A ética do Ser Humano, a Ética do Governador e os venenos e Toxinas da Política
Nelson Soares dos Santos
Esta semana parece ter sido uma
semana fria e sem acontecimentos políticos relevantes. Teria
sido se olharmos com os mesmo olhos que sempre olhamos, a forma como
estamos acostumados a ver as coisas, a política e os seres
humanos. No entanto, se olharmos um pouco diferente, saindo um pouco
do meio político, olhando com os olhos do povo, podemos ver
muitas coisas acontecendo, e coisas graves que podem comprometer o
futuro do país.
O primeiro acontecimento interessante
desta semana foi a atenção dada por diversos políticos
ao tema da ética. Este é sempre um assunto e tema rico, que dependendo de quem o aborda fica com mais esplendor. Entre estes políticos que falaram de ética, o Governador Marconi Perillo que disse mais ou menos assim: “
Ser ético é ter a coragem de tomar decisões
mesmo que esta não agrade algumas minorias”. O governador
falava em um evento sobre o meio ambiente e claro, citou a
necessidade de apertar o certo contra aqueles que não são
“éticos”, e que devastam o meio ambiente. Subliminar
estendeu a tal ética para todas as decisões do Governo,
e é bem ai que o problema começa.
Publicado nos jornais a declaração do governador ficou repercutindo como se
fosse ético a atitude do Secretário de Educação
de colocar a polícia nos professores. Ficou parecendo que
ético retirar a titularidades dos professores conquistado com
sofrimento ao longo da vida. Ficou parecendo que é ético
não pagar o piso aos professores; ficou parecendo que é
ético um professor ganhar 1460.00 reais para trabalhar
quarenta horas. Ficou parecendo que é ético cortar o
ponto dos professores em greve.
O problema do Governador é de
conceito. Ele confundiu ética com moral. No senso comum todo
mundo faz isso, mas quando os governantes fazem ganha um sentido
ideológico forte que pode mudar os rumos do Estado. Ética
não é moral. Antes, Ética é a ciência
que estuda o comportamento moral do ser humano. Quando o governador
falou “Ética”, na verdade quis falar moral. E, bem
sabemos, a moral não é única na sociedade. Neste
sentido do ponto de vista do Secretário de Educação
é ético o que está sendo feito com os
professores no Estado. Portanto, o que é preciso perguntar é
a quem serve tal ética ou tal moral e por que tenta se
instalar na estrutura do estado um tipo de moral que visto pelos
olhos do povo nada tem de defesa dos interesses do bem comum ou do
povo.
Na verdade, o que se vê no
Brasil é uma tentativa de se instalar uma ética do
roubo. Sim, não se trata de neoliberalismo, ou esquerdismo.
Trata-se de escravizar a maioria do povo a interesses menores de um
grupo de pessoas que se arvorou em líderes do povo mas que não
vê senão os próprios interesses. Não se
trata pois de uma ética de uma maioria contra uma minoria, nem
tão pouco uma Ética ( moral) dominante como se
compreende o marxismo, relativo a classe dominante ou daqueles que
possuem os meios de produção. Trata-se de uma ética
do roubo, do veneno, da baixeza moral, do se dar bem na vida a
qualquer custo fazendo o que preciso for.
Os abalos vividos pela base aliada do
Governo Federal é outra situação que mostra esta
verdade. Bastou a presidente começar a combater a corrupção,
não tolerar desvios absurdos e a tal base aliada entrou em
crise. O que a presidente quer é tão somente um governo
mais técnico, no entanto, parece que o congresso não
consegue ou não tem forças para compreender isso. É
como se na verdade houvesse um governo paralelo que controla o
Congresso. É estranho isso, como se o filme “Tropa de Elite”
que descreve o combate ao crime organizado no Rio de Janeiro e ao
final do segundo Filme, e aponta para Brasília como sendo o
lugar onde o crime tem seus tentáculos mais forte, estivesse
deixando de ser ficção e se transformando em uma dura
realidade.
Outro fato curioso é que não
existe mais oposição. É como se todos os
políticos estivessem se unindo em uma conspiração
contra o povo. No Governo Federal a oposição se perdeu
em seus próprios liames ( no momento, a principal voz,
Demóstenes Torres, agora dedica o tempo a explicar as relações
íntimas de amizade com um dos maiores contraventores do Jogo
do Bicho preso pela Política Federal; inocente ou não a
voz que existia vai sendo silenciada). Nos estados onde os partidos
da base do Governo Federal é oposição, também
não existe oposição por que afinal é tudo
do mesmo. Praticamente não tem como diferenciar um Governo do
PT de um Governo do PSDB. A estrutura da política está
se alimentando dos próprios venenos e ninguém consegue
ver além do mar de lama onde estão se banhando.
Tristemente esta é uma
situação que se estende ás disputas de poder
dentro dos partidos políticos. Quase não existe mais
dirigentes partidários estadistas. O que existe são
indivíduos a procura de emprego e vantagens no aparelho do
Estado. Parece que a única forma de fazer política
começa a ser saindo da política. A vivência no
interior dos partidos torna-se cada vez mais complexa. Os grupos que
se guerreiam em torno do controle da máquina partidária
não consegue sequer perceber quais são os papéis
do partido político em uma democracia. O lugar da teoria e do
esforço de compreensão foi tomado pelo pragmatismo do
toma-lá-da-cá. No meio de tudo isso os falsos quadros
técnicos que são nomeados por falsas meritocracias,
cargos de confiança e comissionados. Quando se olha com
atenção, o que se vê é uma intrigada rede
de interesses profundamente organizada cujo único objetivo
verdadeiro é sugar e sangra o estado.
Toda estrutura que se alimenta e se
realimenta envia constantemente toxinas e venenos para a sociedade. O
desinteresse pela política cresce, outros reagem “entrando
no esquema”, como mostrado como normal o processo de propina
noticiado pelo Programa Fantástico da Rede Globo, onde, os
empresários passa a ver a corrupção dos
políticos e assessores apenas como uma ética do
mercado. O problema é que tais toxinas e venenos se alimenta e
alimentado pela violência latente na sociedade gerando abertura
para o surgimento de uma verdadeira patologia social. No final, os
mais fracos é que pagam o preço, uma vez que falta
remédio nos hospitais públicos, a educação
pública não tem qualidade, e a segurança
praticamente inexiste. Diante de tudo isso, fiquei tentando
colocar-me no lugar do Governador e tentando questionar qual deveria
ser a decisão corajosa que pode tomar um governante em uma
situação com esta. Não sei quando terei a
resposta. A diferença entre minha situação e a
do Governador é que ele inevitavelmente tem de Governar.
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