O humano desprezo do Ser Humano.
Nelson
Soares dos Santos[1]
Um
episódio ocorrido na Câmara Municipal dos Vereadores de Goiânia quase
transformou uma manifestação pacífica em violência. Segundo depoimento dos
manifestantes a votação que tratava da questão acompanhada por eles, estava
empate, quando o Presidente da Casa prorrogou por mais cinco minutos o processo
de votação. Um dos vereadores então resolveu votar novamente, e, votou contra a
causa dos professores. No mesmo momento uma vereadora que se encontrava na mesa
expressou um sorriso malicioso de desprezo para com os professores.
Foi
então suficiente para irritar os professores e quase começar um processo de
violência no local. Outros manifestantes, afirmaram terem se sentiram
humilhados, e diversos deles, afirmaram que o sorriso da vereadora, que se diz
cristã e evangélica foi o estopim. Tal situação leva-nos a perguntar: o que
leva homens públicos, representantes eleitos pelo povo a agir de forma desumana
e ter atitudes que faz despertar em outros seres humanos o que se tem de pior?
A
posição de tais vereadores em relação aos professores e diversas outras
questões que afetam a vida dos cidadãos
e da polis só pode ser explicada se adentrarmos no terrível mundo do
jogo partidário. Considerados como sendo “da base do prefeito”, tais indivíduos
perdem a própria identidade, não são mais donos da própria consciência e passam
a fazer o que o prefeito manda. Na verdade, também o prefeito está imerso em uma
estrutura partidária da qual também é escravo. Tal situação lembra a história
de como funcionavam os partidos políticos na Alemanha pré-nazista e que deu azo
ao surgimento do Nazismo e todas as atrocidades seguintes.
O
jogo partidário no Brasil está se tornando cada vez mais cruel. Uma situação de
tão deplorável chega a ser nauseante para aqueles que ainda vivem e fazem
política pensando no processo de avanço do desenvolvimento humano e da
democracia. Os chefes nacionais montam uma estrutura hierárquica de cima para
baixo, no mais das vezes, totalmente autoritária, corrompida e corruptora.
Resistir a tal situação é praticamente se colocar a margem do jogo e perder as
possibilidades de ser candidato a alguma coisa.
Os
vereadores que provocaram e riram da derrota iminente dos professores estão
imersos neste jogo partidário. Entretanto, não são os únicos. A questão é tão
cruel que explica outro episódio – a vaia dos professores a chegada do deputado
Mauro Rubens no recinto. A razão é que segundo os manifestantes, o deputado
apoiou de forma voraz a greve contra o estado, e no caso do munícipio só
apareceu para dar apoio depois que o movimento apareceu em cadeia nacional de
rádio e televisão.
São
como já não existissem mais representantes do povo, apenas robôs que agem por
um maniqueísmo esquizofrênico. Pensam de forma automática – “ se feito por meu
chefe, está certo, se pelo chefe dos outros está errado”. Tudo isso acontece
por que vivemos há quase 20 anos sob uma polarização política que em nada ajuda
ao avanço da democracia. Como reação a esta situação inusitada, muitos
manifestantes acreditam que a solução para superar a decepção com os partidos
que polarizam é guerrear contra os partidos, construindo um apartidarismo que
na verdade colabora ainda mais para manter a situação exatamente como está.
A
solução não é o apartidarismo para sairmos desta situação. E sim, justamente o
contrário. Estas pessoas que lideram os movimentos nas ruas devem vir para os
partidos e democratizar os partidos, para que juntos, possamos encontrar um novo
modo de relacionamento entre os partidos, os movimentos sociais, o estado e a
sociedade civil organizada. O tempo não é mais de arroubos, o tempo é de Ser
Humano.
[1]
Nelson Soares dos Santos é Técnico em Magistério, Licenciado em Pedagogia pela
UFT, Mestre em Educação Brasileira pela UFG, Secretário Geral do PPS
Metropolitano e membro da Executiva Estadual do Partido Popular Socialista.
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