A Centralidade da relação entre Educação e sociedade.

O filme exibido em sala de aula pela Professora Joana Peixoto, o Professor Nelson Preto faz uma afirmação que é emblemática ao discutir Educação e novas tecnologias, parafraseando-o, pode se dizer que ao discutir Educação a Distância não é a distância que está em discussão, mas a Educação, e, que ao discutir Educação e Novas tecnologias não são as novas tecnologias o centro da discussão, mas sim a Educação.
A tese que procuro desenvolver neste pequeno texto é a de que é necessário centrar as discussões na Educação e não nos conceitos envolvendo as tecnologias ou novas tecnologias, pois é a compreensão do que que é e do que se espera da Educação que define que instrumentos e recursos metodológicos poderá ser utilizados para que se possa alcançar os objetivos definidos, e centrar a discussão na Educação significa compreender as relações intrínsecas entre Educação e Sociedade e não se perder apaixonadamente na discussões sobre a importância e as formas de se utilizar as Novas tecnologias, pois esta é sempre tributária do conceito de Educação e de sociedade.
Neste sentido, algumas questões já postas pelos participantes do fórum é imprescindível a esta discussão: a) a revolução informacional ou das novas tecnologias da comunicação não é algo inédito, colocado pela Ana Kely; b) Como todas as revoluções do passado não é algo neutro, colocado pela Gardene; c) e, por fim, a questão do Telos. Acrescente-se a isso a preocupação de Manuel Castels ( colocado por outros participantes) ao discutir e colocar o conceito de Sociedade informacional e de modelo de desenvolvimento informacional, de lembrar aos leitores que as formas de aquisição e de manutenção da riqueza não se modificou, antes complexificou mais ainda com a presença das novas tecnologias.
Das questões postas no paragrafo anterior, o fundamento maior parece estar com aqueles que procuraram recuperar a preocupação o autor espanhol: as formas de aquisição e manutenção das riquezas ainda é o fato a ser debruçado e estudado por aqueles que querem compreender a sociedade, e, acrescente a Educação, pois como já afirmamos e vamos demonstrar, os modelos educacionais são tributários do conceito de sociedade, e, os recursos e teorias em educação são tributários do conceito de Educação.
Ao empreender a caminhada em busca da compreensão do surgimento de uma “nova estrutura social”, Castells afirma que o surgimento desta e “nova estrutura” está associada a um novo modelo de desenvolvimento que ele chama de informacionalismo, e que este foi moldado pela reestruturação do capitalismo no final do século XX. ( Castells, 1999, p51). Isto significa compreender que o surgimento da sociedade da informação não significa um golpe de morte ao capitalismo, nem tão pouco significa uma ameaça, mas o surgimento do novo modelo de desenvolvimento permitiu ao capitalismo se reestruturar, recomeçar em novas bases sua missão profícua de acumulação de riquezas.
Sem perder de vista a importância das relações de produção, ( tão cara aos marxistas dogmáticos), Castells acrescenta dois ingredientes que lanças importantes luzes para se compreender o modus vivendi da atualidade, a experiência e o poder. Veja como ele os define:
“Produção é a ação da humanidade sobre a matéria ( natureza) para apropriar-se dela e transformá-la em seu benefício, obtendo um produto, consumindo ( de forma irregular) parte dele e acumulando o excedente para investimento conforme os vários objetivos socialmente determinados. Experiência á ação dos sujeitos humanos sobre si mesmos, determinada pela interação entre as identidades biológicas e culturais desses sujeitos em relação a seus ambientes sociais e naturais. É construída pela eterna busca de satisfação das necessidades e desejos humanos. Poder é aquela relação entre os sujeitos humanos que, com base na produção e na experiência, impõe a vontade de alguns sobre os outros pelo emprego potencial ou real da violência física ou simbólica” ( Castells, 1999; p 51)

Restaria então o desafio de identificar quais, na atual ralidade do capitalismo globalizado se constitui como classes sociais, e sobretudo qual destas classes se constitui como classe dominante e reúne em si o poder enquanto possibilidade de impor sobre as demais classes ou sobre todos os indivíduos a vontade de alguns sobre a maioria. O autor entende que em cada modelo de desenvolvimento na história do capitalismo o elemento fundamental no processo produtivo que determina o incremento e a produção do excedente é que define o modelo de desenvolvimento; assim, conclui que na época atual este elemento é a informação,e sendo assim, o modelo de desenvolvimento da atualidade é o modelo informacional. O que significa isto, se durante toda a história da sociedade na época capitalista foi marcada pelo conhecimento a informação e a técnica?
“o processo de informação é focalizado na melhoria da tecnologia do processamento da informação como fonte de produtividade, em um círculo virtuoso de interação entre as fontes de conhecimento tecnológicos e a aplicação da tecnologia para melhorar a geração de conhecimentos e o processamento da informação. (...) ou seja, a acumulação de conhecimentos e maiores níveis de complexidade do processo de informação. (...) a busca por conhecimento e informação que caracteriza a função da produção tecnológica no informacionalismo.( Castells, 1999: p. 52)

