As ideologias que se escondem no pragmatismo: O caso de Thiago Peixoto
Nos
últimos anos tornou-se moda dizer que no Brasil não existe mais esta coisa de
direita e esquerda. Eu particularmente nunca acreditei. Por trás do discurso do
pragmatismo e da capacidade técnica gerencial sempre vi algo mais do que competência e ou boa vontade. Primeiro, por
que ninguém é simplesmente competente ou habilidoso; somos competentes e
habilidosos a partir de uma visão de mundo, de uma forma de fazer as coisas.
Segundo, por que entendendo a expressão direita esquerda a partir de suas Origens etimológicas
não vejo que tenha havido mudança suficiente para que elas desapareçam, ou
seja, continua existindo pobres e ricos, trabalhadores e patrões, exploradores
e explorados. Pode-se dizer que houveram mudanças no mundo do trabalho,
sobretudo com o avanço tecnológico; pode-se dizer que mudou a configuração da
classe trabalhadora; pode-se dizer muitas coisas; mas não se pode dizer que
acabaram as desigualdades sociais, que não existem mais excluídos e tão pouco,
injustiças sociais.
A
idéia do pragmatismo chega ao povo apelando para o fato de que é preciso saber
gastar o dinheiro público, é preciso saber gerenciar, e que ideologia é uma
baboseira do passado. No entanto, quando se olha melhor, vemos que tal discurso
não se sustenta. Vejamos o caso da Educação em Goiás. Quando Thiago Peixoto
aprovou a lei que aumentava o número de alunos em Sala de Aula escrevi o Artigo[1]
“Quantidade de alunos em sala de aula – só isso?”; ali procurei mostrar que
mais do que a quantidade de alunos na sala de aula estava a lei modificando a
relação do mercado do ensino superior
com a sociedade, na verdade, o estado usando o poder de regulação para
favorecer os empresários do Ensino. Ao discutir a lei procurei mostrar no
artigo que o pior de tudo é que a referida, servirá futuramente para adequar o
ensino goiano ao modelo de gestão privado, inspirado no modelo da Califórnia
nos Estados Unidos da América. Escolas públicas gerenciadas por associações de
pais, ONGS, etc, parece ser uma boa coisa, principalmente quando defendemos o
fortalecimento do controle social e do poder local, no entanto, a depender da
forma como for feita, ( em um país tão corrupto e corrompido ) chega a provocar
arrepios só de pensar no que pode acontecer.
No
dia 13 de março de 2011, publiquei outro artigo neste blog com o titulo[2]
“Saúde, Segurança e Educação – Governo em disputa”, onde alertei para a guinada
a direita que estava sendo dada pelo governador Marconi e seu governo. Uma característica
de mercadismo que beirava o totalitarismo já era visto como uma ameaça aos
interesses das categorias mais excluídas da sociedade. Penso que tal
liberalismo totalitário está alcançando seu ápice nas políticas recentemente implementadas
na saúde, segurança e Educação, e que a sociedade não está percebendo o alto
risco que está vivendo. No dia vinte de maio escrevi um artigo com o seguinte
titulo “ A ideologia do mercado e o mercado das ideologias”, ali procurei
mostrar que o chamado pragmatismo gerencial transformou os partidos políticos
em moedas de troca, e que invadidos por tal pragmatismo quase que se cria um
partido único, o partido do mercado que tenta com todas as forças dominar o
Estado e a Sociedade. Cito uma parte que entendo resumir: “Criou-se no Brasil ou
tenta-se criar um partido que diz não acreditar na existência de ideologias.
Esta é a característica mais liberal deste partido, a maior marca da ideologia
que professam. Professam um conjunto de idéias segundo as quais não é preciso ter
uma causa para estar na política, precisa apenas serem pragmáticos; professam a
idéia de que o mundo nunca vai mudar, de que sempre vai haver pessoas passando
fome e que isso não pode e não deve mudar. Para justificar suas ideais utilizam
do argumento de que no Brasil, todos os partidos fazem a mesma coisa, todos
estão envolvidos em corrupção, todos estão no poder de alguma forma; e,
esquecem que afinal não é esta a definição de ideologia. Por que os partidos de
esquerda se corromperam não significa que tenha acabado a desigualdade; por que
os partidos de esquerda se corromperam, não significa que não exista mais
pessoas passando fome, afinal, apenas no Brasil são mais de 16 milhões”.
Foi
também, exatamente próximo desta data que começou a cair ministros um atrás do
outro. E não foram escândalos apenas na situação, também na oposição. São
tantos os escândalos de corrupção que a sociedade sequer tem tempo para se
indignar. Em Goiás, vivemos uma média de um escândalo por semana, contando os
escândalos nacionais que quase sempre tem goiano envolvido, dois; e se,
contarmos que escândalos de diversos outros estados afeta nosso emocional,
conclui-se que somos obrigados a digerir uma média de quase um escândalo por
dia. Daí só tem um jeito de conviver com isso: ignorar a existência deles e
continuar a viver. E por que fazemos isso, de sopetão nos deparamos com
escândalos como os do Araújo Jorge, onde corruptos se enriqueceram das verbas
que deveriam ter salvado vidas. Ao igualar todos os partidos e todos os
políticos ( afinal já temos também o caso do Mutirama), passa-se a idéia de que
já não importa o partido, são todos iguais, corruptos, etc.
