O MASSACRE DO REALENGO E AS VERDADES INCONVENIENTES.


Ontem falamos de morte e não era  nossa intenção falarmos de morte novamente. Temos muitos assuntos em pauta no momento como a reforma política, os partidos políticos, as relações entre público e privado, as religiões e crenças, a educação, a segurança, a saúde, e, muitos outros  assuntos cadentes de tratamento. No entanto, o massacre do realengo nos impede de ir adiante sem antes tecer algumas considerações sobre ele.
É natural que todos fiquemos chocados e assustados com um massacre de tal magnitude, parece a um primeiro olhar uma tragédia, uma crueldade sem fim contra crianças inocentes, parece uma coisa demoníaca. Antes que façamos qualquer julgamento é preciso primeiro lembrar que massacre como este já ocorreram muitos nos últimos anos, sendo o mais famoso O massacre de Columbine. Precisamos nos perguntar então, é por que este tipo de massacre acontece? Por que não estamos preparados para enfrentar situações deste tipo? Por que somos achados de surpresa e quase não conseguimos reagir?
Crimes desta forma se acumulam com outros similares como filhos que matam os pais, namorados que matam as amantes, maridos que matam suas esposas, e, até pais e padrastos que matam seus filhos. Não me parece ser algo isolado, antes parece ser algo que apresenta um sintoma maior vivido na sociedade. Durkheim escreveu que tais acontecimentos são sinais evidentes de que está ocorrendo um processo de desagregação social, e sendo isso verdade não adianta ficarmos chocados, assustados ou com medo. É preciso fazer o diagnóstico correto, com serenidade para que se possa enfrentar a situação.
Vi ontem no Twitter muitos pais famosos afirmando que beijaram seus filhos antes de dormir e fiquei impressionado e imaginando que certamente não é costume deles beijar os filhos antes de dormir. Pela a forma como relatavam a relação com os filhos fica claro que são distantes. O assassino do realengo era solitário em sua família.
Recentemente a sobrinha de uma grande amiga ateou fogo no próprio corpo. Eu mesmo, parte do circulo social dela fui pego de surpresa, e, ninguém percebeu o quão perto ela estava da tragédia. A sociedade do capital, da hipocrisia, da dissimulação está nos tornando insensíveis. O assassino do realengo entrou em uma escola conversou com uma professora, certamente passou por diversas outras pessoas, ninguém percebeu nada diferente no semblante dele. Ninguém percebeu na tragédia que estava prestes a acontecer.
As tragédias que tem acontecido tem início nas relações familiares. As famílias estão se dissolvendo. Pais não cumprimentam mais seus filhos antes de ir ao trabalho, e foi invertida a posição – a empresa se tornou a família e a familial lugar de investimento. Muitos se casam não para construir uma família mas para potencializar a carreira. Pais não olham mais com amor a tarefa escolar do filho, e, se vê uma nota ruim logo questiona a mensalidade cara que está pagando não a razão da dificuldade do filho.
As tragédias que tem acontecido tem sua continuidade nos círculos sociais e nas escolas. Nestas, professores mal remunerados, muitos desajustados socialmente, com diversos problemas emocionais, deprimidos, revoltados, passam para os seus alunos uma carga de sentimentos negativos. O natural na sociedade não é mais ser transparente, é ser dissimulado. E o dissimulado que consegue esconder toda a sua frustração ainda assim, o que ensina ao seu aluno é a ser dissimulado, mesmo quando se faz o bem. A hipocrisia e a dissimulação se tornaram regra no trato social. O egoísmo, o individualismo encontrou seu píncaro mais alto.
O massacre do realengo e todos os outros massacres e crimes que vem ocorrendo revela a face oculta de nossa sociedade, ou a face que está exposta aos nossos olhos e nós tentamos não ver. São os hipócritas em sua maioria, os que governam nossa sociedade, são os mentirosos que recebem honraria, são os que fazem promessas falsas os que conseguem ir adiante. Vivemos em um tempo em que se dão bem quem consegue esconder as mazelas que vivem, e não aqueles que vivem de forma transparente enfrentando de cabeça erguida os problemas que se colocam na vida. O massacre de realengo e outros crimes é o fim de uma estrada na qual as pessoas fracas não conseguem percorrer, ou o fim de um jogo no qual os mais fracos não conseguem mais jogar e já não aceitam perder.
O massacre do realengo clama por mudanças na família,  nas relações familiares, nos círculos sociais, nas escolas, nas universidades. O mundo tem de tornar novamente humano. Não somos coisas, objetos, instrumentos de um sistema, é homem que somos. E como homens, precisamos de carinho, de amor, de viver em sociedade, de vermos e sermos vistos, de compreender e sermos compreendidos. Precisamos amar e sermos amados, tolerar e sermos tolerados, respeitar e sermos respeitados. Não somos mercadorias que podem ser trocadas a qualquer momento.
Ontem li uma reportagem que me chocou tanto quanto o massacre do realengo. Um casal fez inseminação artificial, pediram dois filhos, vieram três, o casal devolveu um dos filhos à maternidade. Veja que crueldade!! Filhos tornou-se uma mercadoria que se encomenda na maternidade e se não for na quantidade e na forma que se encomendou simplesmente se devolve. É a banalização da vida, a banalização do mal. É preciso que não esqueçamos que ainda somos humanos.


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