A res – pública que não temos
Nelson Soares dos Santos
É possível que em algum canto do
país, em alguma casa ou choupana alguém faça a pergunta: afinal,
por que mesmo é feriado hoje? 15 de novembro, - a proclamação da
república; - é possível que alguma outra voz responda. Para além
da pergunta e da resposta, mesmo que seja feita em uma choupana ou em
uma rica casa dos jardins, o que fica é que poucos sabem o que é a
república, e por que somos uma república.
A transformação do Brasil de um
império em uma república foi uma ação praticada por poucos
homens, e talvez, até hoje seja assunto de poucos cidadãos da nossa
pátria. José Murilo de Carvalho, em sua obra “ Os Bestializados”
ao descrever o processo de como se deu a proclamação da república
me fez ler algo que nunca mais vou esquecer e que me ensinou o quanto
o nosso povo está distante de vivenciar de forma consciente o
espírito da nação. Ele diz em seu livro que enquanto Deodoro
montado em seu pomposo cavalo e cercado de oficiais percorria as ruas
do rio na proclamação da república o povo assistia bestializado
sem ter a mínima ideia do que estava acontecendo e qual diferença
teria entre império e república.
Ainda bestializados – razões não
públicas em defesa da res-pública.
Mais de 100 anos depois muito do
nosso povo se encontra na mesma situação. Bestializado com os
acontecimentos que envolvem a coletividade chamada república, e
muitos, sequer sabem o que é república e por que somos uma
república. A história diz que um dos elementos que influenciou a
transformação da situação de Império em república foi entre
outras questões, a questão da escravatura. Ora, dizem que os
grandes fazendeiros ficaram irritados com a princesa Isabel, e, por
isso resolveram apoiar os republicanos. Outra questão, foi a questão
militar. Militares insatisfeitos após guerras e o trabalho de
sufocar rebeliões internas julgaram não receber do imperador o
merecido reconhecimento. E por fim, a questão religiosa tendo como
centro o clero da igreja católica, que resumindo, estava
insatisfeita com a lei imperial de que as bulas papais só poderia
ser obedecidas no Brasil após a sanção do Imperador.
Olhando bem, veja que cada grupo
tinha suas razões particulares para apoiar o fim do império do
Brasil, e pior, as razões particulares eram contraditórias entre
si, pois um grupo se opunha seus interesses aos demais. E, analisando
ainda, dentro do espectro, a solução foi a proclamação da
república por meio de um golpe militar. Não sou monarquista, mas
não posso deixar de ver que o surgimento da república no Brasil não
teve uma relação direta com a preocupação em transformar o poder
do Estado em uma coisa pública, pelo contrário, foi justamente o
descontentamento com questões como o abolicionismo que tornaria um
país de todos os seus filhos, fazendo dos negros cidadãos uma das
causas centrais que motivou seu surgimento. A república no Brasil
surgiu da contrariedade por uma medida que tentava colocar o poder do
estado a serviço de todos, ou seja, tornar o Estado uma coisa
pública.
Ainda a república que não é uma
Res-pública.
Cem anos depois, as contradições
permanecem. Pensando que a palavra república veio da Grécia e
queria dizer coisa pública, no Brasil o Estado ainda não é tratado
com coisa pública. As capitanias hereditárias se mantiveram e ainda
se alguém resolver fazer uma pesquisa verá que mais de 50% dos
nossos políticos e parlamentares federais são descendentes das
mesmas famílias poderosas da época do império. Em goiás são 15
famílias tradicionais que dominam a política desde a época do
império e pouco espaço tem para alguém surgido do meio do povo.
As políticas, toda vez que é feito
algo em prol do povo, da maioria que ainda sofre todos os tipos de
males; o governante que se atreve a fazê-lo sofre as mesmas dores
sofridas pelo Imperador. Foi assim com muitos, e o mais ilustre deles
Getúlio Vargas, aliás, este poderia dizer que proclamou a segunda
abolição no Brasil ao regulamentar as relações trabalhistas em
nosso país. Somos uma república cujo aparato do estado não está a
serviço da coisa pública e sim manietada para a defesa dos
interesses de uns poucos grupos particulares com interesses por
vezes, mesquinhos que prejudicam o desenvolvimento e a grandeza da
nação. Por todas estas razões, devemos continuar lutando para
transforma o Brasil em uma Res-pública, ou uma república
verdadeira.
Errata.: este artigo foi envidado para os jornais com uma pequena errata. O nome do autor do livro foi escrito como José Guilherme, e na verdade o livro citado é de José Murilo de Carvalho.
Errata.: este artigo foi envidado para os jornais com uma pequena errata. O nome do autor do livro foi escrito como José Guilherme, e na verdade o livro citado é de José Murilo de Carvalho.
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