Corrupção V – Orlando Silva e a questão da honestidade no Brasil.
Nelson Soares dos Santos
Mesmo que o Ministro Orlando Silva seja inocente seus dias como ministro estão contados. O fato é simples: as razões que provocaram as denúncias não tem nada a ver com a preocupação com a honestidade na coisa pública, e quem assim acredita ou é ingênuo, ou ignorante, ou idiota. A onda de denuncismo que está tomando conta do país com a justificativa de que é preciso combater a corrupção não está ligado a uma necessidade coletiva de honestidade, pelo contrário, revela um momento de busca de afirmação da sociedade, provocada pelo crescimento econômico. Traduzindo, todo mundo que passou a ganhar um pouco mais ( e está incluindo os que ganham salário mínimo) resolver usar para si a expressão antes usada apenas para os ricos: “Você sabe com quem você está falando”?
A História do Ministro.
A história do ministro não é diferente de nenhuma outra história dos que já foram derrubados em esquemas anteriores. Acusação de um ex-aliado; desqualificação do ex-aliado; alegação de inocência; descobertas de novos escândalos; e, demissão. No caso do ministro já estamos na terceira fase: alegação de inocência e solidariedade dos aliados. Nos próximos dez a quinze dias passaremos a fase seguinte: demissão e substituição do ministro.
O que precisamos nos perguntar é se nas pastas dos ministros que já caíram houve alguma mudança no sentido de tornar tudo mais transparente, de tal forma a evitar nos escândalos e novas quedas. O que precisamos nos perguntar é se tal atitude de derrubar ministros é mesmo combate a corrupção. Já se disse neste blog que corrupção não será eliminada derrubando ou trocando pessoas, e sim, modificando a base moral da sociedade. E o exemplo empírico desse fato é que somados todos os escândalos não é temerário afirmar que mais de 500 parlamentares no congresso nacional já estiveram envolvidos ou foram acusados de participação em algum esquema de corrupção.
Observando de fora, livre das paixões de ser oposição ou situação, algumas curiosidades saltam aos olhos na história do ministro do momento. A primeira questão é que devido ao trabalho do ministério dos esportes muita coisa se modificou em uma área que era terra de ninguém: o futebol. Nos últimos anos o governo, interveio de alguma forma no reino do esporte brasileiro: a) aumentou o orçamento do ministério; b) criou a timemania para ajudar os clubes; c) em um movimento audacioso trouxe o PAM para o rio de janeiro, as Olimpíadas no ano de 2012, e a copa para 2014. Todos estes fatos colocou o ministério, antes o patinho feio das esplanadas no centro das atenções e o ministro de frente a frente para lidar com homens acostumados a jogar pesado para ter o controle da situação e ganhar dinheiro no mundo dos esportes ( diga-se: FiFA , CBF, redes de Televisão, e grandes patrocinadores).
A história do ministro, para este observador, uma disputa ferrenha de poder que vai muito além do orçamento do ministério. Um poder que haverá de gerar recursos bilionários até o ano de 2020, e que aqueles que durante anos se enriqueceram com o esporte, muitas vezes tratando de forma desumana os esportistas não vão de forma alguma querer lagar o osso. No mesmo dia em que as denúncias vinha a tona, colunistas de sites renomados publicavam a satisfação de Ricardo Teixeira com a possível e futura desgraça do ministro.
O poder corrompe e a piada de Lula.
Já se disse e é considerado verdadeiro pela ciência política que o poder corrompe. Há uma frase que diz que se você quer saber como é o caráter de um homem dê-lhe dinheiro e poder. Juntando as duas crenças poderíamos dizer que o poder corrompe homens que já tem a tendência moral para a corrupção e que a oportunidade apenas faz aparece o que já está no caráter. Neste caso, este observador acha engraçada e verdadeira a piada contada por Lula da Silva que afirmou no Nordeste, especificamente na Bahia, que é uma piada engraçada a direita ( leia-se DEM e PSDB) montar fileiras no combate a corrupção. Lula não explicou a piada e muita gente não entendeu.
