tendo as garantias individuais exaradas na Constituição Federal.
    Por meio de um golpe torpe e primitivo que abalou a estrutura institucional da UEG e rompeu com a ordem legal vigente no país, numa manhã de fevereiro de 2011, apareceu do nada um grupo de interventores na universidade, para tomar para si o poder. Quem estava naquela manhã na UEG e se deparou com aquela cena surrealista, deve ter se sentido um viajante de uma máquina do tempo que voltara ao passado pré-histórico se deparando com um bando de rivais que vinham para tomar-lhe a sua caverna. Uma verdadeira cena cinematográfica presente no prelúdio do clássico: 2001 uma Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick ao som do majestoso Assim Falou Zaratustra de Richard Strauss. Devem ter tomado um susto pré-histórico.
    Após a “institucionalização” forçada desse poder usurpado, esse grupo pensou que haviam conquistado a legitimidade na instituição. Estavam enganados. Se vivêssemos como os Australopithecus nas cavernas da pré-história isso seria considerado normal, porque onde não existe lei, não existe crime. Mas no esplendor do Estado Democrático de Direito tudo aquilo que rompe com a ordem democrático-institucional vigente é considerado golpe.
    Para que a senhora Danúsia Arantes ganhasse de presente a PrE - Pró-Reitoria de Extensão, foi preciso que se violasse o Art. 29 do Estatuto legal da UEG. Junto com esse delito vieram outros: violação dos Incisos I e V do Art. 53 e do Art. 56 da LDB e do Art. 207 da Constituição Federal. Se a legislação educacional, a democracia e a autonomia da universidade tivessem sido respeitadas pelo governo, seria praticamente impossível a senhora Danúsia Arantes ter se tornado Pró-Reitora de Extensão.

    Hoje, a senhora Danúsia Arantes, luta para sobreviver em seu cargo.Então ela trava uma luta contra o tempo. A contagem regressiva para ela deixar a UEG já começou. Mesmo assim ela tenta ingenuamente criar laços com pessoas da universidade como se não tivesse participado da elaboração daquele estatuto discriminatório que tentou cassar o mandato de 29 diretores e como se não tivesse apoiado exaustivamente o fechamento de dezenas de cursos proposto pela comissão de Reestruturação.
    Caberá a comunidade uegeana fazer uma profunda reflexão sobre esse imoral processo de intervenção que a UEG sofreu, e decidir se apoia os filhos do golpe que se apoderaram dos cargos por meio da violação da lei ou se apoia as pessoas de bem que lutam e defendem a democracia, a autonomia e o cumprimento de toda a legislação educacional para o bem da UEG.
    No futuro, falando sobre essa época de intervenção na universidade, historiadores sérios dirão que esse foi um dos períodos mais vergonhosos da história da UEG.
    MDA – MOVIMENTO EM DEFESA DA AUTONOMIA DA UEG

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