CAMINHOS PEDREGOSOS: A TENTATIVA DE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
GOIÁS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA
CAMINHOS PEDREGOSOS: A
TENTATIVA DE
ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO
ESTUDANTIL NO
TOCANTINS NA DÉCADA DE
1990 (1988/1999)
Nelson Soares do Santos
Orientadora: Profa Dr.a Maurides Batista Macêdo
Goiânia
2003
NELSON SOARES DOS SANTOS
CAMINHOS
PEDREGOSOS: A TENTATIVA DE
ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL NO
TOCANTINS
NA DÉCADA DE 1990 (1988/1999)
Dissertação
apresentada ao curso de Mestrado em Educação Brasileira da Faculdade de
Educação da Universidade Federal de Goiás, para obtenção do titulo de Mestre em
Educação Brasileira.
Orientadora:
Profa Dra Maurides B. Macêdo.
Goiânia
2003
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................
ABSTRACT.....................................................................................
INTRODUÇÃO................................................................................
CAPÍTULO
I
O MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL E EM
GOIÁS: DA CRIAÇÃO DA UNE À CRIAÇÃO DO ESTADO DO
TOCANTINS.................................................................................... 1.1 As primeiras
lutas......................................................................
1.2
O berço do ME no Tocantins: o ME em Goiás..........................
1.3
O ME do Centro-Sul, os partidos políticos e a expansão do ensino
Superior................................................................................
1 A
Sob as bênçãos e a maldição do altar: o ME do Centro-Sul e a Igreja
Católica..................................................................................
CAPÍTULO
II
O
MOVIMENTO ESTUDANTIL NO NORTE GOAINO ..................
2.1
Cenog - a falta que o estado faz?....................................
2.2
A Cenog e a Igreja............................................................
2.3
O Movimento Estudantil pós-Cenog 1979/1988
CAPITULO
III
MILITANTES E MILlTONTOS: O MOVIMENTO
ESTUDANTIL NO
TOCANTINS
(1988/2003)...............................................................
3.1
Os embates entre o público e o privado: um confronto discursivo
3.2
A importância estratégica da Unitins e o discurso dos estudantes
3.3
Socorro! Privatizaram o ensino superior no Tocantins
CAPITULO
IV
ENTRE DEUS E O DIABO? OS ESTUDANTES E OS
PARTIDOS
POLíTiCOS
4.1
Ação planejada: um exemplo de como os partidos políticos influenciam o ME
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PELA NECESSIDADE
DA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARTIGOS DE PERiÓDICOS
DOCUMENTOS ESCRITOS
DOCUMENTOS ORAiS
ANEXOS
SIGLAS UTILIZADAS
AP -
Ação Popular
Cenog
- Casa do Estudante do Norte Goiano
CoNorte
- Comissão de Estudos dos Problemas do Norte.
ICP
- Instituto de Cultura Popular
JEC
- Juventude Estudantil Católica
JUC
- Juventude Universitária Católica
ME -
Movimento Estudantil
PCB
- Partido Comunista Brasileiro
PCdoB
- Partido Comunista do Brasil
PDT-
Partido Democrata Trabalhista
PMDB
- Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PPB
- Partido Progressista Brasileiro
PSDB
- Partido da Social Democracia Brasileira
PSTU
- Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados
PT -
Partido dos Trabalhadores
PTB
- Partido Trabalhista Brasileiro
UCG
- Universidade Católica de Goiás
UFG
- Universidade Federal de Goiás
UFT
- Fundação Universidade Federal do Tocantins
UJS
- União da Juventude Socialista
UNE
- União Nacional dos Estudantes
Unitins
- Universidade do Tocantins
UT -
União do Tocantins
RESUMO
Este trabalho foi realizado como
requisito parcial de conclusão do Mestrado em Educação Brasileira do Programa
de Pós-graduação em Educação, da Faculdade de Educação da Universidade Federal
de Goiás, dentro da linha de pesquisa Educação, Trabalho e Movimentos sociais,
pretende discutir a questão do movimento estudantil(ME) como movimento social,
na perspectiva de Gonh (2000) , procurando perceber por sua história, como a
Igreja, o Estado e os Partidos Políticos exerceram influência sobre o ME do
Tocantins. A realização de uma retrospectiva do ME brasileiro, com ênfase ao ME
goiano o berço do ME do Tocantins, foi necessária para a compreensão das
especificidades do ME do Tocantins.Como perspectiva teórica, foram de
importância fundamental os estudos de Poerner (1979),Foracchi (1972)(1977),
Tourraine (1989)(1994). Os documentos orais foram de suma importância para a
consecução do trabalho. Foram realizadas mais de uma dezena de entrevistas com
alunos, professores, políticos e ex-Cenoguianos. Dentre os documentos escritos,
foram utilizados reportagens da mídia impressa nacional e regional, documentos
das teses de diversos congressos da (União Nacional dos Estudantes) UNE, atas
de reuinões dos centros acadêmicos (CAs), diretório central dos estudantes
(DCEs), informativos de entidades estudantis e da Assessoria de Comunicação da
Universidade do Tocantins (Unitins) O trabalho constitui-se de três parte,
sendo que: a primeira busca compreender a interface do ME brasileiro e goiano
até a extinção da Cenoga especificidade do ME goiano no Centro-Sul, e as
relações do ME do Centro-Sul goiano com a Igreja; a segunda concentra-se no ME
do Norte goiano até a criação do estado do Tocantins, em 1988, nos termos da
Constituição Federal, e como a ausência de ação estatal é a característica principal
deste período, sobretudo durante o período Cenoguiano; a terceira, registra e
discute os embates entre o público e o privado no Estado do Tocantins, uma vez
que foram vetores das ações estudantis mais aguerridas ocorridas no período,
por meio das ações do SOS - Unitins, movimento em defesa da Universidade do
Tocantins como pública e gratuita, mostra como a criação da Unitins serviu de
um importante local de desenvolvimento das lutas estudantis, mesmo apresentando
características que dificultavam a mobilízação dos estudantes pela sua natureza
mUlticampi, e, ainda, pretende-se compreender as nuances do SOS-Unitins,
movimento considerado a culminância da organização estudantil do Tocantins e
que conseguiu chamar a atenção dos meios de comunicação de circulação nacional
para o~ problemas da Universidade. A greve de fome, foi o sinal de maior
radicalização. O trabalho mostrou que: a) no caso do Tocantins a influência do
Estado, por meio do pOder constituído sobre o ME, ser mais forte que a Igreja e
os partidos políticos, pela especificidade da pOlítica local;
b)
a democracia no Tocantins é frágil, predominando formas ditatoriais de ação
política; c) apesar das debilidades, o ME do Tocantins se fez presente na
principal luta em defesa da universidade no estado: o processo de federalização
da Unitins.
ABSTRACT
In
this paper we attempt to discuss the Student Movement issue as a Social
Movement, in the perspective of Gonh (2000), trying to discover how the Student
Movement in Tocantins, was influenced by the Church, the State and the
Political Parties. In order to understand the specifics of the Student Movement
in Tocantins we looked back at the Brazilian Student Movement, with emphasis on
the Student Movement in Goiás because it was the cradle of the Student Movement
in Tocantins. As to the theoretical perspective, the studies of Poerner (1979),
Foracchi (1972) (1977), and Turraine (1989) (1994) were of fundamental
importance. Although it had not been the perspective to do the history of the
Student Movement, we tried to start there and move on to understand our aim.
Consequently the oral documents were of utmost importance in order to attain
the research. More than a dozen interviews were conducted with students,
professors, politicians and ex-cenoguianos. Among the written documents we made
use of articles from the national and regional periodicals, documents from the
theses of several UNE congresses, minutes of the CA and DCE meetings, brochures
from the student organizations as weã as from the Communication Advisory Board
of UNITINS. This paper shows that a) in the case of Tocantins, the influence
over the Student Movement by the State through the constituted power is
stronger than the church and the political parties, due to the specific
characteristics of local politics; b) democracy in Tocantins is fragile, with
dictatorial forms of political action predominating; c) in spite of the
weaknesses, the Student Movement in Tocantins was present in the principal
fight in defense of the University: the federalization process of UNITINS.
INTRODUÇÃO
O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei
por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo mundo
... Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concedendo eu
digo: pra pensar longe sou cão mestre - o senhor solte em minha frente uma
idéia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!
Guimarães Rosa
O interesse em estudar o
movimento estudantil (ME) e suas lutas durante a década de 1990, no Tocantins,
provém de um lado, da vivência como militante desde os tempos de secundarista,
e, de outro, da admiração adquirida pelas leituras sobre as lutas estudantis ao
longo da história.
Assim, surgiram várias
reflexões e as primeiras indagações: eram os estudantes da atualidade menos
combativos que os de maio de 1968, ou tantos outros exemplos que poderiam ser
citados? Havia uma apatia dos estudantes no Tocantins nos anos 90? E no
restante do Brasil e do mundo?
Parecia, em um primeiro
momento, que a resposta a tais questões pressupunha estudar conceitualmente a
participação dos estudantes universitários na atualidade, buscando verificar a
característica com que se apresentava essa participação na relação com outros
atores sociais.
Ao delimitar como objeto
de estudo o ME do Tocantins, outras questões se impuseram: quais as
especificidades do movimento estudantil do Tocantins? Como o movimento
estudantil tocantinense se relacionava com os. partidos políticos, com a
sociedade civil organizada e com outros movimentos sociais? Como se dá a
organização partidária no Tocantins? Como se comportam, no Tocantins, os
partidos que hegemonizam a União Nacional dos Estudantes (UNE), isto é, o
Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Comunista do Brasil (PC do B), em
nível nacional? Possuem eles uma organização consistente no estado? Como as
especificidades sócio-econômicas e políticas do Tocantins deram ao ME uma
determinada configuração? Quais as razões para a diferenciação entre o
comportamento dos jovens estudantes do Tocantins? Por que os estudantes não
participaram das lutas nacionais das décadas de 1980 e 1990? Por que não
participaram do movimento conhecido como Diretas já e, na década seguinte,
continuaram não participando? Qual a relação entre o ME do Tocantins e o ME
nacional, nas décadas de 1960,1980 e 1990?
Conforme o objeto foi se
desvelando para nós, ao buscar uma retrospectiva histórica desde os tempos da
Casa do Estudante do Norte goiano a (Cenog)l, percebeu-se que no passado,
grande parte das bandeiras estudantis, estavam ligadas a aspectos
reivindicatórios, sobretudo na busca de uma maior presença do Estado como meio
de garantir acesso a educação e a outros bens aos jovens do Norte goiano, dos
mais diversos segmentos sociais. Esta constatação levou a outro problema: este
fator provocou um desagregamento do pouco que existiu de ME no Norte goiano e
no atual Tocantins, após a criação do Estado e a construção da hegemonia pelo
grupo político de Siqueira Campos?
Some-se a tudo isso uma
questão controvertida no estado do Tocantins: a existência, a natureza e a
legitimidade do movimento estudantil organizado. Tanto estudantes quanto
professores universitários colocaram em dúvida a existência do movimento
estudantil tocantinense. Daí a inquietação e o desejo de indagar um pouco mais
sobre a constituição do ME do Tocantins, para perceber como ele se comportou
diante das lutas políticas que envolviam os estudantes de outras universidades
brasileiras, durante as décadas de 1980 e 1990.
Com essa problematização,
chegou-se à seguinte hipótese: no caso do Tocantins, a influência do Estado,
mediante o poder constituído sobre o ME é mais forte que a Igreja e os partidos
políticos, pela especificidade da política local; a democracia no Tocantins é
frágil, predominando formas ditatoriais de ação política e, apesar das
debilidades, o ME do Tocantins se fez presente na principal luta em defesa da
universidade no estado o processo de federalização da Universidade do Tocantins
(Unitins).
Este estudo sobre o
movimento estudantil no Tocantins não deve ser entendido como se existisse uma
história de lutas heróicas dos estudantes tocantinenses. É antes de qualquer
coisa um registro das atividades estudantis tocantinenses relacionadas à
politica, ou mesmo às bandeiras que mobilizaram os estudantes do Tocantins ao
longo da existência do estado e da Unitins, discutindo as lutas empreendidas
pela organização estudantil.
O
Percurso Metodológico
De posse de tantas
indagações, a primeira preocupação consistiu na delimitação do objeto de estudo
e nas nuances necessárias para compreendê-lo e apreendê-lo. As dificuldades do
caminho foram muitas, e mesmo finalizando o trabalho depois de tantas idas e
vindas, parece que só agora o objeto se desvela com um pouco mais de clareza.
Não ter o pesquisador uma
formação em História tornou-se, ao longo do trabalho, um obstáculo e um desafio
Afinal, compreender as especificidade do ME do Tocantins passou a significar
resgatar fatos e acontecimentos envolvendo estudantes desde os tempos da Cenog.
Também foi necessária a realização de um estudo bibliográfico sobre o ME
brasileiro, buscando compreendê-lo em suas nuances conservadoras e progressistas (Poerner,
1979), (Foracchi, 1972, 1977) e em seguida. do ME Goiano, por este ser o berço
de influência do ME do Tocantins.
Em relação à natureza da
documentação, vários tipos ou espécies de documentos foram utilizados, tais
como: atas das faculdades, anuários, boletins informativos, relatório,
documentos de secretarias da Unitins, estatutos, periódicos (jornais, revistas).
De acordo com Macedo,
O
documento, para o historiador do final do século XIX, influenciados pelo
positivismo era por excelência o documento escrito, especialmente o oficial.
Com as criticas ao positivismo e especialmente com a "Escola dos Annales"
a noção de documento histórico foi ampliada, e ao documento escrito são
incorporados outros vestígios da ação humana que vai desde a música, arte,
objetos diversos, a paisagens, os valores as tradições, a religião, etc., ou
seja, todos as "provas" da experiência humana. (Macêdo, 1997 p.14)
O historiador, aos poucos,
passa a utilizar um leque muito maior de documentos em suas investigações com
esta visão mais ampliada.
Analisaram-se
ainda recortes de Jornais da imprensa nacional, com noticias e entrevistas dos
estudantes representados pela UNE, na década de 1990, e da imprensa regional
sobre a atuação dos estudantes do Tocantins, além de discursos de
parlamentares, cartas abertas escritas por estudantes da Unitins, informativos
dos CAs, dos DCEs e jornais internos da Universidade do Tocantins. O acesso aos
documentos dos congressos da entidade, desde o congresso de 1998, até o
ocorrido em Goiânia em 2000. foi de suma importância para compreender a
evolução da entidade e a influência dos partidos sobre a mesma.
No tocante ainda às fontes
orais, foram realizadas um total de doze entrevistas com professores e
estudantes da Universidade do Tocantins, abordando questões centradas no
movimento estudantil com destaque para o SOS-Unitins, principal momento do ME do
Tocantins nos enfrentamentos com o poder governamental do Tocantins.
O critério utilizado para
a escolha dos entrevistados e para o tipo de entrevista seguiu os objetivos do
trabalho: compreender o movimento estudantil do Tocantins na década de 1990, e
os embates enfrentados por ele. Assim, dentre os alunos foram selecionados
estudantes que participaram diretamente dos embates, sobretudo do SOS-Unitins,
e, entre políticos e professores também foram privilegiados aqueles que tiveram
influência direta sobre o desenrolar dos acontecimentos.
As entrevistas foram
importantes para a construção de um discurso histórico mais consistente,
impregnado não só de informações, mas também de percepções e significados,
permitindo ir além do escrito, e apreender o existente no dito e no falado.
O conteúdo do trabalho foi
organizado como se segue. No primeiro capítulo, procura-se caracterizar o ME,
buscando identificar as interfaces da história do ME goiano com a do ME
nacional, sobretudo com a história da UNE. Neste sentido, o capitulo foi
subdivido em três partes: a primeira busca compreender a interface do ME
brasileiro e goiano até a extinção da Cenog; a segunda trata da especificidade
do ME goiano no Centro-Sul, e a terceira procura tratar das relações do ME do
Centro-Sul goiano com a Igreja.
O segundo capítulo
concentra-se no ME do Norte goiano até a criação do estado do Tocantins, em
1988, nos termos da Constituição Federal. A ausência de ação estatal é a
característica principal deste periodo, sobretudo durante a existência do
Cenog. O período de 1979 a 1988 é de grande apatie para os estudantes goianos,
mas um momento de maior atuação do Estado, sobretudo do governo de íris Rezende
Machado.
No terceiro capítulo,
discute-se o ME no Tocantins, na década de 1990.
A primeira parte deste
capítulo registra e discute os embates entre o público e o privado no Estado do
Tocantins, uma vez que foram vetores das ações estudantis mais aguerridas
ocorridas no período, também o SOS-Unitins, movimento em defesa da Universidade
do Tocantins como pública e gratuita.
A segunda parte mostra
como a criação da Unitins serviu de um importante local de desenvolvimento das
lutas estudantis, mesmo apresentando características que dificultavam a
mobilização dos estudantes pela sua natureza multicampi.
Na terceira parte,
pretende-se compreender as nuances do SOS-Unitins, movimento considerado a
culminância da organização estudantil do Tocantins e que conseguiu chamar a
atenção dos meios de comunicação de circulação nacional para os problemas da
universidade. A greve de fome foi o sinal de maior radicalização do movimento
tocantinense.
A quarta e última parte do
terceiro capítulo objetiva compreender as indagações que ocorreram com base em
depoimentos.Trata-se de um certo distanciamento do ME tocantinense das lutas nacionais capitaneadas pela UNE, e
neste espectro, busca-se verificar a influência dos partidos políticos sobre o
ME, em âmbito nacional e no Tocantins.
O quarto capítulo procura
mostrar como os partidos políticos exercem influência sobre o ME, mediante as
tendências políticas ligadas ao PC do B, e no caso da década de 1990, da União
da Juventude Socialista (UJS).
Por fim, as considerações
finais sintetizam algumas conclusões sobre a história do ME tocantinense e as
vicissitudes enfrentadas pelos estudantes desde a sua criação até os dias
atuais.
CAPÍTULO
I
O MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL E EM
GOIÁS: DA
CRIAÇAÕ DA UNE A CRIAÇÃO DO ESTADO DO
TOCANTINS
Eh, bom meu pasto ... Mocidade. Mas mocidade é tarefa
para se desmentir. Também, eu desse de pensar em vago tanto, perdia minha mão
de homem para o manejo quente, no meio de todos. Mas, hoje que raciocino, e
penso a eito, não nem por isso não dou por baixa minha competência.
Guimarães Rosa
Neste
capítulo não se pretende reescrever a história do movimento estudantil no
Brasil. A pretensão é identificar, ao longo da história do ME no Brasil, as
relações possíveis com o ME do Tocantins. Procura-se analisar alguns pontos
discutidos por alguns autores e que se consideram vitais para a compreensão do
objeto: o movimento estudantil tocantinense e suas relações com o Estado, a
Igreja e os partidos políticos.
Neste
sentido, ganham importância os estudos que discutem o grau de organização
obtida pelos estudantes brasileiros com a criação da UNE, em 1937, até os dias
atuais, como Poerner (1995). As principais lutas enfrentadas foram: O petróleo
e nosso, Diretas já, Fora Cal/ar, Marcha dos 100 mil, e Contra o provão.
Procurando perceber a relação do ME com o Estado na história da participação
política dos estudantes brasileiros ainda são analisados mais dois outros: a
relação do ME com a igreja, e, a relação com os partidos políticos.
Os
estudos de Foracchi (1972-1977) sobre a juventude estudantil e os processos de
transformação da sociedade brasileira foram de grande importância para
compreender a constituição do ME como movimento social, nos termos definidos
por Gonh (2000) .
Em
um primeiro momento, foi difícil definir o movimento estudantil no Tocantins
como um movimento social, dificuldade considerada natural por Gonh (2000) em
razão de uma consensual ausência de quadros teóricos e metodológicos. Ao
delimitar neste estudo, o ME, com base na sua relação com o Estado, com os
partidos políticos e com a Igreja, pareceu ser possível identificá-lo pela sua forma
de expressão, como um movimento construído com base na origem social da
Instituição que o apóia ou abriga seus demandatários. De acordo com Gohn,
partindo da premissa de que todo movimento social é
formado por agrupamentos humanos, coletivos e sociais, decorre que estão de uma
forma ou de outra inseridos na sociedade. Esta inserção não se dá no vazio mas
a partir de algumas instituições de apoio ou abrigo, ou seja, a igreja, o
partido, o sindicato, a escola e até a família - em alguns movimentos sociais
messiânicos, coronelistas ou feudais.(Gohn, 2000, p. 268)
No
caso do ME, tais instituições podem ser vistas nos partidos políticos, na
Igreja e no Estado. São estas, ao que parece, as que, de certa forma, amparam e
influenciam os destinos do ME. Os conflitos no interior do ME, parecem ser a
extensão dos ocorridos entre tais instituições, o que se pode observar durante
o percurso da exposição da pesquisa.
Ainda,
pretende-se analisar a sintonia do ME goiano com as lutas da UNE, ou o
desenvolvimento das lutas organizadas pela UNE em solo goiano. A análise do
caso goiano limita-se à década de 1980, ao fim da qual foi criado o estado do
Tocantins.
1.1 As primeira lutas
Em
seus estudos, Poerner (1979) privilegiou a participação política dos estudantes
brasileiros, tanto que procurou resgatar a indignação dos estudantes
brasileiros desde os tempos coloniais. Porém, considera que "a UNE
representa, sem qualquer dúvida, o mais importante marco divisor daquela
participação ao longo de nossa história" (Poerner, 1979, p.127).
As
lutas estudantis anteriores à criação da UNE estão marcadas pelos esforços de
estabelecimento de espaços formativos no Brasil, o que permitiu a esses jovens
obterem uma compreensão mais avançada da sociedade e do tempo vivido,
levando-os a se envolverem nas lutas revolucionárias, como a Abolição da
Escravatura e a Proclamação da República No entanto, a tentativa de organização
dos estudantes desse período, segundo Poerner (1979) pecava pela
transitoriedade (não se firmavam, nasciam e morriam em curto espaço de tempo) e
pelo isolamento em razão das dificuldades da integração nacional.
Após
sua criação, um dos primeiros e principais desafios da UNE foi a inserção nas
atividades políticas do país Esta luta não foi linear, mas cheia de avanços e recuos.
Logo após a sua criação, a UNE teve diante de si a truculência do Estado Novo e
o aparato policiai da Era Vargas, e, internamente, sofreu com as transformações
que foram ocorrendo no seio estudantil, como se verifica pelas conclusões do
seu 111 Congresso, realizado em agosto de 1939. A análise de Poerner demonstra
que, naquele momento histórico, a juventude deixava de ser insensatamente
rebelada como antes fora boêmia e romântica, para ser construtiva (Poerner,
1995, p.140)
Embora
nos estudos de Poerner a participação política tenha centralidade, parece
possível uma leitura em que seja percebida a influencia do Estado, da Igreja e
dos partidos políticos. Os registros do autor dão conta de que o Estado esteve
extremamente presente, ora aliado aos estudantes, ora como algo a ser
enfrentado pelos estudantes. Como exemplos de alinhamento, podem-se citar a
construção da Jovem Guarda Florianista (Poerner,1979, p.67), a participação na
Campanha Nacionalista de Silac (Poerner, 1979, p.97), a fase de ascensão direitista
(Poerner,1979, p.183) e o apoio a Jânio Quadros João Goulart, (Poerner,1979,
p.197)
Em
relação aos enfrentamentos com o Estado, ocorreram os embates com o Estado Novo
de Vargas que culminaram com a tentativa do governo de instalar uma entidade nova
de representação dos estudantes - a Juventude Brasileira, em moldes fascistas
(Poerner,1979, p. 169), e os enfrentamentos durante o tempo em que o país foi
governado pelos militares.
Após
a criação da União da Democracia Nacional (UDN), ascendeu a influência da
Igreja, por meio da Juventude Universitária Católica (JUC), e da Juventude
Estudantil Católica (JEC).
No
caso da relação estabelecida com Igreja, o caso mais sensível foi o que tratava
da hegemonia da JUC, que culminou com a fundação da Ação Popular (AP), entidade
que mais tarde rompeu com a Igreja e se fundiu ao Partido Comunista do Brasil
(PC do B).
Os
partidos políticos, de acordo com os estudos de Poerner (1979), receberam de
forma clara a influência da UDN, nos anos 50, durante a ascensão direitista.
Anteriormente, nos anos 30 e 40, parece possível afirmar que foi o período de
maior influência dos partidos democratas e comunistas, uma vez que as campanhas
da UNE eram contra o fascismo e o alinhamento do Brasil ao Eixo
Alemanha/ltália.
Para
Foracchi (1977, p. 228), a politização da massa estudantil só pode ser
compreendida como expressão da eficiência do trabalho partidário.
A
respeito da influência sobre o ME da JUC, AP, Política Operária (Polop),
Partido da Representação Acadêmica (PRA), e outros, assim se expressa à autora:
É conveniente atentar para o fato de que todas estas
facções do movimento político universitário se encontram, em maior ou menor
grau, ligadas a correntes políticas nacionais e reproduzem a seu modo, a
orientação predominantemente no processo político. (Foracchi 1977.
p.228)
A
influência que partidos políticos exercem sobre a massa estudantil é então
considerada vital pela autora em questão.
Seriamos levados destarte a admitir que sem cobertura
política partidária consistente, a vanguarda estudantil não pode desenvolver
atuação organizada, sistemática e coerente (...) destituída de lastro
partidário, não consegue arregimentar, por si mesma e com suas próprias forças,
a massa estudantil porque só a duras penas, se sustém como vanguarda. (Foracchi 1977, p.
232)
Se
o vínculo com os partidos políticos se torna vital para a sobrevivência das
entidades estudantis, criou-se no ME um grupo de estudantes que passou a se
constituir em vanguarda, sem estabelecer uma comunicação entre a cúpula do ME e
suas bases, dificultando a renovação das lideranças, o que se dá pela
dificuldade da cúpula de compreender o movimento da massa estudantil e a
aspiração do estudante comum.
As
relações das lutas estudantis, devem ser consideradas além da participação
política e de uma possível indignação da juventude em relação as condições
políticas do pais A leitura dos trabalhos de Foracchi (1972,1977) demonstra uma
forte interface de como o mundo do trabalho interfere nessas questões.
A
relação com o mundo do trabalho, para Foracchi (1977), possui um lado positivo
e outro paradoxal Como fator positivo, o trabalho aparece como futuro projeto
de emancipação e possibilidade para que o estudante, que é sustentado pela
família, se livre de sua dependência e inicie um projeto autônomo de vida.
(Foracchi, 1977, p. 45). O paradoxo ocorre quando o estudante trabalha. Desta
feita, o estudante muitas vezes não depende da família e até em alguns casos a
auxilia. Neste sentido, o paradoxo relaciona-se ao curso, pois se o trabalho se
identifica com a área de formação, se torna um fator impulsionador do sucesso
nos estudos, e se isso não ocorre, o sucesso em um acontece às expensas do
fracasso do outro. (Foracchi, 1977, p.51)
Touraine
(1994) evidencia outras preocupações (especialmente na atualidade, em razão dos
recursos tecnológicos existentes das mudanças ocorridas no mundo do trabalho, e
sobretudo, da intensificação da ofensiva neoliberal com sua proposição de um
caminho único) ligadas à inserção do jovem no mercado de trabalho para
construção de um projeto pessoal de carreira profissional. Esta preocupação é
identificada pelo autor nos movimentos de juventude:
Os secundaristas que em 1990 desencadearam na França um
movimento de protesto importante preocupavam-se com seu futuro profissional,
freqüentemente ameaçado pelo desemprego, mas eles queriam também que a cultura
escolar não fosse estranha a sua cultura de juventude ou de certos segmentos da
juventude. (Touraine,
1994, p.260).
Essa
afirmação já parece presente, mesmo que de forma embrionária, nos anos que
precederam a radicalização dos movimentos de 1968, uma vez que já se
vislumbravam as mudanças no mundo do trabalho e o prenúncio do fordismo como
modo de organização da produção.