Na verdade Lula queria dizer como e de que forma desumana as elites deste país governaram e exploraram o povo nestes 500 anos de existência, e que na atualidade o DEM é o maior representante desta herança, tanto no aspecto hereditário ( os deputados do DEM de hoje são na maiores herdeiros ricos dos seus pais), quanto nas práticas de como se fazer política. Lula poderia ter ministrado uma extensa aula de história explicando por que achava uma piada o DEM e o PSDB defenderem o combate a corrupção. Se a piada parece engraçada ela traz algo trágico no conteúdo. Ora, se o PSDB e o DEM, ou seja a oposição não tem legitimidade para defender o patrimônio público, e, praticamente todos os partidos aliados estão envolvidos em escândalos quem defenderá os interesses do povo ou os interesses da nação? Pior ainda, se considerarmos que reportagens recentes mostram a existência de corrupção nas forças armadas, antes, consideradas pelos seus membros como uma reserva moral da nação.
O que temos de nos perguntar é por que o poder no Brasil parece corromper tanto. A resposta, em parte, já foi dada ( os homens ao ter poder mostram o verdadeiro caráter que tem); mas é preciso ainda considerar o fato de que, no caso, o poder político é o centro de um poder maior emanado da sociedade, e neste caso, estava certo o Marquês de Maricá: Impossível um povo corrupto ter um governo que não seja corrupto. A corrupção está espalhada por toda a sociedade, nas igrejas, nas escolas, nas universidades, nas Instituições da sociedade civil e, nas famílias. Há uma disputa surda, clientelista, de apadrinhamento, desonesta que está avassalando todos os cantos da sociedade organizada, das empresas privadas aos entes públicos.
Pode esta situação mudar?
Eu sou um otimista inveterado, no entanto, não acredito que o combate a corrupção será feito derrubando ministros, com marchas, manifestações e outros movimentos similares. Estes serão válidos se levar cada cidadão a reavaliar o compromisso com o exercício da cidadania. O meu desafio é cada um comece a rever o conceito de honestidade cidadã. Muitos consideram normal utilizar o jeitinho brasileiro para não pagar taxas, conseguir empregos, empregar parentes, o suborno ao guarda; na escola, o aluno que cola, na universidade a tentativa de conseguir o diploma pelo caminho mais fácil, e tantos outros costumes que precisam ser analisados e revistos.
No campo das leis e do Estado, é preciso rever o pacto federativo. As relações entre os estados, municípios e União é fator que facilita a corrupção. As relações entre os poderes ( executivo, legislativo e judiciário) também precisam serem revistas. Já ouvi de deputado que a função de um deputado não é mais fazer leis e sim ser despachante de luxo de governadores; nos municípios, então, os vereadores são serviçais dos prefeitos. Na organização do poder, é preciso rever o papel dos partidos políticos que tem se transformado em Feudos dos grandes líderes, que trata o partido como se fosse uma fazenda. E não é apenas nos pequenos partidos, quase todos os partidos no Brasil está eivada desse mal. A lei da ficha limpa foi uma boa iniciativa, mas muito longe de se constituir como mecanismo de auxilio a seleção de líderes realmente preocupados com a sociedade.
Por fim, nada disso vai mudar se não houver uma profunda reflexão no campo da moral individual. Não sou moralista e não quero sê-lo, mas está na hora de repensar as relações individuo/coletividade. O lema iluminista torna-se novamente atual: é preciso ter coragem de servir-se da própria inteligência, pois ultimamente, a maioria dos cidadãos tem permitido que a rede de televisão, o marketing, pense e decida por eles. Precisamos nós mesmos, educarmos nossos filhos, escolher nossa comida, conquistar nosso futuro. Enfim, o homem precisa voltar a acreditar no homem.
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