A Serra Negra da Vida
A Serra Negra da Vida
Na minha querida terra
Aprendi a filosofar.
Subindo tão grande serra
Sozinho a pedalar.
Todo dia da semana, eu e a negra Serra.
Minha bicicleta e eu na madrugada fria.
Passava pela cidade e subia o Boa Perna,
Cantando canções tristes para chamar a alegria.
Minha bicicleta velha e o velho pai de companhia.
Tão juntos e tão sozinhos na dura serra da vida.
Se não era lama, era poeira que no rosto se espargia.
Mas tinha que pedalar ou empurrar as feridas.
Quase no meio da serra, as pernas estavam cansadas.
Pedras, buracos, poeira, lama no rosto e na alma.
Os ricos iam de carro, passando na mesma estrada.
Devagar o velho dizia: Filho sobe com calma!
No cume da Serra Negra, a labuta esperava.
Dia inteiro no sol, enxada e calos nas mãos,
A comida na marmita, quase fria, requentada;
E o sonho, distante e frio, acalentando o coração.
O velho pai, por vezes, ensinava:
Filho, ouça os mestres, guerreiros do coração,
Que na luta que a vida trava
Só vence quem maneja a espada e o facão.
Era a tarde tensa e fria. A tarefa terminada.
Quadro de 15x10, toda terra em plantação;
Hora de descer a serra que a noite era chegada.
Quase tudo escurecia, até mesmo o coração.
Lenha em feixe na garupa. Peso que empurra a vida.
Sobre a bicicleta, descendo desembestada,
Freio não segura na descida cruel e comprida.
Só se conta com a sorte: ladeira louca da vida!
Seguro como podia. Corpo e coração tremendo.
Enfim, quando no velho e bom Boa Perna,
Agradecia a sorte pela descida sem queda.
Se caía, machucado continuava descendo.
Assim, as quedas da vida que hoje Minh’ alma externa.
Tantos anos depois, na sina do meu caminhar,
subo e, ainda desço, a Serra Negra da vida.
Quedas, lama e poeira, machucado e a sangrar.
Porém, não tenho o meu pai sinalizando as saídas.
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