Em
outra obra - Palavra e sangue: política e
sociedade na América latina (1989) - o autor procura analisar as
especificidades da organização social e as
formas de ação social e politica, as maneiras de fazer política na América
Latina (Touraine,1989,p 19), observa as expectativas depositadas na escola
e na universidade por pais e filhos como uma porta para a obtenção do êxito na
sociedade. Assinala o autor:
A escola e a Universidade silo objetos de expectativas
extremamente fortes por parte dos pais, porque lhes parece ser a porta quase
única do êxito dos seus filhos. Para os migrantes, a vinda para a cidade tem
como primeiro objetivo dar melhores oportunidades de educaçilo aos filhos. A
América Latina ainda hOje, e em particular no Brasil, deposita na educaçilo uma
confiança sem igual no mundo. (Touraine,
1989, p.138)
Nos
anos 50, o taylorismo já vivia o auge de seu desenvolvimento e novas
tecnologias eram incorporadas ao capitalismo a todo o momento, o que
proporcionou o aumento da insegurança nos jovens e a razão para a rebeldia
diante das ameaças de um futuro com poucas garantias de inclusão social.
O
processo de industrialização, ao mesmo tempo em que gerava expectativas, trazia
novas ameaças. O mesmo autor declara:
à
medida que a industrialização progride e a marginalidade se torna menos um fato
urbano do que um fato profissional, associado ao desemprego, as fronteiras
sociais se tornam mais difíceis de transpor e a juventude se reparte de maneira
mais rígida entre os que realizam o aprendizado da participação social e os que
já estão rechaçados na exclusão.
(Touraine, 1989, p.140)
Foracchi
(1972) estuda o momento em que a expectativa da juventude era alcançar uma
formação que lhe desse condições de se colocar no mercado de trabalho, em
posições vantajosas e que propiciasse orgulho à família. Estava então presente,
de forma forte, a influência das questões ligadas à família, aos vínculos de
família e à origem de classe, fatores definidores das opções políticas de
grande parte da juventude. Aliado e não separado desse processo, estavam o
projeto de carreira e a manutenção do status de membros de determinada família,
cujo processo era garantido pela exigência de formação universitária e
casamentos no interior da própria classe.
Assim,
as razões que levaram os jovens da América Latina e do Brasil às ruas possuem
especificidades em relação à França e ao restante da Europa, porque estavam
diretamente ligadas ao modo de desenvolvimento instalado, e os estudantes viam
na luta uma forma de garantir o espaço na sociedade como cidadãos.
A
institucionalização da UNE, que foi criada em 1937, e que se consolidou nas
décadas de 1940 e 1950, representou a consciência dos estudantes quanto ao
papel a desempenhar nessa quadra da vida. Sua atuação foi pautada pela
realidade em que os estudantes brasileiros estavam inseridos, que não podia ser
percebida como fruto da relação centro-periferia, mas como produto de uma
crescente globalização que ganhou força após a segunda Guerra Mundial, e ainda
como um resultado de ser o Brasil um pais com dimensões continentais e com uma
história rica de miscigenação de cultura e raças.
É
importante destacar que o crescente aumento da conscientização da juventude
estudantil brasileira e a unificação das lutas estudantis se deram em um
momento em que não existia plena liberdade de expressão, sobre o que Cunha
afirma:
No auge da onda repressiva que ele (o Estado Novo)
desencadeara e de que se alimentava, foi criada a União Nacional dos Estudantes
- UNE. Até então, as entidades estudantis eram de caráter estritamente local,
com objetivos assistencialistas, desportivos e culturais. A dispersão
geográfica das instituições de ensino superior e a tardia e parcial reunião em
universidades não propiciavam um associativismo de outra qualidade. Nem mesmo a
obrigatoriedade de existência dos diretórios acadêmicos para regular o
funcionamento das faculdades e das Universidades, determinada pelo estatuto de
1931, foi capaz de mudar este quadro. (Cunha, 2000, p. 169)
Outra
razão que garantiu a criação e a consolidação da entidade estudantil foi o
crescente desenvolvimento do ensino superior no país, que, no governo Vargas,
ou nos anos pós 30, tiveram uma arrancada que só conhece momento igual na
década de 1960, com as lutas pela reforma universitária. Houve o aumento do
número de estudantes na luta estudantil, em prol do acesso à educação e a
cultura, como também permitiu um aumento da massa crítica no meio da sociedade,
ao mesmo tempo que espaços foram construídos para discussão dos problemas
sociais.
A
consolidação da entidade não significou, porém, que ela tivesse se colocado na
vanguarda das lutas progressistas. A história da UNE teve seus momentos de
conservadorismo.
Logo
após a sua criação, a UNE viveu um momento de ascensão direitista, que perdurou
até a década de 1940, e, posteriormente, em meados da década de 1950.
O
Brasil vivia um processo acelerado de industrialização, marcado pela existência
de uma política populista que mobilizava as massas em torno das possibilidades
de melhoria de condições de vida dos trabalhadores e a auto-afirmação de uma
burguesia industrial, que se contrapunham a uma elite agrária, que se
encontrava em decadência desde a Revolução de 1930.
As
décadas de 1940 e 1950 foram de radicalização de ambos os lados. Tanto esquerda
quanto direita conseguiram atrair para suas fileiras jovens que assumiram uma
postura de participação política avançada.
A
ascensão direitista na UNE foi o momento alvissareiro de uma classe média
burguesa que representava uma alternativa às elites agrárias e conservadoras
que ainda detinham uma grande parcela do poder. Neste contexto, a classe
operária começou a ter acesso aos bens culturais, a lutar de forma mais
organizada pelos seus direitos, dando sustentação a um governo populista, mas
que sabia das necessidades amplas das classes populares ou do povo.
Após
o período direitista, a UNE foi fortemente influenciada por setores da Igreja
Católica. Durante a gestão de Aldo Arantes, que foi eleito presidente com o
apoio da JUC, a UNE se posicionou pela posse de João Goulart, colocando-se
frontalmente contra o Estado.
Ao
fazer uma análise dos motivos que levaram ao golpe militar Gorender afirma:
Por trás do desenvolvimento supostamente benéfico a
gregos e troianos, cresciam os elementos de profunda crise econômica, que daria
a tônica da fase imediata. Pela primeira vez, a questão da reforma agrária sala
dos debates parlamentares e ganhava formas agudas de manifestação entre seus
interessados diretos - os camponeses. Ao invadir a área rural, o
desenvolvimento capitalista passou a eliminar, espontaneamente, aspectos
pré-capitalistas ou pertencentes a uma fase primitiva do capitalismo e a criar
relações de produção burguesas na forma pura de relações entre capital e o
trabalho assalariado.
(Gorender, 1987, p. 18).
O
surgimento das relações de produção burguesas e o seu esforço para
consolidar-se como alternativa de radicalização de classe:
A opressão tradicional das relações primitivas sobre os
camponeses recebia o acréscimo da nova fase de desenvolvimento capitalista,
trazendo exigência maiores de trabalho, aumento da instabilidade, desejos
sumários e marginalização. Por isso mesmo, em vários pontos do território
nacional, avolumaram-se os choques entre latifundiários e posseiros, parceiros,
colonos, moradores foreiros. (Gorender, 1987, P 18)
Segundo
Gorender (1987) durante a campanha pela legalidade, ao se posicionarem ao lado
de Leonel Brizola que recebeu a adesão do Terceiro Exército, os estudantes
contribuíram para retardar um confronto de classes ou mesmo uma guerra civil,
mas se colocaram do lado oposto das elites dominantes, que não estavam
dispostas a fazer concessões que prejudicassem seus interesses.
A
realidade do país naquele momento guardava uma complexidade e o movimento das
peças no xadrez político levou à radicalização das classes em disputa na
sociedade, fazendo precipitar o Golpe militar.
Em
estudo comparativo sobre o movimento estudantil na França e no Brasil, Martins
Filho (1996) considera o golpe de 1964 um divisor de águas no ME Brasileiro: O
golpe militar triunfou no momento em que as lutas populares ameaçavam ampliar
as fronteiras da democracia (Martins Filho, 1996, p.27).
Uma
vez garantido o seu triunfo, os novos governantes do país cuidaram de diminuir
a força e a influência dos opositores. O mesmo autor assinala:
Para os estudantes universitários, na sua grande maioria
de classe média, o governo desde o inicio reservou más noticias. Nos primeiros
meses, por meio de da "Lei Suplicy de Lacerda", procurou extinguir a
União Nacional dos Estudantes (UNE), as Uniões Estaduais dos Estudantes (UEEs)
e os Diretórios Centrais (DCEs), criando em seu lugar uma espécie de
sindicalismo estudantil dependente do Estado. Em seguida alarmou pais e alunos,
ao propor uma reforma universitária que culminaria no ensino pago. Numa onda de
obscurantismo, proibiu livros, filmes e peças de teatro. perseguindo artistas e
intelectuais. Nilo bastasse isso, reprimiu com violência nunca vista os
protestos de jovens que até entilo eram tratados como a futura elite do pais. (Martins Filho,
1996, p. 28-29)
Os
militantes do ME enfrentaram forte oposição e foram cassados pela ditadura no
final dos anos 60, e no pós-1968, e só se recuperaram no final da década de
1970, com a reabertura política (1979)
A
década de 1970 foi de grandes perdas para o ME e para todos os movimentos que
se opunham à ditadura. Ao discutir a perseguição do regime militar, Gaspari
(2002) considera o ME como parte da burguesia e da elite brasileira, tanto que
intitula o capítulo que trata do assunto de A
elite aniquilada, e o seguinte, no qual também cita as revoltas estudantis
em protesto contra o assassinato de Edson Luis de Lima Souto, denomina A soberba de Lúcifer, em alusão à
capacidade de os governantes ditatoriais acharem que todo o poder estava em
suas mãos.
A
década de 1970 não foi só de frustrações para o ME. No final, como decorrência
da reabertura política, deu-se o renascer do ME. Na Bahia, o estudante Rui
César foi eleito presidente do DCE da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em
1978. No ano de 1979, a revista Veja noticiou as mudanças:
no Brasil de 1979, todavia o lider dos estudantes diz o
que pensa e quer em programas de televisilo - ele pode afirmar, por exemplo,
que Honestino Guimariles foi morto pelo governo. (Veja, 10 de outubro
de 1979. p. 23)
A
reconstrução da UNE, em 1979, ocorreu, no entanto, em uma realidade
diferenciada daquela na qual fora colocada na clandestinidade. Na década de
1970, em conseqüência do regime militar, ainda não havia uma mobilização do
operariado tão forte em todo o Brasil, apenas no ABC2 paulista. Os
sindicatos e as associações de professores e de servidores públicos, com poder
de mobilização social, estavam renascendo das cinzas.
A
UNE passou então a dividir com os novos atores a mobilização da sociedade nas
lutas. Durante a campanha denominada Diretas
Já, os operários metalúrgicos de São Paulo tiveram participação hegemônica
por meio da liderança de Luis Inácio Lula da Silva. Este é um elemento
diferenciador dos anos 60. Se, em 1964, as principais lideranças eram
estudantis, nesse momento operários saíram na frente, sensibilizando a
sociedade.
A
década de 1980 para o ME, é representada nos estados pela reorganização das
uniões estaduais dos estudantes (UEEs), dos Diretório Centrais Estudantis(
DCEs), e dos Centros Acadêmicos (CAs) nos quais a repressão ainda não havia
permitido a sua reconstrução, ou não havia resistência estudantil suficiente.
1.2 O berço do ME no Tocantins: o Me em
Goiás
Para
desenvolver melhor uma análise sobre o ME em Goiás, é necessário recuar até a
década de 1950, quando a mobilização estudantil ganhou força com a
transferência da capital para o Centro¬Sul, com o impulso desenvolvimentista do
governo Juscelino Kubtischek, e, como conseqüência dessa conjuntura, o ideário
de uma Universidade no Centro-Oeste.
Em
1959, ocorreu o movimento pela criação da Universidade Federal de Goiás e a
disputa entre a Igreja e a parcela mais laicizada da sociedade e mesmo entre
setores da Igreja acirrou-s8. De um lado, estavam os que defendiam que a nova
universidade devia ser católica, para propiciar uma educação do corpo e da alma
e, de outro, aqueles que pretendiam uma universidade pública e laica.
O deslocamento para o Centro-Sul do eixo de
desenvolvimento e as lutas pela criação de uma universidade vão se reforçar nos
anos 60, com a inauguração da cidade de Brasília como a nova sede do governo
federal. No início dos anos 60, Goiânia e, sobretudo Brasília, representavam a
materialização do discurso da Marcha para o Oeste:
Como parte dos planos ideal de modernidade, a marcha para
o oeste concretizaria o que foi representado nos argumentos e discursos para a
mudança da capital nos anos 30: desenvolvimento do interior, onde se
entrelaçava o novo e o velho. Goiânia expressava a modernidade, onde a elite
polítíca escondia o fazendeiro por trás do médico, do advogado, do engenheiro.(Cardoso, 2002, p.23)
Este
deslocamento, que representou a expansão regional do capitalismo em busca de
novos mercados, no entanto, não ocorreu sem as mais variadas contradições, já
que o moderno passou a conviver com o arcaico, e produziu com esse encontro uma
situação ainda mais nova. O crescimento da classe média e o início do processo
de industrialização modificaram o perfil do ME goiano naquele momento.
Em
tal situação, os reflexos da luta estudantil personificados na criação da UNE e
em sua atuação, ficaram concentrados em Goiânia e no Centro-Sul do Estado,
aumentando a distancia entre o Norte e Centro-Sul do então estado de Goiás.
A
verdade é que a Marcha para o Oeste não conseguiu modificar a situação da
ausência do Estado no Norte de Goiás. Estavam colocadas as condições para o
surgimento da Casa do Estudante do Norte Goiano (Cenog), em 1959, que, dentre
os seus objetivos, propunha dar assistência aos estudantes nortistas e quase
que como principal bandeira, segundo Santana (1996), a reivindicação histórica
da separação do Norte e criação do estado do Tocantins.
Ao estudar a reivindicação denominada
movimento separatista, Cavalcante (1999) afirma que este teve suas origens
históricas no século XVIII, ganhando força concreta no século XIX. Assim, os
acontecimentos da década de 1950 fizeram reavivar uma iuta que já existia no
inconsciente coletivo dos habitantes do Norte goiano (Cavalcante, 1999, p.
19-21).
O
movimento estudantil goiano passou, a partir de 1950, a ter duas vertentes uma
do Sul, voltada para os problemas nacionais e muita mais engajada politicamente
com a UNE, e uma outra, pouco engajada politicamente, e voltada para problemas
típicos da região Norte do estado e personificada na criação da Cenog3.
Após
florescer nas décadas de 1950 e 1960, o ME de Goiás sofreu as mesmas
vicissitudes impostas pelo governo dos militares ao ME nacional, pois deste era
parte integrante Vários dos seus quadros foram perseguidos e exilados ou
buscaram apoio na Igreja por meio de do Arcebispo D. Fernando Gomes dos Santos,
e enfrentou a policia do regime nas ruas.
A
reconstrução dos DCEs deu-se entre 1979 e 1980. A UEE foi reconstruída em 1984,
e, em seu primeiro congresso, elegeu Denise Carvalho para a presidência.
1.3
O ME do Centro-Sul, os partidos políticos e a expansão do ensino superior
Os
estudantes goianos do Sul do estado tinham como principal centro de atuação a
capital de Goiás, Goiânia, e, na década de 1950 envolveram-se, naquela que para
Nascimento (2002) era a principal luta do momento: a criação de uma
universidade do estado. Como conseqüência de tais lutas, em 1959, foi criada a
Universidade Católica de Goiás, e, em 1960, a Universidade Federal de Goiás.
A
criação de uma universidade confessional e de uma universidade pública em Goiás
deu-se em decorrência de uma disputa advinda de um debate nacional daquele
momento histórico, o conflito entre ensino confessional privado versus ensino
laico público e gratuito. Baldino (1991) registra que o conflito se deu também
entre a Maçonaria e a Igreja, e que em seu auge, os estudantes chegaram a
realizar o enterro simbólico do Arcebispo Dom Fernando, como uma forma de
protestar contra um boicote da Igreja a criação da Universidade Federal de
Goiás (Baldino, 1991, p. 85).
Inicialmente,
a preocupação dos estudantes era haver uma universidade no estado. Mobilizados
pela UNE, lançaram a campanha pelo ensino público e gratuito, a qual se deu
porém, em meio as disputas internas. A discussão feita por Nascimento (2002) permite
afirmar que o movimento estudantil goiano esteve presente na discussão da
criação das duas universidades - de um lado, dividindo com a Igreja os esforços
pela criação da que seria primeira universidade do Centro-Oeste e, de outro,
liderando o movimento em prol do ensino público e gratuito e pela criação da
Universidade Federal de Goiás.
Alguns
segmentos teceram críticas duras e públicas à Igreja, baseando-se na
compreensão de que a criação de uma Universidade católica poderia prejudicar a
luta pela criação de uma universidade federal (Duarte, 1996).
A
criação das duas universidades contribuiu para dar ainda mais fôlego ao ME
goiano. Portanto, bandeiras defendidas pela UNE, no espaço nacional - escola
pública e gratuita, reforma universitária e recusa das imposições imperialistas
- fizeram parte das lutas dos estudantes goianos que, a partir do início dos
anos 60, participaram de forma ativa das lutas nacionais defendidas pela
entidade, e, como em anos anteriores e com muito mais intensidade, passaram a
sofrer influências externas semelhantes às vivenciadas pela entidade em nível
nacional.
Embora
a AP estivesse presente no movimento estudantil goiano, o episódio da criação
das duas universidades e os conflitos entre estudantes e Igreja mostram que a
relação do ME goiano e a Igreja foi por vezes conturbada, assim como as
influências partidárias no interior do movimento. Nos início dos anos 60, as
principais influências estudantis provinham da JUC e do Partido Comunista
Brasileiro. Mais tarde, com sua criação, a Ação Popular passou a exercer uma
hegemonia, recrutando seus quadros no movimento estudantil, e exerceu
influência de todas as matizes no interior do movimento, como constata Cardoso:
Havia grupos formados dentro do movimento estudantil, à
direita, no centro e a esquerda. À direita, havia grupos anticomunistas
vinculados a UDN e ao PSD. Na esquerda haviam grupos ligados aos Partido
Comunista do Brasil e a Açilo Popular com todas as dissidências, muitas
formaram partidos ou organizações revolucionarias no perfodo da ditadura
militar, sendo que os principais militantes destas organizações foram
recrutadas no movimento estudantil. (CardoSO, 2000, p.65)
A
influência da AP evidenciou-se na área cultural, na qual as atividades
realizadas pelo Centro de Cultura Popular (CPC) da UNE se refletiram em Goiás
com a criação do Instituto de Cultura Popular (ICP), em abril de 1963. Peças de
teatro e atividades culturais foram realizadas em vários municípios do estado
com a participação dos estudantes. Tendo o apoio do então governador Mauro
Borges e da Igreja, o ICP tentou cumprir sua missão, desenvolvendo campanha de
alfabetização e atividades culturais, com o objetivo de conscientizar a
população dos seus direitos.
Nos
anos 70, a maior influência da orientação do ME estadual
proveio
da Igreja Católica e de partidos políticos, como o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB), porém, com o registro da formação de inúmeras lideranças no
movimento estudantil ligada à conservadora Aliança Renovadora Nacional (ARENA),
mas com uma clara evidência da supremacia da orientação das alas mais
progressistas da Igreja e de setores do MDB ligado às classes populares.
Diferentemente
de muitos estados brasileiros, como Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, e Ceará,
em Goiás, o Partido Comunista do Brasil não conseguiu manter uma influência
presente no movimento estudantil, durante o período do regime militar. Marcos
Araújo, um dos reorganizadores do PC do B, após este sair da ilegalidade,
afirma: só em 1978 tivemos acesso a um estatuto do PC do a, nos organizávamos
por aquilo que líamos e que achávamos que era lá na União Soviética (Entrevista
com Marcos Araújo).
No
entanto, como bem lembram Nascimento (2002) e Cardoso (2002), havia em Goiás
desde os anos 60, uma grande influência da AP e da JUC, tendências as quais
pertenciam Aldo Arantes e Euler Ivo, figuras proeminentes no processo de
reorganização do Partido Comunista do Brasil em Goiás. Com isso, a
característica da ação política em Goiás, se inscreveu em uma concepção apista
aproximando-se do trostkismo, como será analisado mais adiante.
O
retorno do exílio em 1979 de Aldo Arantes e de Euler Ivo, ex-líderes estudantis
na década de 1960, foi fundamental para colocar essa parcela da juventude em
contato com o marxismo e com o PC do B. Iniciou-se o processo de reconstrução
partidária em 1979, e em 1982, Aldo Arantes disputou as eleições pelo Partido
do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), na ala conhecida como Bloco Popular
do PMDB. O movimento estudantil e o movimento comunitário foram os dois espaços
em que vicejaram com força as idéias comunistas.
O
ME, que ganhou força em 1979, e participou da campanha pela anistia, em 1984
tinha organizado os DCEs da Universidade Católica e Universidade Federal, o que
permitiu a reorganização da UEE.
O
movimento estudantil, como já foi mencionado teve sua UEE reorganizada em 1984,
e elegeu sua primeira presidente nessa fase, Denise Carvalho. As principais
bandeiras do movimento, eram a luta contra o aumento de preços no transporte
coletivo e pelo direito à meia passagem, além de pleitear a meia-entrada para
os estudantes e a recuperação do patrimônio da entidade, que fora tomado pelos
governos militares.
Em
1986, durante a eleição do governador Henrique Santião, já se notavam fissuras
nas forças populares em Goiás. O PMDB havia crescido por meio do mecanismo da
adesão ao poder. Elementos vindos do antigo regime reforçaram as práticas
coronelistas e atrasadas de fazer política no interior do partido.
Dentre
outras grandes lutas, estavam as bandeiras pela redemocratização do país, a
luta pelas Diretas-já, e pela críação de uma universidade estadual em Goiás.
Destas bandeiras, as eleições diretas tornaram-se uma realidade em 1989, mas a
fundação de uma universidade estadual só veio a se concretizar, em 1998, com a
eleição de Marconi Perião para o governo do estado.
É
importante destacar que, embora não tenha criado a universidade estadual, o
governo de íris Rezende proporcionou uma expansão do ensino superior pelo
interior do estado. Baldino (1991) ressalta que na década de 1980 o ensino
superior tornou-se presente no Norte goiano (Baldino, 1991).
No
Centro-Sul, o governo íris Rezende não decepcionou camadas progressistas da
Igreja e da sociedade, e no Norte, representou muitos avanços, desde uma maior
representação política no poder do Estado, até melhorias de infra-estrutura; no
caso da educação, a expansão do ensino superior levou oportunidades há muito
sonhadas pelos cenoguianos.
Em
1980, foi criado o Campus Avançado de Porto Nacional, da Universidade Federal
de Goiás, e em 1984, o Campus Avançado em Araguaína. Em 1985, foi criada a
Fundação Municipal de Ensino Superior de Gurupi. As faculdades Isoladas
espalharam-se por todo o estado. Os municípios de Itumbiara, Rio Verde,
Catalão, Mineiros, Porangatu, Morrinhos, Iporá, Formosa, Itapuranga, Goiatuba e
Quirinópolis, municípios do Centro-Sul passaram a ter centros isolados de
ensino superior (Baldino, 1991).
Ao
discutir a expansão do ensino superior em Goiás nas décadas de 1980 e 1990, e
sua conseqüente interiorização, (Dourado, 2001) mostra que, implícita neste
processo, ocorreu uma sutil privatização ensino público que assumiu as mais
variadas formas, desde os processos envolvendo convênios municipais com
fundações, até as instituições que recebiam verbas do setor público e ainda
cobravam mensalidades. O embate entre o público e o privado tomou forma na
criação da Universidade do Tocantins e apresentou claras contradições, o que
será discutido mais adiante.
Segundo
Moretz-Sonh (2002), a interiorização do ensino superior em Goiás, no caso do
Norte de Goiás, atual estado do Tocantins, seguiu o modelo discutido por
Dourado (2001), para atender à necessidade de formação de nova mão-de-obra
produtiva, à formação de professores para atuar na educação básica, pela interferência
de organismos Internacionais que entendessem a educação básica como o loeus
para o qual devem-se remanejar os recursos públicos (Moretz-Sonh, 2002).
A
expansão do ensino superior no Norte goiano não tornou o ME, mais combativo,
mas trouxe para o interior da sociedade civil do Norte goiano o plano da
universidade. Com a existência do ensino universitário no Norte, a problemática
dos estudantes deixava de ter o acesso ao ensino superior como central idade Os
estudantes do Norte gOiano enfrentavam problemas tipicos dos demais estudantes
de instituições de ensino superior de outras regiões, como a questão das
mensalidades e a necessidade de melhorias no ensino superior oferecido pelo
setor público.
1.4 Sob as bênçãos e a maldição do
altar: o ME do Centro-Sul e a Igreja Católica
A
relação do movimento estudantil com a Igreja pode-se dizer que foi de parceria
e de apoio mútuo. Mesmo no episódio de criação da Universidade Católica, quando
houve divergências entre alguns segmentos do movimento estudantil e a posição
defendida pela Igreja, não há registros de que a Igreja tenha deliberadamente,
adotado posição com intuito de atrapalhar o pleito estudantil de criação de uma
universidade federal e pública.
No
processo de conscientização, como no exemplo do ICP, estudantes e segmentos da
Igreja trabalharam de mãos dadas em projetos de alfabetização e em projetos
culturais. Após o regime militar ter colocado na ilegalidade a União Nacional
do Estudantes, a Igreja tornou-se o principal refúgio dos estudantes, quando
tinham que fugir da polícia ou manifestar as suas idéias, sobre o que Duarte
registra:
Em Goiânia. o
primeiro movimento popular a se organizado a entrar em confronto com o regime e
a buscar o respaldo da igreja foi o movimento estudantil, um movimento
pluriclasista. O movimento estudantil começou a se organizar na Universidade
Federal de Goiás, entre os alunos da área de Ciências Biológicas, liderados
pelos estudantes do Curso de Medicina, entre os anos de 1975 e 1976.(Duarte,
1996, p.114)
Também,
na Igreja, os estudantes encontraram uma voz forte que passou a criticar as
mazelas do regime e o desrespeito pelo ser humano perpetrada nas perseguições
estudantis.
