Democratas de Goiás, uni-vos!!
Nelson
Soares dos Santos[1]
Precisamos
observar mais as ondas do mar. Observar como elas se formam, se avoluma e se
quebram nas praias. Uma onda sempre se
forma de modo sutil. Distante, lá quase no meio do oceano parece pequena, mas
eis que se aproxima cada vez das praias, fortalece, cresce e se avoluma. Para
um observador na praia quando ela está distante quase nada significa na
imensidão distante do mar. O surfista, esportista que dedica sua vida a
descobrir ondas sobre as quais pode se fazer belas e radicais manobras fica
ali, deitado em sua prancha, olhar distante, sentindo a direção do vento,
pensando nos movimentos das marés. Ele sabe que existem momentos das “boas
ondas”, momentos da ressaca, e momentos perigosos, os quais devem remar de
volta a praia e respeitar a violência do Oceano.
Todos
os dias se formam ondas na vida de um país, de um povo, de uma nação. E
precisamos cada vez de mais sabedoria para identificar qual momento vivemos e
quais ondas estão se formando, de que forma elas vão crescer, se avolumar e
arrebentar nas praias da nossa existência material. Eis que uma onda de
conservadorismo reacionário parece de longe se formar em nosso país.
Conseguiremos surfar e fazer boas manobras ou seremos engolidos pelas águas e
até morrermos afogados?
Muitos
são os fatos e movimentos que nos indica que uma longa, grande e poderosa onda
conservadora estão se formando. As mais recentes podem ser vistas no projeto de
Lei do Deputado João Campos que dá o direito as Entidades religiosas a
contestar a constitucionalidade das leis votadas pela maioria dos representantes
legítimos do povo brasileiro. Ora, não se trata de intolerância religiosa,
trata-se de reafirmar a importância do conceito de Estado Laico. Os cidadãos
podem ter religião, os cidadãos podem ter dogmas, os cidadãos podem ouvir os
religiosos, o Estado, jamais. E é simples, o Estado deve representar a totalidade
das vontades dos seus cidadãos.
Sintoma
de número 2. Outro sintoma é o caso “Pastor Feliciano”. O problema do Pastor Feliciano não é apenas
do Pastor Feliciano e da Bancada Evangélica. O problema do Pastor Feliciano diz
respeito a um jogo político que envolve todos os partidos que tem representação
no Congresso Nacional. E se o Pastor Feliciano tornou-se presidente de uma
comissão tão importante, e para o qual, todos afirmam, agora, que ele não tem o
perfil adequado, este é um problema de todos, e agora de todo povo brasileiro.
Isso mostra que algo pode estar errado no crescimento e desenvolvimento de
nossa democracia. Que o pastor Feliciano seja racista, não me preocupa, pois em
uma democracia ele representa todos os racistas desta democracia e eles tem
direito a serem representado por alguém; que ele seja homofóbico, machista, e
tantos outros mais; não me importa. Em uma democracia homofóbicos, racistas,
machistas, feministas, multirracialistas, igualitaristas, todos, todos possuem
o direito de serem representados. O que assusta é ver que o coletivo
responsável pelo equilíbrio destas representações permite que a democracia seja
maltratada, o decoro seja quebrado, as minorias derespeitadas, a constituição
rasgada por pessoas que estão ali para zelar pelas conquistas desta mesma
constituição. O que assusta é não ver vozes surgir em defesa da constituição e
da democracia.
Sintoma
de número 03 – O Supremo Tribunal Federal condena os envolvidos no caso
mensalão ou ação penal 470. O Presidente da Câmara Federal, entidade que
deveria ser a guardiã da nossa constituição, brada aos quatro cantos que não
vai respeitar as decisões do STF. Os condenados assumem, na mesma eleição que
elegeu o Pastor Feliciano Presidente da Comissão de Direitos Humanos, a
Comissão de Constituição e Justiça. Vejam, condenados em uma ação Penal
tornam-se membros da Comissão de Constituição e Justiça da Entidade que deveria
zelar pelo respeito a constituição, pela Justiça, pela liberdade, e por todas
as conquistas da nossa democracia.
