Três dilemas de Friboi
Nelson Soares dos Santos[1]
Friboi tem muito
dinheiro. Isso todo goiano já sabe. Entre as famílias mais ricas do país e dono
do maior frigorífico do mundo são as credenciais mais apresentadas para que se proponha
a governar o Estado. Apesar de todo dinheiro que se tem, Friboi vive os dilemas
de um general inexperiente. Não parece saber comandar, não parece compreender a
arte da política, e tão pouco ter a sensibilidade da preocupação com o bem
comum. Fica claro que os objetivos de Friboi não são o bem comum do Estado, e
sim, criar as condições para que sua empresa torne –se ainda mais poderosa,
principalmente por que governará um dos estados com maior potencial
agropecuário do país. O maior dilema de Friboi, e para a sorte dos Goianos, foi
ter tentado tomar o PMDB de assalto acreditando que passaria fácil por cima do
velho guerreiro Iris Rezende Machado.
Dilema 01 . Não ter liderança
política. Como todos aqueles que não possuem lideranças de base Friboi utilizou
o único estratagema que lhe daria o controle de um partido no qual pudesse
fazer o que bem quisesse. Tal estratagema é comum e usado, sobretudo, por aqueles
que têm muito dinheiro e querem ser candidatos a cargos públicos, quase sempre
para cacifar os negócios familiares. Seguindo tal receita, Friboi negociou com
a Cúpula do PMDB. Não tendo muito que fazer, e não havendo impedimento legal a
sua filiação, a base se calou. Iris Rezende agiu como um soldado da base, uma
vez que não lhe foi dado a condição de opinar como liderança. Entretanto, todos
sabiam que o velho líder não deixaria de ser líder por uma decisão de cúpula.
Afinal, ninguém deixa de ser líder por vontade própria. Não tendo liderança,
Friboi teve de oferecer o que possuía, e, deu munição aos seus adversários.
Dilema 02. Conhecimento
da Arte da Política. Até agora impressiona os erros cometidos por Friboi. Desde
a escolha do PMDB até os movimentos mais simples de relacionamento com a
imprensa. Um grande empresário deveria saber que assim como o mercado, a
política é arte da Guerra onde sobrevivem aqueles que possuem conhecimento da
configuração estratégica do poder. Parece faltar a Friboi as virtudes de um Bom
General. Subestimar um dos maiores partidos do Estado e um dos seus maiores
líderes definitivamente não foi uma decisão inteligente, afinal, qualquer leigo
em Goiás, saberia que Iris não sairia do páreo facilmente. Friboi, no entanto,
não subestimou apenas um partido e um líder, ele subestimou a todos os goianos
ao colocar a riqueza como o elemento principal
a garantir sua condição de futuro governador.
Dilema 03 – Inexistência do
Efeito Surpresa. Ao colocar o dinheiro a frente de todas as demais questões
Friboi anulou a possibilidade de apresentar um efeito surpresa. O dinheiro que
se anuncia como solução é sempre a fonte de males e perversidades. O dinheiro
como fonte de virtudes é silencioso e não se anuncia facilmente a não ser
diante de uma situação complexa e como solução dos problemas apresentados. Ao
se anunciar como o homem do dinheiro Friboi transformou em piada sua imagem
afirmando estar preocupado com a Educação, Saúde e Segurança, uma vez que ao
longo de sua carreira como empresário não há registros de que tenha tido alguma
generosidade com seus funcionários em relação a tais questões.
Para além destes três
dilemas pode citar outros e grandes
dilemas. Como lidar com os assessores mal preparados e atraídos pela ideia de
ganhar muito dinheiro? Como lidar com os candidatos – muitos sem votos – que se
aproximaram pela ideia de se ter muito dinheiro para campanha? Como administrar
tudo isso sem fazer inimigos cruéis que trabalhará de graça para qualquer outro
candidato se for agora descartado? Como
lidar com o fato ( não negado por ele) de que sua empresa é devedora do Estado que
pretende administrar? Como contar ao Cidadão que será dele a última palavra pra
resolver conflitos de interesse entre o bem comum e os interesses particulares
dele. Julgando pelas análises dos passos
dados por Friboi na Política é possível imaginar que sua riqueza foi construída
pelas regras mais selvagens e agressivas do mercado capitalista. O problema é
que se esqueceu de oferecer a Friboi a música do Jair Rodrigues: “ ..., por que
gado a gente marca, tange, fere, engorda e marca, mas com gente é diferente”.
[1]
Nelson Soares dos Santos é Professor Universitário, membro da Direção Estadual
do PPS em Goiás, e membro suplente da Direção Nacional.
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