Em 1968. o ano
histórico dos movimentos estudantis, em quase todo mundo, os bispos, reunidos
em Medeãim, na segunda conferência do episcopado latino-americano, consideram a
juventude, não só do ponto de vista numérico, mas também qualitativamente como
uma força para levar avante o "desenvolvimento integral", com um
papel decisivo no processo de transformação do Continente. (Duarte, 1996,
p.117)
Em
seu pronunciamento realizado na reunião em Medeãim, os bispos de forma frontal,
posicionaram-se contra a posição oficial reinante no Brasil de que os
estudantes deviam se ater ao processo de formação para a vida profissional, não
se envolvendo em atividades politicas. Em Goiânia, Dom Fernando se fez
presente, ao transmitir em homilia a decisão dos bispos em Medeãín, como
assinala Duarte:
naquela ocasião, os
bispos criticaram a educação tecnicista e propuseram, para o subcontinente,
"uma educação libertadora" e "criadora "; de certa forma,
antecipadora e modeladora de uma nova sociedade, uma educação que transformasse
o " educando em sujeito de seu próprio desenvolvimento". Na homilia,
Dom Fernando reconheceu aos estudantes o direito de estudar os problemas da
pátria e oferecer sua contribuição indispensável. (Duarte,1996,p.117)
No
processo de restabelecimento da UNE, novamente a voz do Arcebispo se fez
presente:
Em maio de 1979, no
processo de restabelecimento da legtmidade da UNE, de novo, os estudantes
buscaram o apoio do Arcebispo, e este, os encorajou naquela tarefa e o convocou
a animarem a Universidade com o "espírito de comunhão e
participação". (Duarte, 1996, P.117)
Além
de encorajar os jovens na luta pela participação política, Dom Fernando, a
convite dos estudantes, celebrou uma missa em 12 de agosto de 1977, pela
libertação do estudante Leonardo Alves e de outros presos e vítimas do regime
militar e ressaltou trechos do documento de Medeãin:
Já em 1968, em
Medeãin, os bispos reunidos com os outros valores da Igreja constataram o
elemento fundamental que a juventude representa para equacionar os problemas
característicos de povos em desenvolvimento. Não se pode ignorar a situação de
fome e injustiça coletiva sob vários aspectos. Quando a juventude
Universitária, consciente desta cruel realidade, pretende melhorar as condições
para aprofundar seus estudos e procurar participar dos debates em favor de uma
ordem social condizente com os anseios coletivos, é mal interpretada e entregue
a policia, como se fosse incapaz de cumprir sua missão que é, sem dúvida, de
estudar também os problemas da pátria e oferecer sua contribuição
indispensável.(...) é justo, pois, que solidários a vocês, lamentemos que, nas
atuais circunstâncias do nosso pais, os responsáveis maiores não tenham a
sensibilidade para interpretar de maneira mais alta e mais digna os legítimos
anseios dos jovens e dos autênticos valores da Pátria. Como compreender, por
exemplo, que na capital da República, em lugar dos mestres orientarem os alunos
de nível universitário, ocupem o campus os policiais, para manterem uma ordem
precária e instável como os ventos que provocam tempestades? (apud Duarte,
1996, p. 116)
Com o apoio da
Igreja, o ME goiano chegou à reconstrução da UNE, em condições de participar
com a apresentação da proposta de número 08. Segundo Romangnoli,
a proposta 8,
apresentada pelo aCE de Goiás, defendia uma diretoria provis6ria formada por
uma comissão de entidades e eleições e congresso no segundo semestre. Segundo
eles, a tirada da comissão refletia as necessidades do atual estágio do
movimento estudantil. (Romangnoli,1979, p.61)
O
ME do Centro-Sul integrou-se às lutas gerais da UNE. Ao lado das questões
locais eram apresentadas as questões nacionais. A luta pela anistia e pelas
Diretas já, ocorreram em Goiânia com vigor. As disputas entre tendências
cresceram, e já em 1980, havia espaço os remanescentes do Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB), do PC do B, passando pelas influências fortes da igreja por
meio da JUC e IEC.
A
Igreja que, no Brasil e em Goiás, em um primeiro momento, apoiara o regime
militar, colocou-se na vanguarda da Igreja católica 10 Brasil em defesa dos
direitos humanos e contra as atrocidades perpetradas pelo regime militar e,
dessa forma, tornou-se um espaço privilegiado de formação de lideranças.
O
atual prefeito de Goiânia e diversos quadros do Partido dos trabalhadores são
de formação política intimamente ligada às alas progressistas da Igreja, como
também muitas lideranças da luta pela erra, por meio da Pastoral da Terra, sob
a direção de Dom Tomás Balduíno.
O
grande artífice da formação de tais lideranças foi mesmo o Arcebispo Dom
Fernando, que não se restringia a homilias, e, por diversas vezes, como registra
Duarte (1996), se fez presente para evitar espancamento de estudantes ou de
pessoas de outros movimentos sociais, como o Movimento de Valorização do
Professor4, os movimentos pela terra, que tiveram como principal
foco o Norte goiano.
Após
o fim do regime militar, o Arcebispo apoiou a candidatura de íris Rezende
Machado ao governo de Goiás, mas
se
distanciou pouco tempo depois,o que segundo Duarte, (1996), ocorreu em razão da
relação do governador com os movimentos sociais e populares.
A
relação do governador com os movimentos sociais, com o movimento estudantil, de
professores e outros movimentos populares, foi classificada pelos líderes da
Igreja como tão opressor quanto fora o regime militar. A utilização da
violência pela polícia foi uma constante durante o governo Írís Rezende, tanto
no trato com estudantes quanto com os movimentos mais radicalizados, como os
movimentos de luta pela terra.
Não
foi apenas as alas mais progressistas da Igreja foram se afastando do Governo
íris, mas também o Bloco popular do PMDB.
CAPÍTULO II
O MOVIMENTO ESTUDANTIL NO NORTE GOIANO
Em
termos, gostava que morasse aqui, perto, era uma ajuda. Aqui não se tem
convivia que instruir. Sertão, sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da
gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigo ...
Guimarães Rosa.
A
criação da Cenog foi o marco inicial do ME no Tocantins. Se houve outras
manifestações, delas não se teve conhecimento durante a realização desta
pesquisa Olhar a Cenog nos tempos atrás oferece perspectiva diferenciada da
leitura feita por alguns cenoguianos e mesmo dos escritos sobre ela, porque o
olhar se dirige a uma reflexão sobre as lutas ocorridas, os objetivos
perseguidos e os resultados alcançados.
Pode-se
afirmar que a força que impulsionou a construção da Cenog foi a inexistência de
estado no Norte, ou melhor, a ausência do poder público no Norte Goiano. E por
que isso?
Uma
vez definida a criação do estado do Tocantins e a luta pela sua concretização
ter seguido os caminhos institucionais, o ME (cenoguiano), perdeu força e não
foram feitas gestões de resistência contra sua extinção judicial, em um momento
em que outras entidades, que foram extintas anteriormente, lutavam pela
reorganização. Diversos de seus membros passaram à militância nos partidos
políticos das mais variadas tendências, e outros inseriram-se no mercado, em
busca de realização de projeto profissional. Acrescente-se a isso o fato de que
os estudantes do ME atual e mesmo os ex-cenoguianos não viam continuidade entre
a Cenog e o ME atual no Tocantins.
As
entrevistas realizadas evidenciaram que a Cenog apareceu como fruto de um
movimento essencialmente voltado para garantir o acesso da juventude do então
Norte goiano às universidades, e que rapidamente incorporou a luta pela criação
do estado do Tocantins como uma possível solução para aquela que era sua
bandeira principal: criar condições aos jovens do Norte goiano de acesso ao
ensino superior.
2.1 Cenog - a falta que o estado faz?
O
questionamento sobre a importância do Estado tem sido freqüente nos dias
atuais. Os projetos eleitorais de 2002 trouxeram uma discussão fértil sobre o
assunto. Caso se considere que a sociedade brasileira escolheu um projeto de
desenvolvimento alternativo para o país, pode-se afirmar que a escolha
refere-se a um projeto de mudança, uma alternativa ao modelo então existente.
Dentre
os aspectos que se destacam na presente discussão, a questão do Estado pode ser
formulada da seguinte maneira: é necessário que o Estado esteja presente como
promotor do desenvolvimento nacional, elaborando e se responsabilizando pela
execução de políticas públicas?
Ao
estudar o fenômeno do coronelismo no Tocantins, na primeira metade do século
XX, Machado (2002) detecta a forte presença do mecanismo de coerção e até mesmo
da força da bala, como nos casos de Tocantinópolis e Dianópolis, onde o poder
político foi disputado em intenso tiroteio, demonstrando com clareza como na
região do Norte goiano o poder político na cidade era assumido por quem
detivesse maior poder de coerção. Somente a Revolução de 1930 trouxe algumas
mudanças nessa realidade
Mudanças
substantivas nesse quadro ocorrerram, segundo Aquino (2002), com a construção
rodovia Belém-Brasília por Juscelino Kubtischek, em 1950. A estrada modificou a
geografia da região, tendo em vista que as novas cidades à beira da estrada
passaram a crescer mais que as cidades tradicionais, localizadas nas
proximidades do rio Tocantins.
A
chegada da modernidade influenciou a política local mas não erradicou as
práticas tradicionais de fazer política com mecanismos como a coerção e o
paternalismo. O conjunto de mudanças e a pouca presença do Estado (poder do
Estado localizado no Centro-Sul) permitiram a construção de uma identidade
própria do nortense que aos poucos interpôs o Norte ao Sul. A criação da Cenog
é um desses mecanismo de interposição
A
criação da Cenog, em 1959, colocou em evidência uma bandeira antiga de
reivindicação do povo do Norte goiano - o desejo de separação do Sul do estado
de Goiás, e a posterior criação de um estado que gerisse os problemas do Norte.
Os estudos realizados por Santana apontam:
A filosofia
predominante nos idealistas fundadores da CENOG era a idéia de redenção do
Norte goiano. Falava-se em redenção no sentido de resgate, de autonomia, de
emancipação. Era até obrigação do estudante "lutar com todas pela redenção
do Norte goiano" (art. XVI & 5.do estatuto). Todos éramos entusiastas
da idéia separatista, da criação do Tocantins. (Santana, 1996, p. 100)
A
bandeira da separação entre o Norte e o Sul foi levantada pelo ME cenogulano,
ou pelo que então existia de movimento estudantil no Norte goiano e que não se
restringiu apenas ao movimento estudantil, como assinala Santana:
O movimento
naturalmente constituído, na sua maioria por estudantes. Mas desde o inicio,
também era próprio da entidade cooptar individuas que não fossem estudantes.
Diversas lideranças participaram dessa movimentação, inclusive deputados
eleitos pela região, como Miranda, Francisco Maranhão Japiassu, Jaime Farias,
Balestra, José Freire e outros. (Santana, 1996, p.103)
Segundo
Cavalcante (1999), tratava-se de uma reivindicação histórica e as primeiras
insatisfações, que deram origem ao movimento podem ser datadas de 1736,
passando este a ter base real concreta em 1821.
As
motivações do inicio do movimento têm suas raizes na economia, sobretudo no que
se refere à reivindicação de igualdade na cobrança de impostos, que, em 1736 já
era diferenciada do Sul para o Norte, incidindo sobre o Norte um peso
tributário maior (Cavalcante, 1999).
A
Cenog representa um momento de reivindicação que alcança o setor educacional.
Com a sua criação liderada por estudantes, a entidade teve a compreensão de que
a redenção do Norte goiano exigia a criação de condições para que os seus
jovens tivessem acesso a um ensino de qualidade que os preparasse para a vida:
A CENOG criou uma
consciência na juventude e transportou isso para o povo. A consciência de
reunir e adquirir tudo o que almejávamos: uma vida digna com um padrão de vida,
um progresso, um desenvolvimento para o nosso Norte de Goiás. (Santana, 1996,
p.105)
O
que era então um sonho de integração econômica se transformou no desejo cada
vez maior da população de ter uma vida digna. Os documentos cenoguianos
assinalam que as principais razões para emancipação do Norte eram a
industrialização do babaçu, a possibilidade de navegação do Tocantins, o
incentivo à agricultura e à pecuária e o transporte de produtos com a
construção de uma ponte sobre o Rio Tocantins. O reavivamento do movimento
separatista em um momento em que eram criadas duas universidades no Sul do
estado significou um caso fortuito. O movimento, com a criação da Cenog passou
a dar um peso maior às reivindicações de ordem social e de melhoria de vida, o
que não estava presente até então.
A
participação dos estudantes no movimento separatista é anterior à criação da
Cenog. Cavalcante (1999) registra que em 1946, estudantes participaram de forma
ativa da luta pela emancipação da região:
a mobilização em
Porto Nacional recebeu manifestação de apoio do 8° congresso dos estudantes
secundaristas de Goiãnia e da 48 União Estadual dos Estudantes goianos,
realizada em Goiânia, os estudantes - cerca de 62 -, assinaram um documento
endereçado ao CEJET5 com algumas sugestões, entre as quais a de que fosse feito
"um apelo ao legislativo goiano, a fim de se colocar ao lado da medida uma
vez que ela trará as possibilidades para uma transformação real de progresso e
interesse para ambas as partes. (Cavalcante, 1999, p.106)
A
criação da Cenog reforçou a partiCipação dos estudantes no movimento
separatista, uma vez que a principal bandeira da entidade passou a ser o ideal
da criação do novo estado, visto como panacéia para os problemas do Norte
goiano. Mergulhados neste espírito, os estudantes da região não conseguiram se
envolver nas lutas nacionais, conforme testemunha Santana:
A participação da
casa nesse encontro era, de certa forma, atípica, pois não havia uma
coincidência entre os objetivos das duas instituições. A UNE imprimia ás suas
ações uma feição eminentemente política, voltada para os grandes temas
nacionais e que, em regra, assumia um caráter contestat6rio. A CENOG, por sua
vez, nascera com uma preocupação predominantemente assistencialista de
consecução de bolsas, empenho de inserção de estudantes no mercado de trabalho
e de alojamento de afiliados. Ao assistencialismo agregaria, posteriormente, o
envolvimento á causa da autonomia da porção setentrional Goiana. O afastamento
das duas entidades se revela de forma muito significativa pela preocupação da
Instituição goiana em evidenciar sua natureza a política. (Santana, 1996, p.61)
No
trabalho de Cavalcante (1999), nova referência aos estudantes ocorre somente em
relação ao congresso da Cenog em 1965, quando esses reafirmaram o desejo dos
jovens nortenses de lutar por dias melhores e tudo fazer pela redenção do Norte
(Cavalcante, 1999, p. 106). A concretização da criação da Cenog, em julho de
1960, permite inferir que, na década de 50, houve uma movimentação e
inquietação dos estudantes em relação à situação vivida por aqueles que
sonhavam em continuar seus estudos e se viam diante de dificuldades as mais
diversas. Santana registra que o manifesto de criação da entidade tinha
motivações educacionais
o estudante que ali
começa a sua formação intelectual e que é obrigado a conclui-Ia em outras
paragens silo de tal magnitude, que ele muitas vezes, nem chega a continuar
seus estudos. (Santana, 1996, p. 67)
A
leitura dos vários trabalhos existentes indica que a melhor e mais consistente
definição para a Cenog é ausência de políticas do Estado para o ensino superior
no Norte goiano, porque a entidade se constituiu sob a bandeira da
reivindicação de maior atenção do aparato estatal às causas do Norte, só
lembradas durante os períodos eleitorais e, mesmo assim, estando sempre
sub-representada nos poderes do Estado. Surgiu então no Tocantins um movimento
que, dentre outros, tinha o objetivo de buscar meios de oferecer aos jovens do
Norte condições para ingresso na universidade, até então distante da casa paterna.
Ao
discutir os argumentos utilizados pelos políticos do Norte goiano para reforçar
o discurso autonomista, Cavalcante (1999), assinala o vazio político de
representatividade dos Nortenses no poder político do Estado:
A proposta de
desmembrar o Norte de Goiás para instituir o Tocantins sustentava-se na
situação de desamparo em que se encontrava "tão vasta e rica região",
além da sua enorme distância em relação ao centro administrativo do estado,
impossibilitando-lhe uma assistência administrativa direta e contribuindo para
retardar a solução dos problemas da região. (Cavalcante, 1999, p. 98)
Esta
discussão reforça a tese de que a criação da Cenog veio preencher um vazio
institucional no setor educacional, mormente no nível superior.
Em
alguns momentos, como nos exemplos dos conflitos entre posseiros e a Igreja,
como registra Duarte (1996), parece mesmo que o Estado ao agir, favoreceu o
lado mais forte, fazendo prevalecer uma situação de injustiça e de opressão do
trabalhador rural.
Criada
com 31 sócios fundadores, em 1960, em 1968, a Cenog já tinha quase três mil
membros e sedes em Goiânia e em Porto Nacional, e seccionais nas cidades de
Miracema, Tocantínia, Tocantinópolis, Gurupi, Pedro Afonso e Rio de Janeiro.
A
localização das seccionais da Cenog é justificada pelos cenoguianos por serem
cidades que possuíam escolas de nível médio - porta de entrada para a
universidade - mais estruturado. Em Porto Nacional, já existiam dois colégios,
um público em 1945, e outro particular, dirigido pelas irmãs dominicanas, e
criado em 1904.
2.2 A Cenog e a Igreja
As
principais lutas envolvendo a Igreja foram os incidentes da Prelazia de São
Félix (Duarte, 1996, p 63), que ocorreram em 1976, durante o governo Geisel, e
provocando a morte do padre João Bosco (Duarte, 1996, p.91). Tais
acontecimentos contribuíram enormemente para que a Igreja assumisse uma postura
de oposição ao regime militar.
No
caso dos movimentos rurais, há, porém, a especificidade de que neles a Igreja
se envolveu muito mais do que em relação ao movimento estudantil. Nos
movimentos rurais, a morte de padres explica-se por um envolvimento direto na
condução de lideranças á frente das manifestações, ao passo que no movimento
estudantil, embora houvesse uma estreita ligação entre a Juc e o ME, este buscava
o apoio e a proteção da Igreja e, ao mesmo tempo, dela recebia influência por
meio da formação das lideranças.
No
Norte goiano, a luta por terra ganhou dimensão popular, mas a luta estudantil
não conseguia a simpatia de amplos setores populares. Seus principais atores
eram estudantes que buscavam melhores condições para garantir aquilo que o
Estado não lhes podia dar sem que saíssem de casa - a oportunidade de
freqüentar uma boa escola de nível médio e acesso ao ensino superior.
Durante
o regime militar, o ME goiano, a exemplo do que ocorreu em vários outros
estados, viu sair de suas fileiras jovens que se engajaram na luta armada, com
o objetivo de fazer a revolução e derrubar a ditadura. Muitos desses jovens
perderam a vida e outros são dados como desaparecidos.
A
disposição dos jovens de pegar em armas mostrou que chegava a Goiás o caráter
ideológico da luta estudantil em busca das transformações sonhadas. Se os
estudantes do Sul estavam sintonizados com a luta armada, no Norte não há
registros de estudantes que dela tenham participado
Nascimento assinala:
Apesar do depoimento
do deputado Athos Magno revelar ligações de grupos armados com o Estado de
Goiás, não pudemos precisar o tipo de ligação nem se contava com o envolvimento
do ME, a não ser por pessoas ligadas a esses grupos estiveram destinadas a
reconhecer a região para uma posslvel resistência armada, o que possivelmente
se deve a hegemonia que a AP tinha sobre o ME estadual. (Nascimento. 2002, p.
102)
Já
os jovens do Norte goiano, que saíram de casa, retornavam com idéias diferente
dos pais; a maioria acabava por firmar residência na cidade grande por possuir
idéias incompatíveis com a população onde morava. O que os diferenciava dos
pais não era motivo de confronto com a família e se resolvia com o
estabelecimento de condições para o jovem ficar na cidade grande como
profissional liberal.
Parece
que a Igreja no Norte goiano não teve um papel destacado no processo de
politização da juventude. No entanto, cumpriu outro papel, o de tentar suprir a
ausência do Estado com a criação de escolas de nível médio, sobretudo com
cursos de magistério, cursos profissionalizantes, aumentando as expectativas e
os desejos dos jovens de ingressarem na universidade.
A
atuação da Igreja no Norte goiano, aos poucos, permitiu-lhe ocupar espaços que
deviam ser do Estado, provendo escolas, realizando obras assistenciais,
mediando conflitos e orientando para o exercício da cidadania A forte presença
da Igreja e a lenta laicização da sociedade revelam o desinteresse do Estado em
ocupar os espaços que lhe cabiam.
Cabe
aqui ressaltar que, embora fosse assumindo espaços, a Igreja Católica também
teve atuação disputada com a Igreja Batista Tradicional, sendo esta última
responsável pela instituição de colégios de nível médio em várias cidades do
Norte, cujas influências estiveram presentes no processo de organização dos
estudantes do Norte, no caso da Cenog, o que talvez venha confirmar mais uma
vez a ausência do Estado como promotor de políticas públicas na região.
Em
seus compêndios doutrinários, Igreja Batista Tradicional e Igreja Católica
sempre possuiram posturas diferentes em relação ao papel do Estado. A primeira
propugna por um Estado essencialmente laico, ao passo que a história do país
registra que a religião católica constitui o credo oficial do estado. As marcas
desta divergência ainda se encontram presentes em algumas cidades do Tocantins,
onde cristãos batistas eram enterrados fora do cemitério público por serem
considerados pagãos.
O
que diferencia o Norte do Centro-Sul, não é que a Igreja Católica do Norte
tenha posições diferenciadas em relação ao papel do Estado, ou mesmo uma
propugnação pelo estado laico, mas a sua opção por um trabalho mais intenso com
camponeses, e menos agressivo na área de educação, na qual o público maior é a
juventude. Na constituição da Cenog, a Igreja tem participação considerável, e
um dos seus organizadores foi o Padre Rui Rodrigues.
Com
uma mescla de cristãos e protestantes, a Cenog encontrou um espaço fértil.
Desde sua criação, consolidação e existência, mesmo tendo sua atenção voltada
para os problemas do Norte, os
cenoguianos não ficaram completamente distantes das lutas nacionais.
Segundo
Santana (1996), a principal bandeira da Cenog era a luta pelo ideal
separatista, a criação do estado do Tocantins. No entanto, os congressos
regionais da Cenog tinham abertura para a participação popular em seu interior,
o que permitiu o envolvimento de massas populares, utilizando o mesmo o aparato
da Igreja, para a abertura dos congressos.
Santana
declara:
a primeira base
política quem faz é o povo, essa é a consciéncia. A primeira base política é a
consciência. O homem que adquire consciência de si já começa a existir. Essa é
a consciência na qual está inserido. A CENOG criou uma consciêncía da juventude
e transportou isso para o povo. A consciência de reunir e adquirir tudo que
almejávamos: uma vida digna com um bom padri'Jo de vida, um progresso, um
desenvolvimento para o nosso Norte de Goiás. (Santana, 1996, p103)
A
contribuição da Cenog para o processo de conscientização deu-se nos pontos de
intersecção de suas bandeiras principais com as aspirações populares, uma vez
que os próprios cenoguianos, segundo Santana (1996), não atribuíam caráter
ideológico ao movimento.
As
razões apontadas pelo regime militar para perseguir alguns membros da entidade
basearam-se na existência efêmera de um jornal - Paralelo 13 - dirigido por
Adalicio Monteiro e a publicação de um artigo do estudante Atos Pereira, com o
título O golpe dispensa comentários. Entrevistas com ex-cenoguianos, no
entanto, dão conta de que muitas das perseguições perpetradas pelo regime
militar não tinham como objetivo alimentar as brigas regionais dos grupos
políticos em disputa no Norte.
Em
entrevista realizada com Athos Pereira ficou constatado que a grande bandeira
dos cenoguianos era o movimento separatista. A confrontação da situação social
vivida no Tocantins era atividade de uns cinco ou seis amigos, filhos de
camponeses que sequer poderiam se classificar como filhos de classe média. Em
maioria, os cenoguianos estavam preocupados com a questão da criação do Estado
o que explica o fato de muitos deles, após a extinção da Cenog, terem passado a
continuidade da luta para a Comissão de Estudos do Norte Goiano (Conorte),
fundada em 1981. O próprio Athos Pereira esclarece:
Eu pessoalmente, e um
grupo de uns cinco ou oito pessoas se preocupava com a contestação ao regime
militar, mas a Cenog como um todo era muito despolitizada, e tinha até muita
gente de direita. O pessoal s6 se preocupava com a luta pela separação do
Estado do Tocantins. (Entrevista com Athos Pereira)
O
pequeno grupo de estudantes que tentava levar a Cenog a posições mais avançadas
era constituída em geral de filhos de camponeses sem-terra e de outros setores
do povo. Os demais eram filhos de donos de propriedades rurais, e o
ex-cenoguiano assinala:
A origem social dos
cenoguianos como eu era filho de camponeses pobre, e até mais pobres do que eu.
Mas tinham filhos de donos de propriedade que teoricamente tinha valor por ser
grandes quantidades de terra, mas que na realidade não tinham valor por serem
terras n!lo produtivas. (Entrevista com Athos Pereira)
As
famílias que eram donas de grandes glebas de terras disputavam o poder político
local nas cidades de Pedro Afonso, Tocantinópolis e São José do Duro, atual
Dianópolis (Machado, 2002).
A
existência de disputas políticas familiares que passam de geração em geração,
mesmo atualmente, é muito presente nas lutas cotidianas dos municípios
tocantinenses.
A
consulta a jornais e a observação do contexto político mostram a sobrevivência
de varias famílias tradicionais, mesmo depois da constituição do grupo político
de Siqueira Campos, como a família Freire, principal pólo de oposição do
governo atual, o que reforça para o caso do Norte goiano e atual Tocantins a
conclusão de Forachi (1972) dos vínculos de dependência dos estudantes com a
família e o aspecto de transitoriedade da condição de estudante.
Unia
os cenoguianos a condição de estudante que VIVia fora de casa. Finda esta etapa
da vida, cada um deles seguiu caminho próprio. Alguns deles continuaram a
manter uma perspectiva política e a busca da transformação social e tornaram-se
responsáveis pela organização de partidos de esquerda no estado criado, como o
caso de Athos Pereira, hoje na chefia de gabinete da liderança do Partido dos
Trabalhadores na Câmara dos Deputados. Outros refluíram de poslções
consideradas progressistas e democratas, assumindo posições políticas ligadas a
partidos de direita.
Se
em um primeiro momento, estudar fora, militar como cenoguiano, representava um
alheamento da família, em um segundo momento ocorre o chamado retorno às
origens. No entanto, nesse momento, o indivíduo voltava não mais como membro da
família, mas como um agente da classe. De acordo com Foracchi:
Todo o mecanismo de
controle é mobilizado, para ensejar a manipulação do jovem como agente de
transformação familiar em situação de classe e como elemento da continuidade de
sua posição no sistema (Forachi, 1972, p.120)
Esses
elementos permitem compreender as posições conservadoras presentes nas atitudes
políticas de ex-cenoguianos e a não-interseção direta dos ideais da entidade
com os demais movimentos sociais onde estas passaram a existir. Findo o tempo
de estudante e com o ingresso no mundo do trabalho cessa a manutenção dessas
bandeiras. Mas no caso dos cenoguianos, a principal bandeira de luta desses
estudantes, vai acompanhá-los até sua concretização: a criação do estado do
Tocantins. No caso das demais bandeiras, referindo-se aos movimentos
estudantis, Albuquerque afirma:
Não há continuidade
entre o movimento estudantil e os outros movimentos sociais nas sociedades
latino-americanas, continuidade que pode existir em paises onde os sindicatos
de quadros e as associações profissionais são bastante atuantes. A mobilização
extrema e a intensidade do militantismo, características do movimento
estudantil contrastam de maneira notável com o vazio político e organizacional
que envolve as jovens gerações de profissionais de nível universitário. O pouco
peso das jovens gerações no seio das organizações sindicais e pol/ticas
representativas das camadas médias é o melhor indicador dessa descontinuidade.
Se as análises das condutas de jovens profissionais universitários pudessem
mostrar uma continuidade com relação às condutas estudantis, seria preciso
admitir que pode estruturar-se um projeto pessoal a partir da experiência
universitária. Se, ao contrário, a permanência de um projeto pessoal só fosse
possível dentro de condições específicas, seria forçoso admitir que a
experiência é apenas uma condição necessária, mas n!1o suficiente para a
constituição de um projeto pessoal, e que este só se organiza efetivamente
quando o ator ultrapassa tudo o que a vida estudantil comporta de provisório.
(Albuquerque, 1977, p.79-80)
As
entrevistas com ex-cenoguianos confirmam que as posições mais avançadas da
entidade eram defendidas por filhos de camponeses Entretanto, apesar de ser
intenso o movimento de contestação e de luta pela terra e haver constantes
enfrentamentos com grandes fazendeiros e mesmo com a Igreja, não houve entre a
Ceonog e o movimento camponês, uma continuidade.
A
Cenog não era uma entidade com idéias consensuais, e no
seu
interior permanecia uma luta entre aqueles transformá-Ia em uma entidade
combativa, a exemplo que queriam da UNE, e os
que
a queriam como instrumento de luta para a criação do novo estado. Na
continuidade de suas vidas profissionais, ex-cenoguianos comprovam tais
conclusões.
A
luta pela criação do estado do Tocantins foi mantida por uma grande parte
deles, no entanto, a propensão progressista foi vítima de um refluxo. ocorrendo
um certo distanciamento entre essas lideranças e o povo.
Isto
não significa que a criação do estado do Tocantins não tenha melhorado
sensivelmente a vida da maioria do povo nortense, mas que a luta dos estudantes
tinha como principal mote a resolução de um problema que comprometia o futuro
dos filhos do Norte, considerados os naturais dirigentes da sociedade.
Conseguir
o que a entidade almejava significava, dentre outros objetivos, obter uma
formação universitária que desse condições de inserção no mundo do trabalho,
pois este representava para os cenoguianos, a possível emancipação da tutela
familiar.
