A Operação Sexto Mandamento - Perguntas

Toda ação que, de alguma forma, promova a virtude da Justiça na sociedade tem, em algum momento, ou de alguma forma, minha aprovação. Entretanto, precisamos sempre observar melhor. A Operação sexto mandamento, organizada pela Polícia Federal, em Goiás, merece todos os elogios daqueles que defendem os direitos humanos, a vida, o progresso da sociedade. Muitas perguntas, devem no entanto, esperar respostas nos próximos dias.

1ª - Quem de fato são os mandantes de tamanha tragédia? Policiais Militares são comandados. A educação que recebem é de obediência ao comando superior. Sendo assim, a idéia do extermínio pode até ter surgido na base, mas se disseminou, é por que teve a anuência e, de certa forma, a proteção do alto comando da Polícia. De outro lado, se altos comandantes se permitiram anuir a algo tão grotesco, existe na sociedade uma parcela de pessoas que apóia e demanda este tipo de ação. Os responsáveis por uma tragédia desse tamanho inclui o homem comum que no seu dia-a-dia aprova a vingança fria, a tortura, a violência como método de combate a violência.

2ª - Quanto tempo este tipo de crime ocorre na sociedade? Quem estuda um pouco da história de Goiás, sabe, que não há muito tempo, menos de duas décadas, políticos, juízes, e autoridades andavam armados de Carabinas. No tempo de Pedro Ludovico ainda cultuado e lembrado nos nossos dias, era comum deputados andarem armados de carabina para se protegerem da pistolagem. Nos anos de 1980, no hoje, Nordeste Goiano, e onde hoje é o Estado do Tocantins, era comum os patrões mandarem matar os trabalhadores para recolher de volta os salários pagos. Já no final da década de 1980, eu mesmo, testemunhei histórias desse tipo. E, pude fazer parte de grupo de trabalhadores que vivia de trabalhar como diarista e empreiteiros, cheios de medo de não voltarem para casa vivos. Parece, que alguns, não podendo mais andarem armados ou terem seus jagunços encontraram formas de se infiltrarem nas polícias. Caso seja esse o caso, a operação sexto mandamento tem muito a ir em frente.

3ª - Por que demorou tanto? Tem 15 anos que venho denunciando a falta de respeito aos direitos humanos no Nordeste Goiano. Tive um amigo pessoal, vitima de uma quadrilha de roubo de carro. Sabe-se a "boca miúda" que por detrás do roubo estavam policiais. Alguns anos atrás, o Prefeito de Monte Alegre de Goiás foi assassinado. Na época tive a oportunidade de conversar com alguns policiais que ajudaram na perseguição dos "bandidos". Sabe-se de coisas que nunca foram publicadas. Isso aconteceu no Início da década de 1990. Em 1996, tive uma amiga pessoal desaparecida em Brasília. Até hoje não se sabe os verdadeiros assassinos. O que eu sei, é que ela sabia demais sobre políticos do Nordeste Goiano, e andava angustiada e com muita vontade de denunciar tudo. Infelizmente ela desapareceu na viagem, na qual, ela prometeu a mim, quando voltar entregar em minhas mãos documentos e provas comprometedoras sobre "pessoas". Zé da Covanca, Dinalva Barbosa, e tantos outros foram silenciados, sejam por ameaças, roubos, e tants outras formas para evitar que se perca o controle da situação. O crime de Zé da Convanca, e da Dinalva deviam ser investigados pela Polícia Federal, ou pelo menos, melhor investigados.

4ª Por que não investigar no Estado Todo? Eu nasci e cresci no Nordeste Goiano. Tive, no entanto, a oportunidade de viajar todo Estado de Goiás, ouvindo as pessoas simples, ministrando aulas, trabalhando. Em Municípios do Sudeste Goiano a situação não é diferente do Nordeste. Na cidade de Goiatuba a situação é de verdadeiro terror. Aqueles que ousam, pelo menos, pensar em ser diferente, discordar, são tratados como escória da humanidade. Perseguidos, vilipendiados. Levamos até a Faculdade diversos palestrantes como o Deputado Mauro Rubens, Leonardo Guedes, e outros na intenção de conscientizar e travar a luta em favor dos direitos Humanos. O resultado? Hoje temos vários amigos sendo perseguidos, vilipendiados. Existe história de execução sumária por policiais na cidade de Goiatuba, mas que as pessoas, não tem coragem de denunciar por medo de também morrer. É tão sério, que um amigo, hoje, ainda morador na cidade tem medo de continuar sendo presidente do PT - Partido dos Trabalhadores na cidade, e estar colocando sua vida em risco.

Perguntas, perguntas, perguntas. Muitas perguntas podem e devem ser feitas. Os trabalhos devem continuar e receber o apoio da população. Nós somos os responsáveis pela guerra e pela paz na sociedade. Somos nós que decidimos com nossas palavras, pensamentos e ações o nosso destino. Devemos, no entanto, pautar pelo equilíbrio. O dever de investigar e definir os culpados é do sistema de segurança e do Judiciário. A defesa da vida, requer, inclusive que se dê apoio e assistência às famílias dos culpados. Não existe defesa verdadeira da vida quando se defende a Lei de talião.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ORAÇÃO DE MAAT.

A história de um processo - Parte 1.

A história de um processo parte 10 - Danos morais, materiais, psicológicos ou a quase perda da fé.