A democracia dos Cabos Eleitorais

Nelson Soares dos Santos1


Quando se põe a pensar nos problemas da democracia brasileira diversas situações nos vêm à mente. Algumas são profundamente discutidas como o Coronelismo, o Clientelismo, a apatia do povo, a corrupção, etc. Outras, já são tidas como normais e até necessárias. Ultimamente uma delas tem chamado minha atenção: É que nas campanhas eleitorais tem ume elemento denominado “Cabo Eleitoral”. A importância do cabo eleitoral cresceu muito desde 1988, e vem crescendo dia-a-dia. Para se tiver uma ideia, uma campanha proporcional de deputado estadual ou federal de estados pequenos como Goiás e ou DF, muitos candidatos planejam gastar em média dois milhões com os chamados “cabos eleitorais”.
Há poucos menos de um ano das eleições existem candidatos que já estão com mais de seis meses trabalhando com cabos eleitorais remunerados. Estes fazem o papel dos antigos militantes dos partidos, sejam nas redes sociais, ou na vida cotidiana, levando o nome do candidato e trabalhando para proliferar as ideias dos mesmos. Nas redes sociais os “cabos eleitorais” são os mais virulentos e fanáticos chegando ao ponto de ultrapassar os limites éticos em prol da defesa dos seus patrões.
Os cabos Eleitorais e máquina Pública.
Um dos problemas dos cabos eleitorais é que a maioria deles não são contratados apenas para trabalhar durante ás vésperas do ano eleitoral ( com o agravante de que todo ano é véspera de eleição); eles são contratados por um salário devido e mais promessas de se vencida a batalha da eleição serem acomodados dentro do serviço público por meio dos chamados cargos comissionados. Com isso, as máquinas públicas estão inchando ano a ano, levando as folhas de pagamento dos estados a uma situação insustentável. Isso acontece por que diversos cabos eleitorais não tem a devida qualificação para serem servidores públicos, mas por arrebanharem votos são contratados por salários, muitas vezes altos, com nenhuma função prática no estado, mas apenas para manter de uma nova forma os chamados “currais eleitorais”.
Pior ainda é constatar que praticamente todos os partidos se deixaram contaminar por esta prática, ao ponto de uma condição sutil para ser candidato é ter dinheiro ou condição de arrecadar dinheiro para pagar cabos eleitorais. Em alguns partidos criou-se uma máquina permanente de cabos eleitorais, outros partidos tornaram-se eles mesmos apenas instrumentos de arrebanhar cabos eleitorais, são os chamados partidos de aluguel. A rigor, temos no Brasil quatro ou cinco partidos com objetivos ideológicos, os demais são todos feitos para negociar apoio e possibilidades de eleição para mandatos proporcionais, o que os coloca bem próximos do papel de cabos eleitorais dos candidatos majoritários. Nestes casos seus dirigentes possuem uma secretaria garantida uma vez vencida as eleições, e muitas vezes, de porteira fechada.
Com esta situação, o eleitor comum, o cidadão fica cada vez mais distante da esfera política e dos partidos políticos. Outro dia convidei um amigo para se filiar a um partido e ele respondeu: - eu não, ainda tenho coragem de trabalhar; ou seja, a política passou a ser vista como lugar daqueles que perderam a coragem de trabalhar e de viver. O problema não é mais o fim dos militantes, é mesmo que tal prática tem destruído uma das possibilidades da construção da cidadania. Com isso, a própria democracia fica prejudicada, pois em vez de termos um país de homens livres temos mesmos é uma democracia de cabos eleitorais.




 Nelson Soares dos Santos é Pedagogo, Mestre em Educação Brasileira, Secretário Geral do PPS Metropolitano da Cidade de Goiânia , membro da Executiva Estadual do PPS Goiás e Diretor Regional da Fundação Astrogildo Pereira

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