Foracchi assinala:
o sentido da
manutenção do jovem como estudante é o de manter os vínculos de dependência no
limiar da transformação da situação familiar em situação de classe. Convém não
esquecer, entretanto, que essa transformação é um processo e que isso nos
impede de tomar a situação de classe como situação cristalizada e definida.
Mantendo o estudante e preservando, assim, os vínculos de dependência que o
ligam a família como situação de existência, esta se assegura de condições
favoráveis para manipulá-lo como agente de sua própria transformação e continuidade
no sistema. (Foracchi, 1977, p 119)
Parece
que as afirmações de Foracchi se aplicam aos jovens estudantes Cenoguianos em
sua trajetória profissional após a vida estudantil. Ao deixar a condição
especifica de estudante, muitos engajaram-se em projetos de carreira e se
ajustaram ao conservadorismo da sociedade nortense, ou seguindo carreira
profissional no mercado de trabalho, ou ainda se tornando políticos
profissionais em partidos de esquerda ou de direita.
Embora
com esse caráter, a Cenog não conseguiu fugir à característica comum às
entidades estudantis: a rebeldia típica da juventude. Em seu interior, houve
espaço para manifestações ideológicas de forte teor rebelde
A esse respeito, Santana declara:
Como toda a entidade
estudantil, a CENOG não conseguiu fugir á inevitável marca político-ideológica.
Não conseguiu conter-se nos limites de uma improvável instituição
"apolítica" voltada exclusivamente para o movimento separatista do
Norte de Goiás.(Santana, 1996, p.117)
Segundo
Santana (1996), essa condição da Cenog foi utilizada pelos militares do governo
Figueiredo como justificatíva para o pedido de extinção judicial da entidade.
A
afirmação de Santana apresenta uma contradição: a entidade foi extinta no mesmo
ano em que os estudantes do país viviam o calor da reconstrução da União
Nacional dos Estudantes, o que leva a crer que seu fim não está exclusivamente
ligado á perseguição pelo regime, mas a um enfraquecimento da militância
estudantil, em virtude da situação de classe de seus membros, e pela aprovação,
em 1972, de um projeto de redivisão territorial da Amazônia Legal, que incluía
a criação do estado do Tocantins. A posição ocupada na sociedade atual, na
atualidade, e a postura ideológica assumida por diversas personalidades
ex-cenoguianas reforçam essa hipótese.
Com
a aprovação do projeto de redivisão territorial da Amazônia Legal, a criação do
estado do Tocantins passou da sociedade civil a uma luta institucional no
Congresso Nacional, levando à criação da Comissão de Estudos dos Problemas do
Norte (Conorte) em 1981, que conduziu, sob a liderança do então deputado
federal José Wilson Siqueira Campos, os trabalhos de articulação política até a
criação do estado do Tocantins, pela Constituição de 1988.
A
Cenog foi extinta no momento em que a luta pela reconstrução das entidades
estudantis pelo Brasil se encontrava na sua fase de maior definição. A
realização do congresso da UNE em Salvador, em 1979, as movimentações pela
reconstrução da UEE em Goiás e a reconstrução dos DCEs da UCG e UFG, ocorreram
com ínfima diferença de tempo da extinção judicial da Cenog. Em conseqüência,
quando a luta pela criação de estado do Tocantins foi coroada de êxito, na
década de 1980, culminando com a sua criação pela Constituição de 1988, os
estudantes que fizeram o movimento cenoguiano já estavam inseridos como adultos
na sociedade e no mercado de trabalho. e os novos estudantes eram, nesse
momento, meros expectadores do processo.
2.3 O Movimento Estudantil
pós-Cenog (1979/1988)
No
momento em que a luta separatista do Norte goiano se institucionalizou, a
participação popular diminuiu consideravelmente. Ex-cenoguianos tornaram-se
atores ativos na sociedade e, no caso demais demais estudantes, restringiam-se
ao papel de ouvintes dos informes jornalísticos Professores que atuaram no
ensino superior em Araguaína, Gurupi e Porto Nacional afirmaram em entrevistas
que as movimentações da juventude na década de 1980 foram inexpressivas como
fator definidor do atendimento as reivindicações do Norte.
Mesmo
tendo acesso ao ensino superior, propiciado pela expansão ocorrida no início da
década de 1980, sobretudo no governo íris Rezende, a juventude do Norte não
logrou uma forte participação popular. As poucas manifestações que ocorreram
(os entrevistados referem-se a manifestações em Gurupi e em Porto Nacional, de
forma mais organizada) tratavam de necessidades pontuais, como o aumento das
mensalidades (na cidade de Gurupi), ou de busca das melhorias institucionais,
(cidade de Porto Nacional).As manifestações tinham, pois, um caráter
reivindicatório e de presença maior no Estado para resolver os problemas da
região.
A
nova realidade provocada pela presença de instituições de ensino superior não
foi modificada. Os estudantes universitários do Norte goiano continuaram
distantes das questões políticas da UNE, assim como foi da luta pelas Diretas
já e das campanhas políticas que ocorreram a eleição de íris Rezende e Henrique
Santião, em 1982 e 1986. respectivamente
Essa
diferenciação do ME nortense em relação ao que se pensava no cenário nacional
começou ainda nos tempos da Cenog, conforme constatado por Santana (1996), ao
relatar a participação de estudantes cenoguiano no XXVII congresso da UNE, o
que mostra o distanciamento entre os objetivos da casa e os da UNE.
Esta
especificidade e o fato de o movimento ser apolítico e distante da UNE perdurou
após a extinção da Cenog, e constituíram a forma de evitar que os estudantes
ligados às classes populares denunciassem as mazelas da política local,
caracterizada por diversos estudiosos, como atrasada e do tipo oligárquica
(Miranda,1996).
Em
Gurupi, os estudantes conseguiram estruturar uma sede e fazer funcionar os
centros acadêmicos, ainda na década de 1980, mas, em geral, o movimento
estudantil não se constituiu como fonte de mobilização popular de oposição às
oligarquias locais, nem conseguiu conectar-se às lutas nacionais da UNE. Os
registros de participação de estudantes na luta política são raros, e
geralmente, a participação se dava ao serem chamados para participar de
seminários institucionais, como por ocasião da preparação para implantação da
Unitins.
No
entanto, não há registro de movimentação de forma radical da juventude
estudantil a não ser quando estava presente a discussão de fatos relacionados à
questões pontuais, como o aumento de mensalidades, transferência de um
determinado professor com alta popularidade entre os estudantes e outros.
Uma entrevistada relata:
o movimento
estudantil tinha uma característica que era estar bem ligado as forças
políticas no poder, mas ao mesmo tempo eles se manifestavam quando as decisões
políticas prejudicavam ou pudesse vir a prejudicar a formação acadêmica deles,
contrariando muitas vezes a posição política dos pais. (Entrevista com a
professora Margareth Arbués)
Os
Jovens que se engajaram na participação política não eram oprimidos e
trabalhadores, mas, em sua maioria, filhos da classe média e de donos de terras
improdutivas (ou não) que buscavam, por meio da organização estudantil,
condições de melhor interposição perante o país e o governo, no ensejo de se
fazerem presentes como indivíduos da conternporaneidade.
A principal preocupação que norteava esse
engajamento era a busca da superação dos descompassos existentes entre o
Tocantins e o restante do pais, nos aspectos político e cultural, pelo abandono
a que ficou submetido o Norte. A luta por um Estado mais presente, no caso do
setor educacional, com instalação escolas de nível médio e de autarquias
estaduais de ensino superior em Araguaína, Porto Nacional, Gurupi e Porangatu,
representa louros para a luta desses jovens.
Sobre
o ME daquela época, a professora Margareth afirma:
Ele foi muito mais festivo, os estudantes de direito que
vai encampar, existia pessoas que estavam ligados a alguns partidos, como o
próprio PT, que já estava ali se consolidando, mas havia muita resistência dos
estudantes a influência desse partidos. Quando o ME se consolida ele está muito
mais ligado a partidos de direita como POT, e PFL, com lideranças ligadas a
empresários e pequenos comerciantes. Mais tarde ê que a UEE vai ate lá por meio
de do Gifvane e do Gifson Bueno, tentar organizar o ME em outras bases. Mas atê
entt!Jo o ME era festivo. As reivindicações se davam em torno de mensalidades,
enfim questões pra ajudar a conseguir verba do estado. No caso das outras
instituições que eram públicas nt!Jo vi e nem ouvi nada de significativo
enquanto estive lá. (Entrevista com a professora Maragareth Arbués)
As
manifestações, quando havidas, não se conectavam às lutas da UNE no cenário
nacional, ficando restritas a problemas locais, e não chegavam a ter um cunho
ideológico. Os protestos estavam ligados à recusa de tratamento político na
contratação de professores, não chegando a se radicalizar em decorréncia de uma
compreensão de que a realidade e os acontecimentos são produto da situação
política, econômica e social do Norte goiano.
A
instalação das faculdades contribuiu, no entanto, para que chegassem à região
professores desvinculados da política local, a exemplo de Gilvane Felipe,
Romualdo Pessoa, Margaret Arbués, Verbena Lisita entre outros, com um histórico
de formação acadêmica ligada à Universidade Federal de Goiás ou à Universidade
Católica de Goiás, quase todos ex-líderes estudantis e militantes do Partido
Comunista do Brasil.
O
Partido dos Trabalhadores tinha pouca penetração no mundo estudantil, mas o
Partido Comunista também se fez presente, com o deputado Edmundo Galdino,
eleito pelo Bloco Popular do PMDB. Marcos Araújo, que na época era chefe de
Gabinete do então deputado e responsável pela organização do partido no Norte
goiano, afirma:
A eleição de Edmundo Galdino e o fato de Aldo Arantes ter
sido o segundo deputado federal mais votado no Norte criou condiç()es de
arejamento da democracia no Norte e foi possível organizar o partido em vários
municípios, sendo que as idéias democratas eram mais fortes em Araguaína e
Porto Nacíonal. (Entrevista com Marcos Araújo)
O
dito arejamento democrático não chegou ao movimento estudantil no atual
Tocantins. Os setores da sociedade de que provieram os votos do deputado eram
formados por camponeses, por pessoas solidárias à luta pela terra e pela massa
estudantil radicada em Goiânia, segundo a opinião de muitos entrevistados. A
massa estudantil no Norte permaneceu despolitizada.
Ligado
ao Bloco Popular do PMOB, o deputado Edmundo Galdino era apoiado pelas então
lideranças estudantis da Universidade Católica de Goiás e da Universidade
Federal de Goiás, o que lhe dava uma marca extremamente progressista e o ligava
diretamente às idéias marxistas presentes no interior dessas universidades, por
meio de alunos e professores, propiciando, assim, a conquista do apoio
estudantil
Sobre
o ME daquele momento, assim se expressa novamente a professora Margareth:
Existia alguns alunos mais ligados ao PT, mas estes logo
foram queimados por outros alunos que eram mais ligados ao POT e ao PFL, na
época os partidos que lideraram fortemente era o PMOB e o POT, e eles tinha lá
os seus vínculos entre eles. Na época um dos grandes lideres era filho do
presidente com Associação Comercial Local. Na verdade a Pedagogia, nunca esteve
a frente do OCE, e os alunos do Oreito eram ligados muito aos partidos de
direita. Não que estes partidos pudessem propor algo contra a instituição,
muito pelo contrário, na verdade a direção lá era imposta pelo prefeito, a
fundação era mantida pela prefeitura e internamente os alunos tinham vínculos,
ou eram filhos de vereadores, funcionários etc., embora tivesse o PT ali que
era ligado a CPT, a igreja local não se atreveu a tentar influenciar a
faculdade, a não ser por uns dois ou trés alunos do PT, que acabaram mudando de
lá tempos depois. (Entrevista com a professora Margareth Arbués)
A
mudança desses alunos não foi por acaso. O processo de oxigenação da
democracia, mesmo em setores como o camponês, durou pouco. Após a criação do
estado do Tocantins, em 1988, o deputado Edmundo Galdino afastou-se das
posições mais à esquerda e, em pouco tempo, no início da década de 1990, passou
a fazer parte da base de sustentação do governo Siqueira Campos.
Este
fato, segundo Marcos Araújo, fez que o crescimento das forças populares no
Norte sofresse um refluxo, permitindo que a política conservadora tomasse conta
do Estado.
A
chegada do ensino superior criou condições para o surgimento do plano da
universidade no Norte goiano. Tendo Foracchi (1977) como suporte dessa análise,
pode-se afirmar que esse fato permitiu ao jovem contestar os padrões vigentes,
buscando um equilíbrio de si como agente social. A proximidade com a faculdade,
conforme enriquece o processo de socialização, permite a vinculação mais
imediata que une a Universidade à sociedade que é a carreira profissional
(Foracchi, 1972, p.74-76). No entanto, isto não se deu no Tocantins, uma vez
que a chegada do ensino superior não contribuiu para modificar a apatia do estudante
do Norte na década de 1980.
O
ensino superior chegou ao Norte goiano um ano após a extinção da Cenog, durante
o surto expansionista dos anos 1980, sob o governo de íris Rezende Machado. As
primeiras cidades contempladas foram Araguaina, Porto Nacional e Gurupi.
Em
Araguaina e Porto Nacional, foram criadas autarquias estaduais de ensino
superior nas quais funcionavam os cursos de Letras. História e Geografia. Em
Gurupi, instalou-se uma Fundação Municipal, com uma característica um tanto
diferenciada, pois havia cobrança de mensalidades e eram ministrados os cursos
de Pedagogia e de Direito.
No
caso dos cursos ministrados em Araguaina e Porto Nacional, e mesmo o de
Pedagogia em Gurupi, era clara a preocupação dos governantes de criar cursos
que atendessem à demanda de formação de professores para o ensino fundamental e
médio, uma vez que até então era grande a caréncia de professores qualificados.
Em
Gurupi, sobretudo o curso de Pedagogia constituia-se em um loeus de
movimentação estudantil, porém, com caráter frágil do ponto de vista da
politização. No curso de Direito, esta caracteristica ficava mais nítida, já no
curso de Pedagogia, havia um pouco mais de combatividade, e as entrevistas
levam a concluir que este fato se deu em razão da origem dos estudantes.
Segundo uma entrevistada.
O CA de Pedagogia enfrentou muito mais as questões locais
do que os demais. Alguns eram engolidos pela direç!lo e pelas lideranças
políticas. O CA de Pedagogia se mostrou mais.(Entrevista com a professora
Margareth Arbués)
Embora
mais combativo, o CA de Pedagogia não possuía a hegemonia no DCE, e suas lutas
se restringiam a bandeiras locais e a principal era a luta contra a cobrança de
mensalidades:
a principal era a luta contra a cobrança de mensalidade,
e principalmente no curso de pedagogia, por ser um extrato de estudantes mais
carentes, e no curso de direito também. Era a grande bandeira deles. No mais,
as grandes mudanças que ocorreram no pais eu n!lo lembro de nada que o ME
estivesse a frente das discussões ou se colocado frente a frente com essas
questões. (Entrevista com a professora Margareth Arbués)
Já
o curso de Direito atendia a uma demanda
dos filhos de comerciantes, pequenos empresários e profissionais liberais
vindos do outros estados, que viam em tal curso possibilidade de, no futuro,
ocuparem postos da burocracia no Estado.
No
entanto, a chegada do ensino superior no Norte goiano não deu visibilidade ao
ME de nível superior. No imaginário coletivo, não havia movimento estudantil no
Norte na década de 1980. Muitos entrevistados, quando lhes era dito que a
entrevista era para uma pesquisa sobre movimento estudantil, retrucavam mas que
movimento estudantil? Lá não tinha movimento estudantil, o que se dava pela
própria característica do novo momento.
Os
estudantes do Norte goiano, na década de 1980. foram colocados diante de novos
desafios, dentre os quais a luta por ensino superior de qualidade. Distantes
dos grandes centros e premidos pelas características conservadoras da política
regíonal, permaneciam em uma determinada inércia. No entanto, a presença do
ensino superior criava na juventude a condíção própria de estudante do Norte.
Entregar-se à condição de rebelde significava nesse momento, confrontar-se com
a própria família e com as condições políticas às quais estavam submetidos.
O
ME no Norte de Goiás, nos anos que precederam a criação do estado do Tocantins,
foi o que se poderia qualificar de morno. Havia uma clara descontinuidade entre
os estudantes cenoguianos que atuavam então em outras esferas da sociedade, em
prol da criação do novo estado, e os estudantes da década de 1980, que passaram
ao largo das lutas nacionais e pouco se envolveram em outras lutas. Mesmo no
processo de concretização do estado do Tocantins foram meros espectadores, como
demonstram os dados.
CAPÍTULO
111
MILITANTES E MILITONTOS: O MOVIMENTO
ESTUDANTIL NO TOCANTINS (1988/2003)
Vida, e guerra é o que é: esses tontos movimentos, só,o
contrário do que assim não seja. Mas, para mim, o que vale é o que está por
baixo ou por cima - o que está perto e parece longe. Conto ao senhor é o que eu
sei e o senhor não sabe; mas principal quero contar é o que eu não sei se sei,
e que pode ser que o senhor saiba.
Guimarães Rosa
Todos
querem ser donos - e ninguém sequer e dono de si.
Goethe
Este
estudo sobre o ME do Tocantins segue as diretrizes com as quais se lê a
história do ME nacional. Dessa forma, as relações com o Estado, a Igreja e os
partidos políticos têm proeminência sobre os demais aspectos que contribuem
para a consolidação/organização das entidades estudantis, ou que a impedem. A
análise da esfera política realizada neste trabalho tornou-se necessária para
apreender a formação do estado do Tocantins.
A
ênfase às reestruturações sofridas pela Unitins, única instituição pública de
ensino superior no estado permite que se não desvie do propósito inicial desse
estudo, de que o Estado, por meio da direção da universidade, interfere
cotidianamente no ME, e só o faz diretamente quando a direção se mostra com
força inexpressiva para conter a rebeldia estudantil e segundo, por ser no
plano da universidade que, segundo Foracchi (1977), o jovem encontra as
condições propicias para o desenvolvimento da condição de estudante.
Neste
sentido, compreender as constantes reestruturações que ocorreram na Unitins é
mais fácil levando-se em conta os embates que se deram entre o público e o
privado, e as formas corrompidas de administração da coisa pública que estão
presentes na história brasileira, assim como na atual esfera política
tocantinense.
Estes
embates não ficaram restritos apenas à universidade.
Outros
setores, como energia elétrica e outros serviços, foram privatizados, a exemplo
do que ocorria na esfera federal. Este trabalho restringe-se à universidade, em
razão de se estar buscando compreender a história do movimento estudantil.
As movimentações
estudantis com organização
mais
consistentes
ocorreram justamente durante os momentos decisivos das (re)estruturações da
universidade ocorridas nos anos de 1996 e 1998. A criação do UEE do Tocantins,
em 1996, foi impulsionada pela criação da Unitins e as primeiras manifestações
estiveram ligadas ao destino da universidade.
As
idas e vindas na estruturação da universidade, por sua vez é um dos resultados
do embate entre o público e o privado e das especificidades da política do
Tocantins, que, na atualidade, ainda guarda semelhanças com modelos históricos
já ultrapassados, como o coronelismo e um paternalismo exacerbado.
A
política no Tocantins ainda se caracteriza por formas corrompidas de administrar
a coisa pública, no escambo da cidadania, e do voto, que se torna moeda de
troca entre os governantes e os governados. As observações e entrevistas ainda
mostram que esses vícios estão presentes tanto entre os líderes políticos
quanto entre o povo.
3.1
Os embates entre o público e o privado: um confronto discursivo
A
criação do estado do Tocantins, em 1988. pouca modificação provocou no ME ou em
qualquer outro movimento social. Uma vez criado, o novo estado foi governado
por José Wilson Siqueira Campos, um dos batalhadores por sua criação e ligado
às grandes oligarquias rurais do Tocantins.
Siqueira Campos, ao
assumir o governo, tratou de imediatamente construir uma imagem de libertador
do Tocantins. As comparações com aqueles que participaram das lutas
separatistas do passado eram constantes, sobretudo com Teotônio Segurado,
considerado herói nos documentos oficiais, e cantado nos hinos cívicos do
estado.
A construção da
imagem de super-herói deu-se por meio de pelo uso da força de sua influência
estado. A revista Veja, no ano de 2000, publicou uma reportagem que ilustra bem
como Siqueira Campos construiu a uma forte campanha publicitária e de ser o
primeiro governador do imagem de bom governante para o povo tocantinense:
Como primeiro governante do Estado, eleito em 1988, logo
após a emancipação, Siqueira Campos teve a prerrogativa de indicar os três
conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. órgão responsável por aprovar as
contas do governo. Também nomeou todos os desembargadores do Tribunal de Justiça
e quatro dos sete integrantes do Tribunal Regional Eleitoral. Com uma parte
substancial do Judiciário sob seu controle, o apoio de dois terços dos
deputados estaduais e de mais de 90% dos prefeitos, sua palavra é uma ordem. E
ai de quem desobedecer. (Veja, julho, 2000a, p. 82)
De
posse de uma estrutura estatal fortíssima, o governador foi mais adiante, e
utilizou o poder que possuía para conceder benesses aos amigos e familiares.
Distribuiu terras, lotes, empregos e concessões das mais diversas. O processo
de ínculcação chegou às escolas, nas quais as crianças aprendiam desde pequenas
a cultuar a imagem do governador e de seu grupo político, como assinala a
reportagem:
Agora no terceiro mandato, já governou o Estado durante
oito de seus doze anos de existência. Nas três administrações, distribuiu
terras e agrados aos correligionários, fez a alegria das empreiteiras e nomeou
quase todos os cargos públicos disponíveis. Nas escolas públicas do Tocantins,
os alunos estudam a história da região por meio de uma cartilha em quadrinhos
distribuída pelo governo do Estado. Siqueira Campos ocupa mais de um terço das
páginas e aparece como um herói popular. "A criança e os jovens são
prioridade, com educação para todos, salas equipadas, computadores e vídeos
profissionais", afirma o governador em sua versão gibi (Veja, julho 2000a,
p. 82).
Dois
anos de governo foram suficientes para Siqueira Campos criar uma blindagem em
torno dos bens públicos do estado, de forma a utilizá-los em proveito próprio
nas eleições seguintes. Com práticas de caudilho e dos antigos coronéis,
amparado por meios modernos de comunicação e de todo aparato do Estado, o
governador fortaleceu os amigos e perseguiu os adversários Nos termos da
reportagem:
Siqueira Campos mandou apreender e incinerar a edição de
um livro que o criticava. O autor, Rinaldo Campos, ficou preso por cinco dias.
Há dois meses, durante uma solenidade no município de Araguaina, o governador
atirou um microfone sobre um manifestante que gritava palavras de ordem contra
ele. Depois, ordenou á Policia Militar que prendesse o rapaz, que só foi
libertado sete horas mais tarde. (Veja, julho de 2000a, p 82)
O
autoritarismo do governador fazia-se sentir em todas as esferas da sociedade
tocantinense, como nas empresas particulares, sobretudo pequenos comerciantes
tornavam-se vítimas do seu poder.
Como
o Tocantins, no período em que pertencia ao Norte goiano, possuía uma sociedade
agrária, o poder local dos municípios era dominado por grandes fazendeiros, que
representavam uma classe média frágil, estruturada somente nas cidades
alimentadas pela Estrada BR-153, com destaque para Araguaína e Porto Nacional.
Ocorreram dois fatores: o surgimento da cultura de promiscuidade das relações
público/privado, em que o público passou a ser visto como uma forma de obter
vantagens pessoais e locus
empregatício de amigos e familiares; o surgimento de uma paternalismo
exarcebado e patogênico na sociedade
Não
se trata porem de uma esfera pública no sentido dado por Habermas (1984),
quando define o conceito de esfera pública em seu sentido moderno.
A redução da representatividade pública que ocorre com a
mediatização das autoridades estamentais por meio de dos senhores feudais cede
espaço a uma outra esfera, que é ligada a expressão esfera pública no sentido
moderno: a esfera do poder público. (Habermas, 1984, p.31)
No
Tocantins, as pessoas privadas podiam agir com independência do poder público,
e sem serem fiscalizadas por ele, possuíam condições de estabelecer contratos
independentes do Estado. Passou a existir então o método siqueirista de fazer
política que lembra muito mais uma definição anterior de Habermas ao analisar o
modelo de Esfera pública helênica:
A posição da polis
baseia-se, portanto, na posição de déspota doméstico: sob o abrigo de sua
dominação, faz-se a reprodução da vida, o trabalho dos escravos, o serviço das
mulheres, transcorrem o nascimento e a morte; o reino da necessidade e da
transitoriedade permanece mergulhado nas sombras da esfera privada. (Habermas,
1984, p.17)
É
possível um paralelo entre o helenismo da Antiguidade clássica e o que ocorre
no Tocantins no tempo presente? Como se explica que em tempos modernos, seja
possível uma forma de governo que remete aos tempos do helenismo, em que
existia o trabalho escravo, quando o reino da necessidade e da transitoriedade
dos homens era governado pelo déspota doméstico?
Parte
de tal explicação pode se encontrar na discussão anteriormente realizada sobre
as origens do estado do Tocantins. Foi possível perceber que o Norte goiano era
uma terra de ninguém, em virtude da ausência de políticas públicas e de
gerência do Estado. A compreensão da política tocantinense só pode se fazer
entendendo o papel desempenhado pelo governador Siqueira Campos e as
estratégias por ele utilizadas, conforme já visto, para instituir um poder
paternal e despótico no Estado.
Ao
manter em suas mãos o poder de indicar praticamente todos os ocupantes dos
cargos públicos do estado, o governador passou a agir como um pai que pune o
filho que não o agradava. Esses fatores são suficientes para estabelecer um
poder tão duradouro?
Siqueira
Campos governou o Tocantins durante dez anos, e em seu segundo governo, formou
uma grande coalizão denominada União do Tocantins (UT), como base de
sustentação do governo
A
utilização de meios modernos de inculcação, por meio do aparato do estado,
sobretudo com distribuição de cartilhas, em que o governador aparece como um
herói vivo, certamente contribuiu para tal. No entanto. destaca-se o papel da
imprensa escrita e falada do Tocantins e sua relação com o poder público, que
dificulta a formação de uma opinião pública crítica. Neste quesito, o
governador não se descuidou, pois obras que o criticavam foram queimadas, como
no tempo da Inquisição e autores de livros ou artigos foram ameaçados de prisão
e mesmo presos. Assim, a história política do jovem estado do Tocantins nasceu
com práticas já ultrapassadas de lidar com o público e com a sociedade,
estabelecendo para o povo tocantinense o desafio de se organizar como sociedade
civil, para vencer os hábitos promíscuos, advindos dos tempos coloniais e
agravados pelo uso indevido do poder público, em busca de vantagens pessoais
para manter-se nos postos conquistados.
Os
estudantes dos Tocantins representam uma parcela da sociedade que enfrentou
esse poder consubstanciado como Estado. No entanto, por serem em sua grande
maioria originários do próprio estado do Tocantins, como membros dessa
sociedade, imprimem muitos dos costumes e práticas corrompidas de se fazer
política; porém em vários momentos, rebelam-se, tentam organizar-se e
protestam, como mostram os dados mais adiante.
Nas
primeiras eleições ocorridas no novo estado' o embate político deu-se entre o
grupo de Siqueira Campos e forças do PMDB, sobretudo o grupo de José Freire
Júnior, que não se constituía como força popular pela composição ampla de
forças no interior do PMDB. Esse grupo era um dos mais conservadores e também
era composto de grandes fazendeiros.
Desta
forma, o poder político no novo Estado não possuía expressividade popular.
Tanto o grupo no poder, quanto o núcleo forte da oposição eram formados de
pessoas ligadas às grandes oligarquias ou eram membros delas.
O
primeiro mandato de governador definiu as linhas básicas de construção do novo
estado e instituiu a Unitins como universidade pública e gratuita, mantida por
uma fundação. Com uma forma conservadora de governar e apoiado nas elites,
Siqueira Campos não conseguiu a reeleger-se, sendo derrotado nas eleições
seguintes.
