Bolsonarismo/Direita : - Para entender o espectro político no Brasil atual



Uma das formas mais simplificadas de tentar entender o jogo político brasileiro é buscar observar a formação de blocos na Câmara dos deputados. Com 513 deputados, que representa proporcionalmente a quantidade da população os diversos estados brasileiros, a câmara se transformou nos últimos trinta anos, ou desde a luta pelas “Diretas Já”, no principal palco da luta ideológica no Brasil. Ali, os diversos matizes ideológicos se digladiam em busca de espaços, holofotes e aprovação de leis que representam as visões de mundo defendida por eles. E embora os matizes sejam muitos, basicamente, para a população em geral, existe uma polarização, que desde 1989, não foi quebra. De um lado está a direita, aqueles que são saudosos do regime ou ditadura militar, e, se intitulam defensores do Liberalismo econômico, e de outro, a esquerda, que desde a queda do muro de Berlim e o fim da União soviética busca nova identidade, mas que suas ações buscam equilibrar o jogo das desigualdades econômicas e sociais entre aqueles que detêm os meios de produção ( empresários, milionários e multibilionários), e os trabalhadores, sejam eles autônomos ou não, mas que em resumo vivem da venda da força de trabalho.

O Resultado das eleições mostrou um país hiper dividido, e não resta dúvidas de que não foi o PT que venceu as eleições, e sim, a personalidade do Lula, que mobilizou uma frente ampla e adesões no segundo turno, com o mote de defesa da democracia. É possível que fique registrado para a história que estas eleições de 2022, o que esteve em jogo foi a possibilidade de continuarmos sendo uma democracia ou se voltaríamos a viver novamente, uma tentação autoritária daqueles que já abertamente, defendiam a intervenção militar. E se Lula venceu as eleições, mesmo que com pouca margem de votos, não se pode dizer o mesmo do Congresso. No geral, o congresso eleito, pode ser definido como tendo uma maioria extremamente conservadora, tanto no senado quanto na câmara dos deputados.

Caso o Brasil fosse um país onde os eleitos tivessem completa lealdade às ideias defendidas e levadas até o eleitor em busca dos votos nas urnas, o governo Lula seria totalmente inviável. Na prática ( figura abaixo, créditos jornal o povo +), mostra uma base de luta com 167 deputados, e uma oposição consolidada, de 286 deputados. A oposição dita consolidada representaria mais de 50% dos eleitos da Câmara. E no senado, não é diferente. A base de Lula contaria com 23 cadeiras, enquanto a oposição estaria consolidada com 43 cadeiras. Entretanto, após as adesões de segundo turno e a formação do Governo, pode se dizer que a situação se tornou mais favorável a governabilidade, na medida em que Lula, com a habilidade política já conhecida e sempre supreendente abrigou na esplanada, além dos partidos que o apoiaram diretamente no segundo turno, o União Brasil e o PSD. Em coluna recente, analisando a formação do mais novo bloco da casa, Luiz Carlos Azedo, mostra como o jogo está se equilibrando a favor de Lula, da governabilidade e do Brasil. A formação do novo bloco na câmara em que se uniram “O MDB, o PSD, o Podemos, o Republicanos e o PSC formaram um bloco com 142 deputados “ pode levar a base do governo para 280 deputados, número suficiente parar tornar razoável a aprovação dos projetos do Governo na Casa.


Mas afinal, o que é a direita e a esquerda, para além dos blocos da casa, e como entender a fluidez e matizes ideológicas?

A direita.

No caso da direita, podemos fazer uma primeira divisão em três faces: A direita liberal e democrática; a direita liberal autoritária, e o bolsonarismo com características neofacistas. Cada um destas vertentes ainda possuem subdivisões dentro de si, o que nos leva a intensa fragmentação partidária, com alguns partidos, mesmos inexpressivos.

