O Líder Marconi Perillo (III) – Marconi é o Nome
Nelson Soares dos Santos*
A engenharia pela qual foi construída a candidatura Marconi não foi tão simples como se vê na aparência. Muitos a atribui apenas ao anti-irismo, eu não vejo assim. Na ciência Política quase nada é simples. Os ingredientes que a compuseram foram múltiplos, desde a uma profunda insatisfação popular com a forma do grupo hegemônico do PMDB de fazer política e de governar, passando pela incapacidade dos grupos ideológicos de esquerda de dialogar com o povo sobre democracia, até a reconfiguração dos interesses pessoais de lideranças tradicionais à concepções derrotadas da direita no cenário eleitoral.
Quando chegou o momento de definir as candidaturas e Iris Rezende Machado foi “aclamado” no PMDB, como candidato “natural” a oposição ficou perdida. A alta preferência do eleitorado goiano por Iris, parecia torná-lo imbatível, ainda assim, não parecia fácil “unir” a oposição. O primeiro nome colocado como candidato pelos Partidos, PSDB,PP e PFL, foi Roberto Balestra. Não teve aceitação pelo eleitorado, recebendo um alto índice de rejeição. Entre outros fatores, creio que o fato de ser agropecuarista, estar próximo da direita herdeira da ditadura, tornava-o distante das massas.
Depois de algum tempo, por razões de bastidores, o nome de Roberto Balestra foi substituído por Marconi Perillo.O que parecia fácil pra o PMDB, agora parecia estar resolvido. Talvez esta foi uma das melhores armas de Marconi, - ser um candidato que não produzia ameaças. Quando Marconi iniciou sua campanha com 6% da preferência do eleitorado, o que se viu foram as lideranças nos municípios numa corrida desenfreada para ter espaço no palanque de Iris Rezende. Quando chegava aos municípios, em alguns deles, Marconi não tinha nem mesmo com quem conversar, e muitos antigos aliados de Ronaldo Caiado, Lúcia Vânia, etc, apareciam apenas para justificar que não podiam ficar contra Iris e perder mais uma vez. Marconi, paciente, ouvia, como eu mesmo vi ele fazer em Divinópolis e Campos Belos de Goiás. Eu me lembro, que em Divinópolis apenas eu e Antônio Carlos, e, em Campos Belos Adelino Machado, considerados lideranças inexpressivas apoiamos desde o primeiro momento a candidatura de Marconi Perillo. Iris com 76% da preferência do “povo”, parecia imbatível.
Nem mesmo as grandes lideranças da oposição pareciam empolgar coma caminhada do “moço da camisa azul”, ao lado dele, eu me lembro de Lúcia Vânia, Fernando Cunha e Nion Albernaz. Outros só foram de fato aparecer depois que ele superou os 20% nas pesquisas. Até o final do primeiro turno, as lideranças dos municípios ficaram do lado de Iris, ele era unanimidade, e estou falando aqui das lideranças dos municípios que se constituem a base do Governo Alcides Rodrigues, ou seja PP e DEM.
No início do segundo turno, tendo agora Marconi como grande vencedor, ( e aos ouvidos o jingle “ Marconi é o nome”) novo fenômeno ocorre: as mesmas lideranças que encheram o palanque de Iris Rezende, vieram, agora, afoitos, quase que sem respiração para o palanque de Marconi. Do lado de lá, ficaram apenas os fiéis partidários do PMDB, cansados, mas resignados, alguns até felizes, pois preferiam perder uma eleição a conviver com antigos adversários no futuro governo Iris. Creio mesmo que a adesão apressada dos antigos adversários do PMDB contribui em muito para a derrota de Iris, pois contrariou as antigas bases do PMDB, levando-os ao comodismo do já ganhou, e, de outro lado, não uniu, apenas adiou uma batalha inevitável.
