Sobre Jornalista, Fofoqueiros e direitos humanos.

Tenho visto horrores em Goiás, em todas as áreas da sociedade. Em todas as demais áreas o jornalismo tem se encarregado de apresentar o lado mais negro da notícia, por razões que é difícil compreender. Como geralmente o ser humano tem dificuldade de falar sobre si, - e neste caso já dei meu exemplo, fazendo a auto-crítica da Educação - resolvi aqui falar dos jornalistas. Afinal, o que está acontecendo beira a loucura. Eu sei que é melhor ter uma imprensa livre, eu sei que é melhor o barulho de uma imprensa livre ao silêncio das ditaduras, eu sei, eu sei de tudo isso. Por isso vamos tentar definir melhor para os meus leitores o que é jornalismo, o que é imprensa livre, para que possamos entender, primeiro, é a imprensa atual de fato livre? O se tem feito nos jornais nos dias atuais,é de fato Jornalismo? Para tentar responder a tais questões vamos dividir este texto em partes. Primeiro, vamos entender o que é jornalismo, depois,o que faz o jornalista, enfim, o que é uma notícia e as fases da construção de uma reportagem.


Antes, devo reafirmar que concordo com todos aqueles que defendem uma imprensa livre. Concordo que é melhor o barulho de uma imprensa livre que o silêncio das ditaduras. Meu objetivo é tão somente mostrar que, também a imprensa livre deve ser responsável, ética e ter valores que respeitem o ser humano e a vida. Os últimos acontecimentos em Goiás, deixam parecer  que os profissionais do Jornalismo estão ultrapassando algumas fronteiras que não deviam ser ultrapassadas. Dito isso, vamos ao que interessa.


O que é Jornalismo? O jornalismo é uma atividade antiga. A primeira atividade jornalística se deu no império romano segundo registros históricos. Júlio Cesar, imperador romano, queria que a população ficasse sabendo dos seus feitos, e no ano 59 A.C, surge a Acta Diurna. As notícias eram colocadas em grandes placas, em locais de públicos, e contava os feitos militares, conquistas, execuções, julgamentos, etc. No século VIII, surge os primeiros jornais escritos na china, e finalmente, com Gutemberg, os jornais se popularizam a partir de 1447, dando início a era moderna dos jornais e da imprensa. No ano de 1844, com o surgimento do telégrafo, ocorre uma revolução no jornalismo com  a facilidade dada pelo aparelho para a circulação das notícias. O mesmo vai ocorrer, e de forma intensificada, com o surgimento do rádio, no ano de 1920, e, a televisão no ano de 1940.


No ano de 1990, com o surgimento da internet, e as redes sociais, vai ocorrer mais uma revolução, mas agora, esta revolução que está em curso pode significar, inclusive o fim do jornalismo como o conhecemos. A facilidade das pessoas colocarem sua própria versão dos fatos em tempo real, e na medida que as pessoas aprendam fazer isso, pode esvaziar a atividade do jornalista, ou mudar o papel que ele tem tido até então. Em países mais avançados, já é patente a "morte" dos jornais escritos, dando lugar a uma nova forma de comunicação. Em resumo, jornalismo, foi e tem sido uma atividade de comunicação, que se serve de intermediários para levar até a população a versão dos fatos.


O principal elemento da atividade do jornalismo é a notícia. O profissional do jornalista, o bom profissional, vive, dorme, come, e sonha, e respira a notícia. Mas como saber se uma notícia é boa? O bom jornalista, geralmente se atenta às seguintes perguntas: 1. Novidade - é novidade? é assunto novo? 2. Proximidade: interessa ao leitor? 3. É relevante? afinal, o que esta notícia vai ajudar o meu leitor a viver melhor?


