Sobre Ética : Vamos falar um pouco de preço e valor?

 





Hoje é comemorado o dia Nacional da Ética. Em uma semana em que temos pela frente a instalação de três comissões parlamentares de Inquérito, é importante que falemos sobre o assunto. A ética, e por que não dizer, a moral, anda em baixa nos dias atuais, ou para dizer diferente a qualidade da ética praticada está muito abaixo do esperado para seres humanos civilizados. No congresso nacional, todos os dias, os deputados e senadores nos brindam com o que é chamado de quebra de decoro, e caso eles fosse seguir o tal regimento da casa, já teriam sido cassados ao menos uns dez parlamentares no inicio desta legislatura. É sobre um pouco disso que precisamos falar, do afrouxamento das regras e valores.

A definição mais singela de ética que já conheci foi dada por Mário Sérgio Cortela, um professor, palestrante, influencer que se tornou famoso ainda antes da internet, publicando pequenos livros que tratando de assuntos do cotidiano buscava levar as pessoas a refletirem sobre o sentido da vida e pensar sobre como dever ser uma vida boa. Ele diz que a ética pode ser definida a partir da forma como respondemos a três questões simples: quero? Devo? Posso? Segundo ele ao pensar sobre estas questões logo o ser humano descobre que há coisa que ele quer mas não deve; deve, mas não pode; Quer e deve, mas não pode; e que outras ele pode, mas nem sempre quer, e nem sempre deve.

É uma forma até engraçada de repetir o que encontramos definido no Dicionário de Oxford:

ética

substantivo feminino

  1. 1.

    parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.

  2. 2.

    conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.

    "é. profissional"

Origem

ETIM(sXV) subst. latim ethĭca 'ética, moral natural etc.', do adj. grego ēthikós, fem. sing. ēthikḗ 'ético, relativo à moral', substv. no neutro pl. tà ēthicá 'tratado sobre a moral, ética'

Ou seja, a Ética é um conjunto de regras pelas quais um indivíduo ou uma comunidade de indivíduos pautam suas ações. Na Filosofia, a ética é estudada desde a antiguidade, e a Grécia antiga com Platão, Aristóteles deixaram enorme contribuições. Para eles, a verdadeira ética é universal e suas regras levam o indivíduo ao SUMO BEM. Entendiam que todos os indivíduos deveriam buscar meios de viver estas regras Universais que o levam ao Sumo Bem, e que estas regras eram compostas da aquisição de determinadas virtudes, por meio da educação e da ação na vida. Platão, em uma de suas principais obras, “A república”, procurou desvendar os caminhos e métodos pelos quais uma pessoa pode ser educada para viver princípios tão elevados. Aristóteles, em sua obra “Ética a Nicomacos” procurou delinear todas as virtudes e meios de agir que são necessários para atingir esta vida boa.

Tempo de regras e valores contestados - `Valor e preço


Desde a instituição do liberalismo e suas consequências, o sistema capitalista na economia , as regras morais ligadas a antiguidade passaram a ser contestadas. A ideia da necessidade do lucro por meio das ações humanas foi causando uma confusão e, a colocação de preços nos objetos de uso humanos, que foram se alastrando até transformar o próprio ser humano em um objeto ou mercadoria coloca para nós, nos dias atuais, uma discussão inevitável – como distinguir nas coisas e nas pessoas, para as coisas e para as pessoas preço de valor? Foi mérito de Karl Marx perceber que o capitalismo colocava preço na capacidade de trabalho do ser humano, mas que não remunerava o mesmo de acordo com seu valor, sendo assim, as pessoas trabalhavam para outro, e no final do dia não recebiam o valor correto pelo seu trabalho, uma parte, se tornava o lucro do patrão e isso ele chamou de Mais Valia.

Assim se estabelecia um processo de exploração de um ser humano por outro ser humano, com a justificativa que aquele que era dono das terras, das máquinas, etc, a que ele chamou de meios de produção, sentia-se no direito de ficar com parte da energia dispendida por outros para produzir riquezas. Assim, passou a calcular o preço de muitas coisas, que antes tinham apenas valor, e ao fazer isso, preço e valor foram se distanciando em seus significados, uma vez, que o preço estava ligado a condição de uma coisas que poderia ser vendida ou comprada, ou seja, a uma mercadoria. O problema é que tudo foi sendo transformado em mercadoria. As relações humanas, os sentimentos, emoções e até mesmo o trabalho mental e intelectual foi transformado, de alguma forma em mercadoria, e estabelecido preço pelo tempo de trabalho.

Chegamos ao ponto, de perceber que tudo está sendo comercializado, e que as pessoas que tem dinheiro, muito dinheiro, pensarem que tudo pode ser comprado, inclusive o amor, a amizade, e até mesmo a paz interior. Um campo aberto e fértil para o surgimento de charlatães, que tem a capacidade de tudo empacotar, reduzir, e vender. Se de um lado tem aqueles que querem adquirir o que tem muito valor pelo preço irrisório, por que querem ter, e fixados no ter, querem economizar e explorar, do outro lado, munidos pela mesma ideia, os que resolvem a tudo empacotar e vender, querem apenas e de alguma forma, encontrar meios de ter acesso ao dinheiro e ao ter. Com isso, se estabelece relações profundamente doentias entre pessoas, empresas, estados, países e nações. Uma pessoa que acha que pode comprar a alma, o caráter de outra pessoa e até mesmo sua mente, não pode reclamar da qualidade das pessoas que a cerca, uma vez que uma pessoa cuja ética é elevada e fundada em valores humanos e virtudes significativas, portanto com uma consciência moral, política e espiritual elevada jamais abrirá mão de sua liberdade, ainda que apenas por alguns momentos.

A coragem moral discutida pelos gregos ainda não perdeu seu sentido. E se a relação entre o ter e o ser, tem até mesmo sua discussão negada na sociedade, a vida cotidiana cobra o preço da quebra das regras universais. É disso que precisa ser compreendido. A Ética do Sumo Bem, tem seus fundamentos em Leis Universais que regem a O Universo, a Natureza e o Homem. Numa situação corriqueira do dia a dia, recentemente, fui exposto a uma proposta de pagar propina para que a justiça julgasse um processo e colocasse fim, reconhecendo um direito liquido e certo meu. Na situação fui instado e recebi a proposta de abrir mão de parte do dinheiro da ação que pretensamente iria para o juiz, advogados, e outros envolvidos no processo. Consultei 100 pessoas do meu ciclo, e 99, disseram que no meu lugar pagaria a propina. Quando uma sociedade comprem de que é preciso pagar propina para fazer funcionar a Justiça, ou o Judiciário, é por que chegamos a uma condição tão profunda de corrupção que a sociedade inteira se degenerou. A justiça é uma das virtudes mais salutares na busca pelo sumo bem.

O grande problema atual é que mesmos as regras criadas para se viver em uma sociedade liberal e democrática ( onde o capitalismo em sua essência já fere a ética universal) já não não são mais seguidas. Tudo que se tem são regras de conveniência e de conivência. Então as regras mudam sempre que o grupo que está no poder lhe apetece, e não por pensar no bem estar da sociedade, e sim, em defesa de interesses pessoais e particulares dos 10% da população que detém os 90% da riqueza nacional. Lutar contra tal situação só terá algum sucesso se for investido muito, no autoconhecimento, e, no caso do estado, na educação de qualidade e colocada a disposição de todos os que a buscarem. Do contrário, continuaremos expostos a todas as formas de violência, uma vez que a própria violência é uma forma de exploração e dominação do outro por outros meios.


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