Operação Monte Carlo, Marconi Perillo e a Credibilidade do Estado Democrático de Direito
Nelson Soares dos Santos
Este artigo não
se trata de atacar ou defender Marconi Perillo ou quem quer que seja.
A intenção é fazer uma reflexão sobre o
Estado democrático de Direito. Penso que nesta história
toda há uma vítima sendo atacada diuturnamente e sem
defensores. Esta vítima é o Estado Democrático
de Direito, e, a Democracia. Por tabela, ataca-se a República
Federativa do Brasil ( O Estado Brasileiro), e arranha a auto-estima
do Brasileiro. A grandiosidade da contravenção no
Brasil, fica escancarada; e, se comprovada a influência e
envolvimento direto da Delta Construtora, fica ainda mais complexa a
situação. No final, poderá contar mais de dez
estados brasileiros onde a organização criminosa pôs
os seus tentáculos, além, claro das vultosas verbas da
União.
A Operação
Monte Carlo, Marconi e os Assessores Puxa-sacos.
Não se pode
negar, quem tem um mínimo de compromisso com a verdade, que
Carlos Cachoeira teve ( ou ainda tem), influência sobre o
governo de Goiás, chefiado por Marconi Perillo. Somente
aqueles que vivem dependurados e dependentes de um salário
vindo do governo são capazes de negar tal fato. As demissões
que já ocorreram ( a pedido, da Chefe de Gabinete, Presidente
do Detran), e, as escutas que mostram as nomeações
feitas na Secretaria da Educação, são fatos no
mínimos estranhos e que devem ser elucidados. A investigação
precisa ser profunda, afinal o assunto é sério. Ora,
veja, a questão dos prédios da china. Pode ser só
uma mera coincidência, mas precisa ser investigado. É
preciso perguntar se tais projetos existem, ou existiram, e o Governo
precisa se explicar.
O Governador Marconi tem
o dever de fazer uma profunda limpeza no Governo. Querendo mesmo
mostrar que não é conivente com as situações
já apresentadas, precisa demitir todos os citados na Operação.
Não é mais tempo de meias medidas e meias palavras. Ou
se investiga com profundidade ou passa-se uma mensagem de que existe
conivência com a situação. Os tentáculos
da Organização precisam ser extirpados do seio do
Estado. Ao fazer isso, Marconi não estará protegendo a
si mesmo, ou ao seu governo, mas sim, ao Estado, a Credibilidade da
Máquina Pública e da própria democracia.
Talvez, o grande
problema de Marconi, seja mesmo os assessores puxa-sacos. Estes
também devem ser extirpados da máquina do Estado. Neste
sábado, vi um Assessor anunciar que só havia umas 500
pessoas na manifestação na praça pública.
O infeliz, nem percebeu a infelicidade da fala, afinal, 500 pessoas é
muita gente para uma primeira manifestação, mas o que é
pior, é que naquele momento já se tinha informações
de que a manifestação na praça passava de cinco
mil pessoas. Imagine agora, o Governador ouvindo análises e
opiniões de um tal assessor, que tipo de decisão
pode-se esperar do Governador? O Governador tem errado por que parte
dos seus secretários já deveriam ter sido demitidos, ou
por incompetência técnica, ou por falta de compromisso
político. No caso da Educação falta ambas.
Estes tipos de
assessores, secretários, deputados na base aliada não
ajuda ao bom governo. Um exemplo clássico foi a aprovação
do Pacto pela Educação. Imagina que não teve um
deputado da base aliada que teve coragem de se rebelar para ser
ouvido. Não houve seque um com coragem suficiente para dizer
ao Governador o buraco que era o tal plano, e a ilegalidade que se
estava cometendo. A razão, medo de perder poder de nomeação.
Todos aceitaram sem pestanejar, votaram sem ler ou questionar, por
que era um projeto vindo do Executivo. Outro fato recente, ilustra a
questão. Alguns assessores inventaram uma manifestação
pró-marconi, e, o próprio Governador teve de vir a
público ordenar a não realização. Ou
seja, não existe assessores capazes de olhar a política,
ler a conjuntura, ouvir e compreender os movimentos da sociedade.
A corrupção
na Esfera do Estado.
