Mensagem pra você - O desapego.




Nelson Soares dos Santos

Somos todos feitos do húmus da terra. Sim, e só vivemos pelos elementos minerais que existem em nosso corpo. Neste ponto em nada somos diferentes das plantas e dos animais. O que nos difere do restante da natureza é a nossa capacidade de escolher, e se é apenas isso, por que somos tão orgulhosos e nos sentimos tão superiores? A maioria de nossas doenças advém de nossas crenças em nossa superioridade, afinal, somos ainda capazes de acreditar que somos os únicos seres vivos no universo, e, pior, queremos mesmo acreditar que Deus criou todo o Universo apenas por nossa causa e que podemos fazer dele o que bem quisermos.
Ontem meditava sobre riqueza, pobreza e vida simples. Aos poucos fui percebendo as razões que levaram os grandes sábios do mundo a desejar se desapegar completamente dos bens materiais e também das pessoas. Aos poucos pude compreender das palavras do Cristo: “aquele que não deixar seu pai e sua mãe para vir a mim não é digno de mim”; aos poucos fui compreendendo a mente de Buda quando tudo abandonou da vida no palácio para viver no meio da floresta. Nos nossos dias o apego é dos piores males existentes. É por causa do apego que muitos caem no vício, na revolta, no desespero. É por causa do apego que muitos matam, roubam, e se destroem nas drogas que embriagam o corpo e a alma.
E de tão apegados, já não somos mais capazes de compreender que no final somos apenas “sombras e pó”. E não compreendendo isso, somos incapazes de compreender o que é viver com força e honra. Perdemos o respeito próprio, e pior, tem gente já confundindo vida simples com falta de respeito próprio, quando na verdade, falta de respeito próprio é se torturar parar tentar possuir algo a qualquer preço. Não sabemos o que é útil em nosso viver e caminhar, por que não sabemos mais o sentido da nossa vida e existência, preso que estamos no desespero de possuir, possuir, possuir. Já não nos contentamos em ser, queremos a tudo ter. Já não nos contentamos em sermos filhos queremos possuir nossos pais; já não nos contentamos em ser parte da vida de alguém queremos possui este alguém; já não nos contentamos em sermos alunos, queremos possuir nossos professores; e assim numa escala sem fim. No auge do apego, não vemos mais pessoas, vemos mercadorias; e no final, tudo é mercadoria, mesmo um pouco de atenção torna-se mercadoria.
O caminho da felicidade passa pelo exercício do desapego. É através dele que podemos ver em nosso trabalho mais que uma fonte do nosso alimento e prazeres; é através do desapego que conseguimos ver no casamento mais que um negócio; é através do desapego que conseguimos ver na amizade mais do que condescendência e conveniência. É através do desapego que podemos nos libertar da embriaguez do ter que a vida impõe, um ter infinito e insaciável que leva muitos a perder totalmente a consideração pelo ser humano e por si mesmo. É através do desapego, que aprendemos que nesta vida, e no final dela, somos apenas sombras e pó, sombras e pó e nada mais; e que portanto o que vale a pena é a vida de virtude, é a força e honra.

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