Um Brasil que começa: A contribuição do ENEM para a Democracia.
Nelson Soares dos Santos
Há quatro anos atrás, o tema da redação
do ENEM foi sobre como a televisão manipulava o telespectador impedindo-o de
forma uma ideia correta da realidade. Hoje, quatro anos depois, o ENEM
praticamente repete o tema, entretanto desta vez, o instrumento de manipulação
é o uso da internet. Diferente da televisão, a internet por meio da redes
sociais capta muito mais dados dos usuários, e, através deles fica fácil
compreender que tipo de mensagem o usuário está propenso a receber e “aceitar”
como verdade. E sendo assim, é possível levar o usuário a crer em
notícias que estão longe de refletir a verdade ou a própria realidade.
Na prova do ENEM deste foi apresentado
dois textos e um gráfico para ajudar o candidato a pensar em uma possível
redação. No primeiro texto, faz alusão aos algoritmos para explicar como os
aplicativos “escolhem” músicas que formam o gosto musical de uma pessoa
qualquer, a partir dos dados que estas pessoas disponibiliza nas redes sociais;
no segundo texto, diretamente se fala dos algoritmos, por meio de um artigo de
um Jornalista Brasileiro, Pepe Escobar, mostrando e fazendo uma alerta que no
futuro serão as máquinas que vão escolher quais notícias devemos ler ou não.
No gráfico, um estudo do IBGE, sobre o
uso da Internet no Brasil, os dados mostram algo curioso. 64,7 % da população
utilizam internet no Brasil, sendo 63,8% mulheres, e 65,5% homens. Apresenta
ainda o dado de que 85% dos jovens de 18 a 24 anos de idade e 25% das pessoas
com mais de 60 anos usam internet, sendo; 94,2% para receber ou enviar
mensagens de texto e voz; 73.3% conversar por vídeo ou chamada de voz; 76%
assistir vídeos e programas.
A combinação interpretativa deixa claro
a possibilidade do candidato compreender o quanto as eleições deste ano foram
decididas pelas máquinas. Os escândalos ocorridos na Europa/Inglaterra com o
Brexit; as eleições de Trump, e por fim, as eleições brasileiras, mostram
claramente que estamos diante de um fenômeno pelo qual estamos perdendo a
liberdade de escolher sobre o que ler, e portanto, em que acreditar. Em todas
estas situações, acompanhou o processo de manipulação do usuário um outro
fenômeno - o das faknews. Basicamente uma notícia falsa torna-se verdade quando
os elementos argumentativos se harmonizam com a visão de mundo do leitor e as
ideias que o mesmo defendem, ás vezes, nem precisa ser uma notícia totalmente
falsa, apenas uma recriada e distorcida que possibilita a defesa de outros
pontos de vista afastados da situação discutida.
Uma das notícias falsas que mais
estrago causou aos adversários nas eleições 2018, foi o Kit Gay. No final, o
TSE declarou ser mentira, o Governo declarou ser mentira, milhares de
professores foram às redes declarar que nunca houve kit gay nas escolas,
entretanto o assunto em questão, agora enviesado continuou sendo um instrumento
de debate que fazia as pessoas perder o controle emocional, demonstrar ódio e
todas as formas de paixões nos textos postados nas redes. Diante de tudo
isso, é que perguntamos: Será que realmente escolhemos o governo que temos? Será
que as escolhas das pessoas estiveram dentro do processo democrático ou podemos
dizer que as pessoas, por meio dos dados que disponibilizaram na internet foram
embriagadas de emoções e levadas a acreditar em muitos fatos inexistentes e com
isso fizeram opção de voto?
Hoje, 5.5 milhões de jovens fizeram o
ENEM, e todos, por alguns instantes tomaram conhecimento da existência dos
algoritmos. Estes jovens nunca mais usaram a internet da mesma forma. Eles
sabem que os dados que disponibilizam são usados para conduzi-los a tomar
decisões, e quem nem sempre estas decisões serão para o bem ou futuro que
desejam ter. Hoje, 5,5 milhões de jovens por alguns instantes, pensaram
nas fake que eles mesmos publicaram, por que é impossível fazer uma redação sem
pensar, sem fazer uma reflexão do ponto de encontro entre nossa moral e o texto
que lemos. É por isso, que hoje, o Governo Temer deu uma grande contribuição a
democracia e as lutas democráticas, pois hoje nasce um novo Brasil, um brasil
que olhará com mais desconfiança para tudo que for postado nas redes sociais.
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