Uma coisa é
certa. A corrupção na esfera do Estado não foi
invenção de Carlos Augusto Ramos e de Demóstenes
Torres. Ela existe, e já existia mesmo nos tempos da ditadura
militar. Desvios de verbas, licitações viciadas,
sentenças compradas no judiciário não é
novidade no Brasil. O que é novidade foi a capacidade que teve
o Bicheiro de envolver tantos homens públicos em suas tramas.
No ministério
Público e na magistratura, eu mesmo já vivi
experiências pessoais de como o poder, o dinheiro e a
influência pode fazer com que um juiz não dê uma
sentença. Um mandado de Segurança contra a Prefeitura
de Goiatuba durou dois anos para ser julgado, e só o foi,
quando o juiz da comarca foi aposentado e outro juiz foi designado
para substitui-lo. E mesmo tendo ganho a ação no
Tribunal de Justiça, até hoje a sentença não
foi cumprida, e eu? Bem, continuo com os prejuízos que tal
situação causou.
No Nordeste Goiano, onde
recentemente um promotor foi vítima de um atentado, são
décadas de desmandos. O Crime que ceifou a vida do Ex-Prefeito
de Monte Alegre Zé da Covanca, nunca foi elucidado e os
criminosos nunca foram punidos, estão soltos e levando a boa
vida. Promotores e Juízes no Nordeste Goiano sempre viveram
com medo, ou de alguma forma, amarrados diante das dificuldades de se
aplicar a lei. Em 2006/2007, apenas por tentar conscientizar
empregadas domésticas a trabalharem de carteira assinada ouvi
ameaças patentes de quem não quer ver a Justiça
chegar naqueles rincões.
Promotores e Juízes
corruptos sempre existiram. Que o digam Arizon Aires Cirineu que
perdeu diversas eleições sem compreender como. Já
houve casos sobre as eleições de Divinópolis, que o avião com as urnas voavam de São Domingos com um
resultado e eram publicados no Tribunal em Goiânia outro
resultado. Fico pensando como os votos aumentavam, no caso da parte
perdedora, durante o voo. Tais perguntas nunca tiveram respostas. E
todo mundo tem medo, mesmo de comentar. Nos encontros de esquinas,
bares nos fins de semana, pode-se ouvir tais histórias, e as
pessoas contam com o silêncio ensurdecedor do medo que ronda a
sociedade civil.
No serviço
público do estado, a situação é ainda
mais grave. Poderia citar inúmeros casos de demissão
por abandono de cargo, e, que na verdade, o individuo foi posto de
lado, em uma salinha, até desistir do emprego. Motivo? Fez uma
crítica, ameaçou denunciar, quis que a situação
não fosse tão negra quanto os olhos viam. A situação
é tão crítica quanto é mentirosa as
manifestações de decepção em relação
a Demóstenes Torres. Antes, todo mundo acreditava na inocência
do Senador, agora, existe uma fila de ingênuos enganados. Tudo
indica que os tais e maiores decepcionados são os mesmos que
faziam fila na porta do agora execrado senador para pedir alguma
coisa, uso de tráfico de influência, nomeações,
etc. E pasmem tem gente que procura até forma de retirar multa
de trânsito corretamente aplicada. Carlos Augustos Ramos, e
Demóstenes Torres é produto da sociedade que vivemos, e
possivelmente como disse o Procurador Hélio Telho, pode
existir outros cachoeiras por ai, e eu acrescento – deve existir
mais Demóstenes, mais Vladimir Garcês, e tantos outros
atores e situações assemelhadas.
A estrutura da
Sociedade e a Democracia Representativa.
Vivemos em um mundo que
pode ser descrito em uma estrutura triangular – O mercado, o Estado
e a Sociedade sendo as três pontas deste triângulo.
Quando se olha, de soslaio, parece que a corrupção
nasceu na sociedade civil e se alastrou na estrutura do Estado. As
análises que se fazem na mídia, tudo parece levar a
compreender que o Mercado nada tem a ver com o processo que ocorre.
Entretanto, e na verdade, é mesmo as relações de
mercado e portanto de consumo de mercadorias o nascedouro das
corrupção, talvez, por este lado, se compreenda que uma
das pessoas envolvidas e presas na operação tenha usado
o dinheiro sujo para nada mais, nada menos, que fazer uma cirurgia
plástica.
