A promessa e a palavra dada como ato moral por excelência
Nelson Soares dos Santos
Que vivemos em uma época
considerada de crise, isto todos já sabemos. Em tais épocas torna-se difícil dizer
o que é certo ou errado, alguns, até se arriscam a dizer que não existe certo
ou errado, que tudo depende das circunstâncias do ato, caindo em um extremo
relativismo moral. Não creio que por mais que seja uma época de crise e transformação, e que
portanto está sendo gestada uma nova sociedade ou uma sociedade de novo tipo
que não possamos analisar, pensar, e tentar compreender os mecanismos e ou
critérios que as pessoas utilizam para justificar moralmente os próprios atos.
Neste texto vou citar alguns exemplos no campo da política e da vida social
tendo como eixo a questão da promessa e da palavra dada tida aqui neste tópico
como excelência do ato moral na atualidade.
Por que a Promessa e a
Palavra dada é a excelência do ato moral na atualidade.
Daí por que no meio da
tantas normas a serem seguidas e obedecidas, a maioria de forma coercitiva
sobra pouco espaço para uso da liberdade e consciência, ou mesmo para se saber
se as pessoas seguem tais normas é por ser livre e consciente, ou apenas por
que se é obediente ou tem a tendência a sê-lo. Um exemplo é na questão da
família. Temos tantas regras sobre como ser pai, ser mãe, que uma pessoa
medrosa tende a criar os filhos de acordo com o estatuto da Criança e do
Adolescente, uma vez que este prevê penas para aquele que não o observa. O
mesmo poderia ser dito para a questão do idoso, do respeito às mulheres, às
minorias etc. É tanta regra e tanta norma que o individuo precisaria de uma
vida para conhecer cada uma delas, o que faz com que muitos se deixem guiar
pela voz dos “especialistas”, antes de tomar decisões ou praticar qualquer
atitude.
É justamente por estas
razões que a palavra dada e a promessa feita torna-se em nossos dias a
excelência do ato moral. Em ambas, dá-se a palavra por não existir uma
obrigação contratual, ou mesmo, faz-se uma promessa por que não existe a obrigação do fazer, ou de outro modo, dá-se a
palavra que desobedecer-se-á a lei para ajudar, ou auxiliar alguém. Em ambos os
casos significa a excelência do ato moral, pois apenas indivíduos livres,
conscientes e responsáveis são capazes de analisar quando se pode estar acima
da lei para quebrá-la, ou colocando-se como tal ter como objetivo a justiça, a
prudência e sabedoria. Outra questão, é
que a palavra dada e a promessa feita acontecem todos os dias. Quem hoje não
prometeu algo que não tinha nenhuma obrigação de prometer? O filho que promete
a mãe não se exceder nas bebidas, o aluno que promete ao professor não colar, o
político que promete administrar com transparência e honradez, o pai que
promete aos filhos dar um presente, o namorado ou a namorada que promete fidelidade ao parceiro.
Em toda promessa a única garantia é a palavra empenhada que pode ser cumprida
ou não.
Em todos os casos quando
existe a promessa e a palavra dada fugimos das normas e estabelecemos uma nova
convenção entre os envolvidos. De fato, uma promessa e uma palavra dada leva a
ignorar possíveis normas existentes, pois se deu a palavra e ignorava a dificuldade
de cumprimento da mesma, só isso, já revela por si, pequenez moral de quem o
fez, pois consciência significa também conhecer as possibilidades de cumprir
aquilo que foi prometido. Não se pode confiar em alguém ou seguir alguém que
não tem idéia das dificuldades do caminho ou não tem a capacidade de enfrentar
os percalços e dificuldades que se apresenta. De fato, uma vez dada a palavra
ou feita a promessa resta o cumprimento
ou a desmoralização, ou seja, a descrença naquele que as faz e não as cumpre.
