Está tudo podre! E tu ainda sonhas?
Nelson Soares dos Santos
Faltava poucas semanas
para o natal quando conversava com uma distinta senhora na rede social do
Twitter, falávamos sobre o julgamento do mensalão, e, eu tentava adotar uma
postura sóbria, serena, sem pré-julgamentos e sobretudo tentando pautar pela
ideia de justiça. Afinal, muitos pensadores tem afirmado que o que houve no
caso do mensalão foi uma aberração e não uma ideia de justiça. Só pra ficar em
apenas um, cito Bresser Pereira, que outrora foi pensador da nossa elite, e que
agora, afirma serenamente, que a mesma elite que ele defendeu está perdida e
sem rumo.
Do meu ponto de vista,
creio que o maior problema do Mensalão foi ter sido julgado sob o clamor
popular. Quando há clamor popular dificilmente pode existir justiça, quase
sempre e em vez desta, o que vemos é o espírito da Vingança. O emblemático foi,
para os pensadores que analisam, os juízes, não terem encontrado amparo legal
para condenar os acusados, e então, para justificar as decisões de condenar,
buscaram o fundamento em uma doutrina
conhecida entre os especialistas com Teoria do Domínio do Fato. Sem entrar nos
meandros da tal teoria, o que resta é que de fato não houveram provas
suficientes e cabais, para, de acordo com a Nossa Constituição condenar os
acusados. Condenados, não havia por que quebrar o rito de esperar o trânsito em
julgado para o cumprimento da sentença. O resultado do imbróglio acabou por
fazer com que o Respeitável Ministro Joaquim Barbosa justificasse a não
aceitação do pedido imediato de prisão utilizando jurisprudência anterior ao
caso. E é aqui que muitos fatos interessantes podem ser analisados.
A primeira questão é que,
se levado a sério, o julgamento do mensalão, terá que logo em seguida condenar
também o chamado “mensalão mineiro” que pega de cheio metade da oposição; a
segunda questão, é que se criaria uma jurisprudência na qual toda vez que um
funcionário se corrompe ou é corrompido, o chefe hierárquico ou dono da empresa
seria condenado. No país que vivemos, seria o mesmo que decidir colocar na
prisão mais de 70% da população brasileira, e pior, todos os governadores e
prefeitos seriam presos, pois desafio o politico atual que não transige com a
corrupção. As campanhas caras, personalizadas, alimentam e retroalimentam o
sistema corrupto e, as leis frouxas, e até mesmo, o sistema judiciário e
policial infestado de corruptos não se sustentam.
Diante de tal realidade
procurava mostrar a missivista que a corrupção não é privilégio do PT e seus
Asseclas, e sim, um mal que está presente em toda a sociedade brasileira, e que
a forma como está sendo tratado o julgamento do mensalão pode nos empurrar para
um moralismo abstrato, e em seguida para perda da liberdade de expressão.
Tentava mostrar que existe gente honesta e corrupta em todos os lugares, e que
tais situações devem ser vistas com serenidade, acuidade e cuidado. Foi então
que ela saiu com a bendita frase que dá titulo a este texto: Está tudo poder!!
E tua ainda Sonhas?
Ao ler a frase fiquei
parado e atônito. Passei a me questionar: Será eu um ingênuo a sonhar em uma
sociedade que se aceita corrupta? Devo aceitar que está tudo podre? Ora,
aceitar que está tudo podre é aceitar que eu mesmo estou podre e já não há mais
nenhuma esperança. Os dias se passaram e o natal, ano novo, e as
responsabilidades que se misturaram as festas não foram suficientes para
esquecer a tal frase que martelava na minha cabeça: “Está tudo podre! E Tu
ainda sonhas? As traições dos amigos, dos amores, das ex-mulheres, a traição dos
companheiros políticos fisiológicos, tudo, mas tudo parecia comprovar que tudo
estava podre.
Voltando a reler sobre as
razões que fez com o respeitável Ministro Joaquim Barbosa não aceitasse a ideia
da prisão imediata dos réus algo chamou minha atenção: ele se baseou em uma
jurisprudência na qual mantinha em liberdade um réu condenado por crimes
hediondos. Ficou a sensação de que a sociedade por mais podre que pareça não
está perdida, e, pelo simples fato de que ninguém reclamou do ministro por
comparar os figurões da república com um criminoso. Finalmente, a sociedade
começa a aceitar que corrupção, desonestidade é crime. Por mais que pareça que vivamos em um anomia
a sociedade reage e busca a cura dentro da própria doença. O organicismo social
não estava de todo errado, e se a sociedade evolui lentamente a própria
expressão da missivista revela um desespero de quem sabe que não se pode mais
continuar como sempre foi, e que sabe, que a condenação dos réus do mensalão é
a condenação das práticas de uma elite que governou este país por mais de 500
anos.
Então sim, eu tenho
esperança. Por que se está tudo podre é justamente agora a hora de sonhar. É hora
de construir algo novo das cinzas que sobra. É a dialética que se manifesta
mostrando que o novo tem de repelir o velho e que se o PT se juntou ao
extremamente velho existe espaço para um novo que pode nascer. Nós que somos
povo e que nunca governamos este país, e que não concordamos com atos cometidos
pelo Partido dos Trabalhadores e seus figurões podemos ocupar o espaço deste
novo, desta nova política, por que, não será a velha elite a ocupar este lugar,
afinal, a velha elite sequer consegue ver que é da podridão que surge o adubo e
alimenta as mais tenras plantas transformando-as em árvores frondosas.
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