Em
1992, foi eleito pelo PMDB o governador Moisés Avelino, apoiado pela maioria
dos partidos de esquerda do Tocantins. As primeiras atitudes do governador, ao
exercer o mandato, contrariaram até mesmo aqueles que o apoiaram.
As
mesmas práticas políticas foram mantidas intactas, como perseguição àqueles que
votaram no candidato derrotado, utilizando-se como instrumentos os postos de
emprego do setor público no qual o estado conseguia ter influência.
O
governador decretou intervenção na universidade e no setor educacional,
trocando a maioria dos diretores de escola, e influenciando as novas nomeações
de diretores de unidades da universidade, e, outros cargos-chave. Esse tipo de
atitude levou a professora Maria do Rosário Cassimiro que havia chegado no
Tocantins, no intuito de criar uma universidade moderna a renunciar ao cargo de
reitora.
Estas
ações do então governador Moisés Avelino mostram que, na atualidade, ainda não
se constituiu um terceira via com força suficiente para fazer frente a política
oligarquica do estado. Talvez seja um reflexo dos constantes refluxos também da
esquerda goiana, que ainda não conseguiu até o presente momento se firmar como
real alternativa ao pode instituído. No ano de 2000, PT, PC do B, PPS e POT
tinham juntos dois deputados estaduais e a prefeitura de Goiânia. No Tocantins,
após as eleições de 2002, já com o chamado efeito Lula, esses partidos passaram
a administrar a prefeitura de Colinas e elegeram um deputado estadual, ainda
assim em coligação com o PMOB.
Não
é possível compreender a desmobilização política sem antes compreender a
realidade do estado. Os estudos a respeito de sua formação e os dados colhidos
nesta pesquisa mostram que a esfera política é uma das que mais influencia o
processo de desmobilização da juventude estudantil e dos demais movimentos
sociais. A política influencia todos os setores da sociedade com a presença
forte do Estado, por falta de uma sociedade civil organizada e de consciência
social crítica no seio do povo, aliado ao pequeno desenvolvimento industrial e
do setor de serviços, que contribuem para facilitar o processo de cooptação de
lideranças estudantis pelo governo.
As
constantes oscilações da universidade e mesmo o processo de industrialização e
do setor de serviços seguem o ritmo da política local na sua interface com a
política global. O governo local assume características, às vezes, de
oligarquia, e outras, de coronelismo explícito, mesclados, um e outro, com
traços da modernidade pela presença dos recursos tecnológicos de gestão de
recursos humanos e do mundo da informação.
A
compreensão de lanni (1999) do moderno príncipe eletrônico parece adequada para
o entendimento da realidade política do Tocantins, sobretudo a partir do
segundo governo Siqueira Campos. O autor identifica no governante moderno, que
utiliza os meios modernos de tecnologia da informação, o príncipe eletrônico,
que substitui o príncipe gramsciano, e mesmo o príncipe maquiavélico.
Segundo
o autor, o novo príncipe surgiria com base em algumas premissas:
nas sociedades industrializadas, centrais ou dominantes,
subsistem desigualdades de todos os tipos, quando se mesclam diversidades e
antagonismos, alimentando tensões e intolerâncias, estereótipos e preconceitos.
Simultaneamente, os estudos demonstram que o Estado-nação está sendo seriamente
desafiado pelos processos e pelas estruturas que constituem o Globalismo.
(Ianni, 1999, p. 112)
De
acordo com lanni (2000), os desafios históricos e sociais da globalização em
curso são diferentes das respectivas épocas históricas, em que os demais
arquétipos de governantes sintetizaram o que era especifico da política
Na época da globalização, alteram-se quantitativa e
qualitativamente as formas de sociabilidade e os jogos das forças sociais, no
ámbito de uma configuração histórico-social da vida, trabalho e cultura na qual
as sociedades civis nacionais se revelam províncias da sociedade civil mundial
em formação. Nessa época, as tecnologias eletr6nicas, informáticas e
cibernéticas impregnam crescente e generalizadamente todas as esferas da
sociedade nacional e mundial; e de modo particularmente acentuado as estruturas
de poder, as tecnoestrutruras, os think-tanks, os lobbies, as organizações
multilaterais e as corporações transnacionais, sem esquecer as corporações da
mídia. Este pode ser o clima em que se forma, impõe e sobrepõe o principe
eletr6nico sem o qual seria difícil compreender a teoria e a prática da
pol/tica na época da globalizaçilo.(lanni, 2000a, p.143)
Quando
construiu seu esboço teórico sobre o surgimento do príncipe eletrônico, lanni
(2000) estava com os olhos voltados para a política global, mas consciente das
contradições existentes nas relações de poder entre as nações. Assim, define o
príncipe eletrônico como o resultado da junção de uma série de condições: o
processo de globalização do capitalismo, aliado ao desenvolvimento das
tecnologias eletrônicas e cibernéticas e todos as transformações em curso que
constroem novos quadros e novas formas de ver o mundo e um novo e imenso palco
histórico:
o príncipe eletrônico, não é nem condottiere nem partido
político, mas realiza e ultrapassa os descortinos e as atividades dessas duas
figuras clássicas da política. O príncipe eletrônico é uma entidade nebulosa e
ativa, presente e invisível, predominante e ubíqua, permeando continuamente
todos os níveis da sociedade, em âmbito local, nacional, regional e mundial,
sempre em conformidade com os diferentes contextos socioculturais e
político-econômicos desenhados no novo mapa do mundo. (Ianni, 2000a, p 148)
O
caso do Tocantins parece enquadrar-se em tal
interpretação. A grande parte da produção estadual provém da
agricultura. O setor de serviços e o industrial são extremamente frágeis, tendo
no setor público o grande nicho empregatício.
O
arcaico e o moderno, as práticas dos coronéis, o discurso da modernidade de
liberdade e de justiça social, a modernização das instituições e o atraso nas
relações humanas encontram-se e convivem mesmo que de forma conflituosa,
conforme o slogan Estado da livre iniciativa e da justiça social. A
característica agrária com grandes latifúndios e com uma indústria quase
incipiente propicia que o estado tenha uma grande força de coerção sobre os
indivíduos, como também sobre os movimentos sociais e sobre a imprensa escrita
e falada.
Uma
análise das notícias veiculadas nos meios de comunicação revela que quase não
houve críticas substantivas ao governo nos últimos anos, o que representa a
influência dos detentores do poder estatal sobre a sociedade civil, a imprensa
e os movimentos sociais, sobretudo com a utilização de novas tecnologias. lanni
(2000) constata:
Ao dispor de novas tecnologias, os líderes, os políticos,
os gerentes, as organizações, as empresas, as agências governamentais, as
organizações religiosas e outros, individuas e entidades, direta e
indiretamente empenhados na política, passam a atuar além dos partidos
políticos, sindicatos, movimentos sociais e correntes de opinião pública. Estas
instituições "clássicas" da' política são instrumentalizadas,
transformadas, mutiladas
ou simplesmente marginalizadas. Em
escala crescente, predominam as novas tecnologias da comunicação, informação e
propaganda, às vezes com objetivos democráticos, mas em outras e muitas vezes
com objetivos autontários. Sim, porque as novas tecnologias estão organizadas
em empresas, corporações ou conglomerados, como empreendimentos capitalistas
articulados com grupos, classes ou blocos de poder predominantes em escala
nacional e mundial. (Ianni, 2000, p.158)
O
texto citado permite afirmar que o Tocantins passou então a constituir-se em um
espaço de contradições políticas. De um lado, os governantes Siqueira Campos e,
em seguida, Moisés Avelino manifestavam uma grande preocupação em modernizar o
estado e de outro, a manutenção das formas arcaicas de fazer política.
Na
verdade, o Estado e os partidos políticos do Tocantins aparecem sob a sombra do
dirigente e do grupo político que o apóia com maior ênfase, sobretudo no caso
de Siqueira Campos, e no caso da oposição, com menor força em razão das
personalidades de Moisés Avelino e José Freire Júnior.
Todos
os grupos e as práticas políticas são muito parecidas Leal (1995) registra que
a nomeação de professores no estado, no ano de 1993, evidenciam como as
práticas políticas ocorriam:
No estado do
Tocantins, como, em outras regiões do Brasil, o professor leigo da zona rural
se encontra quase que na sua totalidade ligado á esfera municipal, onde as
políticas sociais parecem ser meras ações paliativas o que indica, que
possivelmente as decisões educacionais em muitos desses municípios estilo
vinculadas á política local, e os recursos destinados à educação possivelmente
atendem a interesses especificas, como rendimentos eleitorais e prestigio
político, meios efetivos para a criação dos chamados currais eleitorais e para
o estabelecimento do voto de cabresto. (Leal, 1995, p.77)
A
experiência alternativa de exame vestibular realizado em Arraias e
Tocantinópolis está permeada por esses costumes, e talvez seja uma das razões
de tão pouca duração desta experiência (Oliveira, 1996).
As
forças populares e progressitas representadas pelo PT e segmentos dos
movimentos pastorais e eclesiais da região, só vieram apoiar o candidato Moisés
Avelino no segundo turno das eleições.
Grosso
modo, a base de apoio do novo governador constituía-se pelo PMDB, no PDT e no
PSDB, partidos que se opunham ao grupo de Siqueira Campos, mas que não possuíam
uma base popular.
Uma
vez eleito, o governador não fez diferente de seu antecessor. Os destinos da
universidade foram influenciados pela realidade política existente. Criada como
fundação no governo Siqueira Campos, transformou-se em autarquia no governo
seguinte, o de Moisés Avelino (PMDB), que impôs á universidade uma completa
reestruturação dos seus quadros e de objetivos. No entanto não há registros de
reação por parte dos estudantes. Moretz-Sonh (2002) afirma:
De imediato, o governador desautorizou a renovaçilo do
contrato de todos os funcionários nilo concursados do Estado, incluindo
funcionários docentes da UNITlNS, além de reter os vencimentos a titulo de
levantamento dos bens da UNITlNS. (Moretz-Sonh, 2002, p. 77)
Dentre
as conseqüências das ações políticas do governador, a renúncia da reitora
Cassimiro e as mudanças no projeto original da Unitins tiveram um certo impacto
na sociedade tocantinense. Os jornais publicaram diversas matérias tratando da
renúncia da reitora e de denúncias feitas por ela sobre as ingerências
políticas no interior da universidade, o que segundo a ex-reitora impedia que
cumprisse o seu papel.
O
retorno de Siqueira Campos ao poder, em 1994, não mudou os destinos da
universidade, pois os dois grupos majoritários da política mantinham uma matriz
ideológica quase comum. Por detrás dessas disputas políticas, vicejava uma
concepção de Estado que pouco se diferenciava nos dois blocos, a de que o
Estado não é o maior responsável pelo ensino superior público Essa concepção,
na verdade, prevalecia com nuances mais fortes no grupo de Siqueira Campos, já
o grupo do PMDB adotava uma concepção privatista, porém, menos liberalizante.
Ao
retornar ao poder, o governador Siqueira Campos mais uma vez resolveu
reestruturar a Universidade. Em todas as áreas, o governador foi muito
agressivo. Aprofundou a dependência da população ao poder público, buscou
mão-de-obra de outros países (médicos e professores de Cuba) e em outros
estados do Brasil, o que era mostrado como esforço do governador em colocar o
estado na rota da modernidade.
A
reestruturação da universidade seguia o paradigma adotado no estado:
profissionais vindos de fora, convênios internacionais e um paulatino e sutil
processo de privatização. Entre 1996 e 1998, a universidade assinou mais de dez
convênios com organismos internacionais, nacionais e estaduais.
A
universidade passou a viver um momento de euforia. Em 1996, e em 1998, foram
realizados congressos e jornadas científicas envolvendo todos os alunos da
universidade. Nos campi, ocorreram simpósios por áreas, com palestrantes de
outras universidades. Em 1998, a Unitins concedeu incentivo para publicação de
livros, cujos autores eram seus professores e em 1999, um projeto ousado de
qualificação de professores do ensino médio, em convênio com a Secretaria
Estadual de Educação (Seduc), instituiu os cursos Unitins/Seduc, para formar
licenciados nas mais diversas áreas.
Durante
esse per iodo, foi grande o incentivo para que os professores se qualificassem
em nível de mestrado e de doutorado, culminando com o oferecimento, pela
própria universidade, no ano de 2000, dos cursos de mestrado interinstitucional
nas áreas de Produção Vegetal, Educação Brasileira Letras e Literatura. Estas
realizações foram produtos da nova concepção, dos avanços apregoados e do
discurso por uma universidade moderna, mas, ao lado de tudo isso, na verdade,
aconteceu também um processo de privatização da única universidade pública
existente no estado, o que, no primeiro momento não foi compreendido com
clareza pelos estudantes.
A
reestruturação iniciada, em 1996, pelo então reitor Osvaldo Della Giustina, em
um primeiro momento foi aplaudido por uma grande maioria de alunos e
professores, mas conduziu a universidade à cobrança de mensalidades e também à
instituição da representação estudantil Essa representação, instaurada nesse
momento, aconteceu nos mesmos moldes da representação em períodos anteriores da
história brasileira, um instrumento que foi utilizado pelo regime militar como
meio de desmobilização do ME.
Com
base no novo regimento, a universidade deveria ter um conselho universitário
composto por diretores e representantes dos alunos por curso, e, cada
congregação deveria ter em eleição distinta das eleições do ME, a qual deveria
ser conduzida pelas direções das unidades
Além
das modificações da universidade, no período de lançamento da nova proposta,
foi feita uma propaganda maciça entre os estudantes pelo jornal da Assessoria
de Comunicação da universidade, Universo, com o objetivo de mostrar as
possibilidades de a Unitins vir a ser um modelo de universidade a ser seguido
em outros estados do pais, construindo-se, assim, um discurso do que deveria
ser a universidade pública no Tocantins a partir de então.
A
nova concepção apresentada pelo reitor Oswaldo Della Giustina nas palestras e
pelo Universo era de uma universidade transformadora, dinâmica, moderna, e,
verdadeiramente pública, o que era feito por meio de um intenso jogo de
palavras que mais confundia do que esclarecia os estudantes. Em seguidos
editoriais, o reitor utilizou diversos referenciais teóricos para justificar a
concepção de universidade instalada.
Citações
de Habermas e conceito de esfera pública burguesa eram utilizados para tentar
esclarecer o que se podia chamar de público ou de privado. Em meio a um
constante combate às formas atrasadas de concepção de Estado, esse discurso
acabou por não se sustentar, culminando com a saida do reitor da direção da
Universidade.
A
reitoria construiu o discurso oficial como se segue Editoriais defendiam a
concepção de universidade em três pontos, exatamente aqueles que eram motivos
de críticas: a natureza pública ou não, a cobrança por serviços prestados, e a
democratização do acesso. Em relação ao caráter público da universidade:
Na verdade não há como entender o contrário, a não ser
por razões de velhos ideologismos ou de interesses demagógicos, ou por
confusões, fruto da ingnorância ou da má fé, como quando se confunde o público
com Estatal, (ou o privado com o particular). (Universo, 1998a, n. 02, p. 2)
As
palestras dirigidas aos alunos eram repletas de termos eloqüentes Diretores e
professores defendiam essa concepção, citando Habermas, Hegel e outros. Os
estudantes, sem conseguir formular de início um discurso que se contrapusesse
ao oficial, responderam com faixas escritas A Unitins é hermafrodita.
Outras
vezes, o discurso oficial recorria à História do Brasil para enfrentar o que
chamava de desinformação estudantil.
Tais confusões podem até ser compreendidas, também a
partir do fato de que, pouco temos tido de sociedade livre, democrática, em
nosso pais. Assim 3 que neste século, primeiro a ditadura Vargas, durante 15
anos, e depois ao Regime militar, durante mais vinte anos, venderam a sociedade
brasileira a idéia do Estado Novo, depois do Brasil, GRANDE POTÊNCIA,
representada por um estado forte, sem sociedade. Compreende-se que o Estado
Novo, e o Estado Grande Potência tenham feito adeptos. (Universo, 1998a, n, 2,
p. 02)
Sobre
a cobrança pelos serviços prestados, assim se explicava o reitor:
Primeiro com se viu a UNITlNS é Pública. mas não estatal.
Segundo entende-se a alegação. também. a partir da nossa tradição paternalista,
graças a qual os mais poderosos do poder. da riqueza ou do saber. por tradição
vivem à custa dos favores do Estado, enquanto cresce O• número dos excluídos:
os analfabetos ou semi-alfabetizados. a quem o Estado não garante gratuitamente
e de nenhuma outra forma. sequer, a educação básica, os sem terra, os sem teto,
os sem trabalho, sempre os mais fracos. Os mais fortes estilo ai, gozando dos
favores do Estado. (Universo, ano I, n, 02, 1998b, p. 02)
Nos
termos do editorial a cobrança dos serviços prestados pela Unitins, incluído a
mensalidade, era uma forma de evitar que os mais fortes se utilizassem dos
serviços do Estado, e alegava-se que a universidade se colocava a serviço dos
mais fracos. Parece que esse não era o caso dos alunos da Unitins. Um ano
depois de iniciada a cobrança de mensalidades, a maioria dos estudantes estava
inadimplente, por não ter condições de arcar com os custos.
O
reitor assim se expressava:
As Universidades gratuitas atendem, no Brasil, a 23% dos
estudantes e essa gratuidade consome em torno de 70% dos recursos do ME C,
destinados a educação. Os 77% restantes, freqüentemente os mais necessitados,
não tem qualquer apoio governamental, a não ser o precaríssímo sistema de
Crédito Educativo, por meio de da Caixa Econômica Federal. O Modelo UNITlNS,
instalado pela nova Universidade do Tocantins, quebra esta clamorosa injustiça.
Assim é que a contribuição fixada para os alunos representa apenas 30 % de seu
custo efetivo. Desta forma a UNITlNS, propicia a todos 70 % de gratuidade. Para
os alunos que comprovarem a impossibilidade de pagar esses 30 %, no entanto, o
Estado instituiu um sistema de bolsas reembolsáveis, que garante a todos
permanência na Universidade. (Universo; 1998b, n. 03, p. 03).
Após
um certo período, os estudantes iniciaram o processo de uma construção
discursiva, em que procuravam fundamentar a defesa da universidade ou da não
cobrança de mensalidades, com base nos conceitos de público versus privado,
mostrando as contradições do discurso oficial que apresentava o Estado como da
livre iniciativa e da justiça social, mas ao mesmo tempo mostrava-se excludente.
Por não conseguirem pagar as taxas referentes à matricula e às mensalidades,
alguns estudantes recorreram à justiça.
No
entanto, todas as ações impetradas foram julgadas favoráveis ao governo, tanto
as que se referiam à cobrança de taxas de matriculas como de cobranças de
mensalidades. A direção da universidade aproveitou-se do episódio para
desmobilizar os estudantes, acusando o advogado responsável pelas ações, e
ex-presidente do DCE, de demagogo e de estar usando os estudantes para
promover-se politicamente. Em reportagem sobre as ações, o Universo assim
agurmentava:
Tem sido moda de
alguns que fazem do exerclcio de usar os estudantes em beneficio próprio,
objeto de demagogia, induzi-los a entrar com ações judiciais contra qualquer
contribuição financeira destinada á Fundação UNITlNS. Desde que a fundação foi
criada, foram ajuizadas 12 açães por esses contestadores. Até hoje nenhuma
delas teve ganho de causa. (Universo, 1998b, p. 3)
A
construção discursiva dos estudantes mostrou-se frágil perante as ameaças
veladas, e com pouca estrutura para o enfrentamento, o ME acabou por sucumbir
aos poucos ao processo de cooptação Em artigo publicado pela Assessoria de
Comunicação sobre o resultado das ações judiciais, o reitor assim se manifesta:
Desde o ano passado, além de liminares negadas de inicio,
por juizes singulares, o tribunal de justiça vem suspendendo liminares
concedidas em primeira instância, às ações movidas por estudantes, quase sempre
os mesmos. É o que comprovam alguns despachos que transcrevemos a seguir,
dentre muitos, com o agravamento que esses mesmos estudantes engajados pelos
que prometem mundos e fundos vêm depois solicitar à UNITlNS, com desculpas de
toda ordem, que a Universidade renegocie suas dividas, induzidos que foram
pelos falsos líderes. A Fundação vem negociando, mas poderá não fazê-lo se a má
fé persistir em tumultuar a Instituição.(Universo, 1998b, n° 03, p.03)
O
embate entre duas correntes, a que defendia o público como sinônimo de
gratuidade e a que alegava que a gratuidade não era necessária em uma
universidade pública, conseguiu transferir o problema para o poder central Em
2000, iniciou-se o processo de federalização da Unitins.
A
UNE, entidade máxima dos estudantes, pouco participou dos embates
tocantinenses. O momento mais importante da luta estudantil foi a realização de
um fórum de debates sobre o processo de estruturação da Unitins. A programação
de abertura do evento, que começou com todos os presentes cantando o Hino
Nacional e rezando o Pai Nosso, de mãos dadas, terminou com uma posição tímida
do diretor de Políticas Educacionais da UNE, que se limitou a fazer um
histórico das tentativas privatistas e da luta da entidade que representava em
defesa da universidade pública. Houve muitas trocas de acusações entre os lideres
estudantis locais e os representantes do governo no Fórum. (Diário do
Tocantins, p. 315, abro 2000)
3.2 A importância estratégica da Unitins
e o discurso dos estudantes
Sem
dúvida, a criação do estado do Tocantins representou um avanço para a população
do Norte. O Estado passou a se fazer presente ao país e, de imediato, foram
tomadas medidas visando diminuir o fosso que existia entre a região e o
restante do Brasil. Em 1991, esse fosso pode ser i lustrado com os dados
levantados para a elaboração do Plano Decenal de Educação Para Todos (Brasil,
Mecãnep, 1992).
A
taxa de mortalidade infantil no estado era de 10,2%, ao passo que a média
brasileira era de 3,9%. O analfabetismo no Estado era de 63%, atingindo 83 %
r,a região norte do estado, o chamado Bico do Papagaio. O ensino fundamental
contava com 193.460 estudantes, dos quais 19% não chegavam a concluir essa
etapa de formação. A área municipal contava com 93 mil matriculados e uma
evasão de 20,92%, o que significa um número de 19.665 crianças que abandonavam
a escola. O agravante maior era que 55% das crianças na faixa etária
obrigatória não tinham acesso à escola (Brasil, Mec/lnep,1992).
Em
1992, quatro anos após a criação do estado, o ensino de nível médio contava com
14616 matriculados, dos quais 846, ou 578% não chegavam a concluir essa etapa
de ensino. Do total de 12156 professores, 10.919 (89,82%) atuavam na primeira
fase do ensino fundamental, e desse total, 5,053 (46,27%) eram professores
leigos, dos quais uma quantidade considerável sequer haviam cursado o ensino
fundamental (Brasil, Mec/lnep,1992).
Estes
dados explicam a críação da Universidade do Tocantins e a implantação dos seus
primeiros cursos. O curso de Pedagogia em Guaraí, Tocantinópolis e Arraias
tinha o objetivo de alterar essa realidade. Havia uma necessidade premente de
formação de professores para o ensino fundamental, sobretudo para as séries
iniciais. Nos anos seguintes, com a aprovação da lei nO 9.394/96, de 20 de
dezembro de 1996, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional
(LOB), e com a política da erradicação de professores leigos até a ano de 2007,
surgiu uma modalidade de formação de professores que incrementou o ensino
superior no Tocantins, o regime especial Unitins/Seduc.
A
professora Maria do Rosário Casimiro ocupou o cargo de reitora na Unitins, com
a promessa do então governador Siqueira Campos de que teria amplas condições
para realizar na Unitins, o que não havia conseguindo realizar na UFG.
Entretanto a professora renuclou ao cargo poucos meses depois, lamentando a
interferência da política partidária no interior da universidade. Em suas
próprias palavras:
Aliás, a experiência me
demonstrou que Universidade e política silo coisas incompatíveis. Já o grande
fundador da UNICAMP, professor Zeferino Vaz, dizia que quando a política
partidária entra pela porta da frente da Universidade a competência sai-lhe
pela porta dos fundos. (apud Moretz-Sonh, 2002, p.78).
A
saída de Cassimiro da reitoria, no final do ano de 1992, foi a primeira de uma
série. Da criação da universidade ao término do governo Avelino, a universidade
teve seis reitores, e, entretanto, os estudantes não se mobilizavam para
resolver essa situação caótica. Por quê? O que dificultava a mobilização dos
estudantes para mudar o posicionamento desses reitores? Por que, muitas vezes,
os alunos sequer tomavam conhecimento dos motivos que provocavam as mudanças no
reitorado da universidade?
A
resposta pode estar no fato de que, nesse período, o ME do Tocantins começava a
ser organizar. Durante o governo de Moisés Avelino, houve reação tímida dos
alunos de Arraias e Tocantinópolis, contra a mudança do modelo de seleção para
o concurso vestibular. No Centro Universitário de Arraias, encontrava-se em
processo de organização o Centro Acadêmico de Pedagogia, registrado em cartório
no dia 7 de outubro de 1993. No entanto, a reação dos estudantes era ainda
embrionária. Os professores ligados ao grupo político do PMDB, e liderados pela
professora Magda Suely hegemonicamente compunha a direção do campus, e se encarregaram
de acalmar os ânimos dos alunos, não permitindo maiores resistências.
Em
1998. estudo realizado por alunos do curso de Matemática sobre a origem social
dos estudantes mostrou que, em Arraias, a maioria dos alunos se originavam de
famílias tradicionais. No entanto, a configuração estudantil nesse campus
começou a se modificar a partir de 1994, quando uma grande parcela de alunos do
Nordeste goiano, sobretudo dos municípios de Campos Belos e Monte Alegre,
passou a sobressair na vida estudantil universitária arraiana (Unitins, Campus
de Arraias, 1998)
Em
1994, a Unitins contava com dez campi e vinte e três cursos. No entanto, as
experiências alternativas de seleção só foram realizadas em Arraias,
Tocantinópolis e Guaraí. Os demais campi Miracema, Porto Nacional, Colinas,
Paraíso, Araguaína, Gurupí e Porto Nacional - foram submetidos ao processo
seletivo tradicional de outras universidades, pelo sistema vestibular.
Presente
na reestruturação de 1993, já havia um processo de mudanças na universidade
que, aos poucos, foi se desvelando para os estudantes, professores e para a
sociedade.Della Giustina então reitor, para legitimar a nova concepção,
apresentava a Unitins como modelo de universidade moderna, ágil, e que
permitiria corrigir as injustiças sociais como a dificuldade de acesso dos mais
humildes ao ensino superior. A Unitins era então considerada:
Pública com acessos
eqüitativos, participativa. com responsabilidades distribuídas, autônoma
para servir à sociedade, ao conhecimento, e aos cidadãos que a demandam.
(Jornal do Tocantins, 10 a 12/11/1996), (grifas do autor)
A
cobrança de mensalidades estava bem explícita nos discursos oficiais. Em nota
distribuída à imprensa e enviada para todos os campi em formato de informativo,
o reitor afirmava:
Se, apesar da contribuição dos poderes públicos, das
instituições privadas co-instituidoras e co-mantenedoras, por meio de
incentivos existentes, contratos de serviços e de outras formas, restar ainda a
necessidade de contribuições dos alunos, essas contribuições serão orientadas
sobre tudo, a criação de um fundo de democratização de oportunidades para os
mais carentes, de modo que se supere o atual privilégio odioso que caracteriza
o Brasil. Onde os mais aquinhados tem maiores oportunidades de acesso á Universidade,
o conseguem por meio de sacrifícios enormes, de trabalho simultâneo, de
deslocamento, e de escolas ás vezes de segundo categoria. (Universo, 1998a,
p.3)
Em
1996, foi instituída a cobrança de mensalidades para os alunos que seriam
selecionados no ano de 1997. Nesse mesmo ano, já houve manifestação estudantil
intensa em todos os campi da universidade, destacando-se as ocorridas em
Tocantinópolis, Palmas, Araguaina e Porto Nacional.
