A Pandemia e o retorno às aulas – Uma contribuição ao debate.

 


Foram praticamente dois anos, nos quais os estudantes ficaram em casa. O isolamento produziu muitas sequelas com as quais teremos que lidar por um bom tempo. Sim, não estou falando do Covid-19 que também produziu suas sequelas, estou falando mesmo do isolamento. Se não houvesse nenhum covid, nenhuma morte, ainda assim o isolamento teria deixado suas sequelas. Não estou dizendo aqui que não deveríamos ter nos isolado para proteger nossas vidas, e fui a favor do isolamento. Eu mesmo só saí de casa pra valer após tomar a primeira dose da vacina. Uma das principais sequelas do isolamento é que parece que muita gente esqueceu que as demais instituições não é a mesma coisa que a família. Escola, Igreja,  etc, não é família.

O retorno às aulas  é preciso lidar com esta situação. Professores de todos os níveis devem prestar atenção sobre o comportamento ético na escola/Universidade sobre qual é a função da escola. Escola/Universidade é lugar para aprender, estudar, pensar. E isso as torna um ambiente que deve ser tratado de forma diferente do ambiente familiar. No ambiente familiar a intimidade permite certas interrupções diárias que a escola não pode permitir. Na escola é preciso ter ordem, disciplina, planejamento, e desenvolvimento do planejamento. Esta é a primeira questão com a qual precisamos lidar. Reconhecer a escola como lugar de aprender a aprender. O convívio deve inspirar um ambiente de transmissão de saberes, de busca do conhecimento e de desenvolvimento do pensar.

Reconhecido este primeiro ponto, devemos lidar com o que parece óbvio. Os efeitos da pandemia/isolamento sobre o processo de ensino aprendizagem de nossos alunos. Neste quesito é preciso lembrar que professores não fazem milagres. Sim, mesmo os professores precisam estar conscientes disso. A deficiência de aprendizagem de dois anos ( em uma educação que já vinha cambaleante) não será resolvida em dois dias, duas semanas, dois meses, dois anos. Levaremos tempo para reorganizar o sistema, nivelar os níveis de alunos e conseguir explorar o máximo dos mais talentosos. Junte se a isso o fato de que professores também saíram da pandemia machucados, e assim como todos, perderam parentes, amigos, etc. E isso, uma classe na qual já vinha sendo detectada um alto nível de adoecimento. Voltemos ao processo de ensino aprendizagem.

Estudo realizado pelo IPEA, - Instituto de pesquisa em Economia Aplicada, revelou o óbvio. A desigualdade no sistema escolar brasileiro aumentou com  a pandemia. As escolas que mais fecharam foram as públicas federais (98%), seguido das públicas estaduais e municipais, e, as particulares (70%). Isso por si só, já garante a defasagem de aprendizagem entre a rede pública e particular de ensino. Entretanto, o problema é muito maior. Na rede pública, dado a característica do seu público, o acesso a tecnologia, em muitos lugares praticamente inexiste, o que dificultou o processo de ensino virtual por parte da escola e dos professores. É o efeito da pobreza aumentando a dificuldade e desigualdade de acesso ao conhecimento e a cultura.

Colocado estas questões, é preciso pensar como lidar com o retorno quando temos uma grande quantidade professores com problemas de saúde, o que levará a constantes afastamentos por atestado médico, a contaminação por covid-19, e as desigualdades de aprendizagem.

O ponto mais importante neste momento para os governantes e que elaboram as políticas públicas é garantir que as escolas estejam constantemente sanitizadas.  Para isso se torna necessário mecanismos a disposição dos professores para testagem imediata para qualquer suspeita de sintomas da doença. Isso, significa criar na estrutura da educação uma equipe de testagem diariamente a disposição das escolas.  E um vez testado positivo qualquer servidor da escola tomar as medidas necessárias para evitar que o vírus se espalhe e seja necessário fechar a escola.

A segunda questão diz respeito as dificuldades de ensino. Cuidar da escola por parte dos gestores, é fundamental. Escolas com problemas estruturais, goteiras, vazamentos, etc, precisam ser tratadas com atenção. Retomar o ambiente da escola como espaço de aprendizagem é fundamental. E a feitura, o descuido não colabora para isso.

Será natural encontrar nas classes alunos  com diferentes níveis de dificuldade, seja de aprendizagem de conteúdo ou mesmo do uso do pensamento e dos sentidos. Será necessário que os professores desenvolvam sempre atividades diferenciadas, mas isso não significa que tenha que nivelar o processo sempre pelos que estão com maiores dificuldades, pelo contrário, significa buscar meios para que os que estão com mais dificuldade recuperem o tempo perdido.

Por fim, é de se esperar dos gestores que comecem a pagar adicional de periculosidade aos professores. Mesmo com a vacina ( ela ajuda muito a evitar a morte) a escola é certamente um lugar altamente contagioso. É quase impossível fazer com que crianças até 12 anos de idade sigam os protocolos de distanciamento, uso de máscara, etc. E mais impossível é para o professor manter as crianças distantes. Faz parte do processo pedagógico o afeto, a proximidade.  Pagar adicional de periculosidade aos professores torna-se uma necessidade.

 

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