Devemos pois relembrar
que as mais universais das teorias do comportamento moral que se existe consciência
por parte do sujeito este não pode alegar coerção, pois as escolhas morais
significa aceitar a conseqüência das mesmas, e o exemplo histórico mais
emblemático é o de Sócrates que bebeu cicuta para que fosse mantida as regras
da cidade como válidas, uma vez que se não o fizesse, significaria renegar tudo
o que ele havia pregado. Sendo assim, e tendo consciência de que aqui falamos
apenas de pessoas que possuem capacidade moral ( portanto, excluído as crianças
e os doentes mentais), nenhum político pode justificar o comportamento de não
cumprir promessas feitas por meio de justificativas sejam ela sociais,
práticas, lógicas, científicas ou dialéticas. A palavra dada e a promessa não
cumprida não pode ser justificada justamente por não ser uma norma, e portanto,
não ser passível de justificativa, apenas cumpre-se ou não. O que é passível de
justificativa a partir dos critérios acima colocados são normas morais escritas
nas leis, nos costumes, nos valores e cultura de uma sociedade.
Outra questão, é que a
palavra dada e a promessa feita, é algo individual e singular. Cada palavra proferida
carrega em si a individualidade do sujeito que a profere, pois nela está
incluso as capacidades que o sujeito possui ou que demonstra possuir. A confirmação
pois, do cumprimento da palavra/promessa revela se o sujeito é mesmo quem
acredita ser ou apenas um embuste a enganar seus contemporâneos. A palavra/promessa
proferida é pois algo singular não podendo ser transferida para outro, apenas
aquele que promete é capaz de cumprir o prometido, não podendo ser
terceirizado.
Muitas pessoas tentam
justificar a quebra de acordos, não cumprimento de promessas alegando que a
pessoa com quem fez o acordo no passado também deixou de cumprir. Tal fato
confirma apenas a má fé ao fazer o acordo, ou seja, já o fez consciente de que
não cumpriria; e, jamais produz razões críveis para não cumprir o prometido. O sujeito que dá uma palavra, faz um acordo ou
promessa, já sabendo que não cumprirá não é digno sequer de ser sujeito público
e viver em sociedade, pois está abaixo do nível do processo civilizatório atual
ou revela em si a parte mais cruel e danosa
da sociedade que precisa ser combatida e destruída.
Conclusão ou o que dizer
das promessas dos políticos.
Não creio que exista
espaço da sociedade onde a palavra dada, os acordos tenham tão pouco valor como
na política, talvez, exatamente por isso, no momento atual e no Brasil atual,
exista tanta corrupção e tantos escândalos. Talvez por ser a política a origem
da construção das normas legais, criou-se algo intuitivo, inconsciente de que
os políticos estão acima da lei, e isso leva a um exagero na mudança de rumos
propostos para a sociedade, ou mesmo a uma deturpação do que deve reger as
relações sociais e políticas.
Pior ainda é a forma como
que se dão as lutas nos bastidores dos partidos políticos. Creio que se a
maioria dos homens comuns ( que não participam da política), tomassem
conhecimento de como funciona os bastidores dos partidos políticos a sociedade
entraria em uma guerra de todos contra todos, uma violência interminável de tal forma se veria banalizado as normas e
a própria vida humana. Não existe nenhum compromisso de cumprimento da palavra,
de acordos, de obediência as eleis. Tudo vai sendo banalizado de forma cruel e
desumana.
Os partidos políticos que
se querem com decência, com elevada retidão moral devem fugir de acordos
escusos que prejudicam a sociedade, e zelar, para que em suas fileiras tenham
homens que cumpram com as promessas que fazem, que respeitam as normas que se
põe, e que tem no ser humano o fim último da ação política. Não será decente o
partido político que aceita em suas fileiras homens sem escrúpulos, desumanos,
sem palavra, e que vive na certeza da impunidade. É justamente por ser a
política o espaço da construção das leis que devemos zelar para que a palavra
dada e a promessa feita sejam cumpridas, ou que não sendo cumpridas os sujeitos
sejam responsabilizados na medida certa.
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