Outro exemplo que mostra
e explica tal situação é o alarmante alcance dos
tentáculos da Organização Criminosa. Até
o momento, além de Goiás, já se pode ver
estragos no DF, Tocantins e Mato Grosso, além do fato da
Construtora Delta ter contratos milionários, inclusive com o
Governo Federal. Conta-se ainda que os tentáculos absorvem
governantes de todos os partidos, o que mostra que para além
da questão ideológica, a situação diz
respeito a forma como se estrutura toda a sociedade. Neste, sentido,
é preciso repensar qual deve ser o papel e o peso do Estado e
do Mercado sobre a Sociedade civil. Quando o Mercado se torna muito
poderoso, a única coisa que importa é ter dinheiro ou
ser dono dos meios de produção. É quase isso
que acontece quando se diz que na cidade de Anápolis e entre a
alta Roda do Estado de Goiás, todos sabiam que o Carlos Augusto
era contraventor, mas, ao mesmo tempo a grande maioria queriam estar
com ele, mesmo sabendo que não era um homem virtuoso, ou seja,
não importa de onde vem o dinheiro o que importa é que se tem dinheiro.
Para uma democracia
representativa, quando representantes do povo são eleitos
baseado no tanto que gastam para conseguir a eleição,
algo está errado. E o que se vê é que se for
levar a sério, nenhum candidato eleito consegue recuperar pelo
salário o que se gasta em uma campanha eleitoral. Ora, se
alguém paga, alguém vai querer recuperar tal dinheiro.
Não é difícil ver onde nasce a corrupção.
Eleitor que vende o voto, político que se vende para conseguir
dinheiro para a campanha, empresário corrupto que utiliza da
situação para se enriquecer as custas do Estado. Está
montado todo circulo vicioso que só será destruído
com uma profunda reforma política, financiamento público
de campanha e aumento da consciência política do povo
brasileiro.
O Grande risco de
nossa democracia.
Tudo isso posto, não
fica difícil concluir que o que está em risco não
é o governo de Siqueira Campos no Tocantins, ou o Governo
Marconi em Goiás, ou Agnelo no DF, ou mesmo Dilma, enquanto
presidente do Brasil. O que começa a estar em risco é o
estado democrático de direito. O Mercado avançou sobre
o Estado, e em sua forma mais dura, de guerra, de saques, de roubo,
transformou as estruturas do Estado em meios de se aumentar o lucro.
Pessoas que não tem coragem de trabalhar para conseguir o
próprio sustento colocam-se como defensores de uma situação
indefensável, onde a única lógica e manter uma
elite que já não possui mais nenhum limite para manter
os confortos e prazeres animalescos da vida.
Por trás destas
mesma lógica está a prostituição
infantil, a violência nos lares, o tráfico humano, as
drogas e o tráfico de drogas e todo mal que tudo isso ocasiona
a sociedade. Como não existem limites para o mercado as leis
da sociedade - as quais se fundam nas virtudes – perdem o valor e
ser desonesto, quebrar as leis, desrespeitar a vida passa ser a
regra, desde que se consiga alcançar alguma vantagem e juntar
algum dinheiro. O que é mais triste é que nenhum país
torna-se desenvolvida por meio desta lógica. Os que, na
história, seguiram esta lógica, se fragmentaram e
acabaram vendo seu povo em guerras civis intermináveis.
O que precisamos agora é
fugir das falácias e das tautologias. Urge que surjam vozes a
gritar em todas as esferas, da política, do estado, da
sociedade civil. E que os gritos sejam ouvidos. Existem sim juízes
corruptos o que não significa que toda a justiça seja
corrupta. Existem promotores, procuradores, desembargadores
corruptos, o que não quer dizer que todos sejam corruptos.
Existem políticos corruptos, o que não quer dizer que
todos os políticos e a política em si, seja arte da
corrupção. É preciso, mais do que nunca na
história deste país, lutar contra o distanciamento do
povo da política, e mais ainda, o desinteresse do povo pelo
exercício da cidadania. É chegada a hora de defender
não este ou aquele governador, mas a liberdade, a democracia,
o Estado democrático de Direito.
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