O que caracteriza então o novo momento histórico é a presença do conhecimento e da informação produzindo-se e se reproduzindo de forma independente da produção material da existência em uma rede sobre qual não existe controle algum. Um interconectividade rápida, as vezes circunstancial, as vezes substantiva que permite a aplicação do conhecimento e da informação gerar novas tecnologias e estas gerar novas formas de conhecer e de informar. A consequência disso é uma complexificação das relações dentro do sistema de finanças globalizado afetando todas as sociedades, instituições e sujeitos, produzindo novos meios de extração de mais valia, e, colocando os indivíduos, nações e povos em uma interdependência inevitável.
As consequências são complexas para se identificar e se espalham por todos os aspectos da vida humana, ( na economia, na cultura, nas instituições, etc), produzindo novas formas de relações, deixando outras anacrônicas, e transformando o cotidiano das pessoas. É o que Hobsbwam chamou de revolução social, política e ideológica que ocorreu em “ O breve Século XX”, revoluções estas que modificaram todas as esferas da vida humana e a própria forma de se produzir o conhecimento. Esfacelou-se definitivamente a possibilidade de uma verdade universal, a análise dos fatos ficaram reféns dos pontos de vista de onde se olha. Aqui surge nesta sociedade a busca da reafirmação da identidade, não como incapacidade de conviver com outros mas como “ defesa da personalidade e cultura do sujeito contra a lógica dos aparatos e mercados que substitui a idéia de luta de classes” ( Castells, 1999: p. 58).
A presença das tecnologias nesta sociedade modifica sobretudo as relações familiares, a sexualidade, o mundo do trabalho e as relações de poder. Não é por acaso que o autor identifica uma dificuldade dos governantes de lidar com a democratização das informações, e que esta modificará nos próximos anos as formas de poder e de governo existentes. ( Castells, 2009). No mundo do trabalho os mercados exigem um profissional flexível porém com identidade definida, com clareza da realidade e capacidade criativa.
Quando se fala em Educação é para esta sociedade, ou como se queira para viver ou transformar tal sociedade que se deve pensá-la. Aqui pois já cabe a questão que Tipo de Educação, que teoria pedagógica, que métodos de ensino poderá propiciar uma formação para um mundo em transformação, tão veloz, um mundo tão complexo onde o virtual e o real se confundem na mente e nos olhares dos homens? Será ainda necessário o papel do professor presente, a relação professor x aluno, a utilização do livro, e, sobretudo a necessidade hoje tão premente da avaliação externa da aprendizagem? Quais, em fim, as perspectivas da educacionais no futuro próximo?
Se a questão que se põe é relacionada ao conhecimento, ao tratamento da informação, e as relações que a informação estabelece com o conhecimento, pensar a escola, a educação significa colocar em questão o como a Educação nas suas mais variadas modalidades vai passar tratar a questão da transmissão do conhecimento doravante. São muitos os paradigmas atuais que tentam colocar, e, as vezes recolocar algumas questões ( o interacionismo simbólico, o paradigma holístico, o paradigma da corporeidade, a psicologia cognitiva, a neuropsicologia cognitiva, etc), no entanto, não importa quais destes paradigmas vão se firmar algumas questões parecem consensuais entre eles:
a) Doravante não é possível ignorar as novas tecnologias no processo educativo;
b) As relações entre os homens não retornarão ao seu ponto inicial, o que modificará definitivamente a relação professor aluno, mesmo naquilo que se chama “Educação presencial”.
c) A educação formal escolar, continuará perdendo a primazia na sociedade como locus privilegiado da educação, não somente, pela presença das tecnologias na Educação, mas pela transformação das sociedades devido ao novo modelo de desenvolvimento, ( o informacionalismo).
d) A nova caracterização da sociedade não modifica a essência do Ser, antes provoca uma demanda pela defesa da identidade, o que pode levar a busca de uma Educação enquanto formação humana, no sentido da paidéia grega.
Por fim, as perspectivas educacionais diante das novas tecnologias estão mais uma vez, como na história da humanidade, dependentes do que os homens venha a decidir fazer com o acúmulo de recursos construídos pela humanidade, ( ou do resultado das lutas entres os homens), do que propriamente da presença das novas tecnologias. Talvez isso tenha ficado bem ilustrado no filme, “Denise está Chamando”. São as decisões humanas, o ser, o sujeito que ainda faz a diferença e poderá nos levar ou não ao desenvolvimento pleno e a uma vida plena.


Bibliografia.
ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX - dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de Janeiro: Contraponto; São Paulo:
Editora da Unesp, 1996.
CASTELLS, Manuel. A era da informação: Economia, Sociedade e Cultura. V. I, II e III.
COMÊNIUS. Didática Magna. São Paulo, Martins Fontes; 2006.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 2000.
HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos - o breve século XX (1914¬1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
MESZÁROS, Istvám. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo: Editora da Unicamp, 2002.

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