Corrupção VII – Mubarak, Kadafi, Arafat, Saddam e Orlando Silva: a Corrupção do Gênero Humano?


Nelson Soares dos Santos

Nos artigos anteriores venho defendendo as seguintes idéias: 1. A corrupção não existe como coisa em si; 2. A corrupção é um fenômeno que se manifesta em pessoas; 3. A existência da corrupção é inerente as questões econômicas e sociais; 4. A corrupção é útil a manutenção de um sistema cujo sustentáculos são as virtudes e os vícios humanos; 5. Se a corrupção apenas se manifesta nas pessoas a queda de indivíduos isolados é inútil no combate a corrupção; 6. O sistema sustentado pela corrupção é um sistema global e não apenas local.
O que tem de comum o nosso assunto tratado nesta série de artigos e a morte de Kadaffi? A pretensão de levar a democracia no Oriente Médio  sempre me chamou a atenção pela leitura que fiz ainda jovem das profecias de Daniel. Segundo o profeta, e se ele estiver certo, acontecimentos importantes da história da humanidade ainda passarão pelas disputas que acontecerão naquela região, no entanto, pelo que entendi, disputas estas feitas por atores externos. Por que no entanto, comparar tais homens a um ministro do Governo Dilma? É simples, o que os une, é que de uma forma ou de outro, todos representam um aspecto do gênero humano.
A morte de Kadaffi passa uma idéia de que agora as coisas vão melhorar. O mesmo que ocorreu com a guerra do Golfo em 1992, depois com a invasão do Iraque, e seguido, veio Osama, Mubarak e  outros. A cada um destes homens que caíram e foram mortos, passou-se uma idéia de que as coisas iriam melhorar. No entanto, entre uma queda e outra, as crises econômicas se agravam, o desemprego aumenta e todas as partes do mundo; a violência se espalha; até que se encontra outro inimigo para perseguir, derrubar e assassinar. A morte destes homens em quase nada modificou o cenário pelos simples fatos de que não eram homens comuns, eram representantes de um povo, multidão, idéias; e o cristianismo é a grande prova de que assassinar homens isolados não se destrói idéias, pelo contrário, promove-as de tal forma ao ponto de torná-las invencíveis.
Caso acreditássemos que estes homens representam um aspecto do gênero humano corrompido, seria preciso perguntar que outra forma a combate. Se trata de uma forma de governo da vida ( democracia) a ser implantada e que modifica os costumes, é precisos perguntar que moral possui esta forma de “governo da vida” para compreendermos o que as separa das outras formas e o que significa a corrupção de sua forma como conseqüência futura.
O que diferencia os governos do Oriente Médio, daqueles que os combatem é na essência a forma de chegar ao poder. Enquanto os ditadores são despóticos, nos países democráticos ( ditos), os governos são eleitos pelo voto dos seus cidadãos. No entanto, é preciso perguntar o que mesmo e quem governa em cada um destes países. Neste caso, é estranho que ninguém perceba que na relação Estado – Mercado e Sociedade; há muito tempo que o mercado assumiu uma posição vantajosa em relação ao estado, seja ele democrático, déspota, monárquico ou qualquer outra forma. Traduzindo, apesar de que na líbia kadaffi era o governante, ele não estava livre das formas de comércio a qual estava submetido seu país e as companhias do seu país. Os modelos de negócios em nada se diferencia dos países democráticos.
Olhando assim, talvez fica mais fácil entender por que tem sido tão difícil para os Estados Unidos (re) construir o Iraque, Afeganistão, etc. Atrás dos homens (maus), assassinados ( na maioria das vezes sem nenhuma possibilidade de defesa) existem costumes, uma história, uma cultura, um povo, uma estrutura, um país. É possível matar um homem, dez, vinte, mas a estrutura está assentada na própria natureza humana tradicionalmente transmitida de geração em geração; e, que no mundo global se espalha e contamina todas as demais culturas, países e nações.
E é a idéia de nação que queremos chegar neste texto, pois uma vez que toma estes homens como não sendo representantes legítimos de suas nações e de seu povo, desrespeita-se o princípio iluminista da integralidade da pessoa humana, descrita por Noam Chomski como sendo na verdade, uma forma de considerá-los não pessoas, ou impessoas, o que daria o direito das nações cujos cidadãos são pessoas de invadir, matar, destruir e (re)construir. Veja que o que está em jogo não é apenas uma forma de corrupção do gênero humano, é a corrupção do próprio conceito de democracia. E um conceito corrompido cai em uma antinomia impossível de se solucionar. Ora, se a democracia mata em nome da democracia, pode a democracia defender a vida? Qual afinal a diferença entre um líder democrata que se diz representar uma  nação e que mata em nome dos ideais de democracia e  outro líder não democrata que também mata em nome de ideais que não é democracia?
Esta antinomia só se resolverá com a descoberta da necessidade de um novo conceito de cidadania. Lula durante seus oitos anos como presidente do Brasil bradou mundo afora a necessidade de reformular o papel da ONU; em outras palavras ele parecia afirmar a necessidade de um novo pacto entre as nações, entre os povos e culturas. Para Lula, todos os povos precisam serem respeitados nas escolhas de formas de governo que escolhem para si, tanto na forma como no conteúdo. O novo pacto entre as nações teria como fundamento o respeito mútuo e  não intervenção. No entanto, existe um problema de fundo na teoria Lulista: os países e nações pelos seus representantes que detém a força e o poder permitiram tal reforma?
Tendo quase claro que a resposta é não, a solução definitiva para os problemas que assolam o planeta não passa por um novo pacto entre  nações; mas pela esperança que se tem de que a ciência, a religião e a filosofia retirem os homens da minoridade e possa fazer surgir nos corações e mentes, a necessidade de um novo pacto social. Sim, apenas um novo pacto Social pode mudar os destinos de todos os povos e de todos os países, na medida em que cada ser humano, perceber que além de membro de seu clã, família, estado e ou país é também cidadão do mundo.
Quem quer que queira enfrentar as crises atuais, deverá propugnar por um novo Pacto Social entre os homens. A base deste novo pacto seria a preocupação com a paz; a defesa do meio ambiente; a erradicação da fome no mundo; o cuidado com as futuras gerações etc. Este pacto não será  a expressão das nações envolvidas mas do povo de cada uma delas representados. Não terá como fundamento a livre concorrência ou o lucro desmedido, por que o mercado já demonstrou que não é capaz de se auto-regular. O fundamento será o homem como fim, e não como meio. Embora pareça antiga a solução não parece estranha se refletida com seriedade.


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