Ajoelhando perante Deus e servindo ao diabo.


Nelson Soares dos Santos[1]

Nesta sexta-feira assistiremos uma cena que já tem sido comum todos os anos. No dia que é considerado como sendo da paixão de cristo para os católicos, e, portanto um dia santo, veremos muitos políticos ajoelhados diante de altares das mais diferentes igrejas, e, ou religiões. A imagem de homens públicos ajoelhados ou em profunda harmonia e confraternização com clérigos das mais diferentes religiões tem sido uma arma política, e, principalmente em ano de eleições. No imaginário popular passa uma ideia de que ali está homens justos, tementes a Deus, e propensos a prática da justiça.  Entretanto, tamanha e nefasta tem sido a prática política brasileira que o observador atento poderá perceber na mesma cena não homens justos e tementes a deus ajoelhados perante os clérigos, mas, antes, clérigos corrompidos pela política e servidores do diabo.
A prática política está tão corrompida que quase não há motivos para que se tenha esperança. Ou a própria sociedade se mobiliza em busca de uma grande reforma social que mude completamente o modelo educacional que temos, ou a decadência será tão grande que chegaremos à barbárie. O nível de corrupção chega a comicidade como no caso da Operação Poltergeist na qual um membro graduado do Conselho de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil foi um dos indiciados. Aliás, a questão dos cargos comissionados é algo tão terrível quanto a própria forma de ação da chamada burocracia dos concursados efetivos que emperra o estado, pouco produz e exige salários cada vez mais vultosos ao bolso do contribuinte.
As relações entre o poder público e as religiões estão cada vez mais nefastas. Não é de hoje, e nem é segredo para ninguém, que são muitos os religiosos influentes no poder e donos de cotas de cargos comissionados, e tantas outras benesses. E é só pela influência que os  mesmos tem sobre os fiéis que agem como gado levado ao matadouro votando em quem os iluminados pastores indicam que os políticos corruptos ou não, acabam se curvando ante esta corja que acredita poder ter o direito de vender na terra os bens que eles consideram divinos e celestes. No conluio existente entre instituições religiosas, partidos políticos, sindicatos  e outros instrumentos estão as  principais barreiras para o surgimento de novas lideranças, pois nada escapa aos olhos daqueles defensores dos interesses pessoais e grupos privilegiados.
Os acordos de cúpula impede qualquer renovação. Os mecanismos de compra e venda de dignidade humana é operada a luz do dia. A ação política e o tráfico de drogas e ou o funcionamento das grandes organizações criminosas parecem se igualar. De tão trágica, muitos ficam anestesiados diante da situação. E aumenta os assaltos, e aumenta os estupros, e aumenta a violência do trânsito, e aumenta a criminalidade, que faz aumentar a corrupção, que invade as igrejas, que se tornam modernas e abençoam os políticos.
Em um momento no qual o silêncio deve imperar para muitos, que estes se lembrem: a construção de uma sociedade justa não se faz no mundo das aparências. Não é possível melhorar o mundo que temos buscando o poder a qualquer custo. A lei da ação e reação e inexorável. A corrupção de hoje será o fim da liberdade do amanha. O ato contrito de se estar ajoelhado deve estar em harmonia com os desejos do coração, com os pensamentos que estão na mente, e  das ações que seguirão nos dias do porvir. Do contrário, é um inferno e não um paraíso que teremos.



[1] Nelson Soares dos Santos, professor Universitário é membro  do Diretório Nacional do Partido Popular Socialista

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