A queda do último moralista: Ascensão e queda de Demóstenes Torres
Nelson
Soares dos Santos
Conheci Demóstenes Torres
quando deixou de ser promotor e tornou-se Secretário de
Segurança. Dizem que antes de se tornar promotor foi militante
do PCB – antigo partidão. Na Secretaria de Segurança
Pública foi o Xerife durão, e durante sua estada foi
quando a Rotam mais foi louvada. É verdade que o crime diminui
na primeira gestão do Governador e eu, na época,
dirigente estadual do PC do B, até o admirava. Tudo começou
a ficar estranho quando de uma hora para outra, o promotor secretário
aproveitou com oportunismo impressionante, um vácuo político
e foi eleito, na sombra do Governador Marconi, Senador por Goiás.
No seu primeiro ano de Senado, tive a
oportunidade de ouvir o Senador pela primeira vez. Ele
foi fazer uma palestra na Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas de Goiatuba, cidade, onde por acaso mora o sogro do seu
primeiro suplente atual. Na palestra, que deveria ser sobre direito
constitucional, o senador desancou o PT, e tudo que não era de
direita. Atacou as cotas e chamou negros de preguiçosos. Desde
então, passei a conhecê-lo como o senador de direita que
era contra tudo que significasse busca de igualdade social. Passei a
sentir vergonha quando diziam que ele era senador por goiás, e
a culpar Marconi por ter criado verdadeiros monstros em seu primeiro
Governo.
Como se não bastasse o Senador
resolveu romper com seu criador e ser candidato a Governador. Naquela
época, votei novamente no PMDB. Não dormiria em paz se
votasse no Cidinho, ( candidato do Marconi), ou no Demóstenes
( candidato do demo). Felizmente, o demo não ganhou as
eleições, e como a vida dá voltas que a gente
não imagina, e a política mais ainda, no retorno de
Marconi eis que o Demóstenes volta a apoiar Marconi. No
segundo Turno fui acompanhar uma carreata em que estava os três
senadores, e quando vi o Demóstenes acenando para o povo,
comentei: este não vai durar na política, por que é
visível que não gosta de estar ao lado do povo. Para
minha surpresa o nome do homem cresceu e se transformou em candidato
a presidente da república. Eu, no meu silêncio,
questionava: por que homens maus e corruptos se dão bem
enquanto tantos trabalhadores sofrem?
O Senador era um homem deus.
Condenava as cotas por que dividia a nação e favorecia
aos preguiçosos, na verdade, condenava tudo que representasse
conquistas dos direitos humanos. Corria-se a boca miúda na
cidade de Goiatuba que o seu suplente bancaria a campanha e que ele
renunciaria para ser candidato a prefeito de Goiânia, quase,
que de fato a rádio corredor tinha razão. A cidade de
Goiatuba é uma cidade cheia de desmandos, e se você quer ouvir tudo que
acontece de ruim vai a Goiatuba. Lá ouvi coisa que até
o diabo tem vergonha de falar em voz alta. Quando se falava na cidade
que o Demóstenes era o novo paladino da moral, pessoas simples
davam risadas e murmurava: quero ver até quando.
No final, parece que os informantes
de beira de bar da cidade de Goiatuba não estavam errados. A
operação da PF que parece conspurcar a honra do senador
– último paladino da ética e da moral – liga-o ao
homem que roubou a esposa do seu primeiro suplente. Mas não é
apenas isso, o que se diz, a boca miúda é que se a
Operação da PF tiver tido mesmo sucesso não
sobrará nenhum político com mandato em Goiás que
não esteja envolvido, e isso se ouve de pessoas que foram
assessores de longos anos de políticos graúdos no
Estado. A verdade e pelo que já consta, já tem pessoas
dos principais partidos envolvidos, até mesmo, e quem diria,
Elias Vaz, do PSOL. Todos agora seguem o ritual da queda anunciada.
No primeiro momento dizem-se inocentes e recebem apoio dos seus
colegas; no segundo momento ( quando aparece mais coisas), dizem-se
vítimas e afirma que vai provar a inocência; no terceiro
momento, esbravejam, gritam e afirmam, que se cair, meio mundo cairá
junto; No quarto momento, começam o processo de renúncia
dos mandatos para não serem caçados. E, finalmente,
desaparecem no ostracismos político. E assim, segue a nação
entre o moralismo e o realismo político. Enquanto isso,
milhares passam fome, professores recebem um piso de 1460.00, outros
milhares morrem nos hospitais por falta de tratamento adequado.
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