No
dia 22 de maio, escrevi outro artigo[3],
e ai procurei mostrar que é verdade que quase todos os políticos que estão na
ativa são sim corruptos, iguais, e que na verdade não existem mais políticos
ideológicos por que os partidos por meio de ferozes guerras internas destroem a
possibilidade de surgir políticos que realmente defenda os interesses do povo. Os
que conseguem controlar os partidos e tornarem-se candidatos são mercenários
que transformam tudo que encontra pela frente em moeda de troca. Muitos outros
artigos podem ser lidos nesta mesma perspectiva, ou seja, sempre procurando
mostrar que por detrás da falta de ideologia existe uma lógica perversa do vale
tudo para se buscar o lucro, não importa se para isso deve-se roubar o dinheiro
da merenda das crianças, o remédio do câncer, os brinquedos das crianças, a
destruição do meio ambiente ( o escândalo da SEMAR-GO), retirar a titularidade
dos professores com a destruição do plano de carreira, a mudança do currículo
provocando a competição desenfreada e tantas outras práticas que aqui poderiam
ser citadas.
Leia
bem o leitor se não vivemos o capitalismo em sua forma mais primitiva? No início
de tudo era válido a escravidão, o saque, o assassinato de nações inteira na
busca de expansão de mercado. Não é a mesma coisa que está sendo feita agora? A
busca pelo lucro cria novos mercados. Os mais novos mercados é o desvio do
dinheiro público, a invasão dos direitos sociais adquiridos, uma vez que nos
espaços antigos já não existe mais chance de expansão. Penso se não seria
relevante indagar qual a mercadoria que realmente tem valor nos nossos dias. Já
foi o ouro, e tantas outras. Qual hoje a
mercadoria cujo valor é o apanágio das demais? Não tenho dúvida de que é esta a
mercadoria mais saqueada e pela qual os homens não tem nenhum pudor em matar e
fazer guerras em busca do enriquecimento.
Quando
se implanta a lógica do mercado em serviços antes considerados de relevante
interesse público o que estamos fazendo? Negando as ideologias ou reforçando a idéia
de que o mercado é o único caminho absoluto de relações entre os homens? No jornal
Opção desta semana foi publicado uma artigo do Jornalista Elder Dias que merece
ser lido com atenção.[4]
Com o titulo “Mas do que política, greve
é duelo entre duas formas de ver a educação”. Talvez o jornalista não teve
coragem de dizer que o que está acontecendo é sim uma disputa ideológica. O problema
é que o PT[5],
faz um discurso que não pratica o que leva a se perder no vazio e no
descrédito, o que explica a existência de uma mobilização de professores
independentes do Sintego[6].
Longe de ser apenas uma questão salarial a problemática da educação em Goiás e
a greve é um problema ideológico. De um lado, um secretário de estado que não
dá a mínima para os direitos sociais básicos e que vê no mercado o caminho e a
solução de tudo, um admirador tardio do fracasso americano que ele ainda vê
como sucesso. De outro, professores que viram seus salários feridos de morte,
suas condições de trabalho tornada ainda piores do que já eram, ou seja,
professores questão vivendo na pele e no prato de comida dos seus filhos a
desvalorização do seu trabalho, o controle fordista de sua mão-de-obra vendida,
e, o que é pior norteado por um discurso
modernizador.
Não
se trata aqui de defender o Sintego (
este aparelhado pelo Partido dos Trabalhadores, como de resto, mesmo o estado
quando administrado por este partido é aparelhado); mas de perceber que existe
uma disputa ideológica terrível por trás dos embates e mobilizações que começam
a surgir. Trata-se de reconhecer os equívocos do chamado “Pacto pela educação”,
que de pacto não se tem nada, pois imposto de cima para baixo em uma sociedade
despolitizada torna-se mais uma ditadura que um pacto. A luta dos professores
de Goiás não é apenas uma luta por salários, e sim, uma luta em defesa de dias
melhores para todos nós. Todos os homens progressistas e do bem deveriam olhar
com atenção para o que está acontecendo. O silêncio agora pode vir a
comprometer o futuro de todos nós.
Existem
caminhos que podem ser trilhados para melhor gerir o estado, fazer uma
revolução na Educação, na saúde, na segurança sem que seja necessário entregar
o futuro de nossas crianças nas mãos de corruptos que haverão de tratar tudo
como mercadoria, e que por serem mercenários, não titubearão em roubar, saquear
e estrangular se necessário nossa alma para alcançar os objetivos pretendidos. O
chamado pragmatismo não é pragmatismo, é uma forma perversa de apresentação da
ganância e ambição de um grupo de pessoas que
não tem nenhum pudor moral na luta pelo enriquecimento. O ataque as
áreas de Educação, Segurança e Saúde não é por acaso, pois são nestas áreas que
estão as possibilidades de avanço do humanismo e da evolução da sociedade,
possibilitando a construção de uma sociedade justa.
[1]
Quantidade de Alunos em Sala de Aula – Só isso? In http://amigosdosabor.blogspot.com/2011/03/quantidade-alunos-em-sala-de-aula-so.html
[2] http://amigosdosabor.blogspot.com/2011/03/saude-seguranca-e-educacao-governo-em.html
[3] http://amigosdosabor.blogspot.com/2011/05/mercenarios-piratas-pecadores-e-os.html
[4] http://www.jornalopcao.com.br/posts/reportagens/mais-do-que-politica-greve-e-duelo-entre-formas-de-ver-a-educacao
[5]
Partido dos Trabalhadores
[6]
Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás.
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