Em defesa de Lula e do PT: Ou de como a sociedade não retrocederá

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[1]Nelson Soares dos Santos

No primeiro momento a impressão que se dá é que a situação do PT é indefensável. Eu nunca fui um petista roxo. Minha primeira candidatura a um cargo público foi a vereador da cidade de Divinópolis de Goiás pelo Partido Progressista. Recém saído do internato já guardava em meu ser as idéias humanistas que hoje defendo, entretanto, achava o partido dos trabalhadores radical demais e não concebia como ainda não concebo as mudanças na sociedade por meio da revolução e sim por meio da evolução. Não acreditava no Socialismo/Comunismo como visão de mundo e modo de vida, nem tão pouco como forma de governo de Estado.
Embora mergulhasse nos estudos das obras marxistas nos anos 90, acompanhado a queda do muro de Berlim, o fim da União Soviética e a ascensão da Social Democracia nunca me conteve a idéia de que o fim de um mundo Socialista/Comunista representasse o fim das lutas por um mundo com menos desigualdade social. De outro lado também não me enveredei na busca de uma nova forma de socialismo/Comunismo como alguns fizeram. Apesar destes fatos no ano de 1998 filei-me ao Partido Comunista do Brasil no qual pude conhecer melhor a máquina burocrática do Governo Estadual e a forma do fazer política no Brasil. No PC do B aprofundei e consolidei em meu ser as idéias humanistas de igualdade de oportunidades, a necessidade de valorização dos trabalhadores, a erradicação da fome e da pobreza no Brasil, a necessidade de se investir em políticas públicas em Educação, Saúde e Educação para todos.
Embora considerasse o PT radical demais em suas propostas foi com tristeza que vi o mesmo escrever a chamada “Carta aos Brasileiros” durante a campanha que elegeu Lula para o primeiro mandato. Vi naquela carta as sementes de todo o imbróglio que se vive hoje. O tipo de concessão que ali foi feito não poderia ter outros resultados. De um lado a elite não se comprometeu a mudar sua forma/visão de mundo, portanto, não se comprometeu em modificar as formas de relações sociais entre a elite dirigente e os dirigidos, oprimidos e marginalizados da sociedade. O PC do B por meio de sua direção entendeu que o Governo Lula seria um “Governo em Disputa”, explicado como de um lado, estaria os movimentos sociais e as forças de esquerda, de outro as forças de direita que buscaria manter o status quo. O problema é que não se pensou como processo de corrupção e “jeitinho brasileiro” afetaria tal situação. O PT não tinha consciência da imensa podridão que poderia ser a Elite Brasileira, e, esta, apostou na possibilidade de envolver os principais dirigentes do PT no processo de manutenção do Status quo.
Foi portanto, o fracasso da disputa na base do Governo que ajudou ao fortalecimento do chamado “Centrão”, o aumento da corrupção e do poder de voz e voto dos chamados “deputados periféricos”. Estes deputados, sem idéias ou ideologias, preocupados sempre em defender interesse pessoais e particulares se fortaleceram formando bancadas que em vez de revelar preocupações com o interesse público passaram a esconder os interesses pessoais e privados dos seus componentes. Juntos com os interesses escusos estas bancadas passaram também a “esconder” os interesses de uma elite reacionária e conservadora, apresentando-se ao povo como defensores dos interesses da coletividade.
O Grande Erro do PT e de Lula.
É verdade que o PT e Lula errou. Mas a raiz do erro não foi o envolvimento na podridão da corrupção tão pouco o abandono de diversas políticas que poderiam mudar a sociedade brasileira e sua cultura de organização social. O grande erro do PT foi em nome da possibilidade assumir o poder na chamada “Carta aos brasileiros” ter concordado em negociar o que era inegociável. A grande origem do erro do Partido dos Trabalhadores foi não ter tido paciência de esperar a sociedade amadurecer para que os principais dirigentes das Instituições da sociedade civil compreendesse a necessidade de dar mais um passo na busca da equalização das oportunidades na sociedade em um processo de erradicação da pobreza, erradicação da fome, avanço nos direitos trabalhistas e sobretudo a necessidade de constituir uma sociedade onde todos, negros, brancos, índios, mulheres, homossexuais e outras minorias pudessem ser vistas como tendo direitos iguais aos da maioria ou daqueles que detém o poder financeiro e dos meios de produção.
Se é possível fazer uma defesa do PT é de que o PT não inventou a corrupção no Brasil, tão pouco foi o responsável por retirar dos trabalhadores direitos sociais. É verdade que o PT não conseguiu fazer todos os avanças necessários para que pudéssemos, neste início do século XXI tornarmo-nos uma sociedade mais igualitária e mais esclarecida. Não foi capaz de sequer tocar as estruturas sociais, tão pouco modificá-las. A sociedade permaneceu desigual, preconceituoso, e dividida. Entretanto, ao tentar fazer reformas periféricas feriu suscetibilidades de um lado, e de outro, alimentou esperanças com promessas que não foram cumpridas.
O PT não conseguiu implantar um novo modelo educacional que pudesse dar oportunidade iguais de esclarecimento aos brasileiros. A educação Brasileira continuou a ser dualista, excludente e podemos até dizer que tal situação se agravou com um processo de adoecimento dos servidores da educação pública e estatal. O PT não conseguiu fortalecer o SUS, não conseguiu resolver o problema da violência, e, tão pouco da vida no campo ( agricultura familiar e reforma agrária). E uma das razões para tantos fracasso é que não é possível resolver tais problemas sem que se mexa nas estruturas sociais. Finalmente, o PT não fracassou por que tentou mudar. O PT fracassou por que aceitou que a sociedade não deveria mudar.
