O Mal do Personalismo e a necessidade de um projeto.
Nelson
Soares dos Santos
Não são poucos os exemplos da história que comprovam ser difícil a arte
de Governar. Compêndios foram escritos, descrições efetivas de momentos
cruciais da história da humanidade mostra o governo uma das atividades mais
difíceis de realizar. Por isso, aquele que consegue conquistar o poder, manter
e perpetuar-se no poder é digno de honras e glórias. Para nós, goianos, três
referências imagéticas permeiam nossa mente quando falamos do poder: Lula, Iris
e Marconi. O primeiro por sua proeza de ter sido o primeiro operário a se
tornar presidente da república; o segundo pela inconteste contribuição já dada
ao desenvolvimento do nosso estado; e o terceiro por ser o presente daquilo que
se pode considerar a honra de ser um vencedor.
Com todas as críticas que podem ser feitas ( e existem críticas justas
que devem ser feitas), na política Goiana Marconi é o nome que representa o
poder e a honra da difícil arte de Governar.
Governar para o Povo.
Marconi representa tal fato por diversas razões, a maior delas por ter
sido aquele que derrotou o Irismo depois de 16 anos de poder, e outras não
menores, como por exemplo, ter contribuído para um arejamento democrático nos
seus dois primeiros governos. Quiçá, seja um vencendor, Marconi vive diversos
dilemas da difícil arte de governar depois de perpetuar-se no poder e tornar-se
vítima das armadilhas impostas pelo poder. Há um livro, que li e não gostei,
que mostra de uma forma clara tais armadilhas. O titulo é “48 Leis do Poder”.
Segundo tal livro toda vez que se constrói um império ou um governo com o tempo
o governante vê se cercado de pessoas que estão mais preocupadas em acercar-se
das vantagens do poder do que se preocupar com os destinos do Governo ou o bem
estar coletivo, e que, portanto, as intrigas, as disputas, tornam-se constantes, por vezes colocando em
risco os destinos do governo.
As recentes manchetes de jornais mostram um alerta ao governador. As
disputas internas entre os grupos estão chegando ao paroxismo. Dos bastidores
extravasaram-se para os jornais e muitos resolveram até dialogar por notas
oficiais publicadas em jornais e na internet. Quando um dos nomes mais fortes
do Governo resolve desabafar na imprensa afirmando que existe bandidos no
Governo alguma coisa já passou do limite. É como se já se soubesse mais quem de
fato manda no Governo, segundo o Greene, aquele das “48 Leis do Poder”. A
receita seria então uns choques de autoridade, demitindo aqueles que se acham
intocáveis, valorizando novos quadros, vindo do meio do povo e quebrando o
isolamento entre o povo e o Governo. O
desabafo do secretário mostra que existem sinais dos tempos que precisam ser
lidos sobre os rumos do poder em goiás, ou do contrário seremos vítimas de
aventureiros.
Oposição e Situação - vítimas do Mesmo mal.
Para uma leitura dos sinais dos tempos é preciso, antes, compreender o
tempo que vivemos, e para se compreender o tempo no qual vivemos é preciso
aceitar sua complexidade. Na política em Goiás, não é diferente. Se base de
Marconi Perillo peca-se pelo personalismo exagerado fazendo tudo girar em torno
de nomes e deixando os projetos, as ideias e os partidos em segundo plano; na
oposição não é diferente.
Na verdade, sequer existe oposição em Goiás. O que existe são nomes que
se digladiam dentro dos partidos ditos de oposição, sempre em busca de
holofotes, de forma personalista e longe de estabelecer um diálogo com o povo
com os votos dos quais querem se eleger. Os chamados “novos nomes” estão longe
de ter um diálogo frutífero com o povo, e por isso, as pesquisas mostram Iris e
Marconi como aqueles melhores posicionados nas pesquisas, fruto do diálogo que
estes mantiveram com o povo em eleições anteriores. Friboi, não é político, é
um empresário que ser político e o povo já há muito desconfia das razões pelas
quais o mesmo é motivado. Afinal, ninguém em Goiás conhece alguma atitude ou
ação do mega empresário que demonstrasse preocupação com o Bem estar coletivo.
Vanderlan Cardoso, no máximo repetirá 2010. O povo já teve oportunidade
de conhecê-lo e a história política goiana mostra que dificilmente emplacará
como candidato a ser levado a sério. Considerado um empresário Sério ( com bem
mais credibilidade eleitoral do que o Friboi), não acredito que o povo daria a
ele a oportunidade de Governar o Estado. Os exemplos históricos, aos quais ele
deveria observar vêm das candidaturas de Paulo Roberto Cunha, Ronaldo Caiado e
Otávio Lage. Tanto na situação quando na oposição, o personalismo só contribui
para prejudicar as possibilidades de avanço dos processos democráticos no
Estado, pois todos os nomes colocados tentam chegar até ao povo por meio das
chamadas lideranças consolidadas ( deputados, vereadores e prefeitos), muitas
delas tão velhas e desacreditadas que faz o povo ficar descrente de participar
no sufrágio Eleitoral.
