Brasil - Uma democracia racial: um sonho que não pode acabar.




Nelson Soares dos Santos

Já escrevi mais de uma vez neste blog que nosso país, e nós estamos condenados a construir aqui uma democracia radical. É  nosso dever construir um país que propicie oportunidades iguais para todos na base; é nosso dever ser um país onde a tolerância religiosa seja desenvolvida ao seu nível máximo. É nosso dever construirmos um país onde a liberdade seja nosso guia, o amor e a compaixão sejam nossos alimentos. E é por isso que também aqui será o lugar onde todos os povos devem encontrar o seu canto para chamar de meu lar. Somos o país de todos os povos.
Não é um sonho novo, não é uma luta nova. Gilberto Freire em sua obra “Casa Grande e Senzala” escreveu :
“ Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.
Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí”.

No momento em que a escuridão parece nos rondar, nós negros desse Brasil devemos erguer a nossa voz. Nenhum povo neste país lutou tanto por liberdade como nossos ancestrais. Nós sobrevivemos às guerras tribais no nosso continente de origem, nós sobrevivemos às mortes aos milhares nos navios tumbeiros em meio ao oceano, nós sobrevivemos a mais de 300 anos de escravidão; Nós lutamos nos quilombos, nós sobrevivemos a quase 50 anos sem nenhum direito como cidadãos; e nós sobrevivemos a quase 100 anos de exclusão. Não temos por que nos amedrontar. Não temos o que temer. A luta está em nossa sangue, e daremos orgulho aos nossos ancestrais. Venceremos a escuridão e tempestade que se avizinha, e faremos deste país uma pátria para todos os povos, onde ninguém será banido e todos terão o seu livre arbítrio respeitado nos limites do bem estar coletivo. Nossa bandeira é a bandeira da união, da igualdade, da fraternidade, do amor e da compaixão. Nossa bandeira terá todas as cores.

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