A Luta inglória e os vendilhões do templo
Não sou jornalista. Compreendo, porém, que deveria ser função do bom jornalismo informar a verdade
aos seus leitores. E devem existir bons jornalistas, conheço muitos. Em Goiás,
cada vez mais fico perplexo como as notícias são selecionadas para serem
publicadas. Parece existir certo controle da imprensa, um controle sutil e
tenebroso. Eu já sabia que existia este tipo de controle sobre as instituições,
com destaque para os partidos políticos que lutam por justiça social. Em Goiás,
nenhuma alma que lute por justiça social tem espaço de atuação. Eles vão
cercando o individuo de tal forma, até lhe tirar até mesmo os meios de
sobrevivência. É capitular, aceitar ser cooptado ou enlouquecer.
Vivi isto de forma terrível quando fui dirigente do Partido Comunista do
Brasil. Vi a cooptação acontecer diante dos meus olhos. Um ser que parecia
aprazível e reconhecer os sofrimentos dos mais injustiçados, ser cooptado e
trair o partido em troca de permanecer em uma Secretaria de Estado. E demorei
muito tempo para perceber que a traição não era possível ser justificada por
divergências aquém da política, era mesmo traição ideológica, de princípios e
valores. Havia se trocado as razões da luta apenas pelas benesses e estar aos
pés do poder. E foi, desta mesma forma, e neste mesmo diapasão que surgiu o
fenômeno Kajuru em Goiás.
Kajuru fez parte do primeiro grupo de homens que alardeou aos quatro
cantos do estado o nome de Marconi Perillo. Radialista, proprietário de uma
rádio que levava seu nome, ( Rádio K), logo após as eleições, o Radialista
rompeu com o governo. Pessoalmente não tenho informações confiáveis sobre as
razões do rompimento, há muitas histórias. O que interessa do ponto de vista
deste texto, é que Kajuru passou a ser visto como uma pessoa a ser frita e
eliminada do meio. Todo tipo de perseguição foi feita, e o estado inteiro
assistiu ao fechamento da Rádio k, e até mesmo o Kajuru abandonar o estado para
buscar guarida de sobrevivência em outro lugar. Aproveitando as benesses da
tecnologia, Kajuru se tornou o maior inimigo do Governador, passou a fazer
denúncias cotidianas nas redes sociais e decidiu entrar na política. Na
primeira experiência teve mais de 100 mil votos para deputado federal, mas não
foi eleito por causa do coeficiente eleitoral.
Em seguida, candidatou-se a vereador, disparando lives onde o ódio, o
rancor e o ressentimento eram partes constantes. Foi o mais votado, e na
eleição seguinte tornou-se senador por
Goiás, mandato que está em seu segundo ano. O Grande inimigo, (Marconi Perillo) foi batido nas eleições por
ex-aliados, Caiado e Tejota; e hoje Kajuru é um senador modesto, parece sem
pautas e bandeiras definidas a que defender.
Falo destas duas histórias, embora a primeira não dei nome ao boi, para
mostrar como funciona o processo de cooptação e perseguição política no estado.
No momento atual, e neste mês de março veremos uma filiação em massa ao
Democratas, partido do governador. Ninguém dirá que mudou de partido por razões
nada republicanas, mas não tenham dúvida que o DEM se tornará o partido com
maior número de prefeitos em Goiás, assim como foi o PSDB do Governador Marconi
Perillo enquanto estes esteve no Poder. Hoje, desponta, como provável
adversário de Caiado um ex aliado, Major Araújo, que tem vociferado nos
microfones da Assembleia, denúncias das ações do Governador na área da Saúde,
educação e segurança, afirmando que o mesmo repete as mesmas estratégias de
Marconi Perillo.
Entretanto, se a perseguição e a cooptação são os esteios da política
goiana, um outro aspecto ganha força. O
processo de silenciamento de qualquer voz que ouse discordar do discurso
ordenado pelos donos do poder. Um efeito que chamou minha atenção foi a
passagem de Roberto Freire por Goiânia, figura da política nacional, líder do
governo Itamar Franco, EX Ministro, Freire fez um forte discurso em defesa das
amplas liberdades democráticas. Nenhuma citação nos jornais, nenhuma citação na
imprensa local. Parece não interessar a ninguém a defesa da democracia neste
lugar.
E é por esta razão que a luta por democracia se torna tão premente em
nosso estado. Aqui, talvez possamos dizer que a liberdade ainda não chegou.
Somos governados por caudilhos, e cada chefe de partido se comporta como pequenos
caudilhos nos municípios, no estado, perseguindo, mutilando, e ameaçando
qualquer um que ouse discordar. O processo de cooptação e perseguição está
chegando a níveis inaceitáveis. E por mais que a luta seja inglória, já não nos
resta mais nenhuma opção. É aceitar-se cooptar ou lutar. Ou Mudar....
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