Em
Tocantinópolis, os estudantes bloquearam as estradas que dão acesso à cidade,
na tentativa de chamar a atenção da sociedade para o que estava acontecendo na
universidade. Em Porto Nacional e em Palmas, os estudantes fizeram passeata em
direção às sedes dos poderes públicos.
Os
campi de Arraias, Tocantinópolis, Guaraí e Colinas apresentavam um motivo a
mais para que seus estudantes se mobilizassem. Constava no plano de
reestruturação da Universidade a transferência dos cursos ministrados nesses
campi para Palmas.
Em
Colinas, onde o prefeito era do PT e oposição ao governo Siqueira Campos, para
que fosse mantido o curso de Direito, houve forte reivindicação da população
local, e a prefeitura acabou por assumir a manutenção da universidade, criando
a Fundação Municipal de Ensino Superior de Colinas.
Embora
os campi de Arraias, Tocantinópolis e Guaraí tivessem ficado um ano sem a
realização do exame vestibular, o governo voltou atrás e manteve os campi na
estrutura da universidade, na tentativa de incorporá-los à universidade federal
que estava em processo de criação. As movimentações dos estudantes nesses campi
mobilizou a sociedade civil e os políticos, contribuindo para a sua manutenção.
Já
a cobrança de mensalidade foi instituída em 1997 e suprimida no ano de 1998. As
razões conhecidas para a supressão estavam presentes em várias entrevistas, e
se constituíram em uma arma utilizada pelo governador Siqueira Campos para
garantir sua reeleição. Naquele ano, não somente a cobrança de mensalidades foi
suprimida, como também foram perdoadas as dívidas de todos os estudantes que
estavam inadimplentes com a universidade.
A
cobrança de mensalidade desnudou o caráter neoliberal das reformas governistas
e mostrou a verdadeira face das reformas e das contradições de um governo que
pretendia levar ao Tocantins à modernidade e alcançar a justiça social com base
no livre mercado. Um ano depois, um grande número de estudantes continuavam
inadimplente, o que constituía uma prova factual da necessidade de o Estado se
responsabilizar pelo ensino superior público. Em um misto de modernidade e atraso,
a inadimplência dos estudantes foi utilizada como arma política eleitoral.
O
governo, entretanto, além de manter um. discurso em defesa do novo modelo de
universidade, utilizava-se de outros mecanismos como cooptação, pressão e
persecução política que provocaram uma cisão no ME do Tocantins. Uma parte dos
estudantes manteve um discurso de contestação ao governo e outra parte usava de
um discurso semelhante ao governista e dizia que a situação da universidade era
a melhor para os próprios estudantes.
O
primeiro grupo era representado pelo ME organizado, e que, no processo de
negociação da greve, conhecida como SOS-Unitins, era formada pela Comissão
Multicursos, dirigida pelo presidente do DCE. O outro grupo materializou-se na
constituição da Comissão Pró-dialógo e tinha como meta resolver as diferenças
entre os estudantes sobre o destino da universidade e sua relação com o
governo, por meio de um diálogo de amigos como definiu mais tarde o governador
Siqueira Campos.
A
existência do crédito educativo que, segundo o governador seria o instrumento
de conceder acesso ao ensino àqueles que não pudessem pagar, se transformou em
meio de coação política, como mostra do presidente do DCE, em entrevista a um
jornal local:
O presidente do Diretório Central dos Estudantes da
UNITINS, Élsio paranaguá, informa que o governador do Estado do Tocantins,
Siqueira Campos, durante uma manifestação de estudantes das UNlNTlNS em Gurupi,
no domingo 02 de abril, ameaçou-os de perda do crédito educativo. Para Élsio,
“O governador quer que o universitário que não se adequar as normas imposta por
ele, passe por uma punição rigorosa. Ele acha que nós temos que aceitar
calados, que a nossa única Universidade gratuita, seja entregue á iniciativa
privada” ressalta. (DCE denuncia agressão a estudantes. (Primeira página p. 3
abri ,2000)
As
retaliações iam além das armas criadas pelo próprio governador. A influência do
poder político do governante fazia-se sentir em conselhos para donos de
empresas e supermercados, lojas, e outros serviços para que não dessem empregos
aos alunos rebeldes.
Por
outro lado, a recompensa para os alunos 'considerados compreensivos pelo
governo como sendo o futuro do estado. Sobre eles os estudantes que
participavam da comissão Multi-curso representada pelo DCE, Centros Acadêmicos
e Das assim afirmou: os integrantes desta comissão são funcionários ou filhos
de funcionários de gabinetes de deputados e vereadores, e cargos comissionados.
(Primeira Página, abril p. 06, 2000a).
A
posição da Comissão Multi-cursos e da Comissão Pró-diálogo diferenciavam-se em
diversos aspectos. A primeira exigia do governo a manutenção de uma
universidade pública e gratuita no estado, e a segunda aceitava negociar o
acesso dos estudantes ao ensino superior, mediante a instituição de créditos
educativos e outros mecanismos, como a prestação de serviços.
Com
o avanço da luta pela criação de uma universidade federal no estado as duas
comissões apresentavam pontos comums, e o próprio governo passou a encampar a
luta pela federalização da Unitins.
3.3 Socorro!!! Privatizaram o ensino
superior no Tocantins
Na
década de 1990, como já foi dito, o momento em que a juventude tocantinense se
mobilizou de forma a se fazer presente no cenário político com uma certa força,
ficou conhecido como SOS-Unitins.
O
movimento nasceu com o objetivo de defender a Universidade do Tocantins contra
as investidas neoliberais do governo Siqueira Campos, que dentre as diversas
propostas de reestruturação da universidade, em 1998, instituiu a cobrança de
mensalidades. O auge do movimento ocorreu em 1998, mas há registros de
mobilização de estudantes desde o início do funcionamento dos cursos, com o
objetivo de participar da construção da universidade.
Em 1995,
a reação
dos estudantes perante as
transformações
ocorridas na universidade, sobretudo o anúncio da cobrança de mensalidades,
prenunciava que os estudantes se fortaleciam. Grassavam no meio estudantil
idéias políticas, polarizando-os. Os centros acadêmicos intensificavam o debate
sobre a situação da universidade e passaram a lançar informativos com notícias,
na tentativa de levar os estudantes a compreenderem as mudanças que estavam
sendo realizadas. Os estudantes tentavam construir um discurso mais elaborado,
que se contrapusesse ao discurso oficial da reitoria.
No
entanto, o crescimento dos protestos estudantis não amedrontou o governador,
que afirmou várias vezes em jornais locais que ele permitia as manifestações,
pois afinal o Tocantins era o Estado da democracia, da livre iniciativa e da
justiça social, referindo-se ao slogan do seu governo.
Sobre
os jovens do SOS-Unitins, o governador afirmou não haver problemas na
manifestação dos jovens, pois sabia que tal ato seria passageiro. Citou o
exemplo do ex-deputado federal Edmundo Galdino que, na juventude, fora comunista
e, revolucionário e naquele momento fazia parte da sua equipe. Segundo o
governador, o fim das manifestações chegaria quando aqueles jovens
compreendessem a realidade e que o estado estava fazendo o melhor para a
universidade.
Durante
solenidade realizada pelo senador eleito Eduardo Siqueira Campos, no espaço
cultural, na cidade de Palmas, para comemorar o início do seu mandato, o
senador assim falou aos grevistas do SOS-Unitins que o vaiavam da platéia,
conforme noticiado por um jornal local:
"Respondam por mim, a esse povo, os 74% que votaram
em mim", iniciou Eduardo, dizendo que se tratava de "uns 30
desorganizados, que até hoje, sequer conseguiram eleger um vereador". O
senador prosseguiu convidando os manifestantes a formarem uma comissão e o
procurarem na Secretaria de Estado do Governo para tratarem de suas
reivindicações. O senador ressaltou ainda que a manifestação foi um incentivo a
mais para ele trabalhar na estrutura do governo acreditar que 'assim como nosso
companheiro Galdino (ex-deputado Edmundo Galdino) hoje está conosco, não vai
demorar e eu terei a honra de abonar a ficha deles (os alunos) na União do
Tocantins7. (Jornal do Tocantins, p. 3 abro 2000a).
Embora
o governo permitisse a manifestação dos jovens estudantes, ocorreram enfrentamentos
entre a polícia e os estudantes, que foi denunciado pelo ME ao jornal:
Élsio afirma ainda que o governador não viu essa campanha
pela privatização como um movimento justo e organizado e 'acabou perdendo a
cabeça durante uma manifestação e agredindo a estudante de agronomia Anderlí
Divina Ferreira, na cidade de Gurupi. Além de deixar 65 acadêmicos detidos, por
aproximadamente 03 horas, sendo todos filmados pela polícia militar. (Jornal do
Tocantins, p. 3 abro 2000a)
As
agressões, o medo da polícia e da perseguição, o temor de perder o emprego de
que muitos estudantes dependiam para sobreviver, fizeram que o poder de
cooptação do governo se tornasse forte e diminuísse a quantidade de alunos com
capacidade para resistir às investidas de agentes do governo.
Os
jovens que participaram do movimento SOS-Unitins eram em sua maioria, os poucos
que possuíam atividades no setor privado, ou então filhos de pequenos
empresários urbanos e de profissionais liberais, e, em alguns casos, daqueles
que trabalhavam no setor público e eram constantemente ameaçados de perderem o
emprego.
Os
conflitos entre os estudantes podem ser exemplificados pelo SOS-Unitins quando
estes entraram em choque quanto aos rumos do movimento. O SOS-Unitins, no
decorrer do movimento, formou duas comissões de negociação, e uma não
reconhecia a legitimidade da outra.
Alguns
entrevistados chegava afirmar que nenhuma das duas tinha legitimidade para
representar o movimento, citando uma carta aberta escrita por estudantes e
não-assinada,' com ofício anexo, no qual se denunciava conluio entre o então
presidente do DCE e o governo para boicotar o movimento.
A
carta aberta afirmava que o então presidente do DCE, Élsio Paranaguá e outros
líderes, representantes da juventude tocantinense, pediram a nomeação de
Ricardo Aires, filiado ao Partido da Frente Liberal, para o cargo de Secretário
de Juventude, e denunciava a relação promíscua entre as lideranças estudantis e
o poder constituído, mas também era uma demonstração de como os vícios da
política local apareciam no interior da juventude.
A
carta foi escrita e publicada por alunos da própria universidade depois da
greve encerrada, mas o período de nomeação ocorreu no mês de janeiro de 2000,
durante o processo de planejamento da greve.
Segundo
a carta aberta escrita pelos alunos, o atendimento ao pedido condicionaria os
solicitantes a não participar do protesto contra o governo, mas a ajudar o
governo a convencer os estudantes da inutilidade de uma greve.
O
mecanismo de cooptação aparecia como proposta, de um lado, surgida no seio da
juventude ansiosa por conquista de espaços para o desenvolvimento da carreira
profissional no setor público, e, de outro, por saber que o governo possuía o
poder de controlar os movimentos sociais e buscar quadros dinâmicos para o
serviço público.
No
entanto, a prática do aliciamento de jovens para as fileiras partidárias estava
presente tanto nos partidos governistas quanto nos partidos de oposição,
demonstrando que a cooptação e o aliciamento significavam é tanto uma forma de
busca da conquista do poder pela oposição quanto de manutenção do poder por
aqueles que o detinham.
Alguns
alunos e uma grande parte deles acabaram por ficar no anonimato político,
recusando a filiação partidária para evitar perseguição política que podia
ainda envolver seus familiares diretos.
Em
1997, o presidente do CA de Pedagogia de Arraias viu-se às voltas com uma
transferência de uma cidade para outra, em razão de sua participação nos
protestos contra a reestruturação da Universidade. Tratava-se de funcionário de
carreira da Policia Militar que teve de recorrer a políticos de Influência para
não inviabilizar a continuidade do curso. Anos depois, já pedagogo, o
ex-presidente se tornou funcionário de carreira, também da Secretaria Estadual
de Educação e eleitor do governador Siqueira Campos.
A
influência dos partidos políticos no ME foi mencionada por um estudante que
participou da greve de fome durante a radicalização do SOS-Unitins. Ele afirma,
em entrevista, ter visto pessoas ligadas ao político Raul Filho, do Partido
Popular Socialista (PPS), como os responsáveis pela manutenção da estrutura da
greve deflagrada pelo SOS-Unitins, com recursos materiais e orientação
política:
Quando chegou um homem, baixo o qual eu não conhecia, e o
estudante Gilvan Noleto, ex-presidente do DCE, o cumprimentou dizendo algo
assim: "Mas rapaz, como você está sumido! Onde é que você estava?" Ao
passo que a pessoa respondeu: "sumido? Se não fosse eu esse movimento nem
tinha começado! Eu é que to bancando tudo". Depois descobri que aquele
homem era Adjalr de Lima, principal articulador da Campanha de Raul Filho e
mentor do Movimento SOS-Unitins. É claro que diante das pressões dos
estudantes, figuras como Adjair de Lima sumiram das reuniões, mas apareciam
recursos para carros de som e as camisetas do movimento. (Entrevista com o
estudante Lailton)
As
influências sobre o ME não provinham apenas do campo da oposição. Também, os
políticos governistas dispunham de pessoas e de meios com os quais buscavam
interferir no ME do Tocantins. A indicação do estudante Ricardo Aires pelos
representantes da juventude do estado, para a Secretaria da Juventude, e,
posteriormente, sua filiação ao PFL, comprovam a influência governista sobre o
movimento.
Estes
fatos provocaram o aparecimento de divergências. No processo de negociação do
fim da greve, as duas comissões, a Comissão Multi-curso e a Comissão
Pró-diálogo, não reconheciam a legitimidade uma da outra.
As
duas comissões enfrentaram-se constantemente, como ilustra a entrevista do
então presidente do DCE, ao jornal local:
Não
somos contra o diálogo, e buscamos esse diálogo, mas o governo não teve a
dignidade de nos responder. (...) Respeitamos o que os colegas estã fazendo,
mas sabemos qual é a intenção ... É pulverizar, reúnem com esses estudantes e
traçam estratégias contra o movimento. Sabemos que deputados e vereadores se
colocam contra o movimento. (Primeira página, p. 03 abro 2000)
Este
fenômeno lembra a criação da Juventude Brasileira pelo ex-presidente Vargas, na
tentativa de enfraquecer a UNE, e mostra os mecanismos que o governo utilizava
para lidar com movimentos sociais e com pessoas que discordavam dos seus rumos.
A
influência do Estado, configurado no poder estatal e nos partidos que se
constituíam a base de sua sustentação, sobre os destinos do ME do Tocantins não
se restringiu apenas à constituição de grupos de alunos simpáticos ao governo
que se opunham a grupos de alunos que contestavam a política do governo. Esta
influência também existia por meio do exercício do magistério por professores
que eram defensores do regime de poder instituído.
As
razões para que se defendesse o projeto de universidade presente na proposta do
governo nem sempre se deram por convicção ideológica, muitas vezes, por razões
de cunho pessoal e em prol da própria carreira profissional. É o que aconteceu
no caso da participação dos professores na condução do desfecho da greve de
fome. Eles intervieram para convencer os alunos de que era uma insensatez
continuar a greve, como relata o estudante Lailton:
Por volta de uma hora da manhã o professor Deocleciano,
do curso de Direito, entra e se reúne com alguns dos grevistas. Eu estava
dormindo e quando acordei, o professor estava dizendo que a greve estava
terminada. Nós, os grevistas, nos reunimos e decidimos ligar para o Orion, a
partir de um celular, acho que era do professor. (Entrevista com o estudante
Lailton)
No
caso do ME, os professores exerceram um papel importante como formadores de
opinião, pois exerciam influência sobre os alunos, pelo fato de muitos deles
terem vivido experiência como militantes quando estudantes, e pela fragilidade
do ME no estado.
Entretanto,
a influência dos professores, em sua grande parte, não contribuiu para tornar o
ME mais forte nos embates com o governo, como ilustra a fala do estudante
Lailton. Poucos professores envolviam-se em discussões políticas, porque não
queriam se comprometer, já aqueles que se envolviam, muitas vezes o faziam,
desempenhando o papel de legitimadores das opiniões governistas. No campus de
Tocantinópolis e no curso de Comunicação Social da cidade de Palmas, de acordo
com os relatos, parte das atividades realizadas (protestos, eleições para C, A,
etc) teve o incentivo direto de vários professores. Alguns restringiam-se a
esclarecer aos alunos em sala de aula, ou, as vezes, fora dela, o significado
das mudanças que estavam ocorrendo, de um ponto de vista mais politizado, e
procuravam mostrar que as ações do governador não estavam lastreadas apenas por
má vontade em relação às regiões em que os campi seriam fechados (referiam-se
ao caso da polêmica de 1996, que envolveu os campi descentralizados), mas
fundamentadas na doutrina do livre mercado, e na conseqüente recusa do Estado
de manter o ensino público.
Além
da forte cooptação, reinava entre os estudantes uma grande dificuldade de
compreender os processos de reestruturação da universidade como um problema de
embate entre o público e o privado ou de concepção de Estado. A característica
neoliberal do governo Siqueira Campos era vista como mais uma má vontade do
governador. Muitos estudantes não consideravam que o fato de o governador
pertencer a um partido, cuja doutrina econômica é a defesa do livre mercado,
seria a explicação para as constantes reestruturações da universidade. A
retórica da modernidade (transformar a Unitins na mais moderna universidade do
Brasil) muitas vezes serviu como fator de desmobilização do ME, como ocorreu em
1996, após as mudanças feitas nos campi, durante o início do processo que
culminou na cobrança de mensalidades.
Liberal,
mas intervencionista. Trata-se de uma grande contradição. Uma entrevistada
declara:
a vida política do Tocantins é completamente direitista
como disse o repórter da Veja '0 governo estadual participa de brigas pequenas
e está presente tanto em assuntos importantes como acompanha as brigas pequenas
do movimento estudantil". (Entrevista com Auriely Painkofw)
A
reportagem à qual a estudante se refere foi publicada pela Veja, com o título
Siqueirinha e Siqueirão, os donos do Tocantins, na qual o repórter referia-se
aos bens da família Siqueira Campos e fazia uma análise do domínio político e
econômico que o grupo político liderado por Siqueira Campos tinha sobre o
estado.
Pode-se,
contudo, qualificar essa configuração de liberal, e ao mesmo tempo de intervencionista?
Na verdade, isso se tornou possível em razão da característica agrária do
Tocantins, com grandes latifúndios, uma classe média frágil, uma indústria
incipiente e um governo vivendo diante da contradição de colocar o Estado na
rota do mercado nacional e internacional, e, ao mesmo tempo, manter os
privilégios obtidos em razão de seu parco desenvolvimento.
Uma
leitura interessante de todo o processo envolvendo a tentativa de privatização
da universidade foi feita por estudantes do campus de Araguaína, sob o estímulo
do professor de História Eugênio Pacceli que mantém em seu arquivo pessoal uma
série de textos de alunos do Curso de História, em que fazem uma análise do
SOS-Unitins. É interessante notar como esses alunos 'apresentam uma diferença
sutil em relação às facções em que estavam divididas as lideranças estudantis,
mostrando um distanciamento entre a base do movimento e os seus dirigentes,
como já havia denunciado, em sua entrevista, a estudante Auriely Painkow.
Durante
as greves e rebeliões dos estudantes contra a reestruturação da universidade,
implementada a partir de 1996, e que chegou em seu aplce em 1998, com a
cobrança de mensalidades, o campus de Araguaína foi o local no qual os
estudantes se comportaram de forma mais aguerrida.
Foi
o primeiro campus a entrar em greve, e o último a recomeçar as aulas. Em suas
análises, a aluna Stelha Maris do Curso de História assim classificou a luta:
Foi uma luta de forças que parecia injusta; os
universitários com a sua única arma: a paralisação por uma Universidade pública
e gratuita, contra a prática neoliberal do Excelentíssimo Senhor Governador
(que se julga onipotente) com relação ao Ensino Superior na tentativa de
excluir a massa tocantinense do acesso ao terceiro grau. (Lima, 2000)
As
palavras da aluna, além da ironia, demonstram o motivo por que governo e
estudantes estavam de lados opostos. Estava em questão a cobrança de
mensalidades recém-instituída e cada estudante enfrentava o Estado como podia.
As
palavras ferinas tomaram conta do discurso estudantil. Carlos Antônio Machado
Vieira qualifica o Estado de máquina destruidora de sonho. Sirley de Oliveria
Cruz, por sua vez, qualifica o Estado de ditatorial:
o movimento demonstrou a força não desafia tantas ameaças
do Governador, que ao decorrer de todo epis6dio se declarou como verdadeiro
ditador, usando ameaças e violência "sica contra os estudantes
Universitários que participavam do movimento. (Cruz, 2000)
Para
Zenaide Silva Marinho, o governo de Siqueira Campos e seu grupo político é
assim classificado: governo ditador e corrupto, voltado apenas ao seu próprio
interesse (Textos de avaliação da greve dos alunos de História de Araguaína
Zenaide Marinho).
Outro aluno que também elaborou texto de avaliação da
greve ocorrida em Araguaína utiliza na sua análise a expressão peixe grande,
referindo-se ao governo, que não podia ser vencido pelos peixes pequenos,
referindo-se aos alunos (Pereira, 2000).
Para
alguns, a realidade inspirava ironia em relação à situação e mesmo um ódio ao
governador. Outros, entretanto, apresentavam uma construção discursiva mais
elaborada, procurando compreender o momento com base na inserção do estado do
Tocantins no cenário nacional, global e a inevitável convivência com os dogmas
vigentes do neoliberalismo.
Dos
26 textos analisados, quatro fazem referência direta ao neoliberalismo como a
orientação política norteadora da política do governo em relação a
universidade, e três textos atribuem à política do governo as orientações da
política nacional, citando as privatizações das empresas estatais, como a da
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), da Companhia Vale do Rio Doce, dentre
outras. A privatização da universidade ora aparece para os estudantes como
artifício do neoliberalismo para dominar o globo terrestre, ora como discurso
globalizado utilizado em defesa dos interesses próprios das elites.
Os
estudantes tinham dificuldade para compreender a realidade política do
Tocantins em suas interfaces com a política nacional e global. A presença na
mídia em campanhas publicitárias nas quais o governador aparecia assinando
contratos com empresas internacionais, da Alemanha e do Japão, a dificuldades
de realização do debate aberto sobre as motivações reais do governo,
dificultavam o aprofundamento da compreensão de conceitos como neoliberalismo.
Segundo
depoimento presente nas análises, os professores eram pressionados para
defender a construção discursiva, como escreve Sthela Maris de Lima:
Os manifestantes também tiveram o apoio de alguns
professores da UNITINS, porém de forma restrita pois eles também foram
pressionados tendo inclusive reduzido seus salários. (Lima, 2000)
Na
perspectiva dos estudantes de Araguaína, o SOS-Unitins foi um movimento
vitorioso, mesmo com as divergências entre os campi. Em um determinado momento,
o campus de Araguaína foi o único a manter a paralisação diante das ameaças e
tentativas de cooptação pelo governador. As dificuldades do movimento são assim
compreendidas por Stelha Maris de Lima:
Houve muitas dificuldades sobretudo quando os Campi
ficaram divididos entre os que aceitaram o falso compromisso do Governador e os
que continuaram firme sem ser manipulados por este compromisso pois entendiam
que esse não tinha caráter jurídico. E neste momento que o campus de Araguaína
fica sozinho, mas quando o Campus de Gurupi soube que Araguaína jazigo
paralisada também aderiu novamente a paralisação e ambos campi buscaram junto
ao governo novas negociações. (Lima, 2000)
Tal
afirmação, presente em quase todos os depoimentos dos estudantes de Araguaína,
e a conclusão generalizada nesse campus sobre os campi de Araguaína e Gurupi
serem os responsáveis pelas conquistas do SOS, são discutíveis por dois
motivos: primeiro, porque houve em vários campi, como Arraias, Tocantinópolis e
Guaraí fortes movimentações contra a privatização; e, segundo, porque houve
também greve de fome, da qual participaram alunos de Palmas. No entanto,
constata-se nas entrevistas e observações realizadas que os estudantes, na
época, provocaram maior agitação nestes campi, nos quais, os alunos mais
demoraram para voltar as salas de aula.
Sobre
os conflitos no interior do ME, que levaram ainda o campus de Araguaína a tomar
uma decisão isolada de continuar a greve, são inúmeros e diferentes os pontos
de vistas. Alguns atribuem essa atitude a um caráter submisso dos estudantes,
na condição de filhos de políticos ligados ao governo ou às elites; outros
assinalam que os conflitos devem-se ao medo de sofrerem retaliações e
perseguição, incluindo seus familiares.
Ao
final, a grande maioria considera uma vitória do movimento o fim da cobrança de
mensalidades e a promessa do governador de se aliar aos estudantes para
pressionar o governo da União para a implantação urgente de uma universidade
federal para o Tocantins.
Considerando
que, no discurso oficial, o modelo de universidade implantado e contestado pelo
SOS-Unitins, aparecia como um futuro modelo para o país, a promessa do governo
de lutar por uma universidade federal pública e gratuita, pode ser considerada
um recuo do governador e uma vitória dos estudantes pois, diante da oposição
dos estudantes o governo passou o problema para a União, com a implantação da
Universidade Federal do Tocantins.
CAPÍTULO
IV
ENTRE DEUS E O DIABO? OS ESTUDANTES E OS
PARTIDOS POLÍTICOS
Viver é muito perigoso ... querer o bem por demais força,
de incerto jeito, pode já estar sendo querer o mal, por principiar. Esses
homens! Todos puxavam o mundo para si, para o consertar consertado. Mas cada um
só vê entende as coisas dum seu modo.
Guimarães Rosa
As
grandes lutas nacionais nas quais os estudantes estiveram no embate, como o
fora Collor, o boicote ao provão (exame nacional de cursos), a marcha do 100
mil, e o fora FHC, teve pouca participação dos estudantes tocantinenses.
De
imediato, as especificidades políticas e sociais do Tocantins surgem como uma
explicação central para a compreensão do fenômeno e, confirmada pelas
entrevistas e vivências na universidade e no estado. A relação dos estudantes
com os partidos políticos e a própria situação do partidos no Tocantins são o
objeto deste tópico.
Os
estudantes no Brasil não guardam diferenças significativas. Os estudos de
Foracchi (1972) mostram que há uma grande preocupação dos estudantes com a
inserção no mundo profissional e com o projeto de carreira. Grande parte das lideranças
estudantis segue posteriormente carreira política, o que transforma a
militância no movimento estudantil em uma porta de entrada para a carreira
política.
No
Tocantins, como mostram os documentos, a possibilidade de seguir carreira
política constituiu grande motivação para a militância estudantil.
O
episódio Ricardo Aires demonstra várias faces de uma mesma moeda. Pode-se ver
explicitamente a utilização da militância estudantil como uma forma de iniciar
a carreira política. Em outras situações, a não-militância no ME também pode
ser vista como forma de proteção ao futuro profissional. As constantes ameaças
vindas do poder público, conforme várias citações neste trabalho, comprovam ser
este um fator que amedronta os jovens tocantinenses, uma vez que o setor
público se apresenta como um locus empregatício destacado no estado.
Todos
os partido políticos do Brasil realizam um trabalho de reforço dos seus quadros
com a juventude. Quase sempre o processo se dá por meio de uma direção de
juventude ligada ao partido, mas não com a obrigatoriedade de obediência total
ao seu estatuto, ficando a exceção por conta de alguns partidos pequenos que
não conseguem disputar espaço na juventude, pela própria característica
orgânica e falta de estrutura.
O
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) possui a Juventude do Partido da
Social Democracia Brasileira (JPSDB), e, no meio estudantil a, Social
Democracia Estudantil (SDE), por meio da qual procura intervir no ME e eleger
bancadas para os congressos estudantis.
O
Partido Progressista Brasileiro (PPB), possui a Juventude Progressista
Brasileira (JPPB), com os mesmos objetivos, e assim os demais partidos: o PFL,
a Juventude Liberal; o PDT, a Juventude Trabalhista; o PT, a Juventude Petista,
o PPS, a Juventude Popular Socialista; e o PC do B, a UJS.
