O futebol e o carnaval – O ópio da democracia
Ontem foi dia de final no futebol Brasileiro. Na maioria dos estados federados dois times disputaram o direito de sagrar-se o melhor do ano e guardar consigo a faixa de campeão estadual. Em Goiás, assistimos os dois principais times digladiarem-se durante noventa minutos em busca do grito de campeão. E nas arquibancadas do estádio milhares de pessoas em um frenesi incomum. O êxtase não acontece apenas nos estádios, ele se repete em todos os lares onde exista uma televisão ligada, alguém ligado na internet, onde quase sempre, até quem não gosta de futebol é obrigado a compartilhar a paixão nacional. O que aconteceu em Goiás se repetiu em todos os grandes estados brasileiros, uma paixão que toma conta de todos, e deixa em segundo o plano todas as demais coisas.
Outro momento de êxtase da nossa nação brasileira é a festa do carnaval. Durante uma semana todo país praticamente ficado parado em torno da idéia de diversão e entretenimento. Nos dois principais estados da federação, Rio de Janeiro e São Paulo, escolas de samba disputam o titulo de melhor do ano, em, algo que quase nada mais lembra o carnaval tradicional. No estado da Bahia, durantes mais de dez dias caminhões – os populares trios elétricos – arrastam milhares pelas ruas em um frenesi quase louco, onde as pessoas se misturam e muitas vezes perdem a própria identidade.
Muitas outras festas e momentos de êxtase e frenesi atacam-nos durante o ano. É assim os finais de novelas, programas do tipo do BBB, programas de auditório nos domingos. Quase todo país para vendo algo, vivenciando algo cuja maior contribuição é, entorpecer os sentidos e nos levar a viver em um mundo de imaginação e magia, permitindo uma fuga da realidade que o cotidiano nos presenteia. Tantos momentos de êxtase tornam difícil pensar o cotidiano, racionalizá-lo, compreendê-lo. Vivemos alienados pela política do entretenimento.
No passado da humanidade já houve momentos nos quais o entretenimento era importante para manter as pessoas nas lutas do dia-a-dia. Em Roma a chamada política do pão e circo servia para desviar a atenção do povo das mazelas dos governantes e mantê-los satisfeitos com a vida que possuíam. Leões comendo cristãos, gladiadores se destruindo na arena eram algumas das formas as quais as pessoas se divertiam em assistir. Era a selvageria da raça humana sendo vivida e compartilhada por todos em uma dimensão coletiva. Tantos outros exemplos podem ser vistos na história. É sempre o entorpecimento dos sentidos, a alienação da consciência levando todos a fugir da realidade, a não pensar nas responsabilidades que a vida nos dá, nos oferece e nos cobra. E como não queremos assumir responsabilidades, todos quer um mestre, um guia, alguém que nos diga o que é certo e o errado para dormirmos tranquilamente após um dia de diversão ou trabalho vivido de forma automática, sem consciência e sem liberdade.
Sim. Tais entretenimentos é o ópio da democracia na atualidade. É o pior mecanismo de alienação. A democracia não avança por que não avança o nível de consciência do povo. Este, o tempo que possui em vez de ser utilizado para pensar, refletir, tomar consciência de si, usa-o cada vez mais para passar tempo em frente da TV, nos estádios de Futebol, nas programações extensas da péssima música aumentando mais a propensão para o vício em vez de poder exercitar as virtudes. A arte verdadeira é deixada de lado. Afinal, mesmo a pintura moderna nada mais é que o louvor ao consumismo, ao egoísmo e a devassidão. A democracia precisa deixar o entretenimento ser entretenimento sob pena de a própria democracia tornar-se um entretenimento daqueles que sabem tirar proveito dos simples e incautos.
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