A Serra Negra da Vida.
Foi na minha
querida terra
Que aprendia
a filosofar.
Subindo tão
grande serra
Sozinho a
pedalar.
Todo dia da
semana eu e a negra Serra.
Eu e minha
bicicleta na madrugada fria.
Passava pela
cidade e subia o Boa Perna,
Cantando
canções tristes para chamar alegria.
Minha
bicicleta velha e o velho pai de companhia.
Tão juntos e
tão sozinhos na dura serra da vida.
Quando não era
lama era poeira que no rosto se espargia.
Mas tinha
que pedalar ou empurrar as feridas.
Já quase no
meio da serra, as pernas estavam cansadas.
Pedras,
buracos, poeira, lama no rosto e na alma
Os ricos
subiam de carro, passando pela mesma estrada.
E devagar o
velho dizia: Filho sobe com calma.
No final, no
cume da Serra Negra, a labuta esperava.
Um dia
inteiro no sol com enxada que caleja as mãos.
A comida na
marmita, quase fria, requentada;
E o sonho
distante e frio que acalentava o coração.
O velho pai
por vezes ensinava.
- Filho,
ouça os mestres e preto-velhos, guerreiro do coração,
Que na luta
que a vida trava
Só vence que
sabe manejar a espada e o facão.
Era a tarde
tensa e fria. A tarefa terminada.
Um quadro de
15x 10, toda terra em plantação;
Hora de
descer a serra que a noite era chegada.
E quase tudo
escurecia até mesmo o coração.
Feixe de
lenha na garupa. O peso que empurra a vida.
E sobre a
bicicleta que descia desembestada;
Pois freio
não segura na descida cruel e comprida.
Tem se que
contar com a sorte na descida louca da vida.
Segurava-se
como podia. Corpo e coração tremendo.
E, enfim,
quando chegava no velho e bom Boa Perna;
Agradecia a
sorte por mais uma descida sem queda..
Por vezes,
caia-se. E machucado, levantava e continuava descendo.
É assim as
descidas da vida que hoje minha alma externa.
Hoje tantos
anos depois, na sina do meu caminhar.
Ainda subo e
desço a Serra Negra da vida.
Como poeira,
lama e quedas, machucado e a sangrar.
Só não tenho
o velho pai mostrando os buracos e saídas.
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