EDUARDO CUNHA E A CULTURA DA CORRUPÇÃO NO BRASIL


Nelson Soares dos Santos[1]

Quando saiu o resultado da votação do Conselho de Ética pela cassação de Eduardo Cunha, muitas pessoas comemoraram nas redes sociais. De fato, é um alívio. Foram seis meses convivendo com cinismo em rede nacional, ao vivo, em cores, gravado e documentado. Parece que é óbvio comemorar, entretanto, o fato de Eduardo Cunha ser cassado agora pode estar revelando algo ainda mais preocupando sobre a sociedade brasileira. Se for feito  pergunta: Por que Cunha durou tanto tempo? Por que afinal, quando toda a opinião pública sabia da falta de decoro e corrupção ele ainda encontrou forças para aprovar e presidir o impedimento de um presidente da república? E por que tantos intelectuais justificavam que não era hora de cassar Cunha pois era preciso servir dele para derrubar um presidente?
Esta última pergunta é a mais preocupante. Quando a opinião pública manipulada, ou aqueles que formam a opinião pública fazem o périplo que fizeram para justificar a presença de Cunha presidindo o impedimento de Dilma é um ato profundamente simbólico de que é natural no Brasil o uso de meios escusos para se alcançar objetivos pretensamente sadios. É um sinal de que Maquiavel ainda é o mestre da política no Brasil e que por aqui os fins ainda justificam meios. Para ser mais claro é só pensar que o que se fez no caso Eduardo Cunha foi como você aceitar que um Ladrão seja juiz por que não ninguém capaz de julgar o processo, mesmo sabendo que o Juiz ladrão está usando o processo para tirar proveito da situação. A história saberá julgar não apenas a classe política mas todos aqueles que, de alguma forma argumentaram em defesa de tal situação e revelaram assim o nível moral que conseguiram alcançar.
Independente de se o Processo de Impedimento da Presidente da República Dilma tenha sido legítimo ou não o que fica claro e todos já admitem, mesmos os intelectuais que antes nas redes e jornais diziam que Cunha era um mal necessário, o que fica claro é que Cunha não tinha legitimidade para ser presidente da Câmara, sequer tinha legitimidade e honra para ser um representante do povo no parlamento brasileiro caso queiramos falar de real respeito as leis e a constituição do país. Quando aceitamos que alguém que não tenha nenhuma legitimidade, nenhuma condição moral assuma os destinos e rumos de uma nação é por que algo de muito podre está no ar. Se existe alguma esperança e alento neste momento ele depende de Cunha contar a verdade, toda a verdade com a qual ele afirma ser capaz de derrubar o presidente Temer, ministros, 150 deputados, senadores e até mesmos ministros do Supremo Tribunal Federal.
A mudança possível.
Podemos, no entanto, ter real esperança. E esta possibilidade está na coragem de cada brasileira e brasileiro assumir posição em defesa de um novo modelo de sociedade. É preciso colocar fim aos arranjos políticos familiares, investir em Educação de qualidade para todos e construir uma cidadania fundada na participação política meritória e na livre expressão das vontades do povo. A luta contra a corrupção não terá sentido se não vier acompanhada por luta em defesa de uma sociedade humana, livre de preconceitos, fundada no respeito as leis, ao Estado Democrático de Direito e a todas as formas de diferenças do nosso espectro cultural.
O Governo Temer mesmo que consiga restabelecer a confiança na economia não terá legitimidade para propor mudanças nas estruturas sociais que provoque uma evolução ética e moral por que nasceu de forma ilegítima, marcado pela traição, pelos conchavos, e, sobretudo por um anseio de uma ala conservadora em avançar sobre os direitos sociais dos trabalhadores bem com um retrocesso no campo dos direitos humanos. Chega a hora que aqueles, que por alguma razão, e possivelmente com alguma razão, lutaram para colocar um fim nos governos do PT de refletir se querem ver a sociedade brasileira retroceder no campo dos direitos sociais e trabalhistas ou se querem de fato, combater a corrupção e ajudar a construir uma sociedade humanizada e avançada no nosso país. Chegou a hora de esquerdistas democratas se unirem, progressistas de todas as matizes, por que ao final o que interessa é o avanço civilizatório do nosso povo. E isso que vai nos colocar, no futuro, como líderes de outras nações.



[1] Nelson Soares dos Santos é professor Universitário.

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