Sintoma
de número 04 – Faltando quase dois anos para as eleições a presidente da
República se lança candidata a reeleição. Atrás de si todas as principais
lideranças se lançam na discussão da sucessão. Enquanto isso ninguém parece
estar preocupados com a situação da Educação no país. Professores sendo
esmurrados por alunos, professores adoecendo, escolas caindo aos pedaços de
norte a sul do país, e os principais líderes preocupados com a reeleição.
Deveríamos todos estar discutindo as reformas de que o país precisa para
continuar avançando. Deveríamos estar discutindo uma reforma profunda no modelo
educacional que temos, a reforma tributária, a reforma urbana, a reforma
agrária, a sustentabilidade, o meio ambiente. Não... nada disso parece
importar. Uma onda parece se formar
sutilmente, e vai envolvendo a todos, e crescendo parece indicar que uma onda
conservadora se forma para em breve, em poucos anos, arrebentar-se nas praias
da existência material, matando a liberdade afogando a nossa pequena e frágil
democracia.
É
possível que muitos outros sintomas possam ser identificados. Em Goiás, um
sintoma que muito angustia um observador em sua prancha é a luta solitária dos
homens defensores da democracia, da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Apesar
de que muitos não conseguem ver, existe em Goiás um grande número de homens
defensores da democracia, da liberdade e da justiça social. Eu conheço pessoalmente
uma centena deles. É verdade que muitos deles estão quietos, se recusam a
entrar “no jogo” da política. E lutam silenciosamente, cada um a sua maneira. Uma
pena que suas vozes pouco são ouvidas nos nossos dias. Em um passado mais
recente, quando ainda começava minha vida na militância política ouvi muitos
deles a gritar. Pinheiro Sales, Niraldo, Osmar Magalhães, Niso Prego, Iran
Saraiva, Henrique Santillo. Tive a honra de conviver com alguns deles: Aldo
Arantes, Marcos Araújo, Denise Carvalho, Edwirges Carvalho, João Pires, Goiás
do Araguaia Jr, Anselmo Pessoa, Romualdo Pessoa, Eline Jonas, Lúcia Ríncon,
Silvio Costa, Adalberto Monteiro. Este
último, o grande responsável por hoje eu ainda estar na luta quando convidou-me
para fazer parte da Direção Estadual do PC do B de Goiás, no ano de 1998.
Estes
homens que nunca concordaram com a
corrupção. Homens que se espalharam na lonjura de suas vidas como indivíduos
é que agora vejo uma necessidade de que voltem a se unir. Homens democratas,
homens defensores da liberdade e que sabem perceber quando uma onda
conservadora parece aproximar para nos engolir.
Cada um destes homens formou ao redor de si uma multidão de centenas de
outros homens e eis que agora é o momento de uma nova união. Uma união agora
pode evitar o retrocesso na construção de nossa democracia. A história os
conclama a voltar a luta, ajudar a formar novas gerações com os valores da
liberdade, da igualdade e da fraternidade nos corações. Estes homens que em Goiás
lutaram contra a Ditadura Militar, fizeram parte do chamado “Bloco Popular”, no
primeiro Governo de Iris Rezende Machado; que estiveram ao lado de Henrique
Santillo, e que praticamente estivera todos juntos apoiando o primeiro Governo
de Marconi Perillo; são destes homens que goiás agora precisa.
[1]
Nelson Soares dos Santos é Pedagogo, Mestre em Educação Brasileira, professor
Universitário, Secretário Geral do PPS da Cidade de Goiânia, Diretor da
Fundação Astrogildo Pereira em Goiás e Membro da Executiva Estadual do PPS de
Goiás.
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