Embora
todos os grandes partidos possuam trabalho específico para a juventude o
Partido Comunista do Brasil manteve, na década de 1980 e sobretudo na década de
1990, a hegemonia entre os estudantes, aprovando a maioria das suas teses e não
participando da diretoria da UNE apenas nos anos de 1988/1989, quando a
entidade foi presidida pelo Partido dos Trabalhadores. Por essa razão, será
analisada a política do Partido Comunista do Brasil para a juventude estudantil
e sua forma de atuação.
4.1 Ação planejada: um exemplo de como
os partidos políticos influenciam o ME
No
congresso ocorrido em Goiânia, no ano de 2001, houve reafirmação da tese Por um
ME crítico, científico e libertário, que procurou trazer uma análise crítica do
ME e da questão da proliferação desqualificada dos partidos políticos no ME
como forças hegemônicas. Esta tese apareceu com força, em 1992, nas discussões
sobre a dinâmica do ME, como tendência dentre outras onze.
Além
desta e da tendência Universidade: tempos negros virão, que colocava a variável
racial como explicação para a maioria das contradições vividas pela sociedade
brasileira, as tendências Convergência Socialista, Aliança da Juventude
Revolucionária e É hora de Romper com o PT traziam como contribuição para a
discussão a análise da atuação do PT, envolvendo questões regionais e
nacionais. Os anarquistas, que se dividiam em duas tendências - Grupo
Anarquista Ação Direta e UNE é o Que é do grupo de estudantes da Universidade
de São Paulo (USP) - traziam análises semelhantes do ME, em uma perspectiva
anarquista.
O
Partido da Libertação Proletária é representado por estudantes que defendem a
bandeira do partido, de forma direta, sem a intermediação de organizações de
juventude submetidas aos partidos como fazem o PT, o POT, o PSOB e o PC do B.
Até 1992, o PC do B agia no meio estudantil identificado pela tendência Viração
e se constituiu na força hegemônica que elegeu Linderberg Farias como
presidente da entidade e ficou com dezenove cargos na diretoria.
A
influência dos partidos políticos sobre o ME acontece de forma planejada. No
interior da organização partidária, essa meta fica a cargo da secretaria
responsável pelo trabalho com jovens. No caso do PT, por meio da Secretaria de
Juventude, no PSDB, pela Social Democracia Estudantil (SDE), no PDT pela
Juventude Socialista, no PMDB, pelo PMDB Jovem e no PC do B pelo UJS.
No
PC do B, a influência da UJS aparece nos documentos do X Congresso do partido,
realizado no Rio. De acordo com Rabelo:
Investir. de forma pioneira. na campanha do Fora Collor.
estimulando. por meio de sua influência
no seio da juventude. o movimento dos Caras Pintadas. liderado pela União
Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas
(UBES). (Rabelo, 2002 p.99)
(Grifo nosso)
Sobre
o relançamento da UJS, o mesmo texto afirma:
Mesmo em um contexto geral adverso. manteve-se uma grande
influência na direção das entidades do movimento estudantil. A atual orientação para o trabalho com a juventude,
definida nas resoluções de 1996 e 1999, do Comitê Central, está sendo
implementada e desenvolvida com êxito. A União da Juventude Socialista (UJS)
foi relançada enquanto expressão concreta dos objetivos e da estratégia do
partido para a juventude. sob sua direção política e ideológica. caracterizada
como sua forca auxiliar. embora compreendida como amola oroanização socialista
com autonomia orgânica. (Rabelo, 2002, p. 102 (Grifo nosso)
Ainda
sobre a UJS, afirma:
Permanece o desafio de fazer da UJS um amplo movimento,
como maior influência política e ideológica entre os jovens, mais organizado em
direções e núcleos, com mais recursos. preciso reforçar o trabalho próprio da
UJS, principalmente entre os estudantes, com novas bandeiras e formas de
participação, bem como entre os jovens trabalhadores, nos bairros populares e
nos diversos movimentos juvenis existentes. A grande influência da UJS no
movimento estudantil é uma enorme conquista, mas esta ação não deve se limitar
às manifestações, eleições e congressos. A UJS deve renovar os seus objetivos
políticos no sentido de ampliar a participação dos estudantes na base e a
representatividade e o enraizamento das suas entidades. (Rabelo, 2002, p. 120)
Nos
documentos da UJS, fica clara uma intensa preocupação em aumentar tal
influência por meio do plano de ação da entidade, que preconiza a conquista
pelos militantes de CAs, DCEs e UEEs, bem como a organização de núcleos da UJS
nas universidades, objetivando potencializar o trabalho entre os jovens. Para
alcançar tal objetivo, recorre-se, às vezes, à profissionalização de quadros
que ficam disponíveis apenas para o trabalho entre os jovens.
Nas
teses aprovadas no último congresso da UJS, assim fica expressa a preocupação
com o movimento estudantil:
Nos últimos dez anos avançamos muito na
frente estudantil, mas os desafios que se colocam para o pr6ximo período são
ainda maiores. Diante disso, o relançamento da UJS como corrente Estudantil não
deve ser visto como 'peça de propaganda", mas como efetivo esforço de dar
respostas aos desafios ideol6gicos, políticos e organizativos de nossa atuação.
Precisamos reforçar o aspecto ideol6gico de nossa intervenção, travando mais o
debate sobre a importância de difundirmos as idéias e valores socialistas no
trabalho cotidiano, fazendo a ligação entre essas idéias e valores e a vida
estudantil. É preciso elevar a consciência e a participação política dos
estudantes nas lutas de resistência e transformação da sociedade. ( ... )
Temos, portanto ainda muitos desafios pela frente. Precisamos consolidar nossa
liderança e enraizar nossa corrente. Sem uma UJS forte não conseguiremos nosso
objetivo de superar a fase atual do movimento estudantil, elevando o nível de
consciência e de mobilização dos estudantes e ampliando a influência e o prestigio
do movimento estudantil na sociedade brasileira. (UJS, 2000)
Em
outra parte do mesmo documento, evidencia-se a influência exercida sobre a UNE
na época da campanha do Fora Collor:
A UJS deve comemorar os 10 anos do
impechament de Fernando I. Nossa organização precisa ser apresentada aos
estudantes de hoje como a "juventude do Fora Collor!", aquela que
primeiro levantou a bandeira do impeachement, mesmo quando outras' correntes
afirmavam a impossibilidade de vit6ria dessa bandeira. A imensa maioria
das lideranças estudantis naquele período era de
militantes da UJS. Não foi a TV que derrubou o Collor. Foi a luta do povo
brasileiro, e principalmente dos estudantes, que foram as ruas liderados pelas
entidades estudantis, com a UNE e a USES a frente. Os que diziam no início dos
anos 90 que o movimento estudantil estava em crise ou tinha morrido devem ter
ficado impressionado com a vitalidade do defunto. A história é implacável com
os que não confiam na capacidade de luta e de organização de nossa juventude e de
nosso povo. (UJS, 2000)
A
UJS não só possui uma intervenção planejada no interior do movimento
estudantil, como se orgulha de considerar-se mais organizada em comparação às
demais organizações de juventude dos partidos políticos. Consegue aprovar suas
próprias bandeiras e as do movimento, as quais refletem a orientação política e
ideológica do PC do B, partido ao qual pertence, como fica patente nas relações
estabelecidas, o que contraria a afirmação do ex-presidente da UNE Ricardo
Capelli, em sua entrevista para a Revista dos 60 anos da UNE:
O partido? Não há qualquer intervenção! Quero dizer que
defendo a mais ampla liberdade de organização e funcionamento dos partidos
políticos, que, aliás, o governo quer acabar. Esse discurso de que exista
partidarização é de quem não tem projeto para o movimento estudantil. Toda e
qualquer posição da UNE e o seu Presidente defendem, é aprovada, antes, pelas
instancias deliberativas da UNE, das quais qualquer estudante pode participar.
Aliás, tem crescido, sistematicamente, a participação dos estudantes e das
entidadas estudantis. (Barcelos, 2000, p.76)
O
documento do congresso da UJS fala de intervenção precisamos reforçar o aspecto
ideológico de nossa intervenção (UJS, 2000), deixando clara a intenção da
corrente estudantil do PC do B de se fazer presente em todas as lutas
estudantis, organizando os estudantes pela base. Por outro lado, a estruturação
da entidade com núcleos nas instituições de ensino tanto de nível médio como de
nível superior pode possibilitar uma maior participação dos estudantes nas
lutas cotidianas.
A
veracidade do planejamento da intervenção comunista no cotidiano do movimento
estudantil é patente, de acordo com a análise de tais documentos. Entretanto, a
presença dessa influência não significa ser a causa determinante das
vicissitudes atuais do movimento, em razão da presença das mais variadas
tendências no processo diretivo.
Por
outro lado, as disputas internas sob a hegemonia das influências dos partidos
durante os processos congressuais - como mostram os documentos do XLI Congresso
- certamente que desvirtua as discussões contribuindo negativamente para o
processo de mobilização de estudantes para a participação direta.
Os
congressos da UNE, na década de 1990, estiveram pautados pela hegemonia do PC
do B. De acordo com a análises feitas na imprensa nacional, o Fora Collor, bem
como o movimento dos Cara-pintadas, que acabou por derrubar o primeiro
presidente eleito após a ditadura militar, acusado de corrupção e tráfico de
influências, teve uma grande participação da UJS, em sua elaboração.
No
XLIV Congresso, ocorrido em 1995, três anos depois do sucesso da campanha Fora
Collor, as principais bandeiras empunhadas pela entidade eram a luta contra a
avaliação pelo exame nacional de cursos (ENC) que os estudantes denominaram de
provão.
O
congresso ocorreu sob severas críticas de imprensa nacional ao PC do B. O
Correio Brasiliense publicou um editorial no qual acusava o partido de
sectário, de índole totalitária na reportagem afirmava: pois bem: é esse
partido que hoje domina a UNE, e a distancia do universo que deveria
representar (Correio Brasiliense, 18 de jun, 1995).
O
universo a que o jornal se referia se relacionava aos estudantes universitários
que lutavam por mais vagas nas universidades públicas e pela compreensão da
nova realidade do estudante universitário. A direção da UNE enfrentou dividida
essas críticas.
Os
dois candidatos principais, Orlando Silva Júnior, baiano, 24 anos, estudante de
Direito na Universidade Católica de Salvador, e Olavo Monteiro, 21 anos, ligado
ao PT, concordavam que a UNE devia fazer oposição ao governo de Fernando
Henrique Cardoso, mas não escondiam as discordâncias em relação à forma de
fazer tal oposição. Olavo Monteiro criticava a postura da UNE e chamava suas ações
de passeatismos e caravanismos, sustentando que se devia fazer oposição com
propostas. Noticiava um jornal:
O problema é que a atual direção faz oposição pela
oposição, não apresenta propostas", afirmou Monteiro. 's6 faz
'passeatismo" e caravanismo" e não estimula o debate entre os
estudantes", completou o candidato. Segundo Monteiro, 'uma dúzia de
iluminados" da atual direção decide o que é certo e o que é errado e s6
traz para o debate pessoas que concordam com suas idéias. 'Se você vai discutir
o Plano Real, por exemplo, porque s6 trazer para o debate políticos da
oposição?", perguntou Monteiro. (Folha de São Paulo p. 5, 16 de jun. 1995)
O
então presidente da UNE, Fernando Gusmão, ligado ao PC do B, e principal cabo
eleitoral de Orlando Silva Júnior, rebateu as críticas de Monteiro, afirmando
não ser aquele o momento de apresentar alternativas às propostas do governo, e
sim, combatê-las. A contenda estendeu-se durante todo o congresso, e, por
detrás dela, estavam a desmobilização dos estudantes e as suas descrenças em
relação à entidade. Em uma pesquisa feita na mesma época pelo jornal O Estado
de São Paulo para identificar o perfil do estudante universitário, prevaleceu
entre os estudantes a opinião de que o jovem em 1995 era mais alienado que o
das décadas anteriores, apresentou os seguintes resultados:
Dos
entrevistados, 50% discordaram da afirmativa de que o jovem em 1995 estava mais
preocupado consigo mesmo e não ligava para os problemas sociais e políticos do
país; em relação à afirmação de que os jovens não se preocupavam com a situação
das crianças, dos jovens vítimas da exclusão social, e dos velhos, 64,4%; 60%
discordaram da afirmação por não serem ainda maduros e não saberem o que
querem, os jovens não conseguem criar formas adequadas de organização para
resolver seus problemas; para a afirmação: se há falta de perspectivas futuras
para a juventude é por causa dos próprios jovens que ainda não sabem o que
querem do futuro, 69% discordaram; para a afirmação: se a falta de perspectivas
futuras para a juventude é por causa da sociedade que não apresenta ao jovem
condições favoráveis para eles decidirem sobre o que querem do futuro, 19.9%
discordaram (O Estado de São Paulo p. 07,15jun.1995)
Olhando
por ângulo diferente do adotado pelo jornal, pode¬se ler os resultados dessa
pesquisa assim: dentre os jovens estudantes universitários 49,4 % dos
estudantes estão preocupados com os rumos do país, sobretudo no que diz
respeito aos setores político e social. Esse dado não parece absurdo, caso se
considere o nível de mobilização conseguido pela UNE na data da pesquisa, um
momento em que a entidade se esforçava para mostrar que ainda tinha força
política.
Quando
o quesito trata de perspectivas, a maior discordância aparece no seguinte dado:
31,6% dos jovens admitem que a falta de perspectivas para o jovem no ano de
1995 poderia estar ligada ao fato de não saber o que quer do futuro. Chama a
atenção na pesquisa o baixo número daqueles que apontam que a causa da falta de
perspectivas para os jovens está no fato de a sociedade não apresentar
condições favoráveis para que eles possam decidir o que esperar do futuro.
Há
que se registrar que a pesquisa foi realizada de diversas experiências do
socialismo real e das utopias revolucionárias que se encontravam em um processo
de refluxo.
Diversos
partidos comunistas mudaram de nome e de bandeiras, como o caso do Partido
Comunista Brasileiro (PCB) o atual Partido Popular Socialista (PPS), dirigido
pelo senador Roberto Freire. Outros partidos passaram por uma profunda autocrítica
interna, como PC do B, que procurou. compreender o momento histórico e manter a
luta pela construção de uma sociedade socialista.
Uma
vez que grassava como verdade que o neoliberalismo era o caminho único para a
sociedade, explica-se o fato de o jovem não atribuir à sociedade a falta de
expectativas para o futuro. Se o sucesso de cada um depende de como usa seus
talentos individuais, o papel do Estado e da sociedade é enfraquecido, e a
competição individual, fortalecida, e toda a responsabilidade pelo sucesso ou
fracasso recai sobre o indivíduo.
A
mesma pesquisa do jornal aponta que 52% dos jovens atribuem ás pr6prias
convicções a escolha do curso superior e 12% afirmam ter escolhido o curso como
possibilidade de conquistar um bom emprego e um bom salário. Sobre o que lia o
jovem em 1995, 27% preferia ler jornais a revista Semanais; 76,4% consideravam
o setor educacional brasileiro ruim ou péssimo; 85% acreditavam que o acesso ao
ensino superior por meio do exame vestibular favorecia aos estudantes de escolas
particulares; e, 79 % apontavam como solução para o setor educacional a
necessidade de o governo imprimir melhorias no ensino de segundo grau (atual
ensino médio, nos termos da nova Lei 9.394/96), e aumentar as vagas no ensino
superior público (O Estado de São Paulo, p. 07,15 jun. 1995).
Em
busca de bandeiras para mobilizar estudantes universitários com esse perfil,
segundo O Estado de São Pau/o, o congresso elegeu Fernando Henrique Cardoso
como inimigo número um, e só em seguida, apareceram a luta contra as
privatizações e contra o provão. A afirmação de Olavo Monteiro de que 60% dos
estudantes não tinham interesse pelo movimento estudantil foi refutada por
Fernando Gusmão, relembrando a mobilização durante a campanha Fora Collor, em
uma construção discursiva confusa que de fato não explicava a situação real da
falta de mobilização dos estudantes:
Em primeiro lugar acho que não existe apatia. O movimento
estudantil brasileiro sempre esteve a frente das grandes manifestações. Uma
prova recente disso foi o "impeachment" do Collor, os estudantes
participaram ativamente das manifestações. Quanto ao objetivo dos estudantes,
de ganhar seu diploma, arrumar um bom emprego e ganhar dinheiro, não acho que
seja i1egltimo esse anseio. E na medida em que ele se torna inviável as pessoas
se unem. Como está acontecendo neste governo, com a recessão e o desemprego.
Quando o país cresce 12 %, o Malam diz que é um absurdo. Pede para a população
não gastar, não consumir. Consumo gera produção que por sua vez gera emprego e
absorve mais pessoas que estão saindo da Universidade. Hoje existem médicos sem
emprego, mas não há saúde no pais, e na área de licenciatura, há desemprego,
mas não há educação para todos. (Jornal de Brasília p. 4, jun. 1995.)
No
congresso da UNE, que buscava eleger um presidente e anunciar novos rumos para
uma entidade que enfrentava duras críticas, sobretudo a de não conseguir
mobilizar a estudantada, foi vitoriosa a proposta de fazer oposição ao
presidente do país como principal bandeira, colocando em segundo plano a luta
contra a privatização e contra o provão. A construção discursiva dos dirigentes
estudantis continuou distante da visão dos universitários sobre as bandeiras
assumidas pela entidade. A campanha Fora FHC, não teve o sucesso do Fora Collor.
Disputaram
o congresso da UNE, oito teses: UNE para todos, Para derrotar FHC, e Democracia
e mobilização, Não vou me adaptar; (PT), Reviravolta, Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificados (PSTU); Saudações a quem tem coragem (PC do B);
Indignação (PDT); Movimento acadêmico refazendo (PSDB).
Em
um debate marcado por divergências, venceram as teses defendidas pela UJS (PC
do B), e o congresso que elegeu Orlando Silva Júnior para XLIV presidente da
UNE chegou ao fim com ameaças dos de que sairiam as ruas em protesto contra a
política de Fernando Henrique Cardoso.
A
participação tímida dos estudantes tocantinenses no congresso da UNE, com
maioria dos delegados pertencentes ao PSDB, e alinhados com o governador
Siqueira Campos, não colocou em debate o que estava ocorrendo no estado; pelo
contrário, a bancada do PSDB ameaçou deixar o plenário do congresso caso a
privatização
fosse discutida e se propusesse votação pelo seu repúdio.
No
Tocantins, os estudantes viviam diante da construção discursiva do governo, que
pregava uma universidade nova, moderna, transparente de fato pública e
democrática. Analisando o discurso governista com profundidade, percebe-se que
o governo Siqueira Campos se encontrava na vanguarda de um esforço para
estabelecer um sistema de ensino superior em que o Estado não se
responsabilizasse pela elaboração e execução das políticas. Em 1996, foram
feitas as primeiras ofensivas do governador para privatizar a universidade, mas
de forma sutil, não sendo percebido pela estudantada.
Os
anos de 1996 e 1997 foram de protestos frágeis no Tocantins, com destaque para
as manifestações ocorrido em Gurupi, como testemunha Moretz-Sonh (2002)8, que
embora servisse como ponto de partida para outros enfrentamentos nos demais
campi da Unitins, foi reprimido duramente pelo governador, que os tachara de
uma tentativa de desestabilizar o governo por parte de um grupo de bagunceiros.
O
XLV Congresso da UNE, ocorrido em 1997 e realizado em Belo Horizonte foi
embalado por sol e música. Os estudantes chegaram à capital mineira prometendo
acirrar a oposição a Fernando Henrique Cardoso. O Jornal do Brasil, que fez uma
extensa cobertura do evento, afirmou que a única coisa que unia os estudantes
era a oposição ao presidente do país (Jornal do Brasil p.2, jul. 1997).
No
congresso de 1995, o jovem estudante universitário apresenta um perfil ainda
mais modificado. À apatia detectada por alguns, em 1995, acrescentou-se uma
grande desinformação. Um levantamento feito pelo repórter Murilo Fiúza de Melo,
detectou que
uma
grande parte dos estudantes sequer sabia quem era o então presidente da
entidade.
Os
próprios dirigentes admitiram um distanciamento entre a direção da entidade e
as bases. Para contornar o problema, ainda na gestão de Orlando Silva, foi
idealizado a realização dos Círculos de Cultura, com o objetivo de resgatar o
lado cultural do movimento estudantil. As críticas à entidade eram ainda mais
fortes que em 1995 e as acusações, as mesmas: partidarização da entidade,
acusação ao partido com maior número de delegados de politicagem e de o
processo eleitoral não ser democrático. O jornal noticiou:
Marcelo Henrique da Costa, ex-coordenador-geral do DCE da
Universidade Santa Úrsula, faz coro as crfticas. "A UNE de hoje é como
Aristocracia decadente que faz questllo de comer arroz com ovo em um prato de
porcelana fina", fuzila. Para Marcelo, o movimento estudantil de hoje além
de perder a ousadia e a inventividade, abriu um abismo quase intransponlvel
entre a dita base e a direçllo do movimento. "o que preocupa o estudante
de hoje? É o mercado de trabalho. A maioria sabe que vai sair da faculdade e
nllo vai ter onde trabalhar. Mas a UNE permanece impasslvel a essa
situaçllo", critica (Jornal do Brasil, p. 3, jul. 1997)
As
opiniões dos estudantes consubstanciadas na citação do jornal, além de
comprovarem as afirmações de Foracchi (1972) sobre a influência do projeto de
carreira, mostram uma absolutização diante de outras preocupações estudantis. O
estudante, premido pela competição no mercado de trabalho, vive o tempo de sua
formação pressionado a realizar uma preparação que toma conta de todos os
momentos do tempo de juventude. Os espaços do lazer, da fruição e do ócio,
próprios da formação humana, tal como se fazia na Paidéia grega (Jaeger, 2001)
perde-se perante um mercado que exige uma qualificação cada vez mais técnica.
Neste
sentido e, sobretudo no caso do Tocantins, as afirmações de Foracchi
(1972,1977) e Touraine (1989,2000) têm muita propriedade na atualidade, dentre
outros fatores, pelo refluxo da força utópica representada pela ideologia do
socialismo, com a frustração das experiências de governos do leste europeu.
Nos
anos 90, a intensificação das exigências do mercado sobre os indivíduos era
quase um discurso comum entre os intelectuais. Os intelectuais de direita o
viam com o caminho único, e os intelectuais de esquerda, ainda vivendo o
refluxo do pensamento marxista, pela queda das experiências do socialismo real
na União Soviética, se limitavam a fazer critica negativa do capitalismo e ao
mercado como regulador da ordem social. Mas as resistências não surgiriam?
Não
ainda no ano de 1997. O Partido Comunista do Brasil (hegemônico no movimento
estudantil), durante os anos de 1994, 1995, 1996 e 1997, esteve demasiadamente
presente na luta por manter a alternativa socialista em seu programa. Os
intelectuais que não fraquejaram com a queda do socialismo real se envolveram
em tentativas de compreender o colapso do mundo socialista, e os discursos
limitavam-se a tentar compreender os fundamentos da nova ofensiva liberal.
A
pressão da nova ofensiva liberal foi avassaladora e não atingiu apenas o ME,
pois diversos outros movimentos sociais foram vitimas do processo de
desmobilização, no Brasil e no mundo. Na Inglaterra, depois de onze anos de
ofensiva neoliberal da Dama de Ferro, Margareth Tatcher, os trabalhadores
assistiram estupefatos o Partido Trabalhista de Tony Blair destruir o que havia
restado de direitos trabalhistas da gestão anterior (Antunes, 1999). Uma
exceção ficava por conta da França, como noticiou o Jornal do Brasil a
propósito das eleições ocorridas em maio de 1997, nas quais o candidato de
esquerda, Lionel Jospim, se sagrou vitorioso:
A União Nacional dos Estudantes Franceses teve atuação
importante nas greves e manifestações de rua contra as políticas neoliberais do
governo conservador de Alaim Jupé, na luta contra o racismo e na vitória da
esquerda nas eleições do final de maio e inicio de junho passados. (Jornal do
Brasil, p. 7. jul. 1997)
Mesmo
na França, onde os estudantes tiveram uma atuação destacada, a motivação maior
era o medo do desemprego, e ser de esquerda representava para os estudantes
franceses estar do lado oposto das políticas neoliberais, conservadoras e
racistas, como assinala a reportagem:
A assembléia geral estudantil concluiu que, se a direita
ganhar, não haverá mesmo qualquer democratização da Universidade. Devemos
afirmar que somos resolutamente de esquerda. Devemos nos colocar totalmente
contra a direita e a extrema direita".(Jornal do Brasil, p.07, jul. 1997)
Na
Inglaterra, a mesma reportagem registra uma intensa apatia do estudantado
inglês:
Hoje na LSE, London School of Economics, ( .... ) a
rebeldia não passa de fotos na parede lembrando o passado militante e a
resistência contra cassetetes e as bombas de gás lacrimogêno. (Jornal do
Brasil, p. 7. jul. 1997)
Com
tal apatia espalhada pelo mundo afora, dirigentes estudantis brasileiros também
enfrentaram dificuldades para chegar até a massa dos estudantes. A ofensiva
neoliberal, que varreu o mundo, atingiu de forma inexorável o movimento
estudantil brasileiro, tanto para impor a idéia de que o importante era se
preparar para o mercado de trabalho, como a disseminação de que o estudante não
podia se constituir em um sujeito coletivo. É o que revela a opinião do
ex-presidente do DCE:
A UNE, nilo compreende que o estudante não é um sujeito
coletivo. Em alguns momentos da hist6ria ele reage contra algumas questões, mas
é s6. (Jornal do Brasil p.3. jul. 1997)
Os
anos de 1997 e 1998 foram de pressão sobre as lideranças estudantis e da
necessidade de chegar aos estudantes,
universidades
com as constantes ameaças de privatização, além da pressão para aderir ao
pensamento neoliberal como forma de ação política, deixando de ver o estudante
como sujeito coletivo, e a universidade assumindo o caráter de prestação de
serviços. No congresso de 1997, também se constatava a mudança dos estudantes.
Na verdade, em meados da década de 1990, o mundo havia mudado, a classe média e
o perfil do estudante também. Camisetas que traziam pôster de Che Guevara e
palavras de ordem já não eram mais mecanismos usados para conquistar a adesão
dos demais estudantes. Orlando da Silva Júnior, entrevistado pelo Jornal do
Brasil, declara:
O perfil estudantil hoje é muito diversificado e a UNE
precisa agregar tudo isso, oferecendo espaço para o debate dos diferentes temas
propostos. (Jornal do Brasil, p.8, jul. de 1997)
A
análises das matérias e entrevistas publicadas em jornais da época permitem
perceber um determinado amadurecimento dos estudantes e dirigentes envolvidos
no congresso da UNE sobre os rumos da entidade. A clareza de que era necessário
lutar contra o neoliberalismo era mais forte ao final do congresso; no entanto,
tal luta aparece personalizado no slogan Fora FHC, como assinala Silva Júnior:
No Brasil o Neoliberalismo começou com
Collor, foi derrotado. O Itamar ficou por ali, não implementou. Já o Fernando
Henrique retomou com força o projeto neoliberal. Minha opinião pessoal é de que
este congresso da UNE deve aglutinar todos os setores que querem enfrentar os
opressores do povo, apontar um projeto novo para o pais, uma nova visão. Com
base nestas diretrizes, queremos desenvolver um projeto democrático popular que
seja capaz de montar uma aliança ampla. (Jornal do Brasil p.8 jul. 1997)
O
XLV Congresso da UNE, terminou como começou. As lideranças defendiam-se das
críticas sobre a partidarização da entidade Segundo dados publicados na
imprensa a época, os DCEs
compreender os efeitos da ofensiva neoliberal
sobre os destinos das estavam se transformando em pequenas UNEs, e esvaziando
as UEEs, e a própria representatividade da UNE. Então apresentava-se a questão:
qual era a realidade dos estudantes do Tocantins nos anos de 1996 e 19977
Os
anos de 1996 e 1997 foram um tempo de realização de um grande esforço pela
estruturação do DCE da Unitins. Nas eleições, foi escolhido o estudante Élsio
Paranaguá que presidiu a entidade até a época do SOS-Unitins em 2000. Em um
estado em que o discurso neoliberal do governo Siqueira Campos mesclava-se com
a realidade do estado, a reação dos estudantes veio carregada também de nuances
específicas do próprio Tocantins.