O novo governo de Marconi começa com a influência da classe política conservadora. No interior do Estado, quase nada muda. Nenhuma renovação. Nas eleições seguintes para prefeitos e vereadores o que permanece são velhas disputas. A democracia não evolui, não cresce, não amadurece. Apesar disso, a participação de setores dissidentes do PT, e do PC do B contribui para diversas ações progressistas: o fato de não se ter vendido a CELG, a criação da UEG, a Bolsa Universitária, O Salário Escola, em que juntos configurou uma nova realidade enquanto rede de proteção social. No entanto, pouco se abriu espaço para o surgimento de novas lideranças, e para o aprofundamento da democracia.
Uma questão do senso comum na política goiana e profundamente verdadeira é que só existe dois grandes vencedores desde a redemocratização: Iris e Marconi. Iris, sendo verdade ou não, representou ou acabou por representar a essência da luta contra o regime militar, ocupando um espaço que os líderes do PT e do PC do B, não souberam ocupar; Marconi, veio a representar aqueles que lutaram pela redemocratização e não tiveram voz e nem vez no governo de Iris. No entanto, para Marconi e seus seguidores conseguirem vencer Iris, a primeira coisa que tiveram que fazer foi justamente se aliar ao que mais atrasado existia em Goiás: aquilo que restou do Regime Militar.
O PC do B desenvolveu uma tese para justificar a participação no governo Marconi que julgo acertada até a atualidade. A personalidade de Marconi Perillo era o fator que justificava o partido participar, apesar dos ingredientes que compunha seu governo. Ora, o discurso de Marconi sempre foi o de um estadista democrata, progressista e homem de uma liderança e pulso forte. Apesar de ter liderado uma salada ideológica conseguiu desenvolver ações que ninguém ousa questiona o aspecto progressista, muitas vezes, contrariando aliados conservadores. Investiu na criação de uma forte rede proteção social, incluindo Educação Básica e superior, fortaleceu as Instituições democráticas, não fez a política do denuncismo e do rancor, estabeleceu um diálogo democrático com os movimentos sociais, criou a UEG, e o que é melhor conseguiu aliar tudo isso ao desenvolvimento econômico do estado.
Nelson soares dos santos é Mestre em Pedagogo, Mestre em Educação Brasileira, Doutorando em Educação e Sociedade Pela Universidade Católica de Goiás e Profesor efetivo da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Goiatuba.
Nelson Soares dos Santos*
A engenharia pela qual foi construída a candidatura Marconi não foi tão simples como se vê na aparência. Muitos a atribui apenas ao anti-irismo, eu não vejo assim. Na ciência Política quase nada é simples. Os ingredientes que a compuseram foram múltiplos, desde a uma profunda insatisfação popular com a forma do grupo hegemônico do PMDB de fazer política e de governar, passando pela incapacidade dos grupos ideológicos de esquerda de dialogar com o povo sobre democracia, até a reconfiguração dos interesses pessoais de lideranças tradicionais à concepções derrotadas da direita no cenário eleitoral.
Quando chegou o momento de definir as candidaturas e Iris Rezende Machado foi “aclamado” no PMDB, como candidato “natural” a oposição ficou perdida. A alta preferência do eleitorado goiano por Iris, parecia torná-lo imbatível, ainda assim, não parecia fácil “unir” a oposição. O primeiro nome colocado como candidato pelos Partidos, PSDB,PP e PFL, foi Roberto Balestra. Não teve aceitação pelo eleitorado, recebendo um alto índice de rejeição. Entre outros fatores, creio que o fato de ser agropecuarista, estar próximo da direita herdeira da ditadura, tornava-o distante das massas.
Depois de algum tempo, por razões de bastidores, o nome de Roberto Balestra foi substituído por Marconi Perillo.O que parecia fácil pra o PMDB, agora parecia estar resolvido. Talvez esta foi uma das melhores armas de Marconi, - ser um candidato que não produzia ameaças. Quando Marconi iniciou sua campanha com 6% da preferência do eleitorado, o que se viu foram as lideranças nos municípios numa corrida desenfreada para ter espaço no palanque de Iris Rezende. Quando chegava aos municípios, em alguns deles, Marconi não tinha nem mesmo com quem conversar, e muitos antigos aliados de Ronaldo Caiado, Lúcia Vânia, etc, apareciam apenas para justificar que não podiam ficar contra Iris e perder mais uma vez. Marconi, paciente, ouvia, como eu mesmo vi ele fazer em Divinópolis e Campos Belos de Goiás. Eu me lembro, que em Divinópolis apenas eu e Antônio Carlos, e, em Campos Belos Adelino Machado, considerados lideranças inexpressivas apoiamos desde o primeiro momento a candidatura de Marconi Perillo. Iris com 76% da preferência do “povo”, parecia imbatível.
