Décimo Segundo dia de quarentena – À espera da Morte




Quem estará certo? Bolsonaro e os que defendem o isolamento vertical para salvar a economia, os empregos e se possível o máximo de vidas? Ou os vinte e seis governadores que adotaram medidas duras para forçar o isolamento horizontal, conter a disseminação do vírus, mesmo colocando a economia em risco mas com a decisão de salvar o máximo de vidas e colocando a vida em primeiro lugar? O país que então vivia o dualismo entre petistas e o bolsonarismo, mergulha em uma nova dualidade: aqueles que defendem o isolamento vertical e os que defende o isolamento horizontal. Ao mudar os rumos das diretrizes do governo federal, até então ditadas pelo ministério da saúde, Bolsonaro trava o processo iniciado pelos governadores, cria uma narrativa de golpe contra si mesmo, e quando parecia isolar-se, amanhece nesta sexta feira com uma vitória parcial a partir do recuo da maioria dos governadores.

Os Governadores de São Paulo, João Dória, de Goiás, Ronaldo Caiado, e do Mato Grosso, anunciaram recuos consideráveis. No caso do Governador de Goiás, após de forma pública professar um rompimento público entre  ele e o Presidente, muda de tática, e entre os seus apoiadores, ocorre confusão e divisão ; muitos acusando-o de traidor e outros tantos tratando-o como herói. O Governador de São Paulo, após bater boca com o presidente, recuou, permitindo a abertura de fábricas e tantas outras atividades, embora ainda mantendo o discurso de que a preservação da economia não pode deixar de levar em conta a defesa da vida. Os governadores do Nordeste, mantém o discurso do respeito pela vida, esforçam-se para transmitir uma narrativa de que as ações são guiadas pelos critérios técnicos, mas, vê parte da população que apoia o presidente iniciar um processo de desobediência civil generalizada.

Entre os empresários também reina uma divisão generalizada. Empresários conhecidos como Luciano Hang das Lojas Havam, Roberto Justos, Silvio Santos entre outros, defendem abertamente o isolamento vertical defendido pelo presidente, e não fazem segredos de que para eles o funcionamento da economia e a preparação para uma recessão é mais importante do que um esforço generalizado para tentar salvar o máximo de vidas. Já os empresários mais sensíveis mantem o silêncio de quem sabe que a crise economia os aguarda, não importa qual das narrativas saia vencedora. Entre os religiosos, também reina a mesma dualidade. A igreja católica, seguindo orientações de Roma, suspendeu as missas, mas silenciosamente torce para que o tempo de quarentena dure o mínimo possível. Do outro lado, líderes religiosos pentecostais, incluindo Edir Macedo, RR Soares, Valdemiro Santiago e o mais agressivo deles, Silas Malafaia, brigam para manter as igrejas abertas, os cultos e as aglomeração de fiéis. Da narrativa da cura milagrosa, até o reforço do discurso do presidente de que é “apenas uma gripezinha”.

Repetindo os líderes, a maioria da população também se encontra dividida. Há aqueles que parecendo ignorar o que acontece em países da Europa como a Itália, onde nesta sexta feira, 27 de março, teve mais de 900 mortos, ignoram o toque de recolher dos governadores, para se encontrar de forma furtiva, em bares nos quais passam a entrar escondidos e pelos fundos. Há os grupos dos ideológicos que buscam defender de um lado a narrativa dos que defendem a economia e de outro os que de forma apaixonada e política buscam defender o isolamento horizontal com base nos argumentos da ciência como meio de proteger o máximo de vidas. No meio disso tudo, uma grade quantidade da população, premidos por dificuldades econômicas,  obrigados a saírem em busca do pão parecem estar a espera da morte.


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