A
preocupação com o mercado de trabalho e a forte pressão de cooptação levaram o
jovem tocantinense a preocupa-se mais com o futuro profissional e com o mercado
de trabalho do que com questões ligadas mesmo ao destino imediato da
universidade. Os estudantes levantaram-se com força e enfrentaram o governo com
medidas judiciais, no momento em que já eram sendo executadas as políticas
neoliberais, e em que se iniciava a cobrança de taxas e mensalidades na
universidade.
Em
1998, a UNE, debatia-se com os primeiros resultados do provão e assistia o
exame nacional de cursos tornar-se parte da rotina das universidades. Nesse
período, o ME do Tocantins lutava contra a cobrança de mensalidades na única
universidade pública do estado, que culminou no SOS-Unitins, que trataremos no
tópico adiante.
Apesar
das fortes pressões para enfraquecer a entidade, as análises dos documentos do
XLVI e XLVII congresso::; da UNE permitem afirmar que, indiferente ao que
pregavam muitas lideranças estudantis, em 1997, em seus jornais, a UNE,
permaneceu como entidade representativa dos estudantes, constituidora e
constituinte do sujeito coletivo da estudantada brasileira.
A
razão do esforço por mostrar o peso da intervenção da UJS nos rumos e na
política do ME nacional advém da fragilidade do
Partido
Comunista do Brasil no Tocantins e a quase inexistência da UJS. Essa
peculiaridade contribuiu para o distanciamento do ME tocantinense das lutas
nacionais e o surgimento de inúmeras concepções de ME, dando origem às diversas
comissões de negociação com o governo, durante o acirramento do movimento
SOS-Unitins.
A
fragilidade da UJS no Tocantins não pode ser vista, no entanto, tendo como
causa as peculiaridades do estado. Muitas razões podem ser encontradas na
própria história da entidade e o partido que a orienta, sobretudo nas
divergências internas, fruto da fusão da AP com o PC do B.
Estudando
o movimento estudantil do Ceará, Ramalho (2002) faz uma importante
diferenciação entre as formas de ação política de AP e do PC do B. Segundo ele,
existem evidências documentais de que os apistas se fechavam mais com os
trotskistas e possuíam uma característica stalinista de ação política.
Entretanto ressalta:
O PC
do B no Ceará, que era diferente, não se tornou hegem6nico no Brasil. A visão
do PC do B que se tornou hegemônica a nível nacional foi a visão sectária e
estreita do pessoal da Bahia e do Rio. Com a hegemonia dessa visão, o PC do B
se aproximou da AP, encampou a AP. Nesse processo foi a AP que encampou o PC do
B. O PC do B, hoje é a Ap9 (Ramalho, 2002, p.184)
Como
o resultado desse processo de fusão se refletiu em Goiás? Quais foram as
conseqüências para o movimento de massas? E para o movimento estudantil goiano?
Como se refletiu no processo de organização do ME do Tocantins?
Em
Goiás, a maior influência no PC do B, desde sua reorganização tem sido o
ex-deputado Federal Aldo Arantes, que também foi umas das maiores expressões ao
lado do ex-deputado baiano Haroldo Lima da Ação popular; ambos foram
responsáveis por
articular
a fusão AP/PC do B. A outra grande expressão da reorganização do PC do B goiano
é Euler Ivo, vereador de Goiânia e Presidente do PC do B, de sua reorganização
até sua saída do partido, em 1991.
Em
consulta aos documentos das conferências do partido, consta que a saída do
então vereador Euler Ivo do Partido deu-se em razão de conflitos de concepção
de partido. De um lado, estavam o grupo de Euler Ivo, considerado autoritário e
stalinista, do outro, um grupo mais liberal entre os quais estavam a
ex-deputada estadual Denise Carvalho, Adalberto Monteiro e Aldo Arantes.
No
Tocantins, a luta interna partidária refletiu-se sobre os quadros partidários,
que para lá se dirigiram no intuito de militar no movimento social
tocantinense, a exemplo de Marizon da Silva Rocha, na época militante do PC do
B organizador da UEE no Tocantins. Descontente com as orientações partidárias,
ele deixou o Tocantins no mesmo ano em que saiu do PC do B, deixando um vazio
de direção na UEE, ainda não preenchido até os dias atuais. Outros quadros, por
falta de assistência da direção do partido em Goiás ou abandonaram o partido,
ou regressaram a Goiás, fugindo das condições adversas da política tocantinense
e premidos pela forte tentativa de cooptação pelos governantes ou vitimas de
perseguição política.
A
análise dos próprios dirigentes permitem afirma que a luta interna fez minar
energias fazendo com que o partido se distanciasse das massas (UNE, 1997/1999),
podendo essa constituir uma explicação para os fatores que impediram o ME
goiano de levar ao Tocantins uma proposta de ME que conseguisse mobilizar os
estudantes tocantinenses, uma vez que este não houve apoio do partido e de seus
militantes, os quais estavam envolvidos na luta interna partidária.
Outro
fator que indica a confirmação dessa hipótese é o fato
de
que dos três presidentes do DCE da Unitins, principal locus de organização do ME tocantinense, um foi Marizon, ex-PC do
B, e
outro,
Élson Paranaguá, membro do partido. Durante o SOS-Unitins, o DCE era presidido
por Paranaguá, que com outras lideranças, conduziu o processo de negociação
para o fim da greve estudantil.
Dede
a década de 1980, o ME do Tocantins revela a fragilidade de acompanhamento
político daquele que era o partido que mantinha a hegemonia no movimento
estudantil, tanto quanto da UNE.
Em
virtude da incapacidade do PC do B e do PT de se organizarem no estado e no
meio estudantil, os estudantes conservadores e de direita, ou ficaram sob a
influência dos partidos sem definição político-partidária.
Nas
entrevistas realizadas, foi perguntado a vários alunos o que achavam da atuação
política dos estudantes. As maiorias dos entrevistados repudiavam a política
como forma de ação, mesmo aqueles que participavam dos protestos em defesa da
universidade. Auriely aluna do curso de Comunicação Social com habilitação em
Jornalismo, um dos cursos que mobilizou o maior números de alunos durante o
SOS-Unitins, assim declarou: eu não acho que deve misturar movimento estudantil
com política, mas quase sempre a gente vê que os estudantes que lideram as
greves estilo ligados a algum partido político. E aqueles que não estão acabam
ficando perdidos pois não sabe o que fazer diante da pressão dos dois lados.
(Entrevista com a estudante Auriely)
A
estudante em questão, para justificar sua posição, citou o que ela mesma chamou
de episódio Ricardo Ayres10 .Em 1997, o professor José Manoel
Miranda de Oliveira falando aos alunos de Arraias sobre o processo de
reestruturação da Unitins, transmite a mesma impressão ao afirmar:
No
Tocantins não tem estudantes progressistas. Alguns que parecem militantes de
esquerda, na verdade com um pouco mais de atenção você vai perceber que é da
direitona.
Outros não sabem o
que querem, são militontos. (Produtos
& Produções, ano I, n. 2, p. 2out.1997)
Por
que os estudantes têm dificuldade de compreender o processo? As dificuldades de
acesso à informação são um obstáculo para uma maior compreensão dos fatos pelos
estudantes. O estado possui apenas um jornal diário desde 1997, o Jornal do
Tocantins, e alguns jornais regionais, sem circulação diária. Na maioria das
vezes, a imprensa tocantinense, em seus noticiários, favorece a difusão das
idéias do governo. Além disso, o governo mantém uma forte rede de propaganda e
marketing das atividades governamentais e do estado, tanto interna quanto
externamente, em um misto de oligarquia agrária e príncipe eletrônico que se
pode chamar de coronelismo eletrônico.
Ao
sabor de várias oscilações, o ME do Tocantins entrou para o século XXI,
convivendo com histórias de negociatas explícitas, como a acima referida. O
grande sonho dos estudantes também permanece, a reboque de idas e vindas do
governo.
A
federalização da universidade, utilizada como argumento desmobilizador do
SOS-Unitins permanece em lento compasso, embora no atual momento, já tenha
realizado concurso público para o preenchimento de vagas para professores da
Universidade Federal do Tocantins.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PELA NECESSIDADE
DA CONCLUSÃO
Narrei ao senhor. No que narrei, o senhor até ache mais
verdade do que eu, a minha verdade. Fim que foi. (...) O senhor não repare.
Demore, que eu conto. A vida da gente nunca tem termo real (...) O diabo não
há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia.
Guimarães
Rosa
A
tentativa de organização do ME no Tocantins apresenta um caminho cheio de
pedras para os estudantes universitários. A influência externa sobre a
juventude, sobretudo do Estado, da Igreja e dos partidos políticos são fatores
contribuem para a conformação do ME, tal qual ele se encontra na atualidade.
Na
história do ME do Tocantins, a Igreja, (no caso, a Igreja Católica) pouca
influência teve, o que, de certa forma, o diferencia do ME do restante do país,
em razão da forte presença da JUC e da JEC, e, mais recentemente, das
orientações de setores atuais da Igreja que trabalham com a juventude. A
construção da Cenog, porém, teve participação ativa de setores da Igreja
Católica, tendo dentre seus organizadores e grande incentivador, o Padre Rui
Rodrigues.
Além
disso, a Igreja, pela sua atuação como provedora de colégios de ensino médio no
Norte (os conhecidos colégios das irmãs), cumpriu um papel importante,
preenchendo o vazio deixado pelo Estado no então Norte goiano.
Na
discussão envolvendo o laico e o religioso, ainda é preciso registrar o papel
da Igreja Batista, que também ajudou a impulsionar o setor educacional no Norte
goiano, contribuindo para a construção do movimento cenoguiano e para a
conscientização da juventude nortense.
No
Norte não ocorreu a discussão sobre o conflito que permeou o discurso
educacional nos anos 50 e 60, que tinha como centro as disputas entre o laico e
o confessional, em razão de grande ausência na região. No Norte, as disputas
deram-se muitas vezes entre a Igreja Católica e a Igreja Batista, e algumas
cidades ainda guardam vestígios de sepulcros de educadores e pastores batistas
enterrados fora dos cemitérios públicos, por serem considerados pagãos. Esse
exemplo apresenta uma clara associação, embora não-oficial, entre o estado e a
Igreja Católica.
A
questão do poder público e suas influências sobre o ME do Tocantins podem ser
compreendidas em dois momentos: um primeiro, antes da criação do estado do
Tocantins, pois a ausência da ação do Estado serviu como motor organizativo da
juventude estudantil do Norte; um segundo momento, refere-se ao movimento
estudantil após a criação do estado do Tocantins, quando o poder público passou
a se utilizar do autoritarismo e de mecanismos como perseguição e cooptação
para desmobilizar os estudantes.
Pode-se
observar um fato interessante: no primeiro momento, período da constituição e
existência da Cenog, embora houvesse divergências em seu interior, a condição
de ser estudantes do Norte que não tinha acesso ao ensino superior era um fator
de unidade do ME, fazendo que a bandeira de criação do futuro estado do
Tocantins fosse um fator aglutinador, tornando difusas as diferenças de visão
de mundo e de ideologias.
Assim,
aos estudantes que se alinhavam com uma visão conservadora em relação às
questões nacionais, bastava manter a entidade em uma posição apolítica, e
desenvolver a luta pela criação do estado do Tocantins e cumprir o papel
assistencialista. Os poucos estudantes que se alinhavam com uma perspectiva de
política transformadora e mais utópica, procuravam realizar uma política de
enfrentamento com o discurso oficial, tecendo críticas aos governos do regime
militar. No entanto, ambos os grupos conviviam no interior da universidade, sem
grandes divergências.
A
extinção da Cenog, em 1979, representou o fim de um ciclo do movimento
estudantil no Norte goiano, e início de uma nova fase. Segundo as entrevistas
realizadas com o ex-cenoguiano, Athos Pereira, e estudantes da atualidade, não
houve continuidade do movimento, e foi explicado por eles que se tratava de
dois momentos históricos que exigiam bandeiras diferenciadas.
Na
década de 1980, o movimento estudantil no Norte passam por um refluxo. A
principal bandeira dos cenoguianos (a criação do Tocantins) se tornou realidade
em 1988, com muitos dos ex-Cenoguianos em postos importantes na construção do
novo estado.
Embora
frágil, na década de 1980, Araguaína, Porto Nacional e Gurupi foram os lugares
em que se fixaram as raízes do movimento. Estas cidades foram o locus de maior resistência dos
estudantes na década de 1990.
No
caso do Tocantins, pode-se dizer que a influência do Estado foi nociva à
organização do ME. As pressões, cooptações, perseguições e atos de violência
registrados neste trabalho mostram como o Estado agiu em relação aos movimentos
sociais e, especificamente, ao movimento estudantil.
A
forma truculenta com que o governador Siqueira Campos e o Poder público
trataram os estudantes teve origem, de uma parte nas próprias raízes do estado
do Tocantins, um espaço em que no passado era considerado a lei do mais forte
pela ausência do poder público como árbitro dos conflitos sociais (Giraldim,
2002).
A esse fato, deve-se
acrescentar a inserção do estado na conjuntura nacional e global, o que foi
pouco discutido neste trabalho por que se privilegiaram fatos que o discurso
dos estudantes
conseguiu
alcançar. A inserção do estado nos rumos do país do mundo era muito forte nos
discursos oficiais do governo, que imaginava uma universidade que também
servisse de modelo para o país, e a política do neoliberalismo ajustava-se ao
discurso oficial como perspectiva única de avanço e de modernização do Estado.
Neste
sentido, a modernização era entendida como o meio de colocar o estado no ciclo
de produção e de acordo com os padrões exigidos pelo mercado. Ocorre que o
estado do Tocantins, possuindo em seu interior formas arcaicas e
não-capitalistas de organização da produção, como as grandes propriedades
improdutivas, tornava necessário, de um lado, que o poder estatal fosse o grande
impulsionador do desenvolvimento do mercado, desde as áreas de produção de
capital à qualificação de recursos humanos, e, de outro, um forte e
centralizador comando político, como forma de manter o metabolismo social do
capital.
Assim,
parece que o Tocantins ajusta-se à concepção discutida por Meszáros (2002)
sobre o Estado no atual estágio do capitalismo:
A formação do Estado
moderno é uma exigência absoluta para a assegurar e proteger permanentemente a
produtividade do sistema. O capital chegou a dominância no reino da produção
material paralelamente ao desenvolvimento de práticas políticas totalizadoras
que dão forma ao estado moderno. (Meszáros, 2002. p. 106)
Na
essência, isso explica a característica liberalizante e totalizadora do papel
do estado tocantinense: em um primeiro momento, uma grande preocupação em
construir infra-estrutura e investir na qualificação de recursos humanos, e, em
um segundo momento, uma pressa em passar todo o aparato estatal para as mãos do
mercado.
Neste
caso, agravante foi a existência de bolsões de pobreza e o afluxo de jovens de
outros estados em busca de oportunidades no Tocantins, que produziu um grande
número de alunos que não conseguiram arcar com os custos da mensalidade na
universidade.
O
comando totalizador da política sobre os processos de reprodução da vida
material era potencializado pela pouca existência de nichos empregatícios
disponíveis para aqueles que dependiam da venda da força de trabalho para o
sustento. Em Tocantins, o principal nicho empregatício é o setor público, por
isso não se torna difícil a manipulação dessa variável para a manutenção do
controle político por meio de ameaças de perda do emprego sobre as pessoas que
possam se colocar contra a política oficial. A história demonstra ter funcionado
como fator de desmobilização do ME no Tocantins, o que explica a opinião de
Athos Pereira, quando perguntado sobre a razão da fragilidade dos partidos do
campo democrático e popular no Tocantins:
O Estado do Tocantins é muito atrasado. O domínio de Siqueira
Campos sobre a sociedade do Tocantins é muito extenso. O acúmulo de forças
democráticas no Tocantins é ainda muito modesto. (Entrevista com Athos Pereira)
Uma
vez que o estudante no Tocantins, sobretudo na década de 1990, reivindicava um
estado democrático, a sua influência sobre o ME era negativa, ou seja, o poder
público estatal passava a agir para desmobilizar o ME, porque esse aparecia
como opositor das políticas que o estado pretendia implementar.
A
face totalizadora do governo tocantinense é vista pelos mecanismos utilizados
para desmobilizar os estudantes, o que ocorre desde a perseguição política por
ameaças, violência física e métodos de cooptação, como a criação da
representação estudantil em congregações de cursos e no Conselho Universitário,
que se elegiam em processos dirigidos pela direção da universidade.
A
situação do Estado é a de um vassalo do capitalismo selvagem. Ao discutir
questões que dizem respeito à relação do estado do Tocantins com os mercados
nacional e internacional, Pacceli (2003) mostra uma situação em que a opressão
política está a serviço de uma ordem na qual a selvageria do capitalismo, com
sua expressão mais cruel e excludente, aparece de formas mais variadas, desde
as construções bem elaboradas do discurso de um caminho único do neoliberalismo
até a ação policial contra os estudantes e outros movimentos sociais, o que
aparece nesta análise pelos enfrentamentos dos estudantes com o poder político
no Tocantins, o qual produziu violência física e até mesmo prisões de lideranças
estudantis.
Outra
forma de agir do Estado em relação aos movimentos sociais consiste em vencê-los
pelo cansaço, ou tratar a coisa pública com um certo descaso. Falando da forma
que a universidade tratava o desenvolvimento dos cursos de licenciatura plena
em regime especial, Oliveira (2002) assim qualificou a forma de agir do estado:
no andar da carroça que as abóboras se
ajeitam. No ME, também não era diferente, como se percebe na entrevista do
governador em jornais e analisadas neste trabalho.
O
estudante e suas ações políticas eram tratados com descaso. O governador, de
fato, só deu importância à greve dos estudantes, isto é, a ação do SOS-Unitins,
quando os estudantes paralisaram a maioria dos campi. Percebendo a gravidade da situação e vendo que os estudantes
estavam chamando a atenção da mídia nacional, o governo agiu de várias formas -
de um lado, tentou deslegitimar a representação dos estudantes incorporada no
DCE, e de outro, incentivou os alunos que concordavam com a posição do governo
na verdade pessoas com vínculos empregatícios ou dependentes de pessoas ligadas
ao governo, como mostra o caso Ricardo Aires, a constituírem comissões para
negociar com o governo, dividindo, assim, o ME da universidade. E ainda, o
aparato estatal e até mesmo o aparato policial eram utilizados para ameaçar e
amedrontar os estudantes.
Os
partidos políticos não conseguiram influenciar e nem estabelecer uma hegemonia
sobre o ME. Os partidos de esquerda, talvez pela fragilidade com que se mantêm
organizados no estado, e
os
de direita, por serem vistos pelos estudantes como uma extensão da pessoa do
governador, e o como partido político propriamente dito. Esse trabalho não
analisa com profundidade o fenômeno do personalismo nos partidos políticos do
Tocantins, mas no caso da ausência de influência dos partidos sobre o ME, ou
desse se constituir em locus de
quadros para a esquerda, diz respeito à baixa politização dos estudantes, o que
se evidencia nas entrevistas com estudantes, que separam participação política
da vida estudantil. Assim há uma compreensão silenciosa de que basta não
protestar, não militar, para não ser
vítima da posição totalizadora do estado.
Nessas
condições, os estudantes pouco se envolveram nas lutas nacionais, mesmo vivendo
o momento em que a Unitins foi privatizada,
quando o Ministro da Educação colocava a possibilidade de estabelecer a
cobrança de mensalidades nas instituições de ensino superior. Nem nesse momento
houve uma sintonia do ME tocantinense com o ME nacional .
Os
esforços da UNE, que chegou a realizar um seminário sobre políticas públicas
para o ensino superior, pouco modificaram a situação. Os problemas locais
impediam uma discussão profunda sobre as reais causas que moviam a execução das
políticas no Tocantins. Uma pequena minoria chegou a compreendê-las..
Esta
parece que foi uma grande pedra no caminho dos estudantes tocantinenses, na
tentativa de organizar o ME. Ao não perceberem o contexto no qual estavam
situados, perderam uma oportunidade de compreender como os processos de globalização
interferem nos setores periféricos de um país como o Brasil. O enfrentamento da
situação no Tocantins não poderia SE: desconectar do processo de globalização
excludente que se instala no mundo, é o que Bourdieu chama de construção de um
movimento social que ultrapasse os limites do Estado-Nação (Bourdieu, 2001).
Não
pode passar despercebido o aparecimento de conflitos no interior do ME
tocantinense na década de 1990. Na verdade, trata-se de uma extensão do
conflito de uma forma liberal de ver o Estado, agravado pela especificidade do
Tocantins e as orientações provindas de partidos do campo popular democrático,
que pretendiam apresentar uma política alternativa, em lugar da política
neoliberal adotada no país.
Mesmo
utilizando uma construção discursiva frágil, os estudantes tocantinenses
reagiram à imposição de uma política que excluía uma parcela dos estudantes
tocantinenses do acesso ao ensino superior. Talvez a reação tenha sido motivada
sobretudo pela existência do projeto de carreira - já que este é uma das
grandes preocupações da condição de estudante - em um momento em que tais
preocupações se tornavam intensas pela realidade própria da década de 1990,
pois a discussão sobre o mundo do trabalho viveu um refluxo no início da década
e só voltou a tomar impulso mais para o seu final. A questão da central idade
do trabalho (Antunes, 2000) e a dificuldade de construção de um discurso
competente para fazer face ao caminho único apontado, certamente influenciaram,
mesmo que indiretamente, a situação de empecilho para uma maior politização dos
estudantes.
Enfim,
muito ainda pode ser estudado sobre o ME tocantinense na década de 1990. As
análises presentes neste trabalho constituem o que foi possível discutir.
Parafraseando o mestre Guimarães Rosa: nem os estudantes eram anjos ingênuos,
nem seus opositores, o diabo. É uma história de humanos, em busca da travessia
da vida, cada um defendendo interesses específicos. A história da vida não
parece mesmo ter termo real. Mas isso é o que se sabe, e que se pensa que
muitos não sabem. A verdade seja dita, muita coisa é bem diferente daquilo que
eu desconfiava ser.
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DOCUMENTOS ORAIS
Relação dos entrevistados
ADELlNO
SOARES DOS SANTOS. Professor universitário da UEG. Presidente do Centro
Acadêmico de Pedagogia no Campos
Universitário de Arraias em 1996/1997. Entrevista realizada em 13 de julho de
2002, em Campos Belos de Goiás.
ATHOS
PEREIRA. Ex-militante da Cenog, e atual chefe de gabinete da liderança do
Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados. Entrevista realizada no dia
14 de maio de 2003, em Brasília.
AURYEL
Y, PAINKOW. Aluna do curso de Comunicação Social, habilitação em jornalismo.
Militante do SOS-Unitins. Entrevista realizada em julho de 2002, em Palmas-To.
ITAMAR
ANTÓNIO DE OLVERIA JUNIOR. Aluno de Engenharia Ambiental de Palmas-To, quinto
período. Foi militante do SOS¬Unitins. Entrevista realizada em julho de 2002,
Palmas-To.
JOÃO
BOSCO CARDOSO JUNIOR. Estudante de Engenharia Ambiental de Palmas-To, oitavo
período. Foi militante do ME do Tocantins. Entrevista realizada em agosto de
2002.
KLEBER
DE ALBURQUERQUE BRASIL. Militante do ME do Tocantins no Campos de Porto Nacional de 1997/2002. Entrevista realizada em
julho de 2002.
LAIL
TON ALVES DA COSTA. Aluno de comunicação social da Unitins. Militante do ME na
época do SOS-UNITINS e um dos alunos que realizou a greve de fome. Entrevista realizada
em agosto de 2002.
MARGARETH
PEREIRA ARBUÉS. Historiadora e Advogada, professora na Faculdade Anhanguera ..
Foi professora na Faculdade de Gurupi de 1985 até 1990. Entrevista realizada no
dia 18 de maio de 2003.
MARCOS
ANTÔNIO FRANC DOCUMENTOS ORAIS
Relação dos entrevistados
ADELlNO
SOARES DOS SANTOS. Professor universitário da UEG. Presidente do Centro
Acadêmico de Pedagogia no Campos
Universitário de Arraias em 1996/1997. Entrevista realizada em 13 de julho de
2002, em Campos Belos de Goiás.
ATHOS
PEREIRA. Ex-militante da Cenog, e atual chefe de gabinete da liderança do
Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados. Entrevista realizada no dia
14 de maio de 2003, em Brasília.
AURYEL
Y, PAINKOW. Aluna do curso de Comunicação Social, habilitação em jornalismo.
Militante do SOS-Unitins. Entrevista realizada em julho de 2002, em Palmas-To.
ITAMAR
ANTÓNIO DE OLVERIA JUNIOR. Aluno de Engenharia Ambiental de Palmas-To, quinto
período. Foi militante do SOS¬Unitins. Entrevista realizada em julho de 2002,
Palmas-To.
JOÃO
BOSCO CARDOSO JUNIOR. Estudante de Engenharia Ambiental de Palmas-To, oitavo
período. Foi militante do ME do Tocantins. Entrevista realizada em agosto de
2002.
KLEBER
DE ALBURQUERQUE BRASIL. Militante do ME do Tocantins no Campos de Porto Nacional de 1997/2002. Entrevista realizada em
julho de 2002.
LAIL
TON ALVES DA COSTA. Aluno de comunicação social da Unitins. Militante do ME na
época do SOS-UNITINS e um dos alunos que realizou a greve de fome. Entrevista
realizada em agosto de 2002.
MARGARETH
PEREIRA ARBUÉS. Historiadora e Advogada, professora na Faculdade Anhanguera ..
Foi professora na Faculdade de Gurupi de 1985 até 1990. Entrevista realizada no
dia 18 de maio de 2003.
ISCO
ARAÚJO. Médio empresário, atual Presidente do Comitê Estadual de Goiás.
Ex-vice-presidente da UEE Goiás. Entrevista realizada no dia 11 de maio de
2003, em Goiânia-Go.
ORION
MILHOMEM RIBEIRO. Presidente atual do DCE da Unitins, e aluno do curso de
direito do Campus de Palmas.
Entrevista realizada em agosto de 2002.
SÉRGIO
AUGUSTO LORENTINO. Aluno do curso de Direito em Palmas e membro da Federação
Tocantinense dos Estudantes de Direito. Entrevista realizada em agosto de 2002.
SUELAYNE
LIMA DA PAZ. Professora da rede estadual do Tocantins. Militante do ME de
1996/2002. Entrevista realizada em agosto de 2002.
ANEXOS
ROTEIRO
DO QUESTIONÁRIO PARA ENTREVISTAS COM OS
PROFESSORES DA UNIVERSIDADE DO TOCANTINS
1. Nome
2. Naturalidade
3. Você
permite que esta entrevista seja utilizada em uma pesquisa de história sobre o
movimento estudantil do Tocantins?
4. Como
era o movimento estudantil no Norte goiano na década de 1980, e como os
estudantes atuavam?
5. Os
estudantes se organizavam em torno de centro acadêmicos ou outra entidade
estudantil?
a) Como?
b)
Quando?
6. Quem
foram as principais lideranças estudantis?
ROTEIRO DO QUESTIONÁRIO PARA ENTREVISTAS
COM OS
ESTUDANTES DO TOCANTINS
1. Nome
2. Naturalidade
3.
Você permite que esta entrevista seja utilizada em uma pesquisa de história sobre o
movimento estudantil do Tocantins?
4. Em
qual curso estuda (ou estudou) na Universidade do Tocantins?
5. Quando
entrou para a faculdade e porque escolheu esse curso?
6. Quando
começou a participar do movimento estudantil?
7. Quais
as principais bandeiras e conquista do ME em sua época?
8. Como
era a articulação do ME do Tocantins com o ME nacional?
9. Como
era a relação do ME com os partidos políticos?
10.
Como você caracteriza o ME do Tocantins? Qual
era a relação do ME do Tocantins com as oligarquias locais?
11.
Quem foram os principais líderes estudantis
de sua época?
12.
Quais as principais bandeiras do ME?
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