Nem mesmo as grandes lideranças da oposição pareciam empolgar coma caminhada do “moço da camisa azul”, ao lado dele, eu me lembro de Lúcia Vânia, Fernando Cunha e Nion Albernaz. Outros só foram de fato aparecer depois que ele superou os 20% nas pesquisas. Até o final do primeiro turno, as lideranças dos municípios ficaram do lado de Iris, ele era unanimidade, e estou falando aqui das lideranças dos municípios que se constituem a base do Governo Alcides Rodrigues, ou seja PP e DEM.
No início do segundo turno, tendo agora Marconi como grande vencedor, ( e aos ouvidos o jingle “ Marconi é o nome”) novo fenômeno ocorre: as mesmas lideranças que encheram o palanque de Iris Rezende, vieram, agora, afoitos, quase que sem respiração para o palanque de Marconi. Do lado de lá, ficaram apenas os fiéis partidários do PMDB, cansados, mas resignados, alguns até felizes, pois preferiam perder uma eleição a conviver com antigos adversários no futuro governo Iris. Creio mesmo que a adesão apressada dos antigos adversários do PMDB contribui em muito para a derrota de Iris, pois contrariou as antigas bases do PMDB, levando-os ao comodismo do já ganhou, e, de outro lado, não uniu, apenas adiou uma batalha inevitável.
O novo governo de Marconi começa com a influência da classe política conservadora. No interior do Estado, quase nada muda. Nenhuma renovação. Nas eleições seguintes para prefeitos e vereadores o que permanece são velhas disputas. A democracia não evolui, não cresce, não amadurece. Apesar disso, a participação de setores dissidentes do PT, e do PC do B contribui para diversas ações progressistas: o fato de não se ter vendido a CELG, a criação da UEG, a Bolsa Universitária, O Salário Escola, em que juntos configurou uma nova realidade enquanto rede de proteção social. No entanto, pouco se abriu espaço para o surgimento de novas lideranças, e para o aprofundamento da democracia.
Uma questão do senso comum na política goiana e profundamente verdadeira é que só existe dois grandes vencedores desde a redemocratização: Iris e Marconi. Iris, sendo verdade ou não, representou ou acabou por representar a essência da luta contra o regime militar, ocupando um espaço que os líderes do PT e do PC do B, não souberam ocupar; Marconi, veio a representar aqueles que lutaram pela redemocratização e não tiveram voz e nem vez no governo de Iris. No entanto, para Marconi e seus seguidores conseguirem vencer Iris, a primeira coisa que tiveram que fazer foi justamente se aliar ao que mais atrasado existia em Goiás: aquilo que restou do Regime Militar.
O PC do B desenvolveu uma tese para justificar a participação no governo Marconi que julgo acertada até a atualidade. A personalidade de Marconi Perillo era o fator que justificava o partido participar, apesar dos ingredientes que compunha seu governo. Ora, o discurso de Marconi sempre foi o de um estadista democrata, progressista e homem de uma liderança e pulso forte. Apesar de ter liderado uma salada ideológica conseguiu desenvolver ações que ninguém ousa questiona o aspecto progressista, muitas vezes, contrariando aliados conservadores. Investiu na criação de uma forte rede proteção social, incluindo Educação Básica e superior, fortaleceu as Instituições democráticas, não fez a política do denuncismo e do rancor, estabeleceu um diálogo democrático com os movimentos sociais, criou a UEG, e o que é melhor conseguiu aliar tudo isso ao desenvolvimento econômico do estado.
Nelson soares dos santos é Mestre em Pedagogo, Mestre em Educação Brasileira, Doutorando em Educação e Sociedade Pela Universidade Católica de Goiás e Profesor efetivo da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Goiatuba.
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