Os movimentos de Dilma e Lula que os analistas não viram
Uma das coisas mais engraçadas nos dez anos que observo a política são os erros cometidos por os chamados analistas. Na época de Fernando Henrique, muitos chegaram a acreditar e afirmar que o então presidente sairia do Palácio pelas portas do fundo, e, parte da oposição acreditou, parte da mídia embarcou, mas no fim o “Fora FHC”, não deu em nada. Nos tempos de Lula, por inúmeras vezes os analistas acreditaram que o Governo tinha chegado ao limite. A imprensa se uniu inteira em uma cruzada que no final fez aumentar a popularidade do presidente. No final do primeiro mandato, até mesmo o presidente chegou a duvidar de que seria reeleito.
No meio de tudo isso, o erro dos analistas são explicados pelo simples fato de que existem movimentos na política que passam despercebidos, e o seu teor e conteúdo não chega a ser público nunca. No tempo de Lula ocorreu um fato que a muitos passou despercebido: em outras histórias de corrupção quase sempre alguém acabava morrendo, ou desaparecendo da cena política; foi assim com Pedro Collor, o mesmo com os anões do Orçamento, Severino Cavalcanti, Sérgio Mota, dentre outros. No governo Lula ao se deparar com os escândalos foi feito um movimento sutil: primeiro, Lula assumiu que não sabia de nada e o Partido assumiu a responsabilidade de punir os culpados, antecipando o julgamento das urnas; Segundo, manteve os prováveis autores dos delitos em cena sob o pretexto do direito a presunção da inocência.
Tal movimento permitiu entrar em um debate com a oposição, e, ao garantir o direito de defesa ganhou tempo para tirar da oposição a autoridade de fazer acusações. Está nítido em minha memória, diversos discursos do presidente afirmando que a oposição não tinha autoridade moral e ética para acusar a ninguém do PT. Veja, o que estava em discussão não era mais se os envolvidos nas investigações eram culpados ou não, e sim, se aqueles que acusavam tinha ou não autoridade para tal. O sucesso de tal movimento foi tanto que calou a oposição, uma vez que toda a oposição se viu envolvida em esquemas parecidos, como o mensalão de Minas do PSDB, Mensalão do DEM de Brasília ( o único que acabou levando alguém de fato para a cadeia), e tantos outros escândalos espalhados pelo país. O que restou foram vozes solitárias de dissidentes do próprio PT como Heloisa Helena e outros, que afinal, foram massacrados pela máquina pública.
Agora, na crise que Dilma enfrenta, os analistas cometem novamente alguns erros ao não perceber os movimentos mais sutis.: 1. Acreditam que Dilma está rompendo com o modelo de governar montado por Lula; 2. Estimulam a chamada “faxina” na esperança de desestabilizar a base aliada; 3. Não percebem a importância que as cúpulas partidárias tem no processo de construção da maioria governista.
O primeiro ponto é o erro mais ingênuo. Não é verdade que Dilma rompe com o modelo de administrar de Lula, pelo contrário, ela amplia o leque de forças que permitirá ao PT concluir seu objetivo de ficar 30 anos no poder, na medida em que fortalece outros campos e tendências do Partido, despaulistizando a cúpula do poder em Brasília e mantendo, ao mesmo tempo, um forte diálogo futurista com o mesmo grupo. Lula, no PT, é identificado com o grupo majoritário, Dilma não. Ao fortalecer outras tendências, a presidente não enfraquece o campo majoritário, pelo contrário, fortalece o PT como todo, abrindo possibilidades de com outras tendências levar o Partido a assumir discursos, hoje monopólio do PSDB, PSB, PDT e PMDB. O resultado de tal movimento será sentido após as eleições de 2012, quando o PT será um partido ainda mais social democrata e menos dos trabalhadores.
O segundo movimento, de tão sutil, foi noticiado e não foi percebido. Na queda dos três primeiros ministros Dilma fortaleceu seu próprio núcleo de poder, e fortaleceu o PT; na queda de Vagner Rossi, Dilma estabeleceu um novo modus operandi de como lidar com os partidos políticos de sua base, começando pelo PMDB. Antes do Ministro cair, chamou no palácio todas as lideranças partidárias e, infelizmente não sabemos o teor da conversa, mas eu imagino que foi mais ou menos assim: Olha senhores, de agora em diante cuidem cada um do quintal de vocês. Se vocês não fizerem uma faxina em seus partidos, eu mesma farei. E é simples, não temos mais nenhuma alternativa a não ser diminuir o nível de corrupção no país. Ou seja, passou a bola da faxina para os presidentes dos partidos. O PMDB entendeu, e logo em seguida, Rossi se demite e o próprio partido encarrega de fazer a substituição, coisa que o PR não deu conta de fazer por não ter um comando unificado.
O terceiro movimento, é o mais interessante e ainda mais sutil, justamente pela pouca credibilidade que tem os partidos políticos. Dilma fortaleceu as cúpulas partidárias. Não funcionou com o PR, está funcionando com o PMDB, e vai funcionar com os demais por uma simples razão: hoje, o mandato é do partido e não dos parlamentares. Ao fortalecer as cúpulas partidárias, Dilma coloca em pratica uma regra de Sun Tzu – Conquiste os fracos e os fortaleça. Dilma está conquistando as instituições partidárias, e ao fortalecê-las fará delas parte do projeto do PT de modificar o modo de crescimento e de desenvolvimento do país. Além disso, Dilma retira de suas mãos a responsabilidade de fazer faxina ou se responsabilizar pelo desempenho, pois este passa a ficar nas mãos das cúpulas partidárias. Silenciosamente, ao forçar a saída do Partido da República da base aliada, a presidente enriqueceu o republicanismo brasileiro.
De outro lado, com tais movimentos, a presidente deixou a oposição ainda mais sem discurso, e sem vozes. Afinal, para onde irá o PR? Alguém da oposição Irã defendê-los? A presidente e seus aliados assumiram o discurso do combate a corrupção com um discurso que quando percebido pela população será tido como heróico – a capacidade de cortar na própria pele, de correr riscos pelo bem do país. Mas uma vez, erram os analistas e perde a oposição por olhar apenas o imediatismo. O lado bom é que ganha o país, logo a luta contra a corrupção será um caminho sem volta.
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