A Masturbação como razão egoísta
“O
meu egoísmo é tão egoísta que a essência do meu egoísmo é querer ajudar” Raul
Seixas.
Desde criança ouvi que a masturbação era algo pecaminoso, e até, pouco
não tinha encontrado uma explicação razoável para a questão. Tem sido comum nas
últimas gerações, o ato da masturbação; dos meninos espiando as mulheres tomando
banho peladas no rio, nas cidades pequenas; os homens que transformaram em um
comércio rentável o mercado da pornografia; a masturbação tornou-se assunto em
todas as camadas sociais, e ultimamente, tornou-se assunto feminino, uma vez
que cada vez mais mulheres aderem a busca do prazer pela masturbação.
A primeira explicação que ouvi para justificar que a masturbação era
pecado foi do meu pai. Ele disse que ao masturbar o homem jogava fora a semente
divina que fazia do mundo um lugar habitado por homens. Tal explicação calou
fundo em meu coração e fez de mim, talvez, um dos poucos jovens da minha
geração a ter pavor de revistas pornográficas e a masturbação, e, pior, me fez
chegar a segunda dezena de anos da minha vida virgem. Eu não queria ser o
responsável por fazer do mundo um lugar habitado por monstros, e, fazer sexo,
só era possível com a mulher amada.
A segunda explicação, eu ouvi aos 16 anos no Internato. Utilizando a
Bíblia o Pastor leu uma passagem do Antigo Testamento, acho que em Levíticos,
quando dois jovens são punidos justamente por se entregar ao tal prazer. Também
citou Sodoma, onde dizia ele, a masturbação era uma constante forma de prazer.
Como todos sabem Sodoma foi destruída com Fogo, e segundo se acredita, levando
a Bíblia ao pé da letra, fogo vindo do céu e enviado de Deus. Também no
internato, ouvi que a Masturbação fazia mal a saúde. Explicação incompleta, uma
vez que nunca vi alguém aprofundar tal análise é a que hoje mais me parece
plausível, não levando em conta apenas a saúde do corpo, mas as últimas descobertas
da medicina de que a saúde do homem só
existe de forma integral; saúde do corpo, da mente e da alma.
Quando estava na Universidade fazendo o curso de Graduação em
Pedagogia fui a um Congresso Científico da SBPC, apresentar um trabalho de
Iniciação Científica. Ao retornar, perplexo com o que lá vi, perguntei ao meu
orientador se ciência era aquilo mesmo, no que ele respondeu: não, ciência não
é aquilo, aquilo que você viu e muito do que existe atualmente na maioria das
Universidades brasileiras chama-se masturbação acadêmica. Desde então, fiz o
mestrado e passei por um doutorado e sempre pensando o que o meu orientador de
fato quis dizer com a expressão Masturbação Acadêmica.
Recentemente lendo alguns livros, encontrei uma expressão interessante
sobre a vida, a sociedade, o conhecimento e os homens. Há uma tese de que no
nosso mundo existem apenas dois opostos – o egoísmo e o altruísmo. Nos dois
extremos está o desejo de dar e receber prazer. Entretanto, o egoísmo quase
sempre prevalece em nosso mundo, diz os estudiosos do assunto por mim estudado,
e, isso por que até mesmo o desejo de doar está impregnado do desejo de
receber.
Ora, o desejo de receber prazer é um desejo egoísta, que manipula,
domina de forma autoritária o outro, e, muitas vezes, ou quase sempre o
explora. É também o desejo de receber prazer que faz os homens se arriscarem. O caso do jovem que
tudo faz para ter a atenção da donzela; o político que faz qualquer coisa para
ter o voto do eleitor, o comerciante que faz de tudo em busca do lucro, o
ambicioso em busca da riqueza. Do outro lado, temos o falso altruísta; aquele
que faz caridade por egoísmo, para ser bem visto na sociedade, para se sentir
bem consigo mesmo; até dizem que este é a pior forma de egoísmo, pois se o
primeiro nos impede de perceber a existência de Deus, a segunda forma nos
afasta dele e nos faz mergulhar na escuridão.
Então temos aqui a terceira explicação para o mal que nos faz a
masturbação, e, aliás, o mal que a mesma pode estar fazendo para muitos
relacionamentos. A masturbação é um prazer solitário, onde pelo pensamento e
imaginação aprisionamos o outro nos nossos desejos. Na masturbação o outro é exatamente como desejamos, deixando
de ser o que o outro é, e tornando-se aquilo que gostaríamos que ele fosse. A
masturbação elimina a necessidade de doarmo-nos ao outro por que sequer
precisamos conviver com o cheiro do outro; somos apenas nós, o nosso cheiro, a
nossa vontade, o nosso desejo. A masturbação, mesmo que na presença do outro
elimina o outro, e se não o elimina faz com que o dominamos de tal forma,
expelindo a possibilidade do encontro e deixando apenas a possibilidade da
dominação.
Mas por que masturbamos? O
homem primitivo masturbava dominado pelo desejo da fêmea, (creio que foi assim
que se descobriu a masturbação), ou a mulher pelo desejo do outro; ou pelo
desejo do prazer. Desta forma, a ausência do outro leva a masturbação e a
masturbação leva a eliminação do outro, ou da possibilidade do encontro com o
outro. Nos nossos dias, mesmo não tendo o controle sobre muitos dos nossos
desejos ( creio que só alguns poucos monges reclusos tem o completo domínio dos
desejos do corpo); aprendemos a ter consciência da existência dos mesmos.
Assim, a racionalização dos nossos desejos leva-nos a possuir uma nova forma de
buscar o prazer. A busca passa a ser racional e consciente; de tal forma que a
entrega ou não ao desejo dá as aparências de ser um produto do livre-arbítrio.
Esta engrenagem que leva a esta aparência de livre-arbítrio neste processo é o
que chamamos de razão egoísta.
A busca racional da satisfação dos prazeres de forma egoísta está
presente ao longo da história. As guerras, sobretudo a primeira e a segunda
guerra mundial, é um exemplo desta razão egoísta. Ali um desejo imenso de
anular o outro, eliminar o outro para alcançar o prazer final, o prazer maior,
a era de ouro, a felicidade completa do reino humano na terra. Em tempos de
alta tecnologia, esta chamada razão egoísta tem feito história nas
Universidades – a que me foi dado o nome de Masturbação Acadêmica – e no
mercado. Em um como em outro a mesma característica – a vivência de um prazer
falso, levado pela imaginação, pela solidão e pela ilusão da presença do outro.
Na Academia ele aparece como falso conhecimento, no mercado como roupo e
trapaça. Isto, o entanto, é assunto para outra ocasião.
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