Monstrengo – Ativar !!! O segredo do sucesso na Universidade.



Não. Não reviso nenhum dos meus textos. Escrever com alguns erros e equívocos tornou-se uma forma de gritar ao mundo que não concordo com o monstro que a Universidade Brasileira está se tornando. Poucos lêem os clássicos, poucos ainda mais conseguem compreendê-los,  e ainda muito poucos, bem poucos sabem pensar com eles, e menos ainda sabem escrever sobre o que eles escreveram. Eu confesso minha ignorância. Apesar de considerar que já li bastante sobre as diversas ciências, e estudado com afinco. algumas correntes e metanarrativas, sou obtuso quando o assunto é pensamento puro. Por isso não reviso nenhum dos meus textos. Quero que todos saibam que sou obtuso. Logo eu que tantos já afirmaram ser tão inteligente, tão capaz, tão promissor.
Cheguei à Universidade no ano de 1995, e naquele ano vivíamos ansiosos pela aprovação da nova LDB, que hoje, já não está tão nova, de tanto modificada e desobedecida. Vivemos também a ansiedade da aplicação do provão, que depois se transformou no atual ENADE ( Exame Nacional de Cursos). Naquela época as coisas já não estavam tão boas. É bem verdade que estudei em uma Universidade periférica ( Universidade do Tocantins), e que depois se transformou em Universidade Federal do Tocantins, mas quando fui professor substituto em uma Universidade Federal no ano de 2006, não vi coisa bem diferente. Vi alunos que tinha preguiça de ler, e pouco, muito pouco de trabalho sério em busca do conhecimento.
Trabalhando na Fundação de Ensino Superior de Goiatuba, a situação era ainda bem menos animadora. Ali, encontrei muitos alunos sedentos de conhecimentos, mas com pouco preparo para estar no ensino superior. E, o pior, dirigente disposto a fazer da Instituição mecanismos de sobrevivência social e política, professores sem nenhum interesse real em ensinar, e, uma grande quantidade de alunos convictos de que o que ouviam e aprendiam era a última flor do Lácio em termos de conhecimento científico. Pobres alunos. No jogo entre professores em busca de popularidade era um verdadeiro vale tudo. Mentiras, interpretações equivocadas, e até, esconder dos alunos informações básicas para evitar “distúrbios” e outros problemas.
Alguns professores, em sua maioria especialista, na verdade não tinham nenhuma condição de compreender o que é ciência ou o pensamento científico. Poucos mestres, menos ainda doutores, e pasmem, os poucos mestres que restaram foram  diplomados pelo Paraguai com mestrado a distância. Eu pensava que a desgraça estava só nas faculdades periféricas e nas particulares. Quando neste fim de semana li um artigo do professor Paulo Ghirardelli sobre os monstros nas Universidades. A surpresa é que Pós-doutor e escritor de vários livros, ele não falava das faculdades periféricas ou particulares, ele se referia as Universidades de Elite, ditas de excelência. Não sei se fiquei triste ou alegre ao ler o texto. Não sei se fiquei eufórico ou deprimido, mas saber que já tem monstrengo com titulo de pesquisador do CNPQ, ( Conselho Nacional de Pesquisa Científica), deu-me náuseas no estômago. [1] O que o professor não sabe é como este monstrengo tem fechado as portas para aqueles que realmente querem aprender e produzir conhecimento verdadeiro. Quando conclui o meu mestrado fiz um concurso, aliás dois, para ser professor de uma Universidade Federal e outra Estadual. Na primeira, obtive nota 8.9 na prova escrita. Para minha sorte o ponto se repetiu na prova didática, então pensei, a vaga é minha, uma vez que na prova de currículo não tinha muito a disputar. A única maneira de eu não ficar com a vaga era ser reprovado na prova didática. Imaginei que isso seria uma tragédia, afinal, ministrava aulas há quase seis anos no ensino superior, e questionei todas as minhas dúvidas didáticas no mestrado. Para minha surpresa fui reprovado na prova didática.
Quando fui ver quem tinha sido aprovado, surpreendi com o fato de ler no mural o nome de um orientando do presidente da banca. Busquei explicações, e, pasmem, disseram sem nenhum pudor que eu não era “boa praça”, que a faculdade estava buscando pessoas de convivência agradável, e pior, me aconselharam a tirar a barba sempre, e fazer um curso de etiqueta. O segundo concurso, a história se repetiu. Desde então, não fiz mais concursos, na verdade não sei se farei algum dia, afinal, não me rendo a construir amizades extemporâneas com meus orientadores, enviando presentes que variam de garrafas de cachaça a valiosos presentes que eu sequer posso ousar em pensar adquirir com meu  parco salário.
Os monstrengos estão em todas as partes. Ninguém consegue ficar livre da presença deles. Nos cursos de graduação usam sempre apostilas, quase sempre tratam os clássicos de forma segmentada, fazendo os pobres autores do passado se revirar no túmulo ao ver suas obras, seus pensamentos, seus escritos sendo distorcidos para fundamentar as mais pérfidas verdades e argumentos. Os monstrengos vestem-se bem, são polidos, e sabem o nome de todos os seus alunos. Conseguem ter tempo para ir a festa de aniversários, festas juninas, confraternizações de todos os tipos. Eles sabem escolher as palavras para jamais magoar os seus alunos, que de alunos ou discípulos foram transformados em clientes.
A única coisa que um monstrengo destes realmente não sabe é pensar. Não sabe pensar por que aprendeu apenas a obedecer. É assim, bom orientando no mestrado e no  doutorado tem sido considerado aquele que faz tudo que o orientador manda, e, isso começa se aprender na graduação quando só se lê as apostilas que o professor “manda”. Conheço gente boa com mestrado e professor em Universidade Federal que fez o mestrado todo sem ler sequer um livro inteiro, e pior, existem professores que não lêem ou nunca leram os principais autores da disciplina que leciona. São os especialistas do nada. Os “boas praças”, polidos, educados e bem vestidos que aprenderam a se dar bem na universidade. Ensinar e educar na Universidade tornou-se subversivo. O bom professor é aquele que não ensina, apenas treina o aluno, para que? Estou tentando descobrir. Enquanto não consigo entender o que se passa, só posso gritar como em um filme de super-herói: Monstrengo!! Ativar! . [2]


[2] Pode se ler também no Blog do professor Paulo um artigo interessante: O professor mordendo o próprio rabo. http://ghiraldelli.pro.br/2011/08/15/o-professorado-mordendo-o-rabo/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ORAÇÃO DE MAAT.

A história de um processo - Parte 1.

A história de um processo parte 10 - Danos morais, materiais, psicológicos ou a quase perda da fé.