O Cavalo de Tróia.
A contradição do Governo Marconi é não ter oposição forte e ao mesmo
tempo sentir-se sitiado. O que parece é que na verdade os adversários estão
espalhados. Isso me faz lembrar-se de umas leituras feitas sobre Confúcio.
Diz-se que certa vez Confúcio chegou a um Reino e logo foi chamado para
aconselhar o Rei. Pediu ao Rei um prazo para que tivesse um conselho que
refletisse a realidade. Chegando lá,
ficou o tempo todo em silêncio, ouviu o Rei, ouviu os conselheiros do Rei, e a
esposa do Rei. Depois de a todos ouvir, e antes que terminasse o prazo dado
pelo Rei, Confúcio reuniu os seus discípulos que o seguiam e disse que aqueles
que quisessem continuar com ele deveriam partir na madrugada e em segredo.
Inquirido sobre a razão de tal atitude Confúcio respondeu mais ou menos assim:
Em um Reino onde quem manda não tem a segurança de que manda, e quem pensa que
manda, na verdade não tem poder de mando o destino é o sangue e carnificina.
Pouco tempo depois, aquele reino caiu em meio a traições, mortes, assassinatos
e cruel carnificina.
Em artigo anterior, neste blog já havia escrito que é difícil analisar
quem realmente tem influência política majoritária em Goiás. Na linguagem
Confuciana, quem tem o TAO. E, dentro do governo, os últimos acontecimentos parecem
mostrar o mesmo. A direita em Goiás tornou-se pluripartidária e a esquerda
democrática apequenou-se. A realidade é que neste vazio surgiram diversos
aventureiros servindo-se de ideias frágeis e já
superadas para ocupar um espaço da carência dos sentimentos humanos e
transformá-los em objetos do fazer política, poder e de governar. No futebol,
tais jogadores são chamados de “Pernas de Pau”, que entram em campo por falta
de bons jogadores ou por que os bons jogadores se recusaram a jogar por falta
de um bom juiz. O resultado da falta dos bons jogadores é a bola sendo jogada
de qualquer jeito e os times sem aquele jogador meio campista que organiza o
jogo e o torna um espetáculo belo de ser assistido. A pancadaria que se vê na imprensa, tanto de
oposição contra oposição, situação contra situação e oposição contra situação
reflete a fata que faz bons jogadores em campo. Neste sentido, muito das
adesões recebidas pelo Governador nos últimos anos revelou-se jogadores “pernas
de pau”, quando pior, verdadeiros cavalos de troia.
Governar com Projetos e Ideias
Continuando com a metáfora futebolística o Governador Marconi está
condenado a renovar o seu time e colocar maior atenção nas capacidades dos
jogadores de produzirem boas jogadas, passar e movimentar bem a bola do que na
história de fama dos jogadores. Neste sentido, o Governador precisa começar a
repensar o projeto de desenvolvimento do Estado colocando o desenvolvimento humano
a frente do desenvolvimento econômico; reforçando o aspecto progressista do
Governo e a preocupação com o futuro das novas gerações. As ideias de
sustentabilidade, poder local, combate a corrupção, defesa dos direitos
humanos, combate a violência, ao tráfico humano, dentre outros deve tomar o
lugar dos discursos centrado em pessoas e nas suas pretensas habilidades de bem
governar. Não serão pessoas que irão fazer de Goiás um estado melhor para se
viver, serão ideias progressistas transformadas em ações por pessoas que tem a
capacidade de fazê-lo coletivamente.
Goiás carece de um projeto de Governo, mas, sobretudo, padece também de
um projeto de reestruturação do estado que estabeleça novas relações entre o
Estado e a Sociedade Goiana. Os velhos coronéis precisam entender que os tempos
são outros, que a globalização exige a evolução do local, e que o
desenvolvimento humano precisa acompanhar o desenvolvimento econômico.
Preservação do meio ambiente não pode ser mais uma preocupação de um grupo de
idealistas isolados, mas de todo homem público que queira bem governar. A
reestruturação do estado deve ser pensada a partir da complexidade existente
entre os aspectos globais e locais da existência humana para que se possa
pensar um projeto que de fato faça avançar as conquistas por uma sociedade mais
e justa e democrática. Não se trata de
negar os avanços, mas de compreender a necessidade de se continuar avançando.
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