Conselhos necessários
Nelson Soares dos Santos
Hoje fui abordado por um ex-aluno no
chat do Facebook. Ele foi direto ao assunto. “As vezes fazemos uma
ideia errada das pessoas. Hoje vejo que você é o cara,
seu conselhos hoje me são necessários”. O referido
aluno é o que eu posso chamar de bem sucedido. Estuda na
Universidade Federal, tem planos, projetos, sonha. Não se pode
pedir muito mais do que isso para um jovem nascido no nordeste
Goiano. Afinal, está no caminho que pode levá-lo ao
topo da pirâmide. Na verdade, não fiquei feliz com a
abordagem pois pelas lembranças era um daqueles alunos que
tinha se arvorado em fazer abaixo-assinado para pedir minha
demissão. Irritado mais ainda por este tipo de abordagem estar
cada vez mais frequente, e no presente, os tais conselhos que os do
passado se tornaram necessários não parece surtir
efeito para os do presente.
Em um esforço de memória
pude reconstituir que fui professor do referido, em um curso
tecnológico ministrando a disciplina de Metodologia
Científica, em um curso voltado para o agronegócio.
Perguntei então, de que conselhos se lembrava, não
antes de dizer que a má compreensão da minha pessoa
por parte de indivíduos que depois aparece para pedir
desculpas tem me causado prejuízos financeiros incalculáveis.
Ele reagiu respondendo que admirava o jeito e a forma com sempre
quero o bem de todos, e, esforçando, lembrou dos conselhos que
segundo ele, era o esforço que fazia nas aulas para que cada
um aprendesse a pensar por si mesmo e que o conhecimento e a Educação
é a única garantia verdadeira de um futuro melhor.
Continuo ensinando as mesmas coisas,
sendo o mesmo professor e tentando sempre aperfeiçoar o
método, mas como no passado é difícil romper a
barreira do senso comum. Mais do que nunca pensar por si mesmo,
acreditar na educação, apostar na busca do conhecimento
tornam-se conselhos necessários. Hoje, mais ainda, precisamos
aprender a viver juntos, respeitar as diferenças, exercitar a
tolerância. No entanto, continuo enfrentando coordenadores que
aconselham alunos a desistir da matéria, instilam a
intolerância, e, pior, são melhor compreendidos e
aceitos do que o discurso e a luta que empreendo. Será um
destino ser educador? É possível fazer ver aqueles que
nos chegam como alunos que a única coisa que queremos é
que cresçam e se tornem homens e mulheres?
Lembro-me que na época uma das
grandes acusações que eu sofria, era a sórdida
imagem de ateu e blasfemador do nome divino. E um diretor caridoso, e
uma coordenadora religiosa que passava os fins de semana consumindo
caixas e caixas de cervejas eram vistos como verdadeiros servos de
deus, e homem e mulher preocupados com o futuro daqueles jovens. Na
época, eu trabalha em um Centro Espírita “ Irmã
Lúcia”, todos os sábados a noite e domingos de manha,
enquanto os servos de deus embriagavam-se e curtiam as mais
religiosas orgias em suas ricas fazendas. Hoje, sou acusado de ter
“convicções firmes oriundos do Marxismo do PC do B”.
Não direi aqui o que faço hoje, vamos deixar para um
futuro próximo para que se descubra mais uma vez quais
conselhos são necessários.
Conselhos necessários. De onde
tiraremos forças para lutar contra os venenos do
individualismo? Como romper com as tiranias de faculdades
particulares que só são capazes de contratar
professores dispostos a não ensinar? Como romper com a falsa
ideia de que a educação pode ser um negócio e
que quando o aluno paga ele tem o direito de exigir como a educação
deve ser feita? Coordenadores que aconselham um aluno a desistir de
um disciplina e enquanto tal prejudicam o futuro deste jovem deveriam
ser banidos do meio educacional. Quantos jovens como este que
abordou-me hoje terão forças para recomeçar?
Quantos outros se perderão por que sequer terão acesso
a algum conselho útil e necessário? A urgência
do respeito a educação e ao educador não é
mais uma questão qualquer, trata-se de garantir o futuro da
humanidade. Como disse Paulo Freire: “Educação não
transforma o mundo, educação transforma pessoas,
pessoas transformam o mundo”. Parafraseando podemos dizer que do
jeito que as coisas estão indo, chegará um momento no
qual as pessoas não saberão do cuidado de si, e então,
não serão algumas pessoas que estarão em risco,
mas a própria humanidade.
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