A ocasião faz o ladrão?
Nelson
Soares dos Santos[1]
Em
tempos de crise moral, de apuração da lava jato, mensalão, tremsalão e tantos
outros escândalos de corrupção que assolam o país talvez seja necessário
perguntar – A ocasião faz o ladrão? Este é um ditado repetido pelo senso comum
ou conhecimento popular e quem nem sempre paramos para refletir sobre ele.
Exemplos não nos faltam. Como explicar o fato de que os dois tesoureiros do Partido
dos Trabalhadores tenham sido presos por corrupção e ainda assim, o Partido
conseguiu achar um terceiro para colocar no lugar do segundo preso? Como
explicar o grande número de servidores públicos que se corrompe?
Alguns
dizem que, dificilmente uma pessoa colocada em situação tentadora resistirá ao
ato de se corromper. E a sociedade em geral, até tolera aquelas pequenas
corrupções que se explicam com frase tipo como: “Ele precisa do emprego, então
tinha que fazer o que o chefe mandou”. Afinal, uma pessoa que se corrompe para
obedecer a uma ordem superior pode ser condenada? Durante a segunda guerra
mundial, muitos crimes foram cometidos por pessoas que “cumpriam ordens”. O mesmo
aconteceu nas ditaduras, das quais a ditadura militar no Brasil que durou vinte
anos, é um exemplo a ser considerado.
Deixando
de lado as ilações e opiniões populares, Kolberg, cientista e psicólogo que se
dedicou a estudar o desenvolvimento moral do ser humano, elaborou uma teoria
segundo a qual o homem passa por três níveis de desenvolvimento moral, sendo
eles: o pré-convencional, o Convencional e o Pós-convencional. No nível
pré-convencional, o qual ele dividiu em dois estágios, o individuo age no
primeiro estágio desse nível movido pelo egocentrismo e movido pelo medo da
punição; e no segundo estágio, ainda movido pelo egocentrismo, movido pelo
hedonismo relativista, muito influenciado a obediência pelo medo da punição também o individuo move pelo princípio do prazer. Poderíamos
concluir que para aqueles que estão nesse nível moral o ditado está correto uma
vez que se houver uma ocasião em que a busca do prazer não conflite com o medo
da punição o individuo se sentirá livre para praticar atos seja os quais for?
No
nível Convencional, que segundo o autor está à maioria da população adulta, e que também divide em dois níveis, compreende o que ele chama de moral do bom garoto, ou seja, o individuo age
com vistas a obter a aprovação dos demais membros da sociedade. Ora, também nesse
caso, poderia dizer que uma vez não sentindo medo de perder a aprovação dos
demais membros da comunidade, o ditado estaria correto? A ocasião faz o ladrão?
É
apenas analisando as conclusões do nível
Pós-Convencional que podemos lançar luz melhor a questão. O indivíduo que
alcanças este nível é movido por uma moralidade de contrato, princípios
democraticamente aceitos, fundados em princípios individuais de consciência
alicerçados na crença do valor sagrado da vida humana, e nos princípios da
justiça e do amor universal. A transparência, a sinceridade, honestidade de propósitos,
simplicidade e humildade seriam virtudes naturais dos indivíduos nesse nível
moral. Nesse nível não há mais o medo da punição, não há mais a busca do prazer
hedonista, nem tão pouco a necessidade de busca da aprovação dos demais membros
da sociedade.
Desta
feita, podemos agora responder a questão. A ocasião faz o ladrão? Não. A
ocasião não faz o ladrão. A ocasião apenas revela o nível moral dos envolvidos
em uma questão, portanto, ela apenas revela o ladrão. É uma pena que tão poucos
alcançam a possibilidade de perceber os princípios da Justiça, do amor, e do
valor sagrado da vida humana. Contra estes fatos resta-nos lutar por uma
educação de qualidade, pois segundo Piaget, um pesquisador aos do
desenvolvimento moral que antecedeu Kolberg, se conseguirmos propiciar aos
jovens as condições de desenvolvimento moral no tempo certo ( Kairós), um
número muito maior de pessoas alcançaria possibilidades de maior desenvolvimento
moral, e poderíamos então, ter uma sociedade pacífica, justa e cheia de amor
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