Em seguida, o bom jornalista deve fazer as clássicas perguntas  segundo as quais se formata a boa notícia. 1. Qual fato ocorrido? no caso da operação sexto mandamento, fato ocorrido e comprovado é tão somente promoções consideradas irregulares, e uma investigação ainda não concluída da Polícia Federal, que pugnou pela prisão preventiva de alguns membros da PM de Goiás. No caso dos professores, o fato ocorrido é o pedido de retorno por parte do secretário para que professores fora de sala de aula retornassem à mesma. No caso dos policiais, ainda não há condenação definitiva, portanto, os implicados, devem ter o direito de defesa. 
A segunda pergunta é Quem? Esta diz respeito aos envolvidos. E aqui, deve-se apurar o nível de envolvimento de cada um dos personagens citados. Afinal, o bom jornalista cuida para não destruir  de forma injusta a reputação dos outros. No caso dos professores, apenas se deu número de forma generalizada, sem explicitar que existem professores nas subsecretarias, espaços técnicos, Conselho Estadual e Municipais, todos prestando serviços relevantes à Educação, e que necessitam de ter formação pedagógica. 
A terceira pergunta é Onde? No caso da Operação Sexto Mandamento, ficou parecendo que só existe policiais corruptos em Goiás, e que pior, parece que todos são corruptos. Não é verdade. A polícia federal tem feito operação deste tipo em todo país. Quem acompanha as notícias nacionais sabe disso. O que deveria levar todos a refletir, que a corrupção na polícia é algo sistêmico e não tratar como problema de pessoas. 
A quarta pergunta é Quando? Aqui, na Operação Sexto Mandamento muitos jornalistas se comportaram como se a operação fosse uma grande atividade do Governo Marconi, quando na verdade a Operação da Polícia Federal está acontecendo há meses. Outra pergunta é desde quando existe ações equivocadas na polícia goiana. Pelo que tenho visto desde o  início dos anos 90, tem ocorrido sérios desvios de conduta, e muitos altos oficiais vem se pronunciando sobre o assunto. Então, não se pode colocar a operação como se fosse um milagre do momento. Muito menos levar a população a pensar que presos os polícias ditos envolvidos, o problema está resolvido. Um problema que se arrasta a mais de uma década não vai ser resolver com a prisão de 19 pessoas.  No caso da Educação, passou-se a impressão de que os desvios de função dos professores aconteceu por causa da irresponsabilidade do governo passado, e que agora o novo governo ao trazer todos de volta para sala de aula, resolver todos os problemas da educação. Não é verdade. Desvio de função sempre existiu no serviço público, e server para inúmeros objetivos, desde atender interesse do serviço público, a atender situações de problemas de saúde dos servidores. Que se apure os casos onde os desvios de função existe por apadrinhamento político, e descaso com o serviço público, mas colocar todos no mesmo saco? ah, isso não senhores.


A quinta pergunta é Porquê. A causa do fato. Não existe fato sem uma causa, sem um motivo. No caso da operação sexto mandamento, não vi análise falando dos péssimos salários dos soldados da polícia, as péssimas condições de vida, os problemas que a tropa vive e que certamente afeta a qualidade do trabalho. No caso dos professores, não se lembrou de falar que os desvios de função, muitos deles, estão ocorrendo que o professor da rede pública ganha tão mal que não chega a sete reais a hora aula, e que muitos estão adoecendo. Não tem sido feito análises mais aprofundadas do Porquê. Não se tem pensado. Apenas contado o que se ouve de alguém.


Em seguida, e sem esquecer a relação tempo e espaço, o bom jornalista deve-se perguntar como o fato ocorreu. O como, significa ir aos detalhes, investigar, ir além das aparências. O jornalista por excelência deveria ser um investigador, afinal, o real nunca é o que parece. Toda história possui detalhes que nos deixa estáticos quando buscamos explicações que estão além das aparências. Ler os jornais goianos nos últimos tem sido a última piada do dia, inclusive, para os próprios jornalistas. Outro dia, um jornalista publicou: Se você ler os dois principais jornais de goiás, vai pensar que um é de um estado, e o outro, é de outro. É preciso pensar, ir além das aparências, analisar com a racionalidade digna dos grandes profissionais, controlar as paixões, sejam de poder ou ideológicas. Caso isso não seja feito o bem comum fica a ver navios.
Ao jornalista cabe, não apenas captar a notícia, mas também apurar, tratar a notícia, para que o leitor tem algo verdadeiro, útil, e que lhe propicie agir de forma correta. É para isso que se aprende nos cursos de jornalismo que o trabalho do jornalismo é divido em Pauta, apuração,  redação e edição. Pauta é o momento em que se seleciona os assuntos que serão apurados e tratados. Em seguida, passa ao processo de redação. O processo de redação deve ser acompanhado de questionamentos para que se possa refletir se a notícia está recebendo o tratamento necessário.


Finalmente, no processo de edição a notícia deve estar pronta, ou pelo menos, dentro dos limites que leve o leitor a compreender o que está acontecendo, de forma a ter uma ideia correta dos fatos, auxiliando assim, nas tomadas de decisões e formação de opinião. Agora, veja, outro dia, vi um jornalista exigindo do Prefeito Paulo Garcia, que demitisse o Secretário Ernesto Roller por estar entre os investigados, dizem uns, citado apenas, dizem outros, na Operação da Polícia Federal. Citado ou investigado, não interessa. Não é função de jornalista exigir demissão de ninguém, função de jornalista é informar, ajudar o leitor a formar opinião correta, ou visão correta dos fatos. Da forma com vem se tratando a impressão que se tem, no caso dos professores e policiais, é que todos são corruptos, culpados e já estão condenados. E isso, não ajuda a democracia. 
Agora, é de se começar a pensar: se o jornalista é aquele que trata a informação, investiga, apura, e isso não tem sido feito, o que está acontecendo? Acontece que alguns jornalistas estão tomando posições políticas, em vez de informar. E assim, levam aos leitores apenas a versão daqueles a quem defendem. Isso não é ser jornalista, é ser fofoqueiro. E a fofoca não ajuda na construção de uma sociedade justa, livre, igualitária e fraterna. A fofoca provoca guerras desnecessárias, coloca irmão contra irmão, filho contra pai, nação contra nação. Imprensa livre é aquela que busca a versão mais verdadeira possível dos fatos, não aquela que serve de instrumento a qualquer grupo político, por melhor que este grupo político seja. Imprensa livre, não julga, não condena, apenas informa, apenas comunica.















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