País da Bandalheira ou País sem Educação?
Nelson Soares dos Santos[1]
Diz o comentarista
Ricardo Boechat, “O Brasil é o país da bandalheira, basta olhar os relatórios
de qualquer contrato de prestação de serviços desde a construção da mais
simples obra a maior obra feita e contratada pelo estado Brasileiro, seja no
Governo do PT, do PSDB, do Sarney, da Ditadura Militar, seja na construção de
Brasília ou em qualquer outra época da história brasileira”. Ao ouvir uma
declaração desta enquanto tomo café da manhã vendo o “ Café com Jornal” da rede
Bandeirantes logo vem a mente o fato de que se o Brasil é o país da
bandalheira, e não tem como negar isso, é também o país que nunca colocou a
educação como prioridade. A corrupção e a crise moral da sociedade brasileira é
tão grande quanto é a falta de respeito pela e educação e daqueles que a fazem.
Os estudiosos da educação
brasileira já fizeram muitos esforços para entender as razões que levam os
governantes no Brasil a ter tamanho descaso com a educação. Foram muitas as
reformas já feitas no campo da Educação, desde Pombal, as reformas empreendidas
pela ditadura; desde Getúlio Vargas a Darcy Ribeiro, muitas questões foram
mudadas na educação, entretanto, uma questão permanece fora de plano e fora de
lugar – a valorização do professor, - e quanto mais se universalizou a educação
no Brasil, mais se desvalorizou a formação e a remuneração daqueles que fazem acontecer a educação em
sala de aula.
Em tempos mais recentes a
luta contra a ditadura militar mobilizou diversos intelectuais e praticamente
todos os estudos recentes que temos atualmente ainda é produto e fruto do trabalho
de tais estudiosos. Demerval Saviani, José Carlos Libâneo e outros se
destacaram ao defender a gestão democrática na escola e um tipo de pedagogia
que se preocupasse com a emancipação dos menos favorecidos ou de como chamavam
“classe trabalhadora”. Entretanto, tais
educadores foram eclipsados pelos educadores do PT, Partido dos Trabalhadores,
sobretudo Paulo Freire, Marilena Chauí dentre outros, que transformou a teoria
pedagógica em instrumento de doutrinação e tentativa de criar via partido e
pela perspectiva marxista um novo modelo de sociedade.
Tais disputas resvalaram
na construção da nova Lei de Diretrizes e Bases, atualmente me vigor a lei
9394/96, e a tornou uma lei “ampla e flexível”, ou seja, uma lei que a tudo
permitia e de certa forma criava um monstro no meio educacional. As grandes
conquistas desta lei foram a Gestão democrática na Escola, busca de
universalização do Ensino Fundamental e médio, luta pela erradicação do
analfabetismo, mudanças nas formas de descentralização do repasse de verbas com
o Fundef ( Fundação do desenvolvimento da Educação Básica) e o Fundeb; e
recentemente com a regularização da mesma, a criação dos planos nacionais de
Educação e o Piso nacional da Educação Básica. Entretanto, com tantas emendas,
muitas contraditórias a lei se tornou um monstro que aos poucos vai se tornando
letra morta e deixando de ser cumprida, principalmente na questão da formação e
valorização do professor.
A universalização da
educação foi então seguida pela queda da qualidade do ensino público. Na
verdade, o que houve foi um afastamento das classes médias e altas da escola
pública e esta passou a servir apenas aos menos favorecidos ou a classe
trabalhadora. Um ensino de péssima qualidade, com professores extremamente mal pagos – no
ensino superior esta situação é invertida, a classe trabalhadora tem acesso a
uma educação de péssima qualidade oferecida pela rede privada de ensino. Esta
situação criou uma multidão de diplomados analfabetos, sem nenhuma ética ou
moral e que buscam a todo preço conquistar espaço na sociedade por meio da
esperteza e da malandragem.
Não é preciso mais que
isso para que possamos dizer que o Brasil pode ser definido sim, como o país da
bandalheira, mas também pode ser muito bem definido como pais dos “Sem
Educação”. É falta de uma educação de qualidade, com professores valorizados,
uma proposta pedagógica libertária e fundada, não na construção e busca do
poder por parte de um grupo ou segmento da sociedade como propõe o PT, mas uma
educação verdadeiramente humanista que busque o bem comum, a valorização da
coletividade e convivência pacífica entre os diferentes; que faz do Brasil o
país da corrupção. Sem querer transformar a educação em uma panaceia, podemos
dizer que chegou a hora de colocar a educação como prioridade, ou perderemos
nosso futuro como nação.
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