Bêbados, Manés, viciados e espertalhões



A serenidade definitivamente está saindo de moda no mundo atual. A impressão que se tem é que o código moral dominante é o dos bêbados, manés, viciados e espertalhões. Eu já não sei mais se o importante é refletirmos e procurarmos entender por que chegamos a tal situação, ou se apenas tentamos seguir em frente tentando superar as barreiras que tal estado de coisas nos impõe.
Quando os estudiosos da Escola de Frankfurt se alarmaram diante do que viam e ouviam, e falavam da barbárie, creio que eles não imaginavam o que hoje vemos. O que temos e vivemos hoje, é possível que já está além da barbárie preconizada. Horkheimer pensou na existência de uma razão eclipsada jamais imaginou um tempo de puro irracionalismo, um mundo movido pela busca desenfreada dos prazeres dos sentidos.
Adorno insistiu na necessidade de educar contra a insensibilidade que faz ver no outro apenas um degrau para a nossa caminhada. Pobre Adorno! Em  nossos dias os espertalhões vêem nos demais apenas uma mercadoria. Uma mercadoria que pode ser reposta sem nenhum medo de qualquer conseqüência. A busca desenfreada pelo lucro construiu uma quantidade imensa de homens insensíveis, duros, cujo olhar vêem apenas a possibilidade de se ter mais e mais bens materiais. Foi-se a gentileza e amabilidade. Desapareceu a liberalidade, enterrou-se a magnanimidade.
O mundo parece estar sendo governado por bêbados e insensíveis. O que pode explicar que um governante destrua milhares de vida apenas para se manter no poder? O que pode explicar a corrupção galopante que invade todos os espaços sociais e destrói até mesmo as relações mais íntimas entre pais e filhos, pois mina a possibilidade da existência da confiança? As casas de leis que deveriam ser o espaço da sabedoria e da serenidade  onde ali deveria construir os mecanismos que garantiriam a justiça social tem se transformado em motivos de brincadeiras e chacotas quando deputados apresentam projetos de leis sabidamente inconstitucional apenas para servir de trampolim para discutir algum outro assunto. Outros, desviam o debate;  enganam a população enquanto desmontam a estrutura do estado que devia produzir bem estar e justiça social aos mais fracos e necessitados, colocando-o serviço da lucratividade de grupos gananciosos e nada comprometidos com a justiça e  a virtude.
Enquanto os bêbados, sem nenhuma lucidez, aliam-se aos espertalhões, os manes sacrificam toda sua honra, toda a sobriedade, os princípios e tudo mais pelo qual vale a pena viver correndo atrás das ilusões materiais. De tão manes passam a considerar que deus os abençoa nesta busca desenfreada pelo prazer material, pela satisfação dos sentidos, ao ponto de, ouvindo-os chegarmos a imaginar que o céu é um antro de ilusões sem sim. Não possuem consciência de sua própria humanidade. E quando repetem exaustivamente que deus os protege é por que o vazio que sentem já é tal que eles mesmos não conseguem definir. Não assusta pois, que nesta correria pelo melhor emprego, o melhor carro, a melhor casa, o melhor cargo no governo, muitos depois de conquistarem coloquem fogo no próprio corpo, pulam de prédios, e, alguns deixando para trás uma verdadeira fortuna que tudo fizeram para conquistar.
Para concluir, falemos dos viciados. É impressionante ouvir as pessoas falar com brilho nos olhos que são viciadas. Ser viciado em alguma coisa tornou-se virtude. O bêbado, o espertalhão e o Mané, são todos viciados. Já não são mais capazes de ouvir a voz da alma. A dor que sentem é a dor dos sentidos entorpecidos pela vileza do dia a dia. Olham no espelho e não se vêem mais. De tanto ver tanta loucura, até é possível imaginar que chegamos ao tempo do fim. O viciado em trabalho, o viciado em sexo, o viciado em estudos, o viciado em rezar; sim, até em rezar já tem viciado. E alguns se orgulham disso. Abandonam família, filhos, tudo para cuidar dos seus vícios. Não existe nisso a possibilidade da virtude, simplesmente porque tal situação está fora dos limites da razão. E no irracionalismo não pode existir a justiça, a prudência e sabedoria.

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