Lições de Nossos pais. I
Quem são nossos pais? Quem são nossos filhos.
Era meados de mês de maio, não me lembro bem o dia, e sequer achei em meus escritos o registro deste acontecido. Embora tenha o hábito de escrever acontecimentos que marcam meu ser, nem sempre guardo os registros como deveria.
Naquele dia cheguei na casa delel, por volta das nove horas da manhã. Suas filhas ainda sequer tinham acordado. Eu tinha passado a noite angustiado, pertubado, e nestes momentos só ele, parecia entender o que acontecia comigo. Ele convidou-me a tomar café, e depois fomos caminhar pelo quintal da casa que era praticamente um pomar.
Tinha mangueiras, caquis, carambolas, uma pequena horta, e tantas outras frutas. íamos caminhando por entre aquelas plantas, enquanto falávamos sobre a vida. Eram tantas perguntas que eu sempre voltava para casa com dois ou três livros para ler. Naquele dia eu levaria para cara o livro do Enerst Hemingway, autor de "Adeus às Armas.
Contava-me de como de como a vida do autor tinha sido trágica, falava de suas frases famosas, e de como era importante buscar a sabedoria. Marcou-me de sobremodo a história dos amigos descrita no livro, no qual parecia ser autobiográfico do autor, que no final da vida se matou. Uma das frases mais famosas do livros assim conta: ““Quando as pessoas defrontam o mundo com tanta coragem, o mundo só pode quebrá-las matando-as, e por isso, é claro, mata-as. O mundo quebra toda a gente, e depois muitos ficam mais fortes no lugar da fractura. Mas àqueles que não consegue quebrar mata-os.” Ele via em mim um homem corajoso que segundo ele jamais me contentaria em fazer coisas que minha consciência não permitiria.
Era assim que formava o meu caráter. Ele estava certo. O mundo nos quebraria a todos. Anos depois quando o novo prefeito Filoneto José dos Santos, assumiu a prefeitura ele foi relegado ao canto, a quase nada de espaço, e praticamente esquecido pela sociedade. O mundo não o matou, morreu nos anos que sempre me dizia que morreria, após os 80 anos, e da forma como planejou morrer, morte rápida antes que ficasse em uma cama dando muito trabalho para os outros.
A vida quebra-nos. E se não nos consegue quebrar, se não consegue nos fazer perder a coragem, tenta nos matar. Então é neste momento que precisamos ser fortes, corajosos. É preciso ser forte e corajoso para viver de forma virtuosa, de acordo com as leis divinas e trabalhando pela evolução da humanidade Era neste momento que introduzia lições sobre as ordens secretas, sobre as maiores religiões da humanidade, humbanda, quimbanda, candoblé, cristianismos, catolicismo, zoroatrismo, budismo, protestantismo, islamismo, etc.
Quando perguntado sobre por que o mundo estava sempre em guerra, respondia que o mundo não precisava estar sempre em guerra. Ilustrava falando de nossa própria cidade, do quanto era idiota as disputas políticas existentes. E falava com certa tristeza nos olhos: Ainda vai demorar para que todos possamos compreender que todos os mais velhos são nossos pais, todos os de nossa idade são nossos irmãos, ,e os mais novos são todos nossos filhos. Ele dizia. “ Você deve ser como filho para mim, para todos os mais velhos, deve ser nosso dever ensiná-los a andar no caminho do bem, da ordem, do amor para com os seus irmãos. Minhas filhas devem ser como suas irmãs, todos devem se tratar com respeito, com fraternidade.
Citou novamente, um dos trechos do livro “Adeus às armas”“Não há nada pior do que a guerra. Nós aqui, nas ambulâncias, não temos como perceber o horror que é isso. E ninguém consegue acabar com a guerra, porque todos já enlouqueceram. Há pessoas que nunca se dão conta disso. Há quem tenha medo dos oficiais. É com esses que se fazem as guerras. Dizia, no entanto, que era preciso coragem, mas também sabedoria para se lutar pela paz. Como ninguém, ele sentia na pele de que não era fácil lutar pelos tais ideias que acreditava. Muitos o chamavam de feiticeiro, outros de bruxo, outros de sábio. Um dia perguntei a ele se se considerava sábio, nesta época, já não era mais apenas meu mentor, meu mestre, era também meu aluno. Ele respondeu, quase vinte anos depois com uma frase do livro : A sabedoria dos velhos é um grande engano. Eles não se tornam mais sábios, mas sim mais prudentes.”
Naqueles idos ele ainda era um jovem próximo dos seus 40 anos, buscando vencer uma guerra cotidiana pela paz no mundo, para convencer seus pares de que todos somos irmãos. Crentes, católicos, etc, em uma cidade pequena de pouco mais de cinco mil habitantes. Esta era a guerra dele, a missão a qual se dedicava com todas as forças. Com mais de 60 anos de idade foi para a faculdade, por que acreditava que precisava aprender os métodos da ciência para continuar sua missão.
O sol já batia quase meio de sábado. Alguém o chamava na farmácia para comprar remédios. E ele dizia, agora e hora de servir alguém, alguém que está necessitando de nossa ajuda. Era assim que ele tinha a própria farmácia, como um instrumento de servir a sociedade. Não sei o quanto aprendi destas lições, mas tenho certeza de que em minha mente, alguma coisa ficou do fato de que a humanidade toda são meus irmãos, pais e filhos. Entender que a humanidade toda é uma fraternidade, que todos somos irmãos, era o início do humanismo que reina em em meu ser. Um humanismo que o mundo ainda não entendeu. Agora,, sinto-me não mais um garoto, mas um homem que precisa substituir o pai na missão de trabalhar e servir ao mundo.
Eu leria de forma ávida o livro “Adeus Ás armas”. Fascinou-me a história daqueles amigos que foram para a guerra em exércitos diferentes, mas que no calor da guerra, buscaram ignorar as leis da guerra, para salvar uns aos outros, em nome da amizade que nutriam, do amor de amigos que os unia. E mais ainda, chorei com o reencontro do pós guerra como uma imagem que ainda não saiu da minha mente, hoje, mais de 30 anos depois quando escrevo estas linhas.
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