Os erros do PPS, PSB, REDE, ( Esquerda democrática).
No ano de 2014, filiado e membro da direção Nacional do PPS ( Partido Popular Socialista) mais do que nunca eu estava convencido de que a mudança social só é possível se formos capazes de compreender o momento vivido pela sociedade, tocar as estruturas sociais, e, aguardar o momento propício para que aconteça a evolução. Entendia que o modelo de Governo do Partido dos Trabalhadores estava vivendo um profundo esgotamento e que para o bem comum deveria ser urgentemente superado. Foi desta forma que apoiamos com entusiasmo a formação de um novo bloco liderado por Eduardo Campos ( PSB), Marina Silva ( Rede) e PPS.  A idéia era propor a sociedade que era possível avançar na equalização das oportunidades, na conservação dos direitos sociais conquistados e por meio de um novo concerto, um novo pacto fazer avançar sobre as estruturas sociais existentes reparos nas formas de tratar as minorias, erradicar a pobreza em todas as suas formas tornando a sociedade mais produtiva. Embora tal proposto não tinha como objetivo modificar as formas do como se lidar com o enfrentamento da forma atual da propriedade dos meios de produção seria possível avançar nos investimentos em Educação, Saúde e principalmente na busca do entendimento do respeito aos direitos das minorias e, sobretudo, a possibilidade de expressão destas próprias minorias no seio da sociedade.
A morte de Eduardo Campos ( prematura e mal explicada), colocou fim neste sonho. Marina Silva não conseguiu representar os anseios das parcelas da sociedade que apoiavam o projeto e a derrota levou uma grande parte dos progressistas, premidos pelas circunstâncias ao apoio a Aécio Neves. O fracasso de Marina pode ser explicado de forma simplificada pela sua tibieza a enfrentar as formas ultrapassadas de se fazer política, e de outro lado pelas contradições internas da coligação. Entre o PT de Dilma, e o PSDB de Aécio Neves qualquer um dos eleitos significaria um estelionato eleitoral para com a população  que foi possível exatamente pelo fortalecimento das lideranças sem voz, periféricas, sem idéias ou ideologias e que escondiam nos seus discursos interesses escusos e particulares em tautologias que logravam defender os interesses coletivos.
Como candidato a deputado estadual vi meu partido (O PPS) caminhar para cometer os mesmos erros do PT. Por impaciência e imperícia tornou-se coadjuvante periférico do PSDB e DEM e após as eleições em nome da derrubada do PT do poder abandonou a possibilidade de construção de um projeto alternativo de desenvolvimento social calcado no humanismo, na evolução da sociedade, no respeito aos direitos sociais, humanos, trabalhistas das minorias, no investimento na construção de novas políticas públicas no campo da Educação, Saúde, Segurança pública e renda mínima que permitisse de forma evolutiva mudanças na estrutura da sociedade. Ao se bater pelo impeachment o PPS e a chamada esquerda Democrática ai incluída o PSB e a Rede cometeram erro igual ou pior que o PT no final dos Anos 90.
Ao assumir o Governo, Temer não somente ignorou as chamadas pautas da “esquerda democrática”, como entregou ao Ministério da Educação a um partido Ultra liberal e conservador ( DEM), retirou verbas já parcas da Educação, ameaça diminuir o Sus, e retrocede em avanços já consolidados ou pelo menos tenta. Entretanto, é justo este erro que pode ajudar a sociedade avançar ainda mais no caminho do humanismo, do rompimento com estruturas sociais ultrapassada, com costumes e idéias que já não se coadunam com o novo momento vivido pela civilização.
E é neste campo que reside as novas esperanças de luta dos progressistas e democratas: A compreensão de que a luta contra a corrupção é possível no marco das mudanças dos costumes sociais, das estruturas da sociedade civil, do respeito as minorias, do respeito ao Estado Democrático de Direito, e sobretudo do avanço na construção de uma sociedade onde a igualdade de oportunidades seja o marco ou ponto de partida.  A sociedade não retrocederá. Se  o PT foi derrotado não se pode pensar que as pautas que ousou defender, as bandeiras e esperanças que prometeu implantar e tornar realidade não acabaram. E sim, pelo contrário estão mais vivas por que o processo civilizatório exige de todos nós o repúdio a formas preconceituosas, racistas e de toda forma de exclusão, e, mais que isso, a construção de uma sociedade humanista e inclusiva.






[1] Nelson Soares dos Santos é professor Universitário.

Comentários

  1. De acordo com o seu texto, vemos uma explanação de experiência política no Brasil.Mas não concordo no que vc deixa claro que é de que o PT fracassou e que não fez tudo o que era pra ser feito pela sociedade. O PT, teve e tem seus defeitos "operacionais" mas você e eu sabemos que o quanto ele pôde fazer por as pessoas para evitar mais exclusão, ele fez, em todas as áreas: saúde, educação, campo, respeito e inclusão das minorias, índios negros, brancos, pobres, tudo o que ninguém fez.Só não fez mais porque a grande crise econômica mundial, misturada com os golpistas traidores do povo e usurpadores de poder não deixaram. Atrapalharam e barraram todas as pautas de desenvolvimento que estavam traçados para o país, inclusive a reforma política que foi colocada e os golpistas nem quiseram saber; como reforma tributária e muito mais. Mas os erros de conjuntura ajudaram em tudo isso, como aliança com ladrões, golpistas e que só vivem de comer migalhas dos partidos que estiverem no poder central, no caso, o PMDB de Temer.....

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