O Bolsonarismo ( PL , 99 deputados na Câmara)

O bolsonarismo pode ser compreendido a partir de três facetas. Os seguidores não conscientes, os líderes, e os espertalhões. Os seguidores, são aquela leva de pessoas que até pouco tempo não se interessava por política, e que levados pelo antipetismo, e por uma pauta de costumes, ( muitas vezes levados pela própria hipocrisia) aderiram ao bolsonarismo como sendo uma tábua de salvação. Seus representantes na Câmara são os influenciadores digitais e jornalistas que fazem o papel de elaborar e justificar uma narrativa, ainda que absurdo, mas crível de se acreditar. Está neste grupo deputados como Nikolas de Minas Gerais, entre outros. Os líderes, fazem parte do grupo que defendem arduamente uma pauta de costumes, geralmente vindos do meio evangélicos, pregam uma politica de Deus contra o Diabo, nós contra eles. Nestes grupos estão todos os líderes e bancada evangélica. Por fim, o grupo dos espertalhões. Empresários que se aproveitam de todas as oportunidades possíveis para ganhar dinheiro, e conseguem navegar para além de crenças, costumes, e ideologias políticas. Os políticos que os representam geralmente, ganham eleições baseados em extenso financiamento de campanha das mais diversas formas, e agem da forma mais surda e busca de vantagens dentro das empresas públicas.

A direita liberal e autoritária.

A direita liberal e autoritária é caracterizada principalmente, pelo saudosismo do tempo do país governado pela Ditadura Militar. Por mais absurdo que possa parecer, é deste grupo que surge a narrativa que é possível uma democracia tutelada pelos militares. Com líderes altamente qualificados e capacidade de elaboração, tem nas polícias e nos egressos das forças armadas, seus principais líderes e expoentes. O senador e ex-vice presidente da República Halmiton Mourão, parece ser, na atualidade, o porta-voz mais legítimo deste grupo. Com pautas como defesa do armamento do cidadão, fortalecimento das polícias e valorização dos policiais, este grupo crescem muito desde 2016, aos dias atuais, entretanto, quando confrontado com a pauta de costumes, indústria nacional, agricultura e outros temas, tendem a não terem posições unificadas e consolidas, e as vezes, até contraditórias. Os líderes e parlamentares deste grupo se encontram espalhados em diversos partidos como PSC, PSD, Republicanos, PL, Partido Novo, e até mesmo no MDB e PSDB.

O liberalismo econômico ou direita liberal e democrática.

Os partidos, que pelos seus estatutos representaria esta vertente, seria o União Brasil, o PL, O PP e outros partidos mentores. No entanto, na prática não é assim. O PL, hoje, está formado por sua maioria de bolsonaristas cujas pautas sãos costumes e com fidelidade canina ao líder Bolsonaro; o PP, em sua maioria, é formado por parlamentares com representação e interesses regionais dos seus respectivos estados. O União Brasil, e o PSD, são os partidos que em sua composição melhor representam a ideia do liberalismo econômico, tendo em seus quadros intelectuais do pensamento liberal reconhecidos. Na câmara, Kim Kataguiri fundado do movimento Brasil livre, ou na sigla MBL, é o representante mais expoente. Entretanto, políticos como Vilmar Rocha, Secretário Geral do PSD, Gilberto Kassab, Presidente do PSD, Ronaldo Caiado, Governador de Goiás. Outro grupo que se intitula liberal, são os “livres”. Este grupo flertou com o partido Cidadania de Roberto Freire, no entanto, as divergências de ideias não permitiram maior convergência política. Membros dos “Livres” e “MBL”, foram os primeiros a romper com as políticas de bolsonaro, quando este tentou implantar um “Liberalismo Conservador”. No segundo turno das eleições, estes grupos se dividiram com parte deles apoiando a eleição de Lula com a justificativa da defesa da democracia, e outros retornando o apoio já rompido a Bolsonaro.


Para concluir, compreender a direita no Brasil, requer refletir sobre as nuances que a compõe, e explorar as diferenças internas. É preciso separar aqueles cuja possibilidade de diálogo é presente, daqueles que não o é. Existem os liberais defensores da democracia. Admitir isso significa abrir um portal de diálogo necessário na conjuntura atual. De outro lado, é preciso aceitar que não é possível aceitar os argumentos racistas, homofóbicos, machistas, e todas as ideias que destroem a vida humana e dilacera a dignidade de milhares de pessoas. Por fim, é preciso compreender que a luta fundamental da atualidade consiste em diminuir as desigualdades sociais, e para isso, é preciso conhecer o “Brasil profundo”, como disse o Ex candidato a presidente Ciro Gomes, que significa conhecer os processos mais secretos e perigosos que regem os bastidores da política brasileira sem permitir que estes afetem nossa disposição de construir um futuro digno.




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