Helena de Tróia ( Esparta) e as Mulheres de Atenas


Debruçado sobre o pensamento de Bachelard fui obrigado a conviver, mesmo meio a contra vontade, com um acontecimento que me fez refletir o tanto que a história do pensamento é realmente diferente da história da vida cotidiana. O acontecimento fez-me dirigir o pensamento aos gregos antigos e a vida cotidiana que tinham. A fuga de Helena com seu amante Paris é uma deixa interessante para se pensar como a racionalidade se perde quando se mistura a sentimentos e paixões, ou quando a vida se funda em uma ética que exclui o direito de liberdade aqueles que pensamos ser inferior a nós, os chamados de outros.
Helena, segundo consta na história ou a mitologia como melhor aprouver, era mulher de Menelau que por sua vez tinha o respeito e o afeto de todos os reis da Grécia. Bela como nenhuma outra mulher, Helena era filha de Zeus e da Mortal Leda, esta esposa de Tíndaro, rei de Esparta. Helena era não apenas uma mulher, era uma semideusa, pois filha de um mortal e de um deus. Todos os acontecimentos presentes na Ìliada e na Odisséia tem como ponto de partida a existência de Helena.
Helena é a mulher liberal que segue o seu coração e, a negação do comportamento das mulheres de Atenas. Estas eram submissas aos seus maridos, virtuosas, dadas ao trabalho e fiéis ao seu papel na sociedade. Helena é dominada pela sua paixão.
Na verdade toda a vida de Helena foi uma rosário de confusão. Quando ainda menina foi raptada por Teseu e libertada por seus dois Irmãos Castor e Polux. Voltando a Esparta, seu pai Tíndaro temendo ocorrer uma desgraça resolve propor uma forma de resolver a disputa entre tantos pretendentes. Acertou então que todos respeitariam a escolha de Helena. Em nenhuma das versões que conheço existe uma explicação lógica para que Helena escolhesse Menelau. Este era irmão mais novo de Agamenon novo rei de Esparta e casado com a irmã de Helena, Clitimnestra. Menos lógico ainda foi sua história de fugir com Paris para tróia. Paris não era, pelas descrições, nada tão sedutor assim, não era o típico soldado valente, corajoso e virtuoso.
Conseguindo a solidariedade dos demais reis gregos, Menelau organiza uma expedição a Tróia em busca de Helena. Uma das versões, que eu acho interessante, insinua que na verdade muitos dos reis gregos foram para a guerra não por solidariedade mas por que também tinham a intenção de desposar Helena, seria por exemplo, o caso de Aquiles. Helena em sua paixão febril, nem humana, nem divina escolheu Paris.  Em uma das versões, após a morte de Paris ela casa com seu cunhado Deifobo, trai-o, entrega-o a Menelau e volta para Esparta. Em outra versão, diz que ela sobrevive a morte de Paris, é expulsa de tróia por seu enteados, foge para Rodes onde é enforcada pela rainha Polixo que teve seu marido morto na guerra.
Na versão mais interessante, ela sobrevive a todos, e vai viver nas ilhas de forma afortunada com Aquiles. É um mito, muitas versões, mas uma verdade fica forte em todas as versões: a força da paixão de Helena e sua capacidade de enfeitiçar os homens e depois  abandoná-los sem nenhum pudor, o que a coloca em uma diferença colossal das mulheres de Atenas.
As mulheres de Atenas.

Mulheres de Atenas
Composição : Chico Buarque
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Vivem pros seus maridos,
Orgulho e raça de Atenas.
Quando amadas, se perfumam,
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas.
Quando fustigadas não choram!
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas; cadenas.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Sofrem pros seus maridos,
Poder e força de Atenas.
Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados;
Mil quarentenas.
E quando eles voltam, sedentos,
Querem arrancar, violentos,
Carícias plenas, obscenas.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Despem-se pros maridos,
Bravos guerreiros de Atenas.
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas,
Mas no fim da noite, aos pedaços,
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Geram pros seus maridos,
Os novos filhos de Atenas.
Elas não têm gosto ou vontade,
Nem defeito, nem qualidade;
Têm medo apenas.
Não tem sonhos, só tem presságios.
O seu homem, mares, naufrágios...
Lindas sirenas, morenas.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Temem por seus maridos,
Heróis e amantes de Atenas.
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas,
Não fazem cenas.
Vestem-se de negro, se encolhem,
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas;
Serenas.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Secam por seus maridos,
Orgulho e raça de Atenas.

Penélope, Helena e as Mulheres modernas.
O mundo precisa de mais penélopes, e menos Helenas. A revolução sexual povoou o mundo de Helenas. As mulheres tornaram-se semi-deusas, não são mais submissas, não se entregam ao projeto de se construir uma família, abandonam os filhos por suas paixões, e , que muitas vezes as levam a tragédia e morte. Grande parte das vezes não por parte do marido que as amaram, mas do amante que nada tinha a perder, e  nada desejava senão a ilusão da ilha de Loto, comer e se despender dos prazeres da vida.
Não creio que Penelópe não fosse livre. Creio que na verdade era ainda mais livre, mais consciente e mais responsável que Helena. É a velha discussão sobre o que é o poder e a liberdade, e o uso responsável que fazemos dela. Penelópe jamais seria considerada culpada se tivesse cedido as investidas dos seus pretendentes com a notícia de que Ulisses já estava morto. Mesmo assim, Penelópe prefere esperar mais e sempre mais. Penelópe é para mim a expressão do amor verdadeiro, em contraposição a Helena que é a expressão da paixão desenfreada e sem responsabilidade. Dirá as feministas de hoje que isso cheira a machismo. É claro que não considero aqui a possibilidade de que se volte no tempo e destrua as conquistas modernas dos direitos femininos. Trata-se de responsabilidade. Nos dias atuais precisamos conciliar a liberdade com a responsabilidade. Não se pode mais deixar que em nome da liberdade faça-se qualquer coisa e seja impune.
No amor verdadeiro não existe distância e tempo que justifique o comportamento infiel. Na paixão desenfreada obedece apenas os desejos e a vontade da carne. Nosso tempo tem sido o tempo das Helenas. O tempo da liberdade sem responsabilidade. O tempo da paixão, do atendimento ao desejo de forma inconseqüente. E que falta nos faz as mulheres de Atenas.


Comentários

  1. Eu não gostei e algumas coisas estão erradas.Até parece que não estudou sobre a guerra de Troia.

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  2. So quero lembrá-lo que Helena não se apaixonou por Páris assim derrepente, porque ela quis, na verdade ela amava a menelau, mas foi enfeitiçada pela deusa Afrodite para que se apaixonasse por Páris, que escolheu dar o polmo de ouro a ela na